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Convite: lançamento do livro do Marcelo Terça-Nada

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O amigo Marcelo Terça-Nada, do Slow Food, jovem mineiro com sotaque, talentoso e querido, faz parte da dupla Poro junto com a artista Brígida Campbell. Juntos fizeram mais um livro, o "Pequeno Guia Afetivo a Comida de rua de Salvador".  É uma mistura de glossário, dicionário e guia das comidas que mais amamos quando andamos pelas ruas de Salvador, cidade onde hoje vive Marcelo. Não vi o livro ainda, mas, se conheço bem o profissional, já gostei.

O lançamento em São Paulo será neste fim de semana na 6ª Feira Tijuana de Arte Impressa, na Casa do Povo - Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, das 12 às 20 horas.

A banquinha do Poro ficará no segundo andar. Para encontrar, é só procurar pelo famoso cartaz da dupla:
http://poro.redezero.org/cartazes/cartaz-cozinhar-e-um-ato-revolucionario/. Marcelo só pede para que não deixem para a última hora, porque há poucos exemplares.

Veja mais sobre o livro aqui.



O que é, o que é?

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Já sabe, né? Então diga aí. O que é? Na segunda eu confirmo.
Bom fim de semana!

Bulbos de trevo ou azedinha

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Quem respondeu bulbos de trevo acertou. Estava fácil a charada apenas para quem conhece a planta que nasce à toa nos vasos, jardineiras e em lugares reservados às plantas cultivadas. E especialmente para quem tenta controlar sua população arrancando a planta toda. Às vezes os bulbinhos estão alojadas profundamente e o que se consegue arrancar são apenas os talos frágeis que crescem em direção à luz meio estiolado. Para conseguir controlar, é preciso tirar os bulbilhos que se parecem se multiplicar em progressão geométrica.


O gênero Oxalis agrupa muitas espécies conhecidas popularmente como azedinhas, inteiramente comestíveis. Tem das graúdas e das miúdas, das verdes e das roxas. Crianças parecem nascer sabendo que a planta é comestível e refrescante. Não me lembro de ter aprendido com alguém que podia de vez em quando comer os talos tenros e folhas ácidas dos trevos para refrescar.

Hoje eles estão espalhados por toda a América e são considerados plantas daninhas. Mas há muitos registros de seu consumo (várias espécies) por índios americanos - as  folhas cozidas ou cruas.  Há espécies com bulbos mais desenvolvidos, caso das ocas (Oxalis tuberosa), das quais já falei aqui - já plantei e colhi.

A planta é rica em ácido oxálico (caso também do espinafre, ruibarbo, azedinha etc) e por isto não deve ser comida aos montes. Mas uma folhinha aqui, outra ali, tudo bem. E as flores também, as rosas, amarelas, pinks.  Os bulbos são minúsculos como grãos de ervilha e, mesmo que queira comer uma pratada, só vai conseguir se tiver quem os limpe pra você. Um bom limitante para que não coma muito é sempre colher e limpar seu próprio bulbilho.  São gostosos, lembram batatas em pétalas, pois os bulbos são formados por várias camadas densas que se juntam firmemente. São mais interessantes pela textura que pelo sabor. E o valor nutricional nem deve ser levado em consideração dada a pequena quantidade que vai comer, mas, claro, tem vitaminas e minerais.  


Prefira arrancar as batatinhas (e isto é um ótimo controle populacional) de vasos que você mesmo cultiva e sabe que não colocou na terra nenhuma substância tóxica. Jardineiras abandonadas são pratos cheios para a planta.  Lembre-se que no fim da tarde as folhas se dobram e as flores se fecham. Melhor comer saladas no almoço que no jantar.

Na salada, os bulbos fazem uma graça. Já os comi cru, mas não gostei. E também por causa do ácido oxálico, melhor cozinhar.  Prefiro cozinhar em água e sal e refogar rapidamente em óleo de girassol virgem e orgânico (que tem sabor de alcachofras), completar com mais óleo cru, vinagre, sal e jogar sobre folhas verdes, que podem ser ou não os próprios trevinhos.  E nhac! Ou coloque junto do arroz na hora de cozinhar. Ou afervente e coloque na fritada. Ou invente seu jeito.

Repolho e ervilha para o bund gobi aur matter

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Gosto destas receitas que combinam dois ingredientes da estação. Ervilha e repolho são colhidos na mesma época. Agora, culturas de inverno.  O prato indiano bund gobi (repolho) aur matter (ervilhas) é um desses refogados simples, confortáveis e quentes,  para fazer de um simples arroz branco um acontecimento, de tanto que se combinam, especialmente no inverno. É também pra carnívoro nenhum sentir falta de um bife. A ervilha faz as vezes do feijão, na combinação de aminoácidos com o arroz. 

Colhi no sítio as ervilhas - ainda tem mais. Um tanto, vou deixar secar e bastante delas vou debulhar e congelar assim, frescas.  O repolho é comprado, mas as folhas verdes de repolho, que também aproveitei, nasceram num pé de repolho em volta da cabeça principal.  Folhas verdes escuras são sempre mais nutritivas, mas colhi mesmo pensando no aproveitamento, já que folhas de qualquer tipo de couve são comestíveis (repolho, brócolis, couve-rábano, etc) e, neste caso, sabem à repolho, claro, sendo apenas um pouco mais firmes. 

A receita pede ingredientes que talvez você não tenha, mas a fórmula sofre muitas variações mesmo entre indianos. Então, se não tem alguns dos ingredientes, faça com o que tem, desde que mantenha a pimenta, o açafão-da-terra, o cominho, o açúcar e o limão (aliás, esta é uma combinação infalível para vários legumes e verduras na cozinha indiana). 

Segue aqui minha receita também com algumas variações, como na proporção de repolho e ervilha (usei o que tinha, mas normalmente é maior a quantidade de repolho) e no acréscimo do pó de curry como reforço - só para usar o que fiz, mas não precisa. 

Repolho com ervilhas e especiarias (bund gobi aur matter)

2 colheres (sopa) de óleo (use de girassol orgânico ou ghee, se puder)
1 pitada de assafétida 
1 colher (chá) de grãos de cominho 
1 colher (chá) de grãos de mostarda escura
1,5 xícara de grãos de ervilhas frescas
2 pimentas dedo-de-moça verdes cortadas ao meio de comprimento 
2 xícaras de repolho cortado fininho (pode misturar com as folhas de repolho)
1 colher (chá) de cúrcuma em pó (açafrão da terra)
1 colher (chá) de pó de curry
1 pitada de pimenta seca (tipo calabresa ou daquelas em flocos para kimchi)
3/4 colher (chá) de sal ou a gosto
1 colher (chá) de açúcar 
2 colheres (sopa) de limão 
Folhas de coentro à vontade 

Aqueça o óleo em fogo médio numa panela. Quando estiver quente, junte a assafétida, o cominho e as sementes de mostarda. Quando os grãos começarem a pipocar, junte a ervilha e as pimentas. Refogue para impregnar os grãos. Junte o repolho, a cúrcuma, o pó de curry, a pimenta, o sal e o açúcar. Misture bem, abaixe bem o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar até os legumes estarem macios. Se precisar, junte gotas de água. Cerca de 15 minutos depois, prove o ponto dos legumes e o sal. Corrija se for necessário. Adicione o limão, mexa e junte as folhas de coentro. Apague o fogo e sirva bem quente. 

