Boa notícia esta que está publicada no site da Prefeitura de Piracaia: http://www.piracaia.sp.gov.br/novo_site/index.php?exibir=noticias&ID=959 "Departamento de Agricultura e Abastecimento promove palestra de cultivo orgânico em Piracaia | |
07/03/2013 ![]() | |
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Na noite de ontem (6), a Casa da Agricultura promoveu palestra com o tema: Cultivo orgânico, o palestrante foi o Sr. Pupin, e estiveram presentes, o vice-prefeito, Dr. José Silvino Cintra, o Engº Agrônomo e Diretor do Departamento de Agricultura e Abastecimento, Lopes, o Agrônomo Carlos do Departamento de Agricultura e vários interessados no cultivo, que inclusive já assinaram uma lista se comprometendo a começar um grupo de produção orgânica no município. Uma nova reunião deverá ser marcada para começar a organizar o grupo, divulgação das regras. O mercado de produtos orgânicos ganhou um reforço importante do Governo do Estado com o lançamento do Projeto São Paulo Orgânico, que aconteceu terça-feira (5). O programa incentiva a agricultura orgânica, com redução de insumos químicos e, consequentemente, oferta de produtos mais seguros e saudáveis. O programa viabilizará o período de transição do sistema produtivo convencional para o orgânico, propondo inovações tecnológicas que diminuam o consumo de insumos químicos. O procedimento será feito por uma linha exclusiva de financiamento para agricultura orgânica, que permite o acesso aos recursos necessários para a implantação de culturas orgânicas. Para especialistas, é importante otimizar o uso de recursos naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade do solo e tendo por objetivo a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do consumidor, do produtor e do meio ambiente. | |
Fonte: Assessoria de Imprensa | |
Prefeitura Municipal de Piracaia - SP - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização." Texto publicado originalmente no site da prefeitura de Piracaia. |
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Orgânicos em Piracaia
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Bolo de leite na casa da dona Joana

Como no ano passado, durante o festival do umbu fomos duas vezes à roça da dona Joana. É lá que ela e a filha Nenê fazem para vender o manuê - bolo de milho assado no forno de lenha que não leva outro ingrediente que não milho, açúcar e água - e bolo de leite, que tem textura daquele pudim de padaria ou caçarola italiana e leva os mesmos ingredientes - leite, farinha, açúcar e ovos. Ambos, simples, deliciosos para comer com café.
Dona Joana, viúva, criou os filhos e botou todo mundo na faculdade graças à lida com o umbu (depois da criação da cooperativa Coopercuc) e à venda dos bolos na feira e numa esquina do povoado de Caratacá. Amigos do Slow Food que estavam em Uauá para o festival também foram à casa de dona Joana acompanhar o feitio dos bolos, agora com ajuda pela filha mais velha, Nenê (mãe de Joaninha), que trabalha e faz faculdade em outra cidade só voltando para casa e para os filhos nos finais de semana. E enquanto descansa carrega pedras, claro.
Sábado à noite o milho é posto de molho e no outro dia bem cedinho as dezenas de formas já estão a assar no forno de lenha, cheias de manuê. No outro dia andamos pelo leito seco do rio que corta a propriedade, tiramos muitas fotos, suamos até murchar, almoçamos comida deliciosa e desmaiamos no chão de cimento frio com as cabeças apoiadas num colchão com lençol limpinho trazido por dona Joana.
A cozinha é a sala de estar, o ponto de cultura e diversão. Passamos o dia rodeando o espaço aberto onde as coisas iam acontecendo, íamos vamos aprendendo, trocando experiências, dando risada. Foi ali que inventei de fazer o chá de pau-de-rato ou catingueira, que antes tomavam como café da manhã e é bem gostoso para se beber durante o dia mesmo, dizem que abre o apetite e depois é bom para digestão, mas parece que está em desuso como tantas preciosidades locais, caso do broto de macambira.
Das brasas do fogão de lenha sairam também milhos assados antes do almoço, depois mocotó, feijão com legumes etc. Fiz ainda um refogado de folhas de batata-doce e bredo com ovos, para os vegetarianos. E até o sabão para lavar a louça fizemos. Depois a cozinha descansa limpa, com canecas areadas sobre o jarro de água e as gentes esparramadas no chão. Isto sim pode ser melhor que as cozinhas gourmets, seja lá o que isto queira dizer nos folhetos de empreendimentos imobiliários. E ainda dona Joana se desculpou por não ter cadeiras. Quem liga? Nenê passou a receita do bolo.
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Leito seco do Rio Zefona - meninos |
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Leito seco do Rio Zefona - meninas |
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Dona Joana com as visitas |
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As visitas Slow Food totalmente à vontade se refrescando |
Misture tudo muito bem: 1 litro de leite, 3 ovos, 2 colheres (sopa) de manteiga, 1 copo de açúcar, 2 copos de farinha de trigo, 1 pitada de sal. Coloque em forma de buraco no meio grande, untada, e deixe assar em forno bem quente (de preferência em forno de lenha) até dourar e a massa ficar firme - teste com uma faca. Rende para um batalhão.
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Almeirão de árvore
Estes almeirões são rústicos, não precisam de cuidados como alfaces e uma vez plantados não precisam mais ser semeados. Viram mato. As primeiras sementes de almeirão roxo, trouxe de Fartura, do sítio dos meus pais. Depois, consegui mudas de outro almeirão de árvore no sítio da Marisa Ono, do blog Delícias. Mantive em casa enquanto não tinha a chácara de Piracaia. Mas foi uma das primeiras plantas que levei pra lá e até hoje não teve um só final de semana que não tenha comido almeirão, às vezes com tomatinhos que também nascem bem por lá, às vezes refogado. Agora os pés floriram, frutificaram e eu passei a faca, não sem antes balançar bem o pé para que as sementes se espalhassem como mata-pasto (adoraria se sufocassem as braquiárias). Outras flores estão no pé, vou guardar as sementes. Para quem gosta de amargos, quem não quer se preocupar em ficar regando frágeis alfaces, protegendo verduras fracotes com sombrites ou travando luta contra pulgões e outras pragas, está aí uma boa opção.
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As primeiras mudas que lá chegaram |
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Abobrinha verde e amarela
Já estou me preparando pra ganhar muito dinheiro na copa. Comprei no Revelando São Paulo do ano passado uma abobrinha bicolor e já não me lembro se usei a polpa, mas as sementes, com certeza, viraram mudinhas que foram plantadas no meio das braquiárias no sítio em Piracaia.
Não me contive de alegria quando vi a primeira abobrinha verde e amarela entre as folhas com as mesmas cores. Guardei a ansiedade e não arranquei. Poderia tê-la usado como abobrinha verde, pois neste estágio, as cores são ainda mais bandeirosas. Mas resolvi deixar amadurecer, assim poderia ter mais sementes.
Toda semana ia dar uma olhadinha para acompanhar o crescimento - como cresce rápido. E, neste último sábado quando fui olhar, avistei não só aquela mas outras duas engordando entre o mato afastado, agora já mais alaranjadas na porção amarela e mais desbotada e rajada, na verde. Como estão maduras, vão durar meses enfeitando a cozinha.
Esta variedade foi desenvolvida pela Embrapa, resultado de cruzamento de abóboras de pescoço, uma predominantemente verde e a outra, alaranjada. Foram selecionadas ainda para serem mais resistentes. E são. O exemplar que trouxe da feira era de Palmital-SP e, também madura, tinha tamanho muito menor que a que consegui colher. E não adubei e nem usei defensivos. Só abri uma roda entre a braquiária e enfiei a mudinha que fiz aqui em casa. O resto, fez a chuva. Imagino que as sementes possam ser compradas em qualquer loja de insumos agrícolas. Quando abri-las e preparar o que quer que seja, eu conto. Uma delas já foi pro Rodrigo, do Mocotó, que já estava com a dita na fila para engenhosidades de chefe.
