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Feijão guandu - colheita

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Quem viu o já velho filme "Caminhando nas Nuvens", com Keanu Raves,  certamente se lembra da cena em que pessoas vestem asas brancas, de madrugada,  e se movimentam como borboletas a fim de espalhar o calor gerado pelas fogueiras para salvar videiras da geada.  Guardadas as devidas distâncias, senti a mesma atmosfera quando decidimos, Marcos e eu, colher todas as vagens de feijão guandu já no sábado de tardinha, quando a chuva era iminente depois de um dia ensolarado - o único dia em uma semana molhada. Sabendo que os próximos dias também seriam chuvosos,  e pela mostra que tive de feijões mofados colhidos pela caseira, decidimos salvar a maioria - no ponto verdolengo, como ervilhas frescas. 


Cortamos os galhos, em vez de colher as vagens nos pés. Já escuro, arrastamos tudo para a varanda e deixamos para completar o trabalho no dia seguinte. De noite a chuva chegou forte e não parou durante todo o domingo. Sorte que tivemos tempo. Separamos as vagens por estágio de maturação e começamos a debulhar. Dá um trabalho danado, de modo que deixamos muita vagem pra trás, para os caseiros continuarem durante a semana. Espalhamos as vagens secas no chão para completarem a secura. As verdes e amareladas foram separadas e os grãos serão congelados para serem usados como ervilhas.  

Enquanto debulhava olhando o céu cinzento, a água barulhenta que escorria do telhado e o horizonte encoberto por névoa, pensava na visão romântica que às vezes temos sobre a vida no campo. Há momentos em que se corre contra o tempo  - aproveitar o período das chuvas para plantar, da seca para colher ou preparar o solo. E chuvas não previstas podem ser um estorvo para certas flores que precisam de tempo seco para vingar. 

A diferença é que a gente passa a valorizar cada grão de feijão no prato porque  sabe o trabalho que alguém teve até ele chegar ali. E isto, quando foi você mesmo quem cultivou,  colheu e cozinhou, parece servir de tempero mágico, porque o prazer de levar à boca esta comida é tão grande que supera aquele gerado pelos sabores intrínsecos da comida. Mesmo a despeito de tanto trabalho - ou justamente por isto. 

Do guandu, já falei muito no Come-se. Mas nem tudo ainda experimentei. Sei que as folhas jovens são comestíveis (na Etiópia é comum comer as folhas como verdura) e que os grãos podem ser torrados e transformados em bebida como o café. É bom saber que temos coisas ainda por ver. 

Aqui, algumas fotos da operação. 


Para os grãos como ervilhas, a maioria das vagens deve estar assim,
como as da direita, gordinhas


São úteis e decorativos os arbustos 
Alguns pés estavam assim, com as vagens todas secas
Marcos aproveitando os últimos raios de sol 
Enquanto descansa carrega pedras 
O trabalho é demorado, mas meditativo e relaxante 

As vagens secando no chão, longe da chuva


Neste fim de semana também tivemos que debulhar ervilhas de verdade, plantadas pelos caseiros - da casa deles.  Foram tiradas das vagens e feitas com frango caipira. O frango poderia ter sido feito com guandus verdes. 

Ervilhas

Frango caipira com ervilhas. Nhac! 




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