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Flores do sertão

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Já era
Poderia chamar a maioria destas flores que apresento aqui de poncs - plantas ornamentais não convencionais. A não ser as flores que viram frutos como a de umbu e de maracujá, quase todas as outras cabem na unha do dedo mindinho.

Um homem passou pela rua, me viu achagada, quase beijando o chão para fotografar, e perguntou: está tirando retrato de pulga, sua moça? Disse que era flor e ele balançou a cabeça. Por acaso eu acabei e segui na mesma direção do homem, a tempo de ouvi-lo conversando sozinho: coitada, que louca, fotografando florzinha...

Num outro episódio, fotografei esta flor roxa diferente, que nunca tinha visto na caatinga e nunca mais vi. Era mínima,escura e a luz do sol já ia indo embora. Para garantir uma foto melhor depois (o que não aconteceu), arranquei um galhinho e perguntei para o rapaz que nos acompanhava no carro. - Sabe como chama esta planta? - Sei. Se chama m-a-t-o! Isto, aos risos, claro.

Já no aeroporto de Petrolina aconteceu algo interessante e divertido. Os passageiros seguiam para o avião no meio da pista em fila disciplinada, quando avistei uma moita de perpétuas e saí pela tangente. Só havia visto iguais àquelas numa escola, abandonadas entre matos e lixos. Um guarda acompanhava e orientava a fila com cara sisuda. Ele estava preparado para qualquer eventualidade ligada à segurança, à qualquer movimento que saísse do normal, mas não soube o que responder quando saí da fila e disse que precisava fotografar aquela moita de flor. Ele fez cara de assustado, olhou ao redor procurando a moita, não sabia do que eu estava falando, não sabia se autorizava ou proibia, já que não fiz pedido algum mas simplesmente avisei, e, afinal, aquela moita não deveria estar ali no meio da grama - era mato. Por fim sorriu. Perpétuas lindas aquelas. O passageiro que se sentou ao meu lado também não entendeu muito quando debulhei todas as florezinhas que consegui roubar dentro do saco virgem de vômito à procura de sementes.



Mas o que deu raiva mesmo foi quando no último dia em Uauá presenciei o floricídio de malvas brancas que se abrem pela manhã e descansam após o meio dia.  Estas foram as primeiras e as últimas flores que fotografei em Uauá. Logo que cheguei, elas me chamaram a atenção pois enfeitavam, perto da cooperativa,  um muro sem rebocos de um terreno baldio, numa calçada não pavimentada, e ainda cobria o fio de água escura que corre a céu aberto  e que domina as sarjetas da cidade sem esgoto tratado. Achei tão generoso da parte das malvas - um enfeite que modifica a percepção de um lugar onde o verde e as cores são pouco valorizados (como se isto não fizesse parte do nosso bem-estar - hoje já temos pesquisas que mostram o bem que a simples visão da natureza nos faz).  Mas no dia de vir embora, passei novamente pela cooperativa e vi o jardineiro fazendo seu trabalho, passando a enxada nas malvas. Fui com jeito conversar com ele, que também fez cara de me achar louca. As respostas foram estas: - Isto é mato. - As pessoas querem a calçada limpa. - Está tampando a passagem do esgoto. Etc. Diante de minha insistência de que poderia tirar só o capim, ele respondeu que se não tirasse tudo iam dizer que ele não trabalhou (!).  Tentei ainda argumentar que a guanxuma, o outro nome da planta, poderia evitar com que ele ficasse careca, já que seu extrato é usado em xampus para o problema. E que logo logo estaria ali a  Avon, o Boticário, a Natura ou L´Occitane em busca dessas flores que crescem tão bem na caatinga. Mas nada o fez demover da ideia de cortá-las pela raiz deixando a calçada pelada em folha e flores.

Um coisa boa foi que na casa da Dona Jovita tomei chá de flores de umbu - azedinho e perfumado.

 Aqui, fotos de algumas flores não convencionais, vulgo mato.


Bom-dia!




Perpétua da escola

Perpétua do aeroporto

Batata-de-purga

Amaranto

Flor de melão de são caetano





Cosmus rosa

Flor de cansanção

Maracujá da caatinga

Pinhão bravo 

Flor de umbu (no chá)






Malva pela manhã

Malva se fechando ao meio dia
Cardo santo, também conhecida como carro santo. Um tipo de papoula


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