Não me contive de alegria quando vi a primeira abobrinha verde e amarela entre as folhas com as mesmas cores. Guardei a ansiedade e não arranquei. Poderia tê-la usado como abobrinha verde, pois neste estágio, as cores são ainda mais bandeirosas. Mas resolvi deixar amadurecer, assim poderia ter mais sementes.
Toda semana ia dar uma olhadinha para acompanhar o crescimento - como cresce rápido. E, neste último sábado quando fui olhar, avistei não só aquela mas outras duas engordando entre o mato afastado, agora já mais alaranjadas na porção amarela e mais desbotada e rajada, na verde. Como estão maduras, vão durar meses enfeitando a cozinha.
Esta variedade foi desenvolvida pela Embrapa, resultado de cruzamento de abóboras de pescoço, uma predominantemente verde e a outra, alaranjada. Foram selecionadas ainda para serem mais resistentes. E são. O exemplar que trouxe da feira era de Palmital-SP e, também madura, tinha tamanho muito menor que a que consegui colher. E não adubei e nem usei defensivos. Só abri uma roda entre a braquiária e enfiei a mudinha que fiz aqui em casa. O resto, fez a chuva. Imagino que as sementes possam ser compradas em qualquer loja de insumos agrícolas. Quando abri-las e preparar o que quer que seja, eu conto. Uma delas já foi pro Rodrigo, do Mocotó, que já estava com a dita na fila para engenhosidades de chefe.
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A de palmital que me deu as sementes |
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A planta é esta belezura |
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Quando novinha é assim e já pode ser comida com casca e tudo |
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Aqui, já bem maduras e secas |
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Cozido em Salvador

Em Salvador, nesta última viagem, comi um cozido simples, do dia-a-dia, feito pela empregada da mãe da amiga Silvia Lopes. O prato já estava pronto quando chegamos trazendo um amarradinho de maxixes da feira de Uauá. Em um instante os mesmos maxixes já estavam à mesa incorporados ao cozido que foi acompanhado de pirão feito com o caldo. Comi de me fartar, pouco dando importância à carne, pois os vegetais cozidos assim, em caldo proteico, são os que me fascinam. Limpei a boca e fui à cozinha pegar a receita com a Geralda ou Gel, como é mais conhecida (a mesma que me deu a receita de maxixada). Ela conta que na terra dela, Castro Alves, não fazem cozido, mas que aprendeu a prepará-lo nos lugares onde trabalhou, em Salvador mesmo. E ali foi acrescentando seus caprichos.
Cozido. Receita de Geralda Oliveira Silva (Gel)
Na véspera, compre 2 peitos de frango cortados ao meio, com ou sem pele e lave com água e limão. Tempere com alho pisado com sal e pimenta-do-reino a gosto. No dia seguinte, asse o peito por 1 hora em forno médio (durante meia hora, com papel alumínio), regando com o caldo no final. Reserve.
No outro dia, pique os temperos: 2 cebolas, 1 pimentão verde ou vermedo pequeno, 1 tomate grande, 2 colheres (sopa) de coentro. E soque 3 dentes de alho grandes.
Num caldeirão grande, refogue estes temperos com 4 colheres (sopa) de óleo até a cebola murchar. Acrescente 2 colheres (sopa) de extrato de tomate ou colorau. Junte o frango e 1 lingüiça calabresa cortada em dois pedaços. Refogue tudo. Se quiser, junte um pedacinho de bacon picado e também um de charque ou carne de sertão deixada de molho em água um dia antes. Se não quiser, não precisa colocar, não. Refogue tudo e junte água fria, cerca de 2 litros. Se não colocou a carne de sol, junte sal.
Couves - 3 rolinhos de 3 folhas (junte 3 folhas, dobre as laterais e enrole)
Repolho - 1 metade de repolho cortado no meio presa no talo Cenouras - 2 descascadas inteiras ou cortadas ao meio
1 batata doce descascada e cortada ao meio (cerca de 300 g)
3 batatas-do -eino (batata comum) descascadas, inteiras
1 chuchu grande descascado cortado ao meio
4 jilós inteiros
6 maxixes inteiros raspados
2 bananas-da-terra inteiras ou cortada ao meio
3 pedaços de abóbora de pescoço (do tamanho de 1 batata doce)
6 quiabos inteiros sem a cabecinha e a ponta
Deixe cozinhar e à medida em que os vegetais de cima estiverem cozidos, vá retirando com uma escumadeira e passando para uma travessa. Os quiabos primeiro. Depois, a abóbora e assim por diante, retirando as couves por último. Deixe em local protegido (dentro do forno, por exemplo). Na hora de servir, aqueça aos poucos, com um pouco do caldo, em uma panela à parte. Com o caldo restante, faça um pirão para acompanhar.
Se quiser, em vez do frango, use 1 quilo de acém - cozinhe em vez de assar.
Arrume os vegetais numa travessa, sirva com o pirão e nhac.
Rende umas 8 porções
Fotos de amarradinhos de maxixes na feira livre de Uauá
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Calçotada Catalana
Quem acompanha a novelinha do Come-se já conhece minimamente seus personagens. Do ceramista Rui Gassen e de sua mulher Mariângela, amigos queridos que hoje vivem em Terrassa, perto de Barcelona, já falei muito. E sempre me contam sobre os costumes de lá que julgam poder me interessar. Sempre acertam.
Desta vez foram a uma calçotada. Achei curioso quando tentei comparar com alguma festividade como esta no Brasil. A maioria de nossas comilanças coletivas, feitas do lado de fora de casa, tem algo a ver com algum alimento proteico. Churrascos, peixadas, boi no rolete, afogado, porco paraguaio etc. Como prefiro pamonhadas, a calçotada tem mais a ver comigo que sequer tem churrasqueira fixa. O modo de comer os calçots lembra o jeito selvagem de se engolir turu na Ilha do Marajó, mas eu já estou de olho nos brotos de cebola que encontro na feira de orgânicos do Parque da Água Branca para fazer arremedos de calçots para serem comidos com o molho de amêndoas no prato.
Eu adoraria estar lá na casa da amiga de dança da Mariângela para apreciar não só a calçotada, mas também as botifarras de javali, aguardentes e assados de cordeiro feitos pelo pai da moça, mas enquanto não posso contar minhas próprias impressões, deixo a palavra com o Rui, meu fiel correspondente para assuntos da Catalunha. Como retribuição, faço propaganda do seu belíssimo trabalho de cerâmica: facebook.com/rui.gassen.
"Oi Neide! Saudades. Estes dias participamos de uma calçotada na casa de uns catalães. Estava ótima. A cebola que usam é a mesma que se usa na culinária do dia a dia, com a diferença de que é de 2 anos. Ou seja, são os brotos da cebola plantada no ano anterior. Os calçots são os brotos desta cebola. Tem este nome porque os brotos são "calçados" com terra fofa como fazem com o aspargo, para que o vegetal fique comprido e tenro. Na planície
perto de Tarragona, na cidade de Vals, fazem a festa dos calçots. É a terra da cebola. Eles colocam os calçots numa grelha e assam como se fosse churrasco. Depois de queimados, são retirados da grelha e enrolados em jornal para que continuem cozinhando. Depois de estarem todos assados são colocados na mesa. A aparência é feia. Tens que segurar o talo queimado e puxar as folhas do meio. Sai o miolo super tenro e quentinho. Em seguida, se mergulha o talo numa cumbuca de molho especial. Se levanta o calçot bem alto e vai largando
devagarinho na boca. É meio selvagem, mas é saboroso. Parece que estás comendo uma cobra. Fica gostoso intercalar com uns goles de vinho servido no Porró. Dá uma sujeirada danada, por isto se come fora da
casa, na varanda onde está a churrasqueira. Todo mundo fala que a chave do sucesso é o molho. A Mariângela vai te mandar a receita. Acho que comi uns 10 talos. Junto servem o pà amb tomàquet. Abração!
