Pois é, a gente tem que ter humildade para admitir quando não está dando conta do recado, quando não aguenta a vida dupla. Aos leitores do Come-se devo todo o respeito, especialmente aos que me acompanham desde 2006, 2007 e aos que foram chegando com o tempo. Por isto me sinto na obrigação de contar sobre a novidade.
Logo no início do blog tínhamos uma casa no sítio dos meus pais, em Fartura, e os leitores devem ter ficado fartos de tanto ouvir o nome da cidade. Meus pais decidiram vender o sítio e nossa casa foi junto. Esta passagem está aqui no blog também. Fiquei triste, chorei, sacodi a poeira e guardei as tralhas para quando tivesse nosso próprio sítio.
Há três anos nos apaixonamos por uma terra de visual lindo e compramos uma casa velha rodeada de pasto. Foram três anos de trabalho, indo quase todo final de semana com a caçamba do carro cheia de mudas, material de construção, objetos ganhados, comprados, garimpados. E muita disposição para trabalhar de sol a sol. A terra não tinha nada além de braquiárias e nos empenhamos em construir casa de caseiro, de reformar a casa velha que havia, de deixar o lugar com a nossa cara.
Trocamos de caseiros duas vezes e os atuais são bons, gostam da tera, mas a ideia de ter um sítio para cultivar e colher e cozinhar começou a se mostrar impraticável como atividade de final de semana. Parece brincar de casinha sem, no entanto, ter tempo para cozinhar. Fomos construindo aos poucos um sítio de trabalho, um sítio onde gostaríamos de passar mais tempo, para trabalhar durante a semana e descansar sábado e domingo. Era gostoso, mas era a maior a frustração na hora de voltar. Queríamos ficar ali, nos acomodar, plantar, colher e cozinhar, ver o por do sol, acordar com os passarinhos, ver a neblina, apreciar a vista da represa, fazer fogueira à noite. Mas o tempo foi mostrando que o modelo estava errado para o estilo de vida que levamos em São Paulo e para o ideal rural que nos move. Não conseguimos aproveitar a cidade onde moramos nem Piracaia, uma cidade pacata com muitos atrativos (ainda desconhecidos para nós). Nossa casa em São Paulo começou a ficar largada e Piracaia passou a ser simplesmente a cidade onde nosso sítio está localizado. E a gente gosta de se relacionar com o lugar e as pessoas dos lugares onde estamos. A vida dupla e incompleta começou a ficar pesada.
Não conseguimos ficar no sítio mais que um dia e meio por semana ou a cada quinze dias - ultimamente só estávamos conseguindo ir quinzenalmente. E férias não é coisa para profissional liberal como nós. Como não temos condições a curto prazo de poder morar lá nem de passar mais tempo, nossas viagens curtas são sempre assim: a gente chega, desfaz as malas, planta, planta, planta (porque a gente não consegue ir e ficar sem plantar), arruma uma coisa ou outra, dorme exausta e o outro dia já acorda voando. A gente colhe algumas coisas para trazer, almoça, deixa recados para o caseiro e já é hora de voltar. Não temos escolha de viajar em horários alternativos, então enfrentamos trânsito na volta.
Aproveitamos bastante, está certo, especialmente quando recebíamos visita dos amigos. Era sempre uma alegria ver vingar uma espécie que plantamos, mas também era frustrante não acompanhar de perto cada semente que ia brotando ou morrendo. Sempre achamos que, se um dia esta ideia de venda viesse à tona, ela viria do Marcos. Porém, fui eu quem tomou a iniciativa. Não foi assim de uma hora pra outra. A ideia ia e voltava, ora na forma de alívio, ora de tristeza. Até que batemos o martelo.
Há horas em que é preciso agir com a razão. E o momento é de ampliar o consultório para a nossa filha e nosso genro, também otorrinos, poderem trabalhar junto (e assim dar uma folga para o Marcos), o dinheiro será investido para comprar uma nova sala. Isto nos deixa mais entusiasmados.