Rende 4 porções 
E nhac (com arroz e fritada de sobras de carne moída de recheio)


Couve-rábano com leite de coco e iogurte

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Os talos e as folhas também são comestíveis, nutritivos  e gostosos
Tenho vergonha de chamar o prato de Kalan, um prato típico do estado indiano de Kerala, mas foi baseado neste que cozinhei minhas últimas batatas de couve-rábano da estação (suspeito que já as encontrarei fibrosas quando voltar ao sítio).  Com toda a liberdade do mundo. E ficou divino.

Eu amo couve-rábano, como cru, inteira, como maçãs. São picantes, adocicadas, crocantes, suculentas. E gosto muito de molhos feitos com coco e iogurte. Qualquer legume cozido em molhos feitos com estes ingredientes, temperados com cominho, folhas de curry, açafrão, grãos de mostarda e pimenta, me deixa feliz por horas.  E outro daqueles pratos vegetarianos que dispensam a carne. O Kalan pode ser feito com bananas verdes em cubos, inhames, carás e outros legumes. No Google você encontra várias receitas originais de kalan. A minha é só uma genérica adaptação - que funciona muito bem, é bom lembrar. E se não tiver todos os temperos, use o que consegue ter.  




Como minha amiga e leitora Ana Perin descobriu que estou na fase de desejar estes temperos indianos, me mandou o vídeo sobre a arte do Kolam, no Sul da Índia, mesmo sem saber que estava fazendo uma imitação do prato com grafia parecida.  Li em algum lugar que originalmente os desenhos, com linhas ligadas, eram feitos com pó de arroz integral para atrair formigas que dele se alimentavam, celebrando assim a comunhão e equilíbrio entre seres vivos. Hoje as mulheres acordam mais cedo que o sol e desenham na porta de casa usando o pó branco, que também pode ser pó de giz. Uma intervenção urbana tão moderna quanto eterna de significado ou quanto efêmera no significante,  afinal as linhas vão se desmanchando no caminhar do dia, dos passantes e do vento.

Couve-rábano no leite de coco e iogurte condimentados

6 batatas de couve-rábano cortadas em cubos 
1 colher (chá) de cúrcuma (açafrão da terra) em pó 
1 colher (chá) de sal
2 colheres (sopa) de óleo de coco
1 colher (chá) de mostarda escura em grãos 
1 colher (chá) de cominho em grãos 
1 colher (chá) de grãos de feno grego 
1 galho de folhas de curry 
1 pimenta dedo-de-moça partida ao meio 
1 xícara de iogurte ou kefir
1 xícara de leite de coco 
1 colher (chá) de pimenta em flocos ou a gosto 

Coloque o legume numa panela e cubra com água. Tempere com a cúrcuma e o sal e leve ao fogo. Cozinhe em fogo baixo até os cubos ficarem macios. Deixe secar quase toda a água.  Reserve. 
Numa outra panela ou frigideira, aqueça o óleo e coloque a mostarda e o cominho. Quando começarem a pipocar, junte o feno grego, as folhas de curry e a pimenta. Refogue um pouco e junte o iogurte e o leite de coco misturados. Aqueça bem e junte os legumes cozidos e a pimenta em flocos.  Cozinhe por alguns minutos só para incorporar o molho. Prove e corrija o sal, se necessário. 

Rende: 4 porções 

E nhac




Convites de última hora. Hoje, Amanhã, Sábado

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Hoje à noite, tem atividade no Sesc Belenzinho do projeto "Comer é Mais", do qual sou curadora. Quem fala hoje É Claudia Mattos, chef do Zym e líder do Slow Food São Paulo. O tema: Slow Food. É só aparecer lá no Belenzinho às 19h30.

Veja lá na página do Sesc no facebook:
Sesc Belenzinho
https://pt-br.facebook.com/sescbelenzinho

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Amanhã, quinta-feira, vou dar uma oficina na USP, Faculdade de Saúde Pública, durante o evento organizado pelo centro acadêmico Emílio Ribas nesta Semana do Nutricionista. Depois da exposição, vamos fazer uma caminhada pelo jardim e pela horta comunitária da faculdade para reconhecimento e discussão.  Inscreva-se já.
16h: Oficina culinária: Um diálogo sobre o cotidiano e a alimentação: resgate da cultura alimentar brasileira

Veja lá na página da Semana, toda a programação e inscrições.
https://www.facebook.com/events/440082966133440/

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E, no próximo sábado, vou estar no Festival de Tiradentes e vou falar às 11 horas.
http://www.gastronomiatiradentes.com.br/index.php/espaco-senac-largo-das-forras/
Veja a programação do dia (e as demais, no link acima)

30 de agosto – sábado
10h00 - 10h45
Food Truck Tex Mex
Arturo Herrera, La Buena Station, São Paulo, SP


11h00 - 11h45
Cozinha brasileira além do trigo
Neide Rigo, blog Come-se, São Paulo, SP


12h00 - 12h45
Com quantas garfadas se faz um crítico?
Luiz Américo Camargo, jornalista do Estadão, São Paulo, SP


13h00 - 13h45
Carne de caça
Gonzalo Barquero, Cerrado Carnes, São Paulo, SP

Interação urbana, doa-se jornal lido e ganha-se almeirão plantado

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Não sou uma pessoa muito gregária, não sou do tipo militante, não consigo me comprometer nos trabalho de equipe que envolvem muitos projetos e divagações, mas também não sou de ficar quieta reclamando da vida, da violência, do trânsito, da falta de tempo, da poluição e das agruras de uma grande metrópole como São Paulo.  Há algum tempo percebi que posso ter uma outra relação com meu bairro além do bom dia boa tarde entre os vizinhos.

Pela minha rua passa gente de todo canto, que também pertence ao bairro, já que passa aqui parte do dia trabalhando. Quando iniciei, com minha vizinha Ana Campana, a  horta comunitária City Lapa num pequeno espaço antes habitado por restos de poda grande e sacos de entulho, ouvi barbaridades de todo tipo de alguns vizinhos, como por exemplo que o pessoal da estação não iria respeitar a horta, que iria jogar lixo, que iria roubar as verduras (pra comer), num discurso carregado de preconceito.

Muitas pessoas que chegam de trem são de Barueri, Itapevi, Osasco, Presidente Altino ou às vezes vem de mais longe. São porteiros, recepcionistas, recreacionistas, professoras, guardas, seguranças, cozinheiras, acompanhantes etc. Eu também chego de trem, é bom dizer, e acho um luxo ter uma estação perto de casa que me leva ao metrô em duas estações.  Depois que iniciamos a horta, acabei conhecendo muitas destas pessoas, ao menos de vista, de sorrisos, cumprimentos simpáticos e elogios à iniciativa. Eles param, um perguntando se temos guaco, outro oferece chuchu brotado, quer conhecer um pé de boldo, um quer uma folhinha de bálsamo, outro diz que nunca tinha visto vinagreira fora do Maranhão, e assim seguem para o trabalho, deixando a impressão de que vão mais contentes, de que se relacionaram de alguma forma com o caminho por onde passam, agora com flores e ervas cheirosas.  Nunca vi jogarem lixo e só de vez em quando pego um papelzinho ou outro no chão perto da lixeira do poste, que deve ter caído no ato do recolhimento pelos garis.