Seguem as fotos. Rui Gassen"
Fotos a seguir: acervo de Rui Gassen
Desta vez foram a uma calçotada. Achei curioso quando tentei comparar com alguma festividade como esta no Brasil. A maioria de nossas comilanças coletivas, feitas do lado de fora de casa, tem algo a ver com algum alimento proteico. Churrascos, peixadas, boi no rolete, afogado, porco paraguaio etc. Como prefiro pamonhadas, a calçotada tem mais a ver comigo que sequer tem churrasqueira fixa. O modo de comer os calçots lembra o jeito selvagem de se engolir turu na Ilha do Marajó, mas eu já estou de olho nos brotos de cebola que encontro na feira de orgânicos do Parque da Água Branca para fazer arremedos de calçots para serem comidos com o molho de amêndoas no prato.
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Cebolas orgânicas daqui |
Eu adoraria estar lá na casa da amiga de dança da Mariângela para apreciar não só a calçotada, mas também as botifarras de javali, aguardentes e assados de cordeiro feitos pelo pai da moça, mas enquanto não posso contar minhas próprias impressões, deixo a palavra com o Rui, meu fiel correspondente para assuntos da Catalunha. Como retribuição, faço propaganda do seu belíssimo trabalho de cerâmica: facebook.com/rui.gassen.
"Oi Neide! Saudades. Estes dias participamos de uma calçotada na casa de uns catalães. Estava ótima. A cebola que usam é a mesma que se usa na culinária do dia a dia, com a diferença de que é de 2 anos. Ou seja, são os brotos da cebola plantada no ano anterior. Os calçots são os brotos desta cebola. Tem este nome porque os brotos são "calçados" com terra fofa como fazem com o aspargo, para que o vegetal fique comprido e tenro. Na planície
perto de Tarragona, na cidade de Vals, fazem a festa dos calçots. É a terra da cebola. Eles colocam os calçots numa grelha e assam como se fosse churrasco. Depois de queimados, são retirados da grelha e enrolados em jornal para que continuem cozinhando. Depois de estarem todos assados são colocados na mesa. A aparência é feia. Tens que segurar o talo queimado e puxar as folhas do meio. Sai o miolo super tenro e quentinho. Em seguida, se mergulha o talo numa cumbuca de molho especial. Se levanta o calçot bem alto e vai largando
devagarinho na boca. É meio selvagem, mas é saboroso. Parece que estás comendo uma cobra. Fica gostoso intercalar com uns goles de vinho servido no Porró. Dá uma sujeirada danada, por isto se come fora da
casa, na varanda onde está a churrasqueira. Todo mundo fala que a chave do sucesso é o molho. A Mariângela vai te mandar a receita. Acho que comi uns 10 talos. Junto servem o pà amb tomàquet. Abração!
Seguem as fotos. Rui Gassen"
Fotos a seguir: acervo de Rui Gassen
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O que é, o que é?
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Pepininho silvestre
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Na cerca de uma casa perto daqui |
Resposta à última charada: pepininho silvestre. Obrigada a quem participou e parabéns aos vários o leitores que acertaram. Aos que erraram, ao menos passaram perto, não se distanciando da família botânica.
Minha fonte de abastecimento destes pepininhos continua sendo a cerca de uma casa abandonada perto daqui. Foram encontrados pelo leitor/ amigo Guilherme Ranieri durante aquela expedição pelo bairro no Terra Madre Day. Sempre que passo por lá, trago uma mãozada para colocar na salada.
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Quando verde é comestível - crocante, lembra pepino caipira |
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Quando maduro não é comestível e fica assim, quase negro e mole |
Na feira de produtores de orgânicos de Porto Alegre eventualmente aparece nas bancas. E por lá também são feitos picles. Por aqui, nunca vi. Fique de olho nas cercas.
Para saber mais sobre este pepino, consulte as páginas da tese do Knnupp (na p. 508 tem fotos) ou procure na literatura internacional com outras sinonimias botânicas, como M. pendula. Ou Melothria guadalupensis (Spreng.) Cogn.; Melothria scabra Naudin; Bryonia guadalupensis Spreng.; Melothria quadalupensis (Spreng.) Cogn.; Bryonia convolvulifolia Schltdl.; Melothria fluminensis Gardner; Melothria donnell-smithii Cogn.; Melothria donnell-smithii var. hirtella Cogn.; Melothria donnell-smithii var. rotundifolia Cogn.; Melothria fluminensis var. microphylla Cogn.
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Com manteiga, 'papoula' de beldroega, flor de manjericão anis e mini blini |
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Não, não dá prazer comer mini blini deste tamanho. Foi só uma brincadeira |
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Bom mesmo é comer na salada |
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Ou purinho como petisco. Nhac! |
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Sobre mangas
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Mangas papo-de-rola e pingo-de-ouro, de Salvador |
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Mangas ubás (as menores) e sapatinho, as demais, presentes do João |
Mas em janeiro escrevi sobre elas para minha coluna no Paladar e um leitor mineiro do caderno me escreveu corrigindo. "Prezada Neide Rigo, tomo a liberdade de informá-la que você cometeu um pequeno equívoco na sua coluna de hoje, no caderno Paladar. Na realidade, a manga que a gente massageia, faz um furinho na ponta com os dentes e chupa o sumo é a sapatinho, que tem fibra que nem corda de sisal. A espada, rainha de todas as mangas, não tem fibra e seu sabor só é confrontado com o da ubá, que pode ser chamada princesinha de todas as mangas, até pelo seu tamanho diminuto.".
Pois eu, ignorante, chupava mesmo a espada apertando, não conhecia ao vivo nem a sapatinho que parece ser mais apropriada. Nem a ubá, da qual falaria no email seguinte, que é mais de comer. "Neide, realmente a casca da sapatinho é mais grossa, mais flexível e ela tem muito mais sumo do que a espada. Mas tem de se tomar cuidado ao apertá-la para a casca não se romper. Infelizmente não existem mais as sapatinhos nas barracas das feiras e gôndolas de supermercados. Nesse fim de semana vou tentar encontrar algumas em fazendas de parentes e amigos e mandá-las para você. Entro em contato se tiver êxito na empreitada. E a ubá, você conhece? Ela domina os manguezais da Zona da Mata mineira, onde encontra-se uma cidade que leva o seu nome e que é vizinha a Cataguazes, imortalizada pelo modernismo brasileiro pelas mãos do genial cineasta Humberto Mauro".
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Brotos das manga ubá e sapatinho, presentes do João, já foram pra Piracaia |
O fato é que João Bosco me mandou uma caixa de mangas misturadas, ubás e sapatinhos. Uma gentileza sem fim, que eu não soube como retribuir. E ele tinha toda a razão. A sapatinho é muito melhor para se chupar apertando, a casca é mais resistente e flexível que a espada. Mas as duas se prestam a isto. E o sabor da sapatinho é muito bom, ligeiramente ácido. Já a ubá é incrível, tem massa cremosa, com pouca acidez, muito doce, sem fibras - pode ser mordida sem deixar fiapos nos dentes ou no caroço.
Saindo das mangas mineiras e indo para Piracaia, nos deparamos com dois pés de mangas carregados. Um num vizinho mais próximo, onde temos comprado leite e ganhado nata. Outro, no mineiro onde comprei queijo. Os dois me disseram que foi a primeira vez que os pés carregaram tanto.
