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Crisálida

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Inevitável entrar no universo da comida sem tropeçar nos bichos. Se o universo envolve plantar e colher, então, bichos de toda sorte de beleza e periculosidade estarão sempre por perto e não podem ser ignorados. Seja o marimbondo que reuniu seu bando no escurindo do regador e pica seu dedo frágil e desavisado ou duas lindas crisálidas prateadas caídas na terra quando você vai colher um pé de alface. 

E, claro, não quis fazer como a amiga Juliana, do blog deverdecasa, um borboletário caprichado e estudado (aliás, veja nos posts seguintes o desenvolvimento do borboletário dela, um primor), mas me lembrei dela quando improvisei. Simplesmente não sabia o que fazer com as duas joias cromadas em vez de pendurar em brincos, e coloquei num porta-velas de vidro. Uma solta, outra grudada numa folha.  Logo, mexendo nas verduras que trouxe do sítio, encontrei uma lagarta nos pés de alface. Como já tinha uma turminha de três, peguei um pequeno aquário sem tampa e arrumei todo mundo ali, criando um ambiente com uma pequena bromélia que tinha acabado de achar caída na rua. Uma pedra, uma folha de alface, outra de ora-pro-nobis e pronto. Cobri com filme plástico furado e deixei assim nos três primeiros dias. A lagarta comeu uma das folhas e descomeu em forma de bolinhas pretas. Desprezou a folha de alface. 

Já as crisálidas, imutáveis. Olhando de perto pareciam joias de prata maciça. Mas a luz fotográfica desnudava aquele vidro espelhado revelando as cores da borboleta que viria. Resolvi tirar o plástico furado do aquário achando que a lagarta não conseguiria escalar o vidro liso. Qual nada, no outro dia ela havia sumido, talvez procurando material para sua própria crisálida - ou comida adequada. Procuramos, procuramos e nada.  

No domingo à noite, quando voltamos, Lúcia, amiga que está hospedada aqui, veio contente me dar duas boas notícias. Uma borboleta saiu do casulo e a lagarta foi encontrada -  ela desceu ao chão e escalou a parede da geladeira. Voltou para o aquário que foi coberto com jornal. 

Fiquei na maior alegria de ver aquela borboleta do gênero Mechanitis e já estava satisfeita com a experiência. Levei o vidro com os seres aprisionados para o jardim, agora destampado, para que a borboleta pudesse voar e a lagarta se aventurar em outras plantas. 

À noite choveu bastante e fiquei preocupada com o borboletário alagado, mas o sono e o cansaço falaram mais alto e deixei pra ver o que tinha acontecido pela manhã. Corri  lá e a borboleta estava parada no mesmo lugar, pousada num galhinho dentro do aquário. Já a lagarta deve ter saído antes do dilúvio, pois não a encontrei. O outro casulo também estava vazio, de modo que aquela borboleta ali parada poderia ser a caçula e não a que vi no dia anterior. De qualquer forma, levei o galhinho com ela para o chão do jardim. E ali está ela até agora, paradona, talvez ganhando força e confiança para voar. Talvez secando a asa de seda para ganhar leveza. Talvez fique ali por apego à crisálida tão linda agora joia de cristal que tem que deixar pra traz. É, a gente cresce, se transforma, muda, se vai. 





 





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