Outro dia, uma moça com uma criança e um bebê veio ao clube e aproveitou para passear pela hortinha. Disse que gostaria de morar aqui e que gostava da horta. Foi só eu dizer que o único problema era a atual seca para a menininha, sem dizer nada, tirar uma garrafa de água da lancheira e ir molhar uma flor. Isto me comoveu.

Se uma simples horta no meio do caminho é capaz de modificar o ânimo daquele que tem o dia todo pela frente, isto já me deixa feliz. Agora, se é possível fazer um pouco mais, por que não? Alguns meses atrás percebi que não estava certo ficar guardando pilhas de jornal pra depois descartar tudo no lixo reciclável. Porque não oferecer para que outra pessoa lesse também ainda no dia? Afinal,  ler não apaga a impressão. Marcos e eu lemos o jornal no café da manhã. Por volta de sete e meia, oito horas, quase sempre o jornal já está liberado.  Então, resolvi colocar na calçada para que pegassem.

Se eu tivesse simplesmente deixado na porta, poderiam pensar que era lixo e é sempre encarado com certa humilhação pra muita gente pegar aquilo que foi jogado fora (eu nem ligo). E também poderiam pegar como jornal velho para o xixi do cachorro.  Agora, se eu colocasse um aviso de que estaria doando, se tentasse recompor os cadernos lidos e se protegesse com o próprio saquinho em dias de chuva, ninguém teria vergonha.  Seria como um sorteio, pega quem chegar primeiro. Foi tudo o que fiz, e as pessoas pegam sem pressa ou constrangimento como se fosse o jornalzinho do metrô.

Primeiro escrevi numa lousinha e deixei num suporte que colocava em frente à garagem  - funcionou mas dava mais trabalho, porque tinha que ficar colocando e tirando o suporte. E eu acha feio.  A segunda criação foi um suporte que achei mais charmoso. Ficou mais visível e as pessoas ficaram menos desconfiadas. Também tinha que colocar e tirar e um dia ele sumiu. Levaram o jornal e o suporte também. Quero acreditar que quem levou o apoio o fez por engano, achando que eu estava doando o conjunto completo. Não desanimei, fiz outro fixo, mais funcional.


Eu conheço alguns dos leitores que passam pela rua em horários diferentes e conseguem se revesar conforme meu horário de término da leitura. Outro dia, uma moça, professora de crianças, passou, pegou o jornal e me contou que todos os dias, em que coincidia de pegar, colocava o suporte na porta da minha casa. Eu já tinha percebido esta gentileza, mas achei que fosse algum vizinho. Disse que percebeu que roubaram o suporte  e que aprovou o novo apoio. Contou ainda que não só lê o jornal na escola, mas também lê alguns textos com os alunos.  No começo da semana uma outra mulher me contou que mora em Barueri, trabalha como recepcionista de uma imobiliária, e que no serviço outras pessoas leem o jornal, quando calha de ela pegar, e que ainda lê à noite com os netos, para incentivar a leitura.  

Mas só estou contando tudo isto porque hoje, na hora em que fui colocar o jornal no atual suporte (um cabo de vassoura pregado num vaso de plástico que pintei com tinta de lousa para deixar o recado de doação), passou uma das simpatizantes da horta, da qual ainda nem sei o nome, só que é cozinheira.



Ela não leva o jornal, o negócio dela é planta. Perguntou se eu havia recebido os almeirões que tinha deixado na minha porta há algum tempo (um dia cheguei e havia um vasinho com bilhete).  Respondi que sim, que ela estava diante de um dos exemplares, plantado bem ali na calçada. Os outros, plantei na horta. Ela ficou feliz, perguntou o que era aquele pé de verdura (mostarda), disse que quer sementes depois e foi correndo, que estava atrasada para o trabalho.


Tudo é só pra dizer que se você não pode fazer muito, não pode mudar o mundo, saiba que basta um gesto pequeno para modificar ao menos o humor de quem está à sua volta, seja quem for. E vai se isto se multiplique, vai que isto vire um viral (ou um varal de coisas assim)? A alegria que vai sentir com o retorno, dinheiro nenhum compra, acredite. E o mundo fica um bocadinho melhor.

Cenas de Tiradentes

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Já tinha ido duas ou três vezes ao Festival de Tiradentes logo no começo, anos atrás, só pra aproveitar as atividades - aulas e festins. Agora fui dar uma palestra e de novo com a intensão de aproveitar o clima festivo da cidade, agora com muito mais atrações gastronômicas e culturais.

Confesso que as únicas atividades de que consegui participar foram a palestra do Luiz Américo sobre crítica gastronômica e a oficina do Wanderson Medeiros, do Picuí, sobre carnes secas. Muito boas, por sinal.  De resto, foi só comilança. O ruim é que foi muito rápido. Cheguei na sexta à noite, tomei café da manhã na pousada Pequena Tiradentes, encontrei minha amiga Pixu, dei minha palestra com sala cheia e participativa, vi as duas atividades, fui almoçar com a Mara Salles no Virada do Largo, da Beth Beltrão, onde conhecemos sua horta de couve e  ficamos até o começo da noite com amigos de BH que fizemos lá. Comemos e bebemos muito bem.  Fui pra a Pousada Pé da Serra, onde estava hospedada e logo depois já rumávamos para o jantar no restaurante Kitanda Brasil da Tanea Romão, que fica num lugar lindo. Comemos delícias no menu degustação e eu comeria muito mais de alguns dos itens (aliás, não quero mais saber de menu degustação, não pela comida, mas pelo formato que não funciona mais pra mim). Estávamos em cinco na mesa, Pixu, Kaká, Mara, Dedé e eu.  E o estagiário fofo da Tanea (Vitor #ficavitor) veio todo gentil mostrar os vinhos escolhidos para harmonizar com a comida, mas tínhamos comido tanto no almoço, e terminado tão tarde nossas costelinhas brilhantes e macias, a linguiça da casa com cebolas roxas carameladas, a couve, o virado, o torresmo..  e bebido tanta cerveja, que não quisemos saber de vinho ou qualquer outra bebida alcóolica. A garrafa de água gentilmente oferecida sobre a mesa da Tanea foi renovada seis vezes. Acho que nunca bebi tanta água. Teria aproveitado bem mais as pequenas porções do menu se tivesse comido menos e mais cedo no almoço, mas também não podia desperdiçar a oportunidade de comer na Tanea, sempre tão criativa. No outro dia cedo, aproveitei a carona da Pixu e voltei depois do café da manhã, dispensando o vôo da noite. Tão melhor vir conversando e apreciando a paisagem durante sete horas que amargar uma hora de vôo apertado mais as três ou quatro horas de carro até BH.

