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8º Paladar Cozinha do Brasil - Arroz, feijão e mistura

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Mara, entre mim e Ana. Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Já não sei mais desde que edição do Paladar Cozinha do Brasil participo junto com a Mara Salles e Ana Soares. O fato é que estivemos juntas novamente falando de nossas misturas literais e figuradas.

Hoje a cobertura completa do evento (que nem consegui acompanhar porque também tive aula no domingo) está no Estadão. Corra à banca se quiser saber mais como foi. Tem mais também no facebook e Instagram do Paladar. De qualquer forma, a cobertura da nossa aula está aqui:  http://blogs.estadao.com.br/paladar/page/4/

Andei sumida porque a vida por aqui não está fácil e tenho ficado mais longe que perto do computador.  Ontem teve oficina de cozinha marajoara no Sesc Belenzinho com Dona Jerônima e passamos dois dias cozinhando. Semana que vem vou pra Uauá e tenho tudo para preparar. Mas vou tentar mostrar em breve algumas fotos de tudo o que passou no Paladar e no Sesc.  Tem também um vídeo sobre "misturas". Aguarde. Por enquanto, fica aqui meus agradecimentos a todos os leitores que participaram da pesquisa sobre misturas - que está toda lá no vídeo que mostramos na aula.

O que é que tem de Mistura? O vídeo que passamos no Paladar Cozinha do Brasil

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 Lembra que eu indaguei aqui entre os leitores sobre os termos mistura, janta, bife e o jeito de servir e comer? Pois é, durante a nossa apresentação lá no Paladar (a cobertura está aqui) exibimos um vídeo editado primorosamente pela Taísa Sganzerla com os depoimentos lidos por mim, pela Mara e pela Ana, complementados com fotos do blog e vídeos de amigos enviados por whats app. Taísa conseguiu tirar leite de pedra, pois além da precariedade das imagens e gravações, recebeu tudo de última hora. Mas está aí o vídeo para quem quiser entender um pouco mais o que é nossa cozinha.  Fotos da aula, em seguida.

Agradecimentos imensos a todos que contribuíram!

O que é que tem de mistura? As fotos

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Fotos: Marcos Nogueira
Seguem as fotos feitas pelo Marcos no dia da aula no Paladar (a cobertura feita pelo Estadão está aqui.

Falamos dos pratos de mistura do nosso repertório afetivo, com suas técnicas, estórias e modos de servir. Um pouco para resumir e ilustrar nosso jeito brasileiro de comer. Servimos tudo em marmita. Mas também poderia ser em prata.
O vídeo que apresentamos no início está aqui.

Nós servimos arroz e feijão e as pessoas pegavam a mistura na mesa

Ana Rita Suassuna nos deu a honra da presença

Todo mundo comeu

A amiga Juliana Valentini, de preto, também apareceu. 

Este pode ser o prato da Neka Mena Barreto, que também estava lá

Ajudantes eficientes: Valentina (que nos presenteou com os aventais),
Daniela e Andreza

Algumas são da minha coleção. Esta empilhável foi presente da Marisa Ono

Amigos sempre prestigiando: Mônica Manir, Jerônimo Villas Boas, Janaína
Fidalgo e Denise de Luca (Sonia Campos está atrás da moça do canto direito)

E no final a gente sempre come também (lá no fundo, Ana e Lili, minhas
amigas e assistentes de ocasião - fundamentais)




Fotos da oficina de Temperos pouco convencionais, no Paladar Cozinha do Brasil

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Refrescos, espumantes, ervas, extratos, sais, vinagres, xaropes, açúcares
Eu poderia ficar falando o dia todo de cada tempero diferente que levei para a oficina, mas o tempo era curto e só deu para dar uma pincelada no que pude levar  - e depois fui me lembrando de tantas outras espécies que poderia ter levado.

Pelo menos pude apresentar para quem esteve presente temperos que a gente não ver toda hora por aí, ou, se vê, não reconhece como tempero. Caso da guasca (picão branco), da buva, do macassá, da erva-jaboti, pacova etc, só para citar algumas. Aos poucos, vou falando delas aqui no blog.

Lá no blog do Paladar tem um glossário de alguns ingredientes que apareceram no Paladar Cozinha do Brasil e algumas destas ervas estão lá.

Agradecimentos especiais à Ana Laura e à Lili, amigas e assistentes circunstanciais. E ao amor Marcos que, como foi o marido da Júlia Child, está sempre comigo para o quer der (carregar caixas, por exemplo) e vier (tirar estas lindas fotos, nas quais fui reconhecendo pessoas amigas e queridas).

Mãe da Fernanda, Adriana (do Ovos Quebrados) , Roberta, Silvia e
Sabrina (Sabor da Fazenda), Daniel, Ilan 

Fernanda (do Chucrute com Salsicha), Lili, Maria (Do Diga Maria

La atrás, Carla, da Loja do Chá. E Fernanda pegando gelatina de café
com bejerecum. 