Marcos ficou triste, tentou me convencer de início de que poderíamos ir levando, mas depois também concordou. Antes de anunciar, porém, resolvemos definitivamente a questão da água. Nossa água vinha de uma corredeira a três quilômetros. Vivia dando problema. Se chovia, entupia de folhas. Se o gado pisasse nos canos, eles desconectavam. Às vezes entrava ar no cano. E qualquer reparo era trabalhoso. Agora estamos captando água de uma área protegida vizinha pelo sistema caxambu, que protege a nascente e garante água limpa durante todo o ano. Mesmo na estiagem, a nascente se manteve produtiva, com água fresca que brota abundante do subsolo. Foi um trabalho grande, contamos com engenheiros, amigos em mutirão, vários dias de trabalho, mas agora estamos sossegados de saber que podemos vender o sítio para amigos. Confesso que com este novo cenário, de água farta mesmo na estiagem, ficamos balançados, indecisos. Bem, sorte de quem vier.
A represa que avistamos do sítio não está tão vistosa, mas é a única do sistema Cantareira que não vai ser esvaziada, porque é a menor, do meio, de passagem. Em quinze minutos de caminhada estamos na água, boa para banhos. E se quiser outro tipo de banho, a menos de mil metros há uma pequena cachoeira gostosa e relaxante.
Aquela máxima de que há duas alegrias de quem tem um sítio, quando compra e quando vende, não se aplica a nós, porque não estamos felizes com a decisão. Às vezes fico torcendo para aparecer um investidor, fazer ali um condomínio ou uma comunidade e dizer assim: fiquem com a casa, um pedacinho de chão em volta dela e não vão precisar mais se preocupar com nada, que tudo o mais eu resolvo. Seria um sonho, mas sei que corremos o risco de vender para pessoa desconhecida e nunca mais podermos ir visitar o pezinho de limão kafir que já começa a produzir, colher kinkan, laranja champanhe, figo, araçá, as bananas, beber a água pura ou tomar um café do cafezal de 70 pés que plantamos, ver o peixe do laguinho, colher as batatas-doces coloridas, as mandiocas e tanta coisa mais que fomos plantando.
Então estou treinando para o desapego. Para vender não só o sítio mas os móveis que tem dentro, a cozinha montada, aquela vista maravilhosa, tudo. Vou ficar feliz se vender para alguém que goste das mesmas coisas que nós, que aprecie o cultivo orgânico, que possa ficar mais ali para aproveitar a vista e o ar puro. Se conseguirmos vender para uma família que possa morar ali vou ficar mais feliz ainda, porque não é lugar para se passar pouco tempo.
Bem, adoraria vender para um leitor do Come-se e se for um leitor que nos convide pra visitá-lo de vez em quando, melhor ainda. Mas se souber de algum amigo interessado também está valendo (estou até me vendo no interrogatório do comprador..... / Não, pra você não vendo rss). Para ver fotos, é só digitar Piracaia aí do lado, na caixa de buscas. E no blog da minha amiga Juliana também há algumas de forma resumida. Veja aqui: http://www.deverdecasa.com/2014/03/descansar.html
Uma breve descrição da chácara: São 14 mil metros, com escritura, registro e imposto rural em dia. Temos duas casas (as duas com boa vista, forradas, com varanda, uma com 3 e a outra com 2 quartos) além de um salão com mezanino e varanda/garagem com cerca de 100 metros no total (a varanda tem 45 metros e este espaço já serviu de dojô para o treino de aikido da turma do Marcos - os tatames também serão vendidos)
Logo no início do blog tínhamos uma casa no sítio dos meus pais, em Fartura, e os leitores devem ter ficado fartos de tanto ouvir o nome da cidade. Meus pais decidiram vender o sítio e nossa casa foi junto. Esta passagem está aqui no blog também. Fiquei triste, chorei, sacodi a poeira e guardei as tralhas para quando tivesse nosso próprio sítio.