 Sábado fez um dia lindo e os ipês amarelos floridos me fizeram tão bem, assim como as papoulas serenadas.  Algumas fotos de lá.

Cozinha da pousada Pequena Tiradentes
Pequena Tiradentes parece uma cidade
Pão de queijo da Pousada Pequena Tiradentes

Suzana-de-olhos-negros com sereno, na pousada Pé da Serra
Gato da pousada Pé da Serra
Papoula na pousada Pé da Serra
No Virada do Largo

Mara Salles, Beth Beltrão e os pés de couve maires que elas

Beth Beltrão com as favas que ganhei

No Virada do Largo, com novos amigos
Lambarizinhos (de folhas) da Tanea  Romão

Bolinho de arroz com salsa, da Tanea

Creme de mandioca com ora-pro-nobis e porco em redução de laranja
Entrada do restaurante Kitanda Brasil 


Cena de Tiradentes 2. Ou o chef que mata as galinhas que vai usar

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Quantos cozinheiros você conhece que sai da cozinha, cata o frango, mata, depena e prepara uma deliciosa galinha ao molho pardo, uma sopa de mulher parida, ou simples frango com quiabo? Não vale citar os chefs noruegueses, dinamarqueses, mesmo porque eles não fariam pratos como os nossos.  Pois o Roberto é dessa turma de chef que não chefia  na hora de dar conta do melhor ingrediente. Ele não manda buscar.  Sai da cozinha e volta com as bichinhas de cabeça pra baixo.  Vi a cena por acaso quando estava conhecendo a Pousada Pequena Tiradentes, em Tiradentes - MG, neste final de semana. Fui atrás do cozinheiro, mas não ultrapassei a porta de serviço. Só depois voltei lá pra ver se ele já tinha matado os frangos e me deparei com os bichos ainda ali esperando a hora, ciscando num confortável galinheiro. Só mataria na hora de preparar o jantar. E ainda era de manhã.  O restaurante da pousada funciona apenas para dar conforto maior aos hóspedes que não querem sair. É uma cozinha pequena, mas bem montada e muito limpa e organizada. Conheci também a cozinha dos funcionários e cheguei bem na hora em que o almoço estava no fogo soltando vapores tentadores. Em volta da cozinha, muitas ervas aromáticas, como agora é moda por aqui.

Em frente à cozinha dos funcionários, muitas ervas aromáticas 




Gravatá. Coluna Nhac do Paladar, edição de 04/09/2014

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A coluna de hoje está lá  no blog do Caderno Paladar, mas o texto completo está aqui, com algumas dicas de como lidar com esta fruta indomável.

Numa das andanças, Marcos trouxe a fruta e a muda 
Parece com nêspera, mas não é fácil morder 


GRAVATÁ

Parece sina das nossas frutas de nome indígena oxítonas em a, como jatobá, jaracatiá, ingá, guaraná, jerivá,  butiá,  inajá e até araçá, a de serem desconhecidas ou difíceis de comer.  Às vezes, as duas coisas ou a primeira em razão da segunda.   Casca muito dura de quebrar,  mais semente que polpa,  fiapenta,  sem doçura,  grudenta,  farinácea,  muito ácida e cáustica são apenas algumas das depreciações.   Mas muitas de nossas frutas, sempre tão nutritivas e perfumadas,  são assim mesmo e requerem algum preparo, só isso.  Muita gente acredita ainda que fruta para merecer o nome tem que ser gostosa à primeira mordida.   Por isto as frutas exóticas de clima temperado fazem tanto sucesso - maçãs, peras, pêssegos, uvas e ameixas são bons exemplos. Elas são suculentas e podem ser comidas diretamente do pé.  Em nossa defesa, temos também cá jabuticabas e umbus, só para ficar com uma dupla.  E nossas frutas tropicais rendem mais que simples geleias.

O grande problema das frutas brasileiras é que muitas delas caíram no esquecimento antes mesmo de terem  a chance do melhoramento no cultivo para seleção de variedades com frutos mais mansos e palatáveis . O gravatá é um desses casos, do qual não se pode esperar uniformidade.  Fruto de uma bromélia nativa da América Tropical, como o abacaxi, ainda cresce selvagem por aí e são várias espécies aparentadas do mesmo gênero que recebem os mesmos nomes populares – caraguatá, croatá, curauá, coroatá, caruatá, caravatá ou ainda, em espanhol, aguama, piña-de-ratón etc.   Os frutos das muitas espécies e tipos variam no tamanho, na doçura e na brandura, na acidez e coloração da casca. A mais facilmente encontrada,  Bromelia antiacantha,  tem frutos similares a nêsperas.  A aparência, contudo,  com qualquer outra fruta é apenas no aspecto, pois com a polpa não há com o que se comparar.

Embora o gravatá seja atualmente mais usado mais como planta ornamental, cerca viva,  medicamento antitussígeno ou contra parasitas intestinais, ele já foi apreciado como fruta por aqui na época do descobrimento.  Gabriel Soares de Souza falava dele em seu Tratado Descritivo do Brasil, em 1587 – “Ao longo do mar se criam umas folhas largas, que dão um fruto a que chamam carauatá, que é da feição de maçaroca, e amarelo por fora; tem bom cheiro, a casca grossa e tesa, a qual se lança fora para se comer o miolo, que é mui doce; mas empola-se a boca a quem come muita fruta d´esta."

A falta de cultivo, e com isto de seleção de espécies mais palatáveis, faz com que o fruto seja tão raro quanto imprevisível no agrado. Quando bem maduro, é doce, perfumado e ácido e pode ser comido ao natural depois de desvencilhar a  polpa da casca grossa e coriácea.  Não sem ter que descartar da boca depois de mastigado uma dura fibra quase como as de toletes de cana.  E, mesmo maduro, pode pinicar um pouco a língua porque contém oxalato de cálcio e ainda enzimas proteolíticas, como o abacaxi,  e por isto pode provocar aftas.  Por estas e por outras, não é, definitivamente, o tipo de fruto para se comer direto do pé. Mesmo porque a planta rústica, que suporta solo ácido, seca e estiagem e forma touceiras como abacaxizeiros,  tem folhas grandes e espinhosas.  Tanto que o único cultivo que se faz dela, não é exatamente pelos frutos, mas como cerca viva para afastar inimigos.  Uma linda planta, por sinal. Os cachos de gravatá chegam em floração violácea que atrai insetos e beija-flores e são enormes, podendo agrupar  mais que uma centena de frutos e pesar mais de três quilos.
Não é fácil encontrar, a não ser em algumas feiras ou em mercados populares nas bancas de ervas medicinais – afinal, seu destino mais comum é para xaropes (procure também pelas sementes na loja virtual matosdecomer.blogspot.com.br).  Em Foz do Iguaçu é comum encontrar mulheres paraguaias vendendo a raridade nas ruas durante a safra – neste momento. 

Eu queria apenas um pouco para explorar os frutos na cozinha e pedi para o Carlos Gomes, nosso caseiro, em Piracaia. Ele sumiu no mato e depois de alguns minutos voltou com uns sete cachos, cada um com mais de três quilos. Usei alguns, congelei outros.