Júlia, aqui no canto esquerdo, e Juliana (deverdecasa), no meio da cozinha 


Faltou falar de muita coisa

Mas provamos o flã de araruta com macassá e gelatina de café e bejerecum 


A amiga Mônica, de roxo,  estava lá pra dar uma força 

Agora, força mesmo me deram estas duas amigas: Lili 

E Ana Laura!  Valeu meninas! 

Abacaxi com pacová -  parece que gostaram 

E do espumante de hibisco com gerânio de cheiro também 

E tim tim! 

Oficina de Cozinha Marajoara com dona Jerônima no Sesc Belenzinho

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Fotos: Marcílio de Almeida 
Logo depois do evento do Paladar, recebi em casa dona Jerônima, da Ilha do Marajó (da Fazenda São Jerônimo, em Soure, sobre a qual já falei várias vezes aqui no Come-se). Fizemos pré-preparo na segunda e na terça-feira para a oficina de quarta-feira no Sesc Belenzinho (Cozinha Marajoara), como parte das atividades do projeto Comer é Mais, do qual faço a curadoria (veja aí na página Próximos Passos o link para toda a programação, até o final do ano).


Alguns ingredientes vieram na mala : turu, folhas de cipó de alho, alfavaca, chicória (coentro do pasto), jambu, queijo marajoara, castanhas amazônicas, farinhas de três tipos, camarão seco, líquido de urucum, tucupi, leite de coco (trouxe o coco da sua fazenda para extraírmos o leite aqui), pimentas de cheiro, doce etc.  A intensão era preparar e servir apenas o caldo de turu, mas aos poucos o menu foi crescendo. Encontramos tamuatá (caboge) no mercado da Lapa e logo ele virou tamuatá no tucupi. Também compramos quiabo e fizemos caruru do Pará (um pouco diferente do baiano). E mingau? Tem que ter mingau, dona Jerônima. E lá foi ela fazer um mingau delicioso com farinha de tapioca, quase mais salgado que doce, servido logo de entrada. E torradinha com folhas de cipó de alho tem que ter, não? E fizemos torradinha do jeito dela - uma pasta com queijo marajoara e as folhas de cipó de alho, passada em fatias de pão e torradas. As iscas marajoaras, feitas como o filé marajoara, só que o filé de búfalo cortado em cubos, foram fritas na hora (foi ela quem inventou o nome e o jeito).  Edna, a irmã, que mora aqui em São Paulo, preparou ainda  frito do vaqueiro que foi servido com farofa de farinha amarela com castanha. Edna levou ainda doce de cupuaçu e musse de bacuri.


A sala estava cheia e todo mundo experimentou de tudo. O Val, chef de cozinha do Sesc, tornou o trabalho de preparar e servir oito itens algo lúdico, tranquilo e organizado. E assim dona Jerônima recebeu muitos cumprimentos no final.  Todos gostaram do tamuatá, ninguém fez cara de nojo para o turu e para quem trabalhou ali sentindo os aromas marajoaras nada sobrou (sorte que a Edna guardou frito do vaqueiro pra mim, que comi em casa no fim da noite, acompanhado de farofa de castanhas que fiz na hora). Tudo delicioso - foi só o que ouvi. E dona Jerônima ficou toda feliz.  

Seguem algumas fotos (a maioria, as que não tem NR, são do Marcílio de Almeida, da DB Produções):

O trabalho começou dois dias antes em casa - aqui,  limpando o tamuatá.
Foto: Neide Rigo

Frito do Vaqueiro e farofa de castanha. NR

Iscas Marajoaras. NR

Tamuatá no tucupi com jambu. NR 

Caruru - NR

Caldo de turu - NR


Edna e a irmã Jerônima


O leite de coco para o turu - não pode parar de mexer até ferver, para
não talhar - NR


Jerônima com Marcílio 


Eu, Edna e Dona Jerônima



Val, Jerônima e eu
Com as torradinhas de alho (folhas de cipó d´alho)
Servindo com toda a delicadeza 

Vou pra Uauá!

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Amanhã a esta hora já devo estar em Uauá, no sertão da Bahia. Vou a trabalho (com merendeiras e comunidade) e volto em duas semanas.  Vou tentar postar algo aqui, mas não sei se vou ter facilidade de conexão. Pelo menos no Instagram (neiderigo) devo postar fotos. Um cheiro e inté!

Tamuatá: coluna do Paladar de 02/10/2014

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Está lá no blog no Paladar e no Estadão impresso de hoje,  mas colei também aqui a coluna Nhac sobre o tamuatá, este soldadinho do mato que ainda carece de atenção de cozinheiros antenados.