Há três anos nos apaixonamos por uma terra de visual lindo e compramos uma casa velha rodeada de pasto. Foram três anos de trabalho, indo quase todo final de semana com a caçamba do carro cheia de mudas, material de construção, objetos ganhados, comprados, garimpados. E muita disposição para trabalhar de sol a sol. A terra não tinha nada além de braquiárias e nos empenhamos em construir casa de caseiro, de reformar a casa velha que havia, de deixar o lugar com a nossa cara.
Trocamos de caseiros duas vezes e os atuais são bons, gostam da tera, mas a ideia de ter um sítio para cultivar e colher e cozinhar começou a se mostrar impraticável como atividade de final de semana. Parece brincar de casinha sem, no entanto, ter tempo para cozinhar. Fomos construindo aos poucos um sítio de trabalho, um sítio onde gostaríamos de passar mais tempo, para trabalhar durante a semana e descansar sábado e domingo. Era gostoso, mas era a maior a frustração na hora de voltar. Queríamos ficar ali, nos acomodar, plantar, colher e cozinhar, ver o por do sol, acordar com os passarinhos, ver a neblina, apreciar a vista da represa, fazer fogueira à noite. Mas o tempo foi mostrando que o modelo estava errado para o estilo de vida que levamos em São Paulo e para o ideal rural que nos move. Não conseguimos aproveitar a cidade onde moramos nem Piracaia, uma cidade pacata com muitos atrativos (ainda desconhecidos para nós). Nossa casa em São Paulo começou a ficar largada e Piracaia passou a ser simplesmente a cidade onde nosso sítio está localizado. E a gente gosta de se relacionar com o lugar e as pessoas dos lugares onde estamos. A vida dupla e incompleta começou a ficar pesada.
Não conseguimos ficar no sítio mais que um dia e meio por semana ou a cada quinze dias - ultimamente só estávamos conseguindo ir quinzenalmente. E férias não é coisa para profissional liberal como nós. Como não temos condições a curto prazo de poder morar lá nem de passar mais tempo, nossas viagens curtas são sempre assim: a gente chega, desfaz as malas, planta, planta, planta (porque a gente não consegue ir e ficar sem plantar), arruma uma coisa ou outra, dorme exausta e o outro dia já acorda voando. A gente colhe algumas coisas para trazer, almoça, deixa recados para o caseiro e já é hora de voltar. Não temos escolha de viajar em horários alternativos, então enfrentamos trânsito na volta.
Aproveitamos bastante, está certo, especialmente quando recebíamos visita dos amigos. Era sempre uma alegria ver vingar uma espécie que plantamos, mas também era frustrante não acompanhar de perto cada semente que ia brotando ou morrendo. Sempre achamos que, se um dia esta ideia de venda viesse à tona, ela viria do Marcos. Porém, fui eu quem tomou a iniciativa. Não foi assim de uma hora pra outra. A ideia ia e voltava, ora na forma de alívio, ora de tristeza. Até que batemos o martelo.
Há horas em que é preciso agir com a razão. E o momento é de ampliar o consultório para a nossa filha e nosso genro, também otorrinos, poderem trabalhar junto (e assim dar uma folga para o Marcos), o dinheiro será investido para comprar uma nova sala. Isto nos deixa mais entusiasmados.
Marcos ficou triste, tentou me convencer de início de que poderíamos ir levando, mas depois também concordou. Antes de anunciar, porém, resolvemos definitivamente a questão da água. Nossa água vinha de uma corredeira a três quilômetros. Vivia dando problema. Se chovia, entupia de folhas. Se o gado pisasse nos canos, eles desconectavam. Às vezes entrava ar no cano. E qualquer reparo era trabalhoso. Agora estamos captando água de uma área protegida vizinha pelo sistema caxambu, que protege a nascente e garante água limpa durante todo o ano. Mesmo na estiagem, a nascente se manteve produtiva, com água fresca que brota abundante do subsolo. Foi um trabalho grande, contamos com engenheiros, amigos em mutirão, vários dias de trabalho, mas agora estamos sossegados de saber que podemos vender o sítio para amigos. Confesso que com este novo cenário, de água farta mesmo na estiagem, ficamos balançados, indecisos. Bem, sorte de quem vier.