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Nossas mangas de Piracaia |

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Nossas mangas abertas |
Na nossa chácara havia poucas fruteiras quando chegamos lá. Alguns araçazinhos bem jovens, uma pitangueira doente, uns ingazeiros, alguns cítricos doentes, um abacateiro vistoso que passava o meu tamanho mas que foi cortado pelo antigo caseiro antes de sair por conta própria (as pequenas vinganças) e uma mangueira quase na frente de casa que não se manifestou quando deveria ter flores. Mas nesta última estação, floresceu e uns frutinhos vingaram. Eu fiquei chocando aquelas manguinhas escondidas sob as folhas todo final de semana. Até que Marcos resolveu podar a mangueira porque estava com galhos muito baixos. Não se lembrou que ali se escondia um cacho de mangas. Quando percebi, corri pra conferir se as manguinhas se foram junto com a poda. Consegui recupera-las e trouxe pra casa (sim, claro, discutimos por isto). Estavam granadas e talvez tenham sido colhidas à revelia da chocadeira na hora certa. Pois quando percebi que estavam mais macias e com a casca alaranjada, abri e tive uma surpresa. Estavam super coloridas, cremosas, macias, doces, perfeitas, colhidas no momento certo. Eu, que não conhecia manga ubá, acho agora que são as próprias. Neste último final de semana chegamos à chácara e encontramos uma cacho de banana ouro e mudas de manga e outras plantas, presentes do novo caseiro (parece que agora acertamos). E foi ele quem nos contou que em Piracaia nunca dava manga, porque nunca coincidia de ter uma situação climática perfeita na época da floração, sem chuvas. Neste ano, tudo conspirou a favor e os felizes proprietários de mangueiras se esbaldaram. Até eu, graças à colheita do Marcos, pois se as frutas não fossem colhidas naquele momento talvez tivessem ficado aos periquitos que já sondavam a árvore.
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Manga papo-de-rola |
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Mangas pingo-de-ouro |
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Taioba, arroz e feijão. Ou rolinhos de taioba
Considere apenas que adaptei a técnica. Conheci o prato quando dei duas folhas de taioba para minha vizinha Sahakuntala e depois ela me chamou para comer o que tinha feito. Fiquei encantada com as fatias do rocambole cozidas e fritas servidas com pão indiano - além de iogurte e chutney. Ela só me explicou mais ou menos como eram feitas, que usava farinha de grão de bico. Perguntei o nome e ela disse baixinho, "pata". Cheguei aqui e fui procurar por todas as variações para o que tinha entendido. Cheguei em patra e achei este vídeo: http://www.indianrecipevideo.com/Pages/Patra.aspx. Patra é o nome das folhas de taro e, parece, também do preparo. Pelo que vi, podem ser usadas folhas de taro ou de taioba. Aliás, digite patra leaves no google imagens e vai encontrar várias receitas como a que comi na indiana.
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Os que comi na casa da vizinha indiana |
O recheio tradicional é feito como gram flour ou farinha de grão de bico e pode levar temperos variados como tamarinho, cominho, coco, etc. O da Shakuntala levava bastante pimenta. Na falta de grão de bico, usei aquela massa fermentada para idli, feita com farinha de arroz e farinha de feijão. Aliás, tenho feito bastante esta massa. Misturo as duas farinhas, junto água para formar uma massa densa, mas que não fica marcada quando cai, e deixo fermentar por um dia (ou menos se estiver calor). Depois é só temperar. Já mostrei o método mais rápido aqui e, a partir dos grãos inteiros de arroz e feijão, ali. Se quiser fazer a receita original, procure nos sites indianos. No meu recheio incluí cebola roxa, cebola vermelha ardida sem sementes, cúrcuma, grãos de coentro e de cominho, além de sal.
O importante é que a massa tenha consistência ligante para juntar as folhas no cozimento a vapor. E depois, que fique firme para ser cortada. Tradicionalmente as fatias são fritas em imersão, quando perdem um pouco o desenho do caracol. Mas podem ser apenas grelhadas e ficam lindas. Podem ser ainda apenas aquecidas no vapor e servidas com molho picante, afinal já estão cozidas. É fundamental que o rolinho seja cozido por pelo menos 25 minutos no vapor, pois as folhas de taro ou taioba podem pinicar se não forem suficientemente cozidas (e não é só por causa do ácido oxálico, mas também de outras substâncias que são inativadas com o calor). Usei duas folhas grandes, uma sobre a outra de lados alternados. Aparei as nervuras centrais mais grossas, lavei bem e enxuguei. O recheio, espalhei com as mãos. Servi com um chutney de frutas feito pelo amigo Fernando Goldenstein (cuja receita, darei depois). Desculpe a falta de uma receita, mas já fiz três vezes, sempre esquecendo de medir os temperos que tenho acrescentado conforme o humor e a disponibilidade. Quero mostrar a técnica. Pelas fotos, vai entender.
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Ingredientes que tinha às mãos |
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A massa fermentada |
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O recheio levou cebola, pimenta e especiarias |
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Espalhei o recheio com os dedos |
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Uma folha sobre a outra, cada qual coberta de recheio |
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Dobre as bordas e espalhe sobre elas um pouco do recheio, para grudar |
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É só enrolar como rocambole |
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E cozinhar no vapor por 25 minutos |
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Depois é só dourar com um pouco de azeite ou manteiga na frigideira |
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E nhac! |
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Fritada sem ovos
Ontem mostrei a versatilidade daquela massa de idli, com arroz e feijão, por isto, só para atiçar sua curiosidade em testar, deixo aqui a dica de usar o que você tiver à mão para fazer uma fritada rápida sem ovos, desde que já tenha a massa fermentada na geladeira. E mesmo que não tenha, pode usar fermento químico, que também produz uma massa fofa. Está certo que perderá a ligeira acidez que dá graça à massa, mas ficará aerada e você poderá incorporar os temperos que quiser. Às vezes faço uma fritada como prato único no jantar, juntando cebolas, tomates, pedaços de queijo, de frango, o que tiver sobrando. Para o sítio, levo a massa já fermentada e aproveito os ingredientes que colho lá. Tomatinhos, pimenta doce e ardida, ervas, sementes de beldroega, folhas de mostarda, jiló, quiabo, o que tiver. E vira esta fritada que você vê na foto.
Para a massa, é só juntar quantidades iguais de farinha de arroz e farinha de feijão fradinho, misturar com água e deixar fermentar. Depois basta temperar: sal, pimenta-do-reino, cominho, grãos de coentro, folhas de salsa ou coentro, cúrcuma etc. Já fiz vários posts a respeito da massa de idli, mas veja este link onde falo da fritada, com o jeito de fazer. Tenho usado frigideira do tipo omeleteira, mas se não tiver, é só tampar a frigideira (que deve ser besuntada com azeite) e deixar cozinhar em fogo baixo. Quando a parte de cima estiver quase sólida, basta virar para dourar do outro lado (se não estiver usando omeleteira, use um prato como apoio). Sirva com uma salada, como entrada, prato único, só vai depender dos ingredientes que juntar. E nhac!
Para a massa, é só juntar quantidades iguais de farinha de arroz e farinha de feijão fradinho, misturar com água e deixar fermentar. Depois basta temperar: sal, pimenta-do-reino, cominho, grãos de coentro, folhas de salsa ou coentro, cúrcuma etc. Já fiz vários posts a respeito da massa de idli, mas veja este link onde falo da fritada, com o jeito de fazer. Tenho usado frigideira do tipo omeleteira, mas se não tiver, é só tampar a frigideira (que deve ser besuntada com azeite) e deixar cozinhar em fogo baixo. Quando a parte de cima estiver quase sólida, basta virar para dourar do outro lado (se não estiver usando omeleteira, use um prato como apoio). Sirva com uma salada, como entrada, prato único, só vai depender dos ingredientes que juntar. E nhac!