Não tenha medo da armadura

    Com certas manhas e técnicas, o pequeno cascudo com cara de comida de dinossauro torna-se uma iguaria. FOTO: Neide Rigo/Estadão 
Parece não ser privilégio das espécies vegetais terminadas tonicamente em “a” a sina do desprezo. A mesma sorte do gravatá, pacová ou jatobá tem o tamuatá, peixe com cara de comida de dinossauro. Quem sabe se o chamarmos por outro de seus nomes ele não terá mais sorte?
Conheci o pequeno cascudo (Hoplosternum littorale) no Pará e me afeiçoei ao bicho. No Mercado Ver-o-Peso, em Belém, as bancas exibem sua carne alaranjada escondida sob a armadura medieval de cor cinza. Foi isso que me fez comprá-lo mesmo sem saber o que me esperava. Perguntei como era a forma clássica de preparo e a resposta foi unânime: com tucupi. Levei os dois ingredientes e mais jambu, coentro-de-pasto e pimenta-de-cheiro para a casa dos meus anfitriões paraenses, que festejaram minha escolha acertada. Depois fiquei sabendo que arrisquei: não é todo paraense que aprecia o peixe. E os que não apreciam odeiam.
Em São Paulo. D. Jerônima Brito tem uma pousada em Soure, na Ilha do Marajó, e andando comigo pelo Mercado da Lapa ficou espantada ao ver no cando da vitrine da peixaria o mesmo tamuatá com o nome de caboge, mais barato que o de lá. Quando o prepara para hóspedes, os que mais gostam são os franceses, e os que mais o rejeitam são os próprios paraenses.
Se preparado corretamente, é um peixe gostoso, forte, com carne firme de fibras grossas. Jean de Léry, em sua obra Viagem à Terra do Brasil, no século 16, já se referia ao tamuatá ao falar dos peixes de rio comidos pelos tupinambás.
Também conhecido como caboge, caborja, tamoatá, tamutá, viramorro, soldado ou peixe-do-mato, pode ser encontrado em rios e lagos pantanosos. Um fato curioso é que respira tanto na água quanto no ar. Assim, consegue se deslocar de poça em poça, pulando pelo mato, quando os lagos secam.
Ele não é o tipo de peixe que basta temperar e chapear. Mas é carnudo, fácil de separar da espinha e muito nutritivo. Antes de cozinhar, costuma-se deixá-lo de molho em água com limão ou vinagre. Mas não precisa, a menos que ele tenha muito pitiú, aquele cheiro de carpa que come lodo.
Para tirar a carapaça é preciso aferventá-lo antes do preparo. A cabeça e o rabo podem ser mantidos, assim como as vísceras – o fígado gordo e eventuais ovas são muito apreciados para o preparo do recheio para o próprio peixe. As carapaças também podem ser mantidas para ser retiradas no prato. Quem tem destreza para despir camarões não terá dificuldades para afastar a casca do peixe. Prefiro eviscerar e tirar carapaça, rabo e cabeça antes de servir.
A receita que apresento aqui fiz usando o sumo fresco da mandioca mansa em vez de tucupi, que é o caldo da mandioca brava fermentado. Mas pode ser feito com molho de tomate, de caril ou no leite de coco com coentro e limão. Só não são páreos para ele aqueles molhos fracotes como o de manteiga com amêndoas ou azeite de ervas.



Tamuatá no sumo fresco de mandioca
Rendimento: 8 porções
Ingredientes
8 tamuatás
700 g de mandioca descascada
1 colher (sopa) de sal
2 limões-rosa
1 colher (sopa) de óleo
1 cebola média picada
2 dentes de alho socados
10 folhas de alfavaca rasgadas
2 pimentas-cumari-do-pará, partidas ao meio
4 pimentas-doces (murupi) picadas
1/2 colher (sopa) de colorau
4 folhas de coentro-de-pasto (chicória-do-pará) rasgadas
4 colheres (sopa) de coentro picado
sal, pimenta-do-reino, limão e coentro para finalizar
Preparo
1. Limpe bem os tamuatás, abrindo-os pela barriga e retirando todas as vísceras (separe fígados e eventuais ovas para usar em recheios). Deixe de molho por cerca de 1 hora em 2 litros de água e suco de um limão.
2. Corte a mandioca em pedaços, enquanto o peixe está de molho. Bata a mandioca no liquidificador com 1 litro de água (faça isso em duas vezes para não forçar o aparelho). Passe por pano e esprema bem para sair todo o caldo. Reserve o caldo numa tigela de vidro por 1 hora. Quando o fundo estiver branco e o caldo, límpido, é porque está pronto. No fundo, estará o amido, que, com o resíduo no pano, pode ser usado para fazer beijus. Reserve o caldo.
3. Escorra os peixes e enxágue. Numa panela grande, afervente 2 litros de água com o sal e o suco do outro limão. Tempere com ervas de cheiro a gosto. Deixe cozinhar até que, espetando a carapaça, ela se solte facilmente. Espere esfriar e tire o rabo, a cabeça e a carapaça, empurrando-a com a ponta de uma faca ou com os dedos. Reserve.
4. Aqueça o óleo numa panela e refogue tudo junto, a cebola, o alho, a alfavaca, as pimentas, o coentro e o colorau, só até esquentar. Junte o sumo da mandioca e cozinhe, mexendo sempre, até ferver e a cebola amolecer. Tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Junte o peixe e cubra-o com um pouco do molho. Deixe cozinhar por 15 minutos ou até o peixe ficar macio. Confira o sal e corrija, se necessário. Junte umas gotas de limão e folhas frescas de coentro. Sirva com mandioca cozida ou farinha d’água.
Rende: 8 porções