Fiz de tudo, bati inteiro no liquidificador, tentei triturar no processador, passei pela centrífuga e soquei no pilão. O melhor método para se obter seu suco isolado das fibras, que sai espumoso, é passar a fruta já descascada pelo liquidificador com um pouco de água, só o suficiente para fazer funcionar o aparelho, lembrando que as frutas possuem fibras com as de cana. Então, para conseguir bater uns quinze frutos, use uma xícara de água. Depois de batido, coe. Sobram fibras e sementes, que são duras e resistem ao maltrato das lâminas. Com o uso pronto e fervido (para inativar as enzimas que poderiam derreter um pedaço de carne), ai sim pode usar como tempero para frango, peixe e carne de porco, para fazer geleias, combinar com a banana para doce cremoso ou com  outras frutas para fazer sorvetes , caldas, gelatinas e  refrescos.   Na carne de porco, combinei com tempero comuns na nossa cozinha e o resultado, perfumado e agridoce,  você poderá provar se conseguir algumas dessas frutas.
O xarope para tosse que se faz com ele costuma levar mel e o guaco, erva usada tradicionalmente para mesma moléstia, cujo princípio ativo é a cumarina, que tem perfume delicioso – a mesma presente nas sementes de amburana e do cumaru, por exemplo.  E é incrível como os aromas da fruta e da cumarina se complementam. Então, quando estiver usando o suco de gravatá para receitas doces, acrescente umas sementes de amburana, cumaru ou a própria erva para temperar.  E vamos aprendendo a domesticar na cozinha esta preciosa fruta ainda tão belicosa.

Dicas

Doce / marmelada
Doce com banana
Coxinhas de frango: mesma receita da costelinha

  

- Compre o cacho em lojas de ervas medicinais.
- Na cozinha, use os frutos sempre cozidos. Crus, podem pinicar a língua (mas são eficientes contra parasitas intestinais).
- Se coletar os frutos no mato, antes de abocanhá-lo, experimente com a ponta da língua. Podem ter muito oxalato de cálcio. 
- Para descascar, corte antes as pontas, apoie a base numa tábua e tire as cascas em lascas.
- Para extrair o suco, bata os frutos descascados com água no  liquidificador, coe e afervente.
- Para fazer doce, basta combinar o suco batido e coado com metade do volume em açúcar e levar ao fogo para apurar.  Acrescente guaco ou amburana pra temperar.
- Amasse bananas, misture com um pouco de açúcar e o suco de gravatá que cubra. Leve ao fogo e cozinhe só até o caldo secar. 
- Use as fibras lavadas, como as de coco, para cobrir a terra de vasos e floreiras.
- Os cachos podem abrigar insetos.  Não os guarde inteiros na cozinha. Tire as frutas, lave bem e conserve na geladeira por alguns dias ou congele. 

Costelinha de porco com gravatá

2 dentes de alho
2 colheres (chá) de sal ou a gosto
1 pitada de pimenta-do-reino
1 colher (sopa) de gengibre ralado
1 pimenta malagueta
1 colher (sopa) de açúcar mascavo
1 colher (sopa) de cachaça
1/2 de xícara de suco de gravatá aferventado
1 colher (sopa) de suco de limão
1 kg de costelinha de porco
2 colheres (sopa) de óleo

Soque num pilão até homogeneizar o alho, o sal, as pimentas, o gengibre e o açúcar. Junte a cachaça e os sucos e misture bem. Tempere a carne e deixe pegar gosto por cerca de 5 horas, na geladeira.
Aqueça o óleo numa frigideira de ferro,  coloque os pedaços de costelinha sem a marinada. Deixe fritar em fogo baixo para dourar de um lado. Vire a carne e vá  juntando a marinada aos poucos, continuando a virar para dourar e cozinhar por igual – isto deve demorar  cerca de meia hora.  Sirva quente com legumes cozidos.


Rende: 5 porções

Fim de inverno em Piracaia

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Ipê já no fim da floração

Quando eu voltar para Piracaia, já será Primavera. A paisagem será outra, as pétalas das flores amarelas dos ipês já terão sumido no chão dando lugar às vagens nas árvores enquanto vêm as folhas, as manduiranas estarão com nova folhagem, alguns pequenos brotos de uvas já terão jeito de cachos, a safra das amoras terá sido devorada pelos pássaros, os frutos da mamona estarão abertos expulsando sementes para longe, haverá muitas cabeludinhas para encher a boca de sabor, talvez acerolas, as bananas estarão cheias, os maxixes nascerão sozinhos e das mostardas, só restarão as pequenas vagens abertas e vazias com brotos nascendo ao longe.  As mirtáceas - araçás, pitangas e goiabas -  não estarão mais em flores, mas em frutos. O sol deixará de passar inclinado para voltar ao meio do céu, que já não terá o azul lápis de cor que tem agora. As flores do assapeixe estarão feias e secas no pé, mas folhas novas virão mais vistosas. Haverá na horta arnica, mentrasto, serralhas e dente-de-leão de montão. O ananás estará maduro, o maracujá do mato também, a ora-pro-nobis lançará seus braços pesados sobre as cercas, as folhas vão aumentar de tamanho escondendo o chão agora seco. As batatas de tulipas darão flores, as manguinhas que não caírem vingarão. e quem sabe até a água vem.

É só quando a gente trabalha com a terra que consegue observar todo o ciclo das coisas da natureza. Não que não dê pra fazer isto na cidade, mas o tempo passa rápido demais por aqui e mal temos tempo de olhar a lua todos os dias. Quando vou para o sítio, o tempo é curto de tanta coisa que quero fazer, mas totalmente aproveitável, sem tv e internet esquecida, com tempo para olhar para o céu. Marcos cuida da trilha sonora e vamos fazendo o que precisa ser feito, cansando o corpo mas com a mente quieta. No fim, temos um cansaço bom, como se tivéssemos ido para a academia, e um canto da sala basta para relaxar o complexo todo, corpo e alma.

Canto da sala com camas, bom para repousar o corpo - com os gatos no colo

Nesta semana que passou estive no sítio também no meio da semana num gostoso encontro com amigos do curso de hortas, que fiz no ano passado - Vivian, a professora, queria nos mostrar como fazer uns preparados biodinâmicos, e lá fomos nós enterrar chifres com estrume, valerianas, mil folhas etc. Almoçamos lá e voltamos no mesmo dia.

No sábado recebemos a visita dos amigos Renato e Maga, do Waru.  Foram buscar a mudinha de baobá que eu tinha prometido aos filhos meninos Michael e Lucas. Passamos uma tarde gostosa conversando,  escolhendo feijão e depois tomando chá com pão.  De resto, trabalhamos bastante, embora nem devêssemos chamar isto de trabalho. Fizemos valetas na terra, mudas de citronela, de boldo e capim santo para espalhar pelo sítio, cobrimos a terra com palhada, semeamos sementes de flor, separamos sementes de manduirana e fizemos bolinhas de terra (para jogar pela janela do carro ... ), debulhamos sementes de mostarda, colhemos, cozinhamos etc.