A represa que avistamos do sítio não está tão vistosa, mas é a única do sistema Cantareira que não vai ser esvaziada, porque é a menor, do meio, de passagem. Em quinze minutos de caminhada estamos na água, boa para banhos. E se quiser outro tipo de banho, a menos de mil metros há uma pequena cachoeira gostosa e relaxante.
Aquela máxima de que há duas alegrias de quem tem um sítio, quando compra e quando vende, não se aplica a nós, porque não estamos felizes com a decisão. Às vezes fico torcendo para aparecer um investidor, fazer ali um condomínio ou uma comunidade e dizer assim: fiquem com a casa, um pedacinho de chão em volta dela e não vão precisar mais se preocupar com nada, que tudo o mais eu resolvo. Seria um sonho, mas sei que corremos o risco de vender para pessoa desconhecida e nunca mais podermos ir visitar o pezinho de limão kafir que já começa a produzir, colher kinkan, laranja champanhe, figo, araçá, as bananas, beber a água pura ou tomar um café do cafezal de 70 pés que plantamos, ver o peixe do laguinho, colher as batatas-doces coloridas, as mandiocas e tanta coisa mais que fomos plantando.
Então estou treinando para o desapego. Para vender não só o sítio mas os móveis que tem dentro, a cozinha montada, aquela vista maravilhosa, tudo. Vou ficar feliz se vender para alguém que goste das mesmas coisas que nós, que aprecie o cultivo orgânico, que possa ficar mais ali para aproveitar a vista e o ar puro. Se conseguirmos vender para uma família que possa morar ali vou ficar mais feliz ainda, porque não é lugar para se passar pouco tempo.
Bem, adoraria vender para um leitor do Come-se e se for um leitor que nos convide pra visitá-lo de vez em quando, melhor ainda. Mas se souber de algum amigo interessado também está valendo (estou até me vendo no interrogatório do comprador..... / Não, pra você não vendo rss). Para ver fotos, é só digitar Piracaia aí do lado, na caixa de buscas. E no blog da minha amiga Juliana também há algumas de forma resumida. Veja aqui: http://www.deverdecasa.com/2014/03/descansar.html
Uma breve descrição da chácara: São 14 mil metros, com escritura, registro e imposto rural em dia. Temos duas casas (as duas com boa vista, forradas, com varanda, uma com 3 e a outra com 2 quartos) além de um salão com mezanino e varanda/garagem com cerca de 100 metros no total (a varanda tem 45 metros e este espaço já serviu de dojô para o treino de aikido da turma do Marcos - os tatames também serão vendidos)
Na chácara há ainda um platô com lago, onde podem ser criados peixes (há ali alguns carás) e outro platô com vista mais bonita ainda (onde o antigo dono ia construir a casa principal). Ou seja, é um ótimo espaço para abrigar até três famílias, sobrando ainda muito espaço para plantar.
O espaço é todo cercado e há água abundante de duas fontes (uma, vem de longe, por gravidade), a outra vem de uma nascente do terreno vizinho por bomba - mesmo na estiagem, a água continuou farta). Temos duas caixas de 10 mil litros e outras três menores, de modo que água não é problema.
A chácara está em nossas mãos há três anos e nunca usamos defensivos ou adubos químicos. Temos um casal de caseiros morando numa das casas, mas eles têm casa própria num sítio perto e podem ficar ou não com os compradores, sem problemas. Ou podem prestar serviços esporádicos.
O acesso à chácara é fácil (17 km da cidade - 10 de asfalto e 7 km de terra - estrada larga e boa) e temos lá sinal de celular melhor que aqui e também internet 3G com ótimo sinal.
Para mais informações, me escrevam: neide.rigo@gmail.com. E por favor não fiquem tristes. Eu estou, mas vai passar. A vantagem é que vamos ter tempo para visitar os amigos de Piracaia ou os que nos convidarem a mexer com a terra.
E só para que os leitores do Come-se não desanimem achando que me faltarão assuntos para o blog, estou cada vez mais empenhada em mostrar como também pode ser bom morar em São Paulo. A horta comunitária continua à toda.
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