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Água para beber, lavar, banhar, cultivar
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Em Siena, Itália |
Eu quase não tenho sede, esqueço de beber água, mas se como fora de casa, geralmente uma comida um pouco mais salgada que a minha, ou mesmo quando erro a mão, tenho sede e gosto de beber água bem fresca, do filtro, em caneca de alumínio bem areada. Aí bebo com tanto gosto que quase cedo à tentação de salgar sempre mais a comida, só pra voltar a ter este prazer. Mas, sei, quando a gente tem sede, é porque já passou da hora de beber água. O ideal é ir bebendo ao longo do dia e admiro quem tem esta disciplina e vontade. Agora, a sensação de saciar a sede não tem equivalente, porque se somos 3/4 de líquido, claro, água é vida, água é vida.
Só não entendo porque água de beber tem cedido lugar a bebidas açucaradas, Ades de soja cáustica, sucos de pozinho, imitações de suco natural etc. Tem gente que compra suco de caixinha porque acha realmente que o filho e a família precisam daquilo, que é um jeito de comer frutas, ingerir nutrientes. Não é. Coma fruta, beba água. E um suco natural de vez em quando, por prazer. Assim como cerveja, vinho. Pra hidratar, matar a sede, água.
E nós, que temos água limpa na torneira, não esqueçamos de reverenciar o líquido tão precioso e tão escasso para muita gente no mundo, seja em Uauá ou no Senegal.
Bem, aqui vai minha singela homenagem ao dia da água com fotos que tirei por aí, onde a água é a vida.
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Poço coletivo no Senegal |
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Três mulheres se revesam para puxar a corda do poço de 60 metros |
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No Senegal, menino me mostra com orgulho o pote de água |
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No Senegal, cavalo prefere a água limpa |
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Encontro das águas em Manaus |
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Búfalos nadam em lago na Ilha do Marajó |
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Poço coletivo: na Ilha do Marajó nem sempre há água farta para beber |
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E crianças andam longas distâncias com água puxada do poço na cabeça |
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Joaninha, de Uauá, adora beber água |
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Esta, sim, reverencia cada gota de água do caldeirão |
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Orvalho em folha de almeirão roxo, em Fartura - SP |
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Louça lavada na casa dos amigos ceramistas |
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Trepadeiras se aproveitaram da água do verão |
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Água da represa em Piracaia, que abastece nossas torneiras em Sâo Paulo |
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O que é, o que é?
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Sementes de leucena ou guaje. Comem-se
Pois é, muita gente achou que eram sementes de abóboras as pepitas verdes na foto da charada no último post. São sementes de leucena. Realmente são parecidas no tamanho e no formato, mas não no sabor.
Esta foi uma das mais felizes descobertas dos últimos dias. Gosto muito de comida mexicana, embora nunca tenha estado no México – ainda, e fico entusiasmada quando descubro que temos aqui negligenciados os ingredientes apreciados naquele país. É o caso dos nopales, da flor de babosa, do huitlacocle, da flor de iuca, só para citar alguns. E, agora, o time está completo com as sementes de leucena ou guajes, como são conhecidas por lá. Aliás, podemos adotar o mesmo nome, guaje, por que não. Deixemos leucena para a praga exótica ou nutrição animal e guaje, para a iguari que é.
Sim, a leucena é tida como espécie exótica daninha. Apesar de ser ótima fonte proteica para o gado, coloca em risco nossa flora. Mas as árvores aqui estão e não sendo possível exterminá-las, o negócio é não deixar as vagens amadurecerem, impedindo uma proliferação descontrolada. Para isto, não há melhor solução, que comê-las antes que germinem. É um ótimo controle biológico.
Até pouco tempo atrás eu nada sabia sobre estas sementes e só ouvia falar de leucena quando o assunto era nutrição animal. Sequer imaginava a cara da árvore. Mas o amigo e leitor Guilherme Ranieri, antes de se mandar para Irlanda, me mandou um email perguntando se eu sabia que as sementes são comestíveis. Não sabia, mas fui procurar saber através dos links que me mandou, de outras pesquisas e também com a colega mexicana Carmen Mendoza, que tem um ótimo blog de comida e ingredientes regionais, escrito com talento e precisão (www.saboreartentusiasma. blogspot).
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Leucaena leucocephala - flor como uma cabecinha branca |
Descobri que a planta- Leucaena leucocephala -é originária do sul do México e pode ser encontrada mais abundantemente nos estados do Sul, como Guerrero, Morelos, Chiapas e Oaxaca. Por sinal, o nome guaje ou huaje foi inspiração para nomear o estado de Oaxaca (pronuncia-se Oarraca ou guarraka), que deriva do nahuatl Huaxyacac, que quer dizer “no nariz dos guajes”. Do México veio para a América Central e do Sul.
Carmen Mendoza tem um post a respeito http://saboreartentusiasma.blogspot.mx/2012/03/no-me-hago-guaje-con-los-guajes.htmle mostra outra espécie que também é chamada de guaje, para que não se confundam as duas coisas. A outra é o que conhecemos por cabaça. Ela vive no estado de Morelos e me conta que lá se comem as sementes frescas e também as secas. Em seu post a respeito, dá receita de um mole de guaje ou guaxmole (huasmole, huaxmole, guaxmoles o moles de guaje), um guisado feito com as sementes de guaje - também conhecidas como cacalas, huaxin, gauxi, hausi ou cascalhuite, tomates, cebolas e carne de porco. As sementes são comestíveis em qualquer estágio. Podem ser cruas, cozidas, secas ou tostadas e a finalidade é dar consistência a guisados ou molhos. As sementes secas, trituradas, podem ser adicionadas a tortilhas, para enriquecer.
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As vagens podem ser verdes ou avermelhadas |
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Basta destacar uma banda da vagem e tirar as sementes |
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O ideal é colher as vagens marcadas com sementes graúdas |
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As sementes secas podem ser trituradas e usadas como farinha |
Bem, você pode me perguntar: sendo a leucena uma fabácea que, como feijões e outros grãos podem ter fatores antinutricionais, será que nossas variedades são mesmo comestíveis? Será que a domesticação no México não selecionou as mais apropriadas para alimentação? Não terão as nossas alguma toxicidade? Resposta: não sei. Nem postei nada ontem porque fiquei pesquisando e não encontrei nenhum trabalho brasileiro que indicasse o uso seguro da leucena na alimentação humana, mas também não encontrei nada que a desabonasse como tal (o que não significa a absolvição). Mas encontrei indicações do uso como alimento – certamente por influência do uso mexicano. Se era pra ter alguma intoxicação aguda, eu já estaria com pé na cova, pois desde que descobri que tenho uma árvore produtora de vagens no nosso sítio, já comi várias. Agora, se a coisa é crônica, daqui a alguns anos saberemos. Na maioria das vezes, comi crua, direto da vagem, como pode ser aprendido aqui neste vídeo.
De qualquer forma, o ideal é consumir cozida, como qualquer outra leguminosa (fabácea). E fica a dica para pesquisadores de nutrição: o potencial alimentício das sementes de leucena. A árvore se dá bem em clima árido (embora Piracaia não seja quente ou árido) e poderia ser uma alternativa alimentar, rica em proteínas, para populações com risco de desnutrição. E se esta pesquisa já foi feita, desculpe. Se alguém tiver referências, é só mandar.
Enquanto isto, podemos ir nos divertindo com as vagens perdidas pelos nossos campos. Os americanos já estão fazendo a festa com estas vagens que, recentemente, descobriram nos mercados de produtos latinoamericanos. E logo a veremos nos pratos de chefs por aqui. E nós não precisamos nem ir aos mercados, elas estão fartas entre a paisagem, como verdadeiros mata-pastos. Nas ruas de São Paulo deve haver. Só não saia por aí comendo sementes cruas sem ter certeza da correta identidade da planta. Consulte guias pelo nome científico, tire fotos, compare, certifique-se com quem conhece.