Já aqui na cidade grande,  muita coisa por fazer, com pouco tempo para o blog, mas como quero fazer tudo ao mesmo tempo -  cuidar da casa, do sítio, da horta comunitária, fazer oficinas no Sesc, me dedicar à jardinagem e a escrever sobre tudo isto  -, não vou deixar o Come-se, não. Apenas terei pouco tempo para ele de agora até o final do ano. Então, peço desculpas se não responder aos comentários (mas, por favor, comente, que eu gosto, leio tudo e assim acredito que existe vida por trás daqueles números que indicam cerca de 3 mil leitores/dia - é bom saber que você é um deles).

Algumas fotos:

Fruta cabeludinha


Ipê amarelo

Almeirão, mostarda, tomate - tudo misturado

Amora gigante

Amora gigante

Leucena - sementes sabor shitake

Limão kafir

Lobeira

Flor de mamona vermelha

Mamona vermelha

Projetos de manga

maracujá do mato - antes da flor


Maracujá do mato - flor se abrindo

Maracujá do mato - a flor

Maracujá do mato - o fruto
Tomatinho do mato
Jeito mais prático para debulhar sementes de manduirana
Sementes de manduirana e feijão guandu, para replantar
Bolinhas de barro com sementes de manduirana
Mostarda para debulhar 

Mostarda debulhada (tropecei e derrubei este tanto todo na grama!)

Preparados biodinâmicos



Tapioca e Beiju 











Convite - Oficina de plantas comestíveis espontâneas na Horta das Corujas neste sábado

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Será neste sábado, dia 13 de setembro. Vamos fazer um passeio de reconhecimento das plantas comestíveis não convencionais na Horta das Corujas e depois vou fazer um nhoque de taioba, trapoeraba, ora-pro-nobis, bertalha coração... Ainda não sei do que, mas garanto que será bom. Veja a agenda lá no grupo do Hortelões Urbanos. Leitores do Come-se terão mimos. É só se identificar que ganha uma lasquinha de queijo da canastra a mais .. (o evento é gratuito).
https://www.facebook.com/events/1529896847248164/

Convite - aula do Paladar

Fritada de tudo

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Com uns pedaços de quiabos crus e pimenta. Boa pra repetir
Estou prestes a ir pra cozinha preparar meu almoço amalgamando em ovos tudo o que encontrar de bom na geladeira. Claro, minhas fritadas nada têm a ver com aquela deliciosa e verdadeira tortilla da amiga espanhola Chus, cujo passo a passo mostrei aqui.  Mas posso dizer que ovos bem temperados e dourados na frigideira com azeite tornam deliciosos até pedaços de papelão envoltos com ele. Não é o caso dos ingredientes que uso - geralmente sobra ou pequenas porções de alimentos preparados ou de legumes que escolhi comprar ou colher. Então, não tem como ficar ruim.

O bom das tortillas, fritadas ou omeletes é a praticidade quando se come só. Não gosto de esquentar comida no microondas, que nem na cozinha fica. Por isto, se tenho pouco tempo e diversidade de poucos ingredientes, faço fritada. É um jeito de agrupar tudo ali, incluindo arroz e salada. Até de pizza já fiz. Não é sabor pizza (alguém disse que queijo, tomate e manjericão tem sabor pizza), é de sobras de pizza mesmo.

Se prefere macarrões instantâneos para a hora de comer na solidão, tudo bem, respeito. Porém, tenho certeza que no dia em que descobrir que pode fazer fritadas de tudo e muito mais não vai querer outro tipo de prato único.

Bata uns dois ovos, tempere com sal, pimenta-do-reino, cebola (a cebola, você pode fritar antes no azeite e sobre ela despejar os ovos com os outros ingredientes) e ervas. Junte aí o que tiver sobrando: espinafre refogado, quiabos crus, purê de batata frio, vagens cozidas no vapor, pedaços de queijo, tomate, folhas murchas, restos de salada, arroz, feijão, macarrão, azeitonas, cogumelos, alcachofras, palmitos etc. Se tiver uma omeleteira fechada, ótimo, fica fácil de virar. Se não, é só virar no prato e voltar pra frigideira. Coloque um pouco de óleo na frigideira, deixe esquentar bem e despeje a mistura. Abaixe o fogo e deixe cozinhar até a superfície começar a coagular. Vire no prato (se não estiver usando a omeleteira), coloque mais um pouco de azeite na frigideira e deixe a fritada escorregar pra dentro dela com cuidado. Frite mais alguns minutos para dourar. Coloque num prato com ou sem salada e nhac. Veja no post da tortilla da Chus uma boa técnica para fritar uma tortilla.

Aqui, alguns improvisos que nunca serão repetidos:

Sobras de purê e molho de tomate
Deixe os pedaços de purê sem desmanchar 
De batatas não fritas mas cozidas no vapor 
De mandioca. Fritei as cebolas antes 
Fritada de mandioca 
Esta seria só de arroz com alface americana crua

Mas lembrei do molho de ervas, presente do amigo Fernando, do queijo
que trouxe de Tiradentes, da cebola roxa, etc.
E virou uma tortilha deliciosa 

Com tudo. Nhac! 


Cozinha sem desperdício de água. E vamos regar as couves

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Meu canteiro na calçada, sempre verdinho, regado com água da cozinha
Minhas mostardas e brócolis na jardineira
Hoje a capa do Paladar é sobre desperdício e sustentabilidade na cozinha - que fala sobre vários tipos de desperdício e formas de reduzi-lo. Sempre economizei e aproveitei o máximo na cozinha, mas, desde que a água do sistema cantareira começou a baixar, apertei ainda mais os cintos. Se muita gente achava exagero, agora é realidade, e o que ando fazendo - e várias pessoas que conheço também-,  já não causa tanta estranheza . É que o racionamento de água chegou e temos que dar um passo adiante. Embora ninguém fale nada - oficialmente não estamos tendo racionamento (quem acredita?), e embora muita gente ainda acredite que é possível continuar tomando banhos por mais que cinco minutos, jogando fora água sem culpa, é preciso ir além, pois o racionamento é necessário e já chegou - independente de quem seja a culpa. 

Sei que muita gente que mora em prédios ainda não sentiu falta de água, ainda não se deu conta de que precisa mudar hábitos e que o racionamento está acontecendo. Mas aqui no bairro da Lapa, todas as noites, as torneiras com água da rua secam. Quem tem caixa d´água grande pouco se importa.  Não é o caso da maioria da minha rua, parece, e as pessoas estão começando a se preocupar, independente do poderio de armazenamento. Já não vejo ninguém por aqui lavando calçada.  A gente vai conversando com um, dando ideias pra outro, e aos poucos a vizinhança vai trocando informações sobre o melhor jeito de economizar. De minha parte, fiz várias modificações, mas só vou citar por enquanto o que é possível fazer na cozinha. Depois conto como estou lavando roupas.  