Ah, sim, não falei nada do sabor, mas lembra um pouco alho e cebola. Uma mistura sutil dos dois, só o lado bom de cada um. Tem também um quê de shitake, especialmente no retrogosto (muito bom, diga-se). Lembra ainda aquelas folhas de cipó de alho (aliás, acabei de ganhar uma muda do Edilson, do viveiro Ciprest, que tem agora pra vender). É um sabor de tempero, umami. Bem, eu já comi muitas sementes cruas e usei em pratos cozidos, de vários modos, até no pão de abóbora. Prove você também e me conte o que achou. Veja aqui como usei:
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No bolinho de arroz e feijão no vapor, com camarão seco |
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No arroz, com pimentas |
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Como pesto, que temperou a abóbora |
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Na massa do pão de abóbora |
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Com abóbora e sementes de abóbora |
Para saber mais:
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Bichos de Piracaia
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Presentes de Páscoa

Presentes de Páscoa e de Natal deveriam ser sementes. Que brotam, se multiplicam, garantem a sobrevivência da espécie e vida aos que delas e de seus frutos se alimentam. Símbolos máximo de manutenção e renovação da vida, síntese da água, da terra e do sol, elas são nossos bens mais preciosos.
Ontem me chegou aqui uma caixa vinda de Pouso Alegre, Minas Gerais. Meu presente de Páscoa. Foi enviada pela leitora Izabel de Lima Adão, que fez a oferta nos comentários do post sobre as mangas: "Neide, não sei separar muito bem espécies de mangas, a não ser a que conheço como espada, mas lá em casa tem dois pés de espécies parecidas mas completamente diferentes no sabor e, como esse ano elas carregaram, muitas caíram e brotaram. Vc quer mudinha? se quiser, me mande e-mail com endereço para onde enviá-las . Tenho também sementes de uma alface que meus pais e avós cultivam há muito tempo e que eles chamam de alface de sombra roxa (é mais dura que as alfaces do mercado, própria para fazer uma sopa, que na nossa família é cultuada), está na época de plantar, se vc quiser me informe no e-mail. Ah! tenho mudinhas de nêspera, também. Abç, Izabel".
Claro que aceitei as mudinhas e pedi também a receita da sopa. Mas a caixa veio recheada de outras espécies em mudas ou sementes. Nêsperas e maxixe em frutos, alfaces e buchas em sementes, brotos de gravatá e uma estufinha de garrafa de alvejante bem vedada cheia de mudas de manga. A embalagem dos bulbos de gladíolo, das nêsperas e gravatá chamam a atenção pela beleza e praticidade. São a capa dos frutos de costela-de-adão. Além de lindas, são flexíveis, boas para acomodar frutos com delicadeza, e biodegradáveis.
Izabel teve ainda o cuidado de mandar junto com as espécies um pouco do terroir de seu quintal. Talvez não tenha tido a intensão, mas o matinho seco e a terra úmida que vieram juntos trouxeram um pouco dos aromas de solo sombreado aos pés das mangueiras, do musguinho que cresce verdejando o caule, dos fungos brancos que se espalham por baixo do mato molhado e alimentam formigas, da palhada em decomposição e de um fumacê de fogão de lenha que havia ali perto. Posso estar sonhando, mas todo este cheiro veio junto e acho que se um dia for até a cidade da Izabel serei capaz de encontrar seu pouso alegre pelo rastro.
Bem, Izabel, agradeço os presentes de Páscoa (ainda que não tenha pensado na data) e me empenharei para que tudo se multiplique. A sopa, a farei assim que colher minhas primeiras folhas de alface de sombra roxa.
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Parte da planta costela-de-adão para embalar |
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Doze mudas de mangas do quintal |
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Caixa de alegrias - sementes, bulbos, brotos, mudas |
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Caixas de bacalhau da Noruega sobre a mesa
Ainda faltam os bancos ou cadeiras, mas pelo menos mesa grande já temos para almoços na varanda, lá no sítio. De bacalhau sobre a mesa, nesta Paixão, só a lembrança do rótulo das caixas. Quero mesmo é comprar peixes frescos da represa de Piracaia. O tampo foi feito com caixas de bacalhau, destas que se compram nos mercados municipais, que vêm da Noruega. A madeira é mole, mas se trabalhada sobre uma base firme dá um efeito interessante. Já tinha visto na casa de minha irmã uma sapateira feita com as caixas de bacalhau pelo meu cunhado Darly e pedi para fazer a mesa. Dá um trabalhão para livrar a peça do cheiro forte e para deixar a superfície uniforme, mas valeu a pena.
Quem quiser ter uma igual, ele trabalha na Vila Gumercindo e aceita encomendas. Aliás, a marcenaria dele está começando agora e o trabalho é impecável. O bom é que ele sempre se entusiasma com qualquer maluquice que você pensa em fazer com madeira. Logo, logo, Come-se terá umas peças dele a venda, com coisas que pensei, como o mini maturador para queijo e prensas para tortilhas. Aguarde. Veja mais lá no blog: www.marcenariaduly.blogspot.com.
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A estreia. Darly, Marcos e Suzana |
Foto roubada do blog dele: Darly trabalhando na minha mesa |
Sapateira com caixa de bacalhau |
Marcenaria Duly - Darly Aguiar
Móveis e Objetos de madeira
Rua Dom Sebastião do Rego, 113-2, Vila Gumercindo, São Paulo, SP
Tel. 11 970.493.954 - marcenariaduly@gmail.com - www.marcenariaduly.blogspot.com
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Peixe é bom, mas faça boas escolhas
Sei que o leitor do Come-se não é o tipo que compra salmão de criação porque está barato no supermercado ou acha que comer bacalhau é uma necessidade na sexta-feira da paixão (ok, se você não come carne por motivos religiosos, tem a opção de ser vegetariano neste dia), mas sem querer jogar um balde de água fria na empolgação de ninguém, é bom lembrar que temos vários peixes em risco de desaparecer, vários contaminados nos criatórios, vários de criatórios insustentáveis, vários criados na base de ração aditivada com antibióticos, vários de criatórios causadores de problemas ambientais, vários pescados em períodos de defeso, vários pescados antes da maturidade sexual, vários importados da Tailândia e de outros países asiáticos, provenientes de criatórios sabe-se lá de que tipo, vários oriundos de pesca predatória etc. E, por fim, é bom lembrar que temos vários peixes negligenciados porque são de espécies pequenas, porque tem espinhas e escamas, não fazem grossos filés ou postas, não tem a todo momento nem representam símbolos de status (já reparou como tem gente que fala "eu comi um salmón grelhado"? Não diz salmão, mas salmón, já querendo ser diferente de quem come "lambarrrr-ri" pescado no corguin bem fritin. Bobagem!). Bem, estes peixes tem a vantagem de não custarem caro e serem deliciosos se bem preparados. Ainda garantem o sustento de pescadores artesanais e seu consumo não agride o meio ambiente nem coloca em risco os estoques (e sua saúde).
Pensando nisto, o Slow Food está em campanha pelo consumo consciente do peixe e lançou o Desafio Slow Fish Day. Informações nos textos lá embaixo.
Antes de copiar aqui parte do texto da campanha do site do movimento, aproveito para deixar o contato do Fernando, do site Alimento Sustentável, que acaba de avisar que terá peixe para este final de semana. Ele compra de pescadores artesanais, a preços justos.