Para economizar água na cozinha, basta colocar uma bacia na cuba da pia e ir juntando a água sem sabão para molhar as plantas, por exemplo. Não rego mais meu jardim ou horta com água de torneira. Toda água de enxague ou de lavagem de mão, de pano de pia ou de verduras e frutas, fica armazenada num galão de 50 litros. Despejo as águas da pia e, uma vez por dia, consigo regar todas as plantas, que seguem saudáveis. Furei o galão embaixo e instalei uma mangueira com rolha. Suspendi o galão e pronto, quando quero é só abrir a torneira. Para ficar prático de despejar a água, embuti um funil feito com embalagem de água sanitária e para a água não ficar suja de restos de folhas e comidas, coloquei uma peneira na boca. Uma vez por dia lavo tudo e tampo. 
Até as abelhinhas destas duas caixas têm à disposição água de reúso 
E rego minhas plantas todas sem culpa. Até as abelhinhas jataís têm à disposição água que usei pra lavar verduras. E o resto das verduras, claro, vai para o minhocário ou para a compostagem geral que fica no sítio. Tudo isto volta para as plantas que planto, colho e como. Simples assim.  

A gambiarra para armazenar água e o minhocário que eu
mesma fiz


Temperos pouco convencionais no Paladar Cozinha do Brasil - no próximo domingo

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12h3021 de setembro de 2014 domingo
Ervas aromáticas pouco convencionais
Degustação
Receita
Intermediário

com Neide Rigo

Já ouviu falar de folha de curry, macassá, pacová, pariparoba, gerânio-rosa, manjericão-anis, e guasca? A colunista do Nhac! leva todas elas e outras ervas, plantas e sementes para a cozinha.
Local: Universidade Anhembi Morumbi - Rua Casa do Ator, 275, Vila Olímpia
Duração: 1h30
Valor: R$ 120

Macarrão com dente-de-leão

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Quem disse que as plantas ruderais são tão indomáveis assim? No sítio em Piracaia não havia dente-de-leão. Já falei dele aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2009/01/tempo-de-dente-de-leo.html. Levei sementinhas daqui, espalhei por lá e agora não fico sem. Aproveitei o último fim de semana para colher sementes e trazer, desta vez, para cá, para aumentar a plantação na horta comunitária. Com as folhinhas, fiz este macarrão que fica delicioso, com a linguiça combinando com o ligeiro amargor do dente-de-leão. Coloque as folhinhas à vontade se tiver muitas delas.  


Fritei uns pedaços de linguiça fresca esmigalhada. Juntei um pouco de cebola e folhas de dente-de-leão picadas, refoguei um pouco, temperei com sal e pimenta. Juntei um pouco de feijão cozido, um pouco de macarrão e tomatinho cortado ao meio, misturei e nhac! 

E nhac! 


Amanhã estarei na Horta das Corujas dando uma oficina sobre as plantas alimentícias que nascem espontaneamente por lá. Veja no site da horta. Será às 10 hs. Depois, vou fazer uma comida pra todos provarem. É grátis. Apareça! 

Como fazer um minhocário para compostar o resto do que você come. E oficina de minhocário no Sesc

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O humus pronto foi há pouco tempo para este espaço na calçada 
Que agora está assim 
Como muita gente tem me pedido para ensinar a fazer minhocário, vou mostrar o que sei, como fiz e manuseio o meu, mas já aviso que não sou expert no assunto.  Isto significa que qualquer pessoa pode ter o seu sem medo.

A prefeitura de São Paulo lançou recentemente o programa "Composta São Paulo", que contemplou 2 mil moradores com minhocários. Embora tenha me inscrito, não ganhei o meu, pois disse a verdade, que já tinha um improvisado com baldes.  De qualquer forma, fiquei feliz com o projeto piloto para tentar  reduzir o lixo orgânico doméstico e torço para que a iniciativa impulsione mesmo uma política pública de compostagem.

Porém, enquanto isto não chega, podemos ir fazendo nossa parte. Há quem diga que para a terra o húmus de minhoca não serve pra nada. Ainda que não sirva, as minhocas decompõem grande parte dos restos de frutas e verduras que iriam para os lixões gerando chorumes contaminantes e toda sorte de malefícios para a comunidade.

Bem, minha hortinha da calçada não reclamou. Em plena seca, com húmus (o material decomposto) e água de lavagem de verduras, ela vai bem, obrigada!  Temos em casa o minhocário e um balde fechado onde guardo todos os restos que não vão no minhocário, como cascas de laranja, de limão, cebola, alho e restos de alimentos cozidos. E também restos maiores que fico com preguiça de cortar menor para colocar para as minhocas. Este balde vai para o sítio, cobrimos com palhada de braquiária e em cerca de 4 meses ele virou terra.

Bruno mostrando o minhocário na FSP-USP
Como disse,  não sou especialista em minhocário, tipos de minhoca, tempo certo para ficar pronto etc. Só sei que fiz como aprendi lá na horta da Faculdade de Saúde Pública da USP, com o Bruno e com o Vinícius (do Humanaterra). Você pode usar baldes de açaí, de margarina, desses grandes.

Vinícius, na USP, mostrando como fazer usando baldes usados de margarina
Já vi também muitos vídeos no You Tube (qualquer dúvida, vá lá e verá quanto tutorial há).  Ganhei um pouco de minhoca californiana, que se reproduz mais rapidamente, mas acho que pode ser qualquer uma - comece com um punhadinho.

Veja como fiz:

Arrume três baldes e corte duas das tampas, tirando um círculo, mantendo
as laterais para apoiar o balde que vai por cima 


Na lateral dos baldes, faça furinhos para arejar - com uma agulha quente ou
broca bem fininha, só pra ventilar mesmo (os meus ficaram grandes, por
isso, colei por dentro um pedacinho de tecido). 



Faça furos com a furadeira em dois baldes (broca 10).
No terceiro balde, instale uma torneirinha de filtro para recolher o chorume


Este bosque, atrás da minha rua, me fornece as folhas secas necessárias
para cobrir os restos orgânicos no balde

Se quiser deixar tudo organizado, arranje 4 baldes e deixe um só para
guardar a palhada, assim não precisa ficar buscando toda hora - recolha
em praças, onde sempre há folhas caídas e varridas nos cantos

Um balde cheio dá para algumas semanas

Coloque restos de legumes e frutas no fundo do balde (quanto  mais picado,
mas não empastado, melhor). Valem guardanapos de papel,  saquinhos
de chá e coadores de café (não uso nada disso), mas não cebolas, cítricos
como laranja e limão, alho e alimentos cozidos

Cubra com palhada - de preferência bem esmigalhada 

Aqui, ele pronto. Quando o primeiro balde encher, passe  para o meio e encha
o de cima - as minhocas migrarão para cima pelos furinhos (eu prefiro pegar um
pouco delas e já colocar pra cima). Em três meses, mais ou menos, o composto
já estará pronto para ser usado - escuro, seco, sem cheiro 
Acabei instalando no balde uns pezinhos de geladeira - vedados com massa
plástica, mas não precisa - é só deixar sobre um apoio para dar espaço para
tirar o chorume  
Se os restos estiverem sempre cobertos com palhada, você não precisa se preocupar com cheiro. Se começarem a aparecer drosófilas, passe um pano em volta dos baldes umedecido com óleo de nim diluído. 
O chorume pode ser tirado sempre que acumular um pouco - se tiver cheiro ruim é porque minhocas estão morrendo. Neste caso, há alguma coisa errada com o processo. Se estiver com cheiro neutro - é assim que tem que ser, é só diluir 1 para dez em água e usar na terra e para pulverizar nas folhas como fortificante folhear. Só evite deixá-lo em garrafas de coca-cola ou de shoyu... 