Fernando pode atender aos pedidos que forem feitos até hoje às 23 horas. Poderá entregar em São Paulo cação, carapau, espada, galo, pescada, sororoca, tainha e xaréu entre outros, em postas, inteiros ou filés. Também tem mexilhão fresco. Fernando Oliveira: www.alimentosustentavel.com.br - fernando@alimentosustentavel.com.br
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Desenho para o Come-se feito pela Adrianne Gallinari |
Está lá no site do Slow Food Brasil:
"Com a pesca, assim como com a agricultura, o Slow Food acredita firmemente que cada indivíduo pode contribuir em algum nível para mudar os mecanismos de um sistema alimentar globalizado baseado na exploração intensiva de recursos.
Com a sua forte experiência internacional e local, o movimento está convencido de que só podemos trazer mudanças, retornando às origens dos alimentos, colocando a curiosidade e o prazer ao serviço de escolhas responsáveis.
Estamos redescobrindo o diferente, os sabores esquecidos, as espécies locais. Que tendem a cair no esquecimento num mercado globalizado e massificado. Recuperando receitas antigas, novas e atualizadas. Estamos buscando recuperar a sabedoria tradicional de comunidades de pescadores, que muitas vezes não mudaram muito suas práticas de pesca ancestrais, as dietas de gerações passadas, e os recursos conhecidos e desconhecidos guardados por mangues, rios, lagos e mares. Tudo isso faz parte da nossa história e nossa identidade. Medidas assim, a longo prazo vão formando tendências que despressurizam impacto sobre determinados nichos de produção intensificados, trazendo diversidade às escolhas. Toda a cadeia de produção entra num fluxo de melhor equilíbrio.
Neste espírito, a campanha internacional Slow Fish aporta no Brasil lançando iniciativas e compartilhando material de consulta que promova a pesca artesanal, as espécies negligenciadas, o consumo consciente e responsável, e inspirem a reflexão sobre as condições e gestão dos recursos marinhos e continentais.
Para ter alguma chance de sucesso em harmonizar de fato os movimentos da natureza e das necessidades do homem, esta reflexão deve começar em nível local.
Ou seja, com você. "
Continue lendo no site do Slow Food: http://www.slowfoodbrasil.com/slowfish e participe do Slow Fish Day. Veja no site como participar.
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Feijões: outros destinos. Coluna do Paladar. Edição de 28/03/2013

Hoje o caderno Paladar é dedicado a bacalhau e batatas, mas tem também um pedaço pra coluna Nhac sobre feijão, que está reproduzido lá no blog do caderno: http://blogs.estadao.com.br/paladar/pure-de-feijao-por-que-nao. Reproduzo a versão completa, já que temos cá espaço de sobra pra textos e fotos, eba!
Feijões de outro jeito
Minha primeira experiência glutônica, fiquei sabendo por outros, tão tenra era a idade, do tempo em que a família ainda não tinha geladeira. Era prática cozinhar feijão dia sim, dia não e, para não azedar, colocava-se a panela na parte mais fria da casa – dentro de vasilha bem tampada, embaixo do guarda-louca, sobre o cimentado frio. Pois alcancei o local engatinhando e fui encontrada ali, ajoelhada ao lado do caldeirão vazio, com as duas mãos, cara, boca, olhos e pés lambuzados de feijão frio. E o pior é que não passei mal.
Podemos até não admitir, mas já fomos um povo papa-feijão: do arroz com feijão, do feijão com farinha, da feijoada. E ainda assim quase não encontramos receitas com os grãos nos livros, como se não houvesse nada a fazer com eles além do feijão tropeiro, da feijoada, do tutu, do baião de dois. O ensopado feijão de todo dia, então, é como se todo mundo soubesse fazer, como se fosse sempre uma coisa só. Porém, cada família vai adquirindo temperos próprios e não registrado nos livros de receita - há quem o tempere com cebola e alho, só alho socado, toucinho fresco ou defumado, carne de fumeiro, courinho de porco, uns pedaços de orelha, um naco de carne seca, umas rodelas de lingüiça, pedaços de legumes, folhas de louro, coentro, salsinha, cebolinha e até tempero pronto. Tirando estabelecimentos populares, a maioria dos restaurantes também o ignora como se feijão fosse ingrediente menor.
O fato é que o IBGE já constatou que diminuímos o consumo de feijão. Nem bem exploramos o uso deste ingrediente e já vamos declinando. Por mim, daria mais atenção às nossas clássicas formas de consumo, mas também aos usos que fazem dele nossos vizinhos da América Latina.
Papa-feijão assumida, lembro do meu avô paranaense que, quando comia, engrossava seu feijão do prato com farinha de milho bem amarela e crocante, fazia capitão e entregava aos netos, que achavam mais divertido comer feijão em bolinhos sólidos com as mãos que com caldo, no prato, de colher. A imagem do feijão cozido lentamente em fogão de lenha na panela de ferro completam a magia da lembrança, mas mesmo os grãos feitos em panela de pressão têm seu encanto. Aliás, sem a ajuda deste utensílio, indispensável para a economia de tempo e energia, o uso do feijão já seria coisa do passado. O chiado da panela de pressão começava logo cedo, antes de as crianças irem para a escola, e estava para o ambiente feminino e doméstico nos dias úteis como a voz do narrador de jogo de futebol no rádio de pilha longínquo estava para os homens nas calçadas aos domingos pela tarde.
Antes que os grãos cozidos com folhas de louro, ainda insossos e com líquido ralo, fossem jogados em outra panela com refogado de alho socado com sal e cozido mais tempo até engrossar o caldo, eu roubava um pouco deles num prato, polvilhava com sal e comia como se fossem pinhões ou amendoins cozidos. Era divino o sabor do feijão recém-cozido, íntegro. Um dia era feijão roxinho ou rosinha; no outro, canário; às vezes, o jalo; o preto, só para feijoada e, por último, quase sempre, o carioquinha. Gostava de todos eles, assim, puros, sem adornos. Às vezes temperava sem preconceitos também com açúcar.
Minha mãe nunca ouviu dizer que alguns baianos comem feijão de leite (com leite de coco e açúcar) na Semana Santa, mas lhe contaram que japoneses comiam doce de feijão. Ninguém deu a receita de tsubu-annem falou que usam o feijão azuki no doce que recheia pãezinhos e pequenos bolos de arroz, mas bastou saber que de feijão se faz doce para que ela transformasse os grãos cozidos e passados em peneira em delicioso doce em pasta, temperado com cravo e canela, como um doce de batata-doce com consistência de creme de castanha portuguesa. Era muito gostoso, um jeito de satisfazer as crianças com ingredientes baratos que tinha sempre em casa. Por isto, eu não achava estranho provar feijões com açúcar.
Enquanto em casa o feijão imitava batata-doce já que não conhecíamos creme de castanhas, uma amiga me contou que a mãe húngara escalava o feijão tropical para se fingir de castanhas europeias no creme de marron temperado com rum e servido com chantilly, como comia em seu país. E todo mundo adorava. Sim, o doce de feijão lembra o de castanhas.
Se aqui o feijão é, assim, um grande imitador e mais consumido salgado, em grãos inteiros ou no máximo machucados, em vários outros países da América Latina (de onde o Phaseolus vulgarisé originário), o feijão é usado também na forma de purê. México, Peru, Costa Rica, Cuba, todos usam purê de feijão como ingrediente de doces ou salgados. Pode ser feito em casa, mas também é encontrado para se comprar, em lata. E variações de empanadas de platano, por exemplo, doces e salgadas, estão espalhadas por aí. A combinação de banana-da-terra (platano), o único ingrediente da massa, com feijão preto é imbatível.
Como em nossos mercados não encontramos purê enlatado, embora seja a coisa mais fácil do mundo deixar o feijão de molho e depois cozinhar em panela de pressão (e pode ainda ser congelado sem prejuízos), resolvi procurar alguma solução para abreviar o tempo do leitor. Comprei o feijão cozido e embalado a vácuo, mas só depois de provar percebi que já vinha com sal e temperos. Para o recheio salgado, tudo bem, mas para o doce, não temos alternativa senão cozinhar os grãos. A vantagem é que ainda temos muitos tipos de feijões Brasil afora, além do dominante carioquinha, e podemos ir fazendo variações sobre o mesmo tema.
E só para lembrar, feijão é um alimento de fibra – solúvel e não solúvel, com percentual calórico comparável ao pão, baixo teor de gordura e alto teor de proteína (melhor aproveitada quando acompanhado de arroz e outros grãos), além das vitaminas, minerais e fitoquímicos que nos protegem de doenças e nos ajudam a viver melhor. E poder ser guardado seco durante meses e
Então, para que as pesquisas do IBGE não continuem acusando baixas no consumo, se é impraticável comer todos os dias o bom e caldoso feijão para acompanhar o arroz, ao menos vamos mantê-lo por perto com outros preparos. O doce e as empanadas de platano são bons exemplos do potencial que temos ao nosso alcance.
Como cozinhar para fazer o purê: lave bem o feijão, que pode ser rosinha, rajado, roxinho, canário, carioca, preto etc, escorra, cubra com água fria na proporção de 1 litro para cada xícara, e deixe de molho por cerca de 4 horas ou até que todos os grãos estejam hidratados, sem rugas. Pode ser deixado de molho um dia para outro, sem problemas com excesso de hidratação. Escorra a água do remolho, junte mais água - para que cubra os grãos, com folga de uns cinco centímetros acima da superfície, e coloque na panela de pressão. No caso do feijão preto, não despreze a água, para que ele fique mais escuro, apenas complete com mais água. Coloque em panela de pressão, tampe e leve ao fogo alto. Quando a válvula começar a chiar, abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 20 minutos. Desligue o fogo, espere acabar a pressão e só então abra a panela. Em panela comum, a cocção pode levar de 1 a 2 horas dependendo da idade do grão. Deve-se acrescentar água quente à medida que for secando. Se os grãos estiverem bem macios, estão prontos. Se não, tampe a panela e cozinhe mais um pouco, juntando mais água quente se necessário. Separe o caldo e passe os grãos por passador de legumes e depois na peneira. Ou passe direto pela peneira, amassando com uma colher. O purê tem que ficar lisinho, sem pele. Se você cozinhar 250 g de feijão, vai obter cerca de 750 g de feijão cozido e 500 g de purê peneirado. Reserve o caldo para sopas e as fibras, para virado ou capitão.
Doce básico de feijão
2 xícaras ou cerca de 500 g de purê de feijão (250 g dos grãos crus devem render esta quantidade)
1 xícara (180 g) de açúcar
1 pitada de sal
Aromas*
Coloque o purê, o açúcar, o sal e os aromas numa panela, misture bem e leve ao fogo, mexendo devagar com colher de pau para não deixar pegar no fundo. Quando levantar a colher e os pingos ficarem marcados quando caírem na superfície, ou quando o doce começar a se soltar do fundo da panela, está pronto (cerca de 20 minutos). Coloque em vidro aferventado e seco, tampe e guarde na geladeira por até duas semanas. Sirva, se quiser, com creme de leite e gergelim preto torrado por cima. Ou use como recheio.
*Variações de aromas
Feijão preto: junte 2 dentes de cravo triturados e 1 colher (café) de canela em pó.
Feijão rajado: sementes socadas de três vagens de cardamomo e 1 colher (chá) de canela.
Feijão rosinha: 7 sementes de amburana (lembre-se de tirar com o doce pronto).
Feijão canário (bolinha ou amarelo): sementes de uma fava de baunilha
Opção para servir o doce: com nata e gergelim preto torrado
Empanada de banana-da-terra com recheio de doce de feijão preto
Lave 4 bananas-da-terra pequenas e maduras (ainda firmes), corte as extremidades e divida cada uma em 3 pedaços. Coloque-as em panela e cubra com água. Leve ao fogo e deixe cozinhar em fogo alto até que a casca se rompa. Se preferir, cozinhe a banana sem água por 3 minutos no microondas. Espere esfriar e descasque. Passe por processador ou peneira pra ficar um purê liso. Deve render 1 xícara. Deixe esfriar bem, separe o purê em 4 bolas e deixe na geladeira até gelar. Achate estas bolas entre duas folhas de plástico com o fundo de uma panela ou com prensa de tortilhas pressionando sem força, de modo que forme um círculo de 5 milímetros de espessura, mais ou menos. Retire a folha de plástico de cima e coloque no centro uma colherada de doce de feijão preto (para 1 xícara de purê de banana, vai precisar de cerca de meia xícara de doce). Dobre o pastel com a ajuda da outra folha de plástico, pressionando bem a emenda. Coloque um pouco de manteiga numa frigideira antiaderente e deixe dourar dos dois lados do pastel, retirando com espátula, com cuidado para não machucar. Se quiser, frite em óleo abundante como as tradicionais empanadas de platanos, mas não precisa, pois tanto a banana quanto o recheio já estão cozidos. Polvilhe com açúcar e canela.

Variação do pastel salgado: em vez de usar doce de feijão, use como recheio o purê temperado com refogado de alho, cebola e pimenta fritos em azeite. Jogue o purê sobre o refogado, tempere com sal e mexa. Se quiser, junte folhinhas de erva-de-santa-maria (epazote) e fatias de queijo fresco.

Para aproveitar o caldo do feijão, faça Sopa
Refogue 1 dente de alho picado, 1 colher (sopa) de bacon picado e 2 colheres (sopa) de cebola picada em 1 colher (sopa) de óleo e junte 1 litro de caldo de feijão. Tempere com sal, junte ½ xícara de macarrão padre-nosso e deixe cozinhar por cerca de 8 minutos. Junte salsinha picada, rodelas de pimenta dedo-de-moça e pimenta-do-reino.


Para aproveitar as fibras do feijão, faça Capitão
Numa frigideira, em fogo médio, frite 2 colheres (sopa) de bacon em 1 colher (sopa) de óleo. Junte 2 dentes de alho socados e 1 cebola pequena picada. Quando começar a dourar o refogado, acrescente 3 colheres (sopa) de cubinhos de pimentão de cores variadas e 1 pimenta dedo-de-moça picada (opcional). Misture e deixe amolecer. Acrescente 1 xícara de resíduo do feijão e mexa. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Junte ½ xícara de farinha de milho e misture bem. Se a mistura estiver muito seca, junte um pouco de água ou caldo de feijão. Deve formar uma farofa úmida que possa ser modelada. Retire porções e faça bolinhos com as mãos.
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Piquenique de Páscoa. Abril 2013
Ontem havia muita gente em casa comendo ovo de Páscoa, pernil e outros assados. Nós, do piqueniquepertodecasa preferimos fazer farofada na praça de sempre. Nosso ovo de galinha estava no recheio dos sanduichinhos de pão de forma da Chus, assim como na sua tradicional tortilha. E também na mona de Páscoa, aquele pão com ovo em casca, que eu fiz com ovos caipiras. Mas sobre nossa toalha xadrez havia ainda frango assado com farofa que Marcos e eu levamos, escondidinho feito pela Priscila, torta de sardinha da Fabi e Edu e bolo de arroz feito por mim, bolo de laranja, pela Chus. E também pães e biscoitinhos recheados de papoula feitos pela Veronika. Para beber, vinhos, sucos, cafés, e leite com chocolate e mel (apelidado rapidamente de suco de coelho de páscoa). As crianças fizeram fogueira, assaram goiaba verde e encontraram aranha com cara de mini caranguejo verde. Os meninos grandes cataram goiaba e brincaram de petanca, as moças descascaram goiabas. E o tempo era bom, ar frio de outono e raios de sol quentinhos atravessando os galhos balançantes das árvores. Ficamos ali até o anoitecer de um domingo de Páscoa memorável.

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