Pretendo ainda pintar meu minhocário, pois minhocas preferem escurinho, mas não tive tempo (ainda assim, elas estão se reproduzindo bem). Se puder, escolha baldes escuros (o de açaí é bom). 

Oficina de minhocário grátis
Aliás, neste sábado, o Bruno Helvécio vai estar no Sesc Belenzinho, dentro do projeto Comer é Mais, ensinando a fazer seu próprio minhocário. Veja se ainda tem vagas.

Sobras e Restos nos Interessam – Compostagem Urbana
COM BRUNO HELVECIO
SESC Belenzinho ver no mapa compartilhar
20/09SAB
11H ÀS 13H*
Grátis
*inscrições antecipadas
R. Padre Adelino, 1000
Disponível

O que é, o que é que você vai comer de almoço hoje? Me mande uma foto?

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Pois é, caros leitores, a questão sobre nosso jeito de comer ainda não acabou. No sábado, as chefs Ana Soares e Mara Salles e eu vamos dar nossa palestra no Paladar Cozinha do Brasil (do jornal Estadão). Parece que já estão esgotados os ingressos, mas vou dando notícias por aqui. Por enquanto já adianto que tudo aquilo que os leitores responderam sobre mistura tem sido para nós um verdadeiro estudo de caso. Agora, queria mais. Será que conseguiria me mandar foto do que vai comer hoje? Foto do prato montado ou da mesa posta ou ainda da comida no fogão ou do jeito que costuma ser. Foto de celular, sem produção mesmo, a vida como ela é. Se quiser mandar por whats app, escreva para o email neide.rigo@gmail.com que eu mando meu número. Se não, mande por email mesmo. Diga seu nome e de onde é (cidade e estado). Poxa, vou adorar se conseguir algumas fotos do almoço de hoje. Manda, vai?  Depois eu publico tudo aqui no Come-se.

Oficina sobre plantas comestíveis não convencionais e ervas espontâneas na Horta das Corujas

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Foi assim:  Cláudia Visoni me perguntou se eu poderia dar uma oficina pra comemorar o aniversário na Horta das Corujas no dia 27 de setembro. Não, não podia. Só se for agora. E assim combinamos uma oficina na horta de uma semana para outra. O Marcos faria uma cirurgia de joelho na sexta à noite e então estaríamos em São Paulo no sábado.  E como eu adoro improvisos, adoro a Claudia, adoro matinhos, adoro a horta das corujas e adoro aulas ao ar livre, adorei também a experiência. Só não gostei de deixar o amor sozinho, mas ele entendeu. 

Minha vizinha Ana Campana me ajudou, a amiga Ana Perin e muitos voluntários da horta também. E lá fomos nós andar caçando matinhos de comer para depois cozinhar. Claro, levei a massa do spatzle de mato pronta. O molho de tomate também. Foi só aquecer a água, demonstrar como fiz (usando bertalha-coração, trapoeraba, folhas de capuchinha e de batata-doce)  e cozinhar os nhoques, que servi com molho de tomate e queijo da Canastra. Levei também refresco de hibisco com folhas de gerânio-de-cheiro. E muita gente levou comidas e frutas que encheram uma mesona.   

No sábado de manhã o dia estava lindo e ensolarado e as pessoas animadas, descansadas, iluminadas. Meu amigo Guilherme Ranieri me acudia quando esquecia um nome científico ou deixava de notar um matinho escondido. Eram dentes-de-leão, capuchinhas, buvas, serralhas e serralhinhas, mentruzes e tantas outras espécies não convencionais (afinal as hortas urbanas são as guardiãs destas espécies esquecidas).  

Não fiz fotos, mas não faltaram colaboradores. Recebi fotos da Pops, da Júlia e do Sérgio.  Vejam aí embaixo, com devidos créditos. 

Foto: Sérgio Shigeeda

Foto: Sérgio Shigeeda
Foto: Júlia Kuk

Spatzle de mato 

Quanto à receita do spatzle, que todo mundo está pedindo, nem achei que precisasse de tanto que já fiz aqui este nhoque. Mas seguem aqui alguns links onde explico passo-a-passo, onde mostro improvisações para a nhoqueira, um jeito de fazer com a frigideira, um spatzle vegano, spatzles coloridos etc. 


De qualquer forma, a receita exata do que foi feito na horta é assim: numa xícara de 250 ml coloque 1/4 do volume de folhas verdes cozidas  (trapoeraba, folhas de batata doce, de ora-pro-nobis e de bertalha coração). Coloquei um ovo e completei com água. Bati no liquidificador, temperei com sal e noz moscada e juntei farinha até ficar uma massa bem pegajosa. O resto é igual aos spatzle que mostro nos links acima. Ou como ensinei no dia da oficina; 

O molho de tomate fiz assim: Cozinhei os tomates sem a pontinha no vapor (na cuscuzeira) até que ficassem bem molinhos, soltando a pele. Esperei esfriar, tirei as peles, bati todas as peles no liquidificador e juntei aos tomates cozidos e picados ou esmigalhados. Reservei. Fritei alho e cebola no azeite. Juntei os tomates e as peles batidas, temperei com sal e páprica doce defumada. Deixei cozinhar uns 10 minutos (lembrando que os tomates já tinham sido cozidos no vapor), só até ficar com uma consistência boa de molho, juntei folhas de manjericão-cravo, corrigi o sal e pronto. 

Refresco de Hibisco com gerânio. Foto: Sérgio Shigeeda
Refresco de hibisco com gerânio-de-cheiro e manjericão-cravo

Ferva tudo junto, hibisco, gerânio-de-cheiro e alfavacão ou manjericão-cravo.  As ervas, em porções de tempero. Adoce, espere esfriar, deixe gelar e sirva. 

Uma outra receita já dei aqui: e aqui uma geleia.
Bem, fica aqui o registro da iniciativa dos hortelões da Horta das Corujas como ideia para oficinas deste tipo, ao ar livre, grátis, sem frescuras nos campos frescos da cidade. Um bom jeito de celebrar as hortas comunitárias urbanas. Simples assim. 

As fotos que me mandaram estavam tão legais que não consegui escolher poucas.  Se quiser ver mais, entre no blog da Horta das Corujas ou no facebook dos Hortelões Urbanos. Tem mais fotos do Sérgio, que é colaborador da horta da Saúde, nestes links: https://www.facebook.com/groups/hortadascorujas/?fref=ts
 https://www.facebook.com/groups/467181830063730/?fref=


 



 
Fotos acima: Pops Lopes

Epazote

Bertalha coração

Fotos acima: Pop Lopes



















Fotos acima: Sérgio Shigeeda. Clique e amplie
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