Cenas de Uauá

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Milho pra plantas nas águas
Desde que cheguei aqui em Uauá já visitei algumas escolas, conversei com diretoras e merendeiras, observei as crianças, e estive nas comunidades, nas casas das pessoas que plantam, colhem, cozinham (quanto à merenda, a conclusão é aquela que todo brasileiro conhece: as crianças estão comendo mal, as escolas não têm cozinhas apropriadas, não tem merendeiras capacitadas, não tem refeitórios e mais um rosário de deficiências). Na semana que vem teremos oficinas com as merendeiras. Por enquanto, seguem algumas fotos do que vou vendo nas andanças por estas catingas. 

Abóboras da dona Joana

A cocada que Bela vende na feira  - é doce de leite, mas se chama cocada 

Dona Joana com as cabrinhas. É um xodó com estes bichos


Bela e sua cocada. Lidiomar, o marido, dá aquela força

Carne de ovelha na casa da Dona Lourdes

Galinha de capoeira

Manteiga de garrafa da Bela

O xodó

Traço típico da caatinga - estas cercas contra cabras

No meio da secura da catinga, às vezes a gente encontra um jardinzinho
assim, à sombra, bem regado. Planta ornamental por aqui é um luxo.

Cajueiro carregado

Outra presença constante: pote d´água com canecas de alumínio alumiando

Dona Lourdes com suas batatas doces 

Palma pros bichos (às vezes pra gente)

Laranja também dá 

As batatas da dona Lourdes

A zabroba, como dona Joana gosta de brincar 

Este vai para o que é, o que é?

Formas de alumínio alumiando para os manuês da Dona Joana 

Milho para o cuscuz do marido da D. Lourdes - nada de flocão ou milharina

Em se regando, tudo dá na catinga - aqui, espinafre

Ovos da galinha de capoeira da Bela

Em se protegendo das cabras e regando, tudo dá na catinga

Coisa linda. As craobeiras estão floridas na primavera  

Tomatinho da dona Lourdes


Cenas do Sertão de São Francisco

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Ontem ultrapassamos fronteiras e nos embrenhamos por outros rincões do Sertão de São Francisco.  Estivemos em Curaçá, município vizinho de Uauá e visitamos uma escola rural, um pequeno criador de frangos e uma horta comunitária.

Chegamos à escola bem na hora da merenda e os alunos comiam um prato de macarrão branquelo e mole com umas lascas de sardinha em lata. Fiquei impressionada de ver a dispensa: mistura pronta pra arroz doce, mistura pronta pra risoto, mistura pronta pra curau, sacos de leite em pó, açúcar, sardinha, massa de tomate, macarrão, biscoito, mistura para cuscuz. As misturas, todas elas com acréscimo de gordura vegetal hidrogenada, corantes, conservantes, acidulantes e aromatizantes. O cardápio pregado na parede já é pobre nutricionalmente, mas o que se pratica é ainda pior, é feito do que é possível. Diretoras e merendeiras têm que fazer das tripas coração para conseguir fazer alguma comida com aqueles produtos da dispensa. Para ganhar algum ar de comida, trazem alho, coentro e cebola de casa.  As merendeiras não têm capacitação e trabalham sem uniforme, com unhas grandes e pintadas,  com cabelo solto, em cozinhas precárias, com geladeira doméstica, quando tem. Algumas trabalham em várias funções. Algumas tratam os alunos com delicadeza, outras, servem a comida como quem dá comida aos porcos.  Com as mãos,  uma merendeira de uma escola que visitei pega um lanche seco e entrega displicentemente aos alunos - vi um pão aberto, seco, recheado com uma única fatia de mortadela, por exemplo. Em muitas escolas, nem mesa de preparo na cozinha tem.  Refeitório, a maioria não tem. Os alunos pegam os lanches e saem pelo pátio árido e nada acolhedor para abocanhar sua ração. E tratam aquilo não como comida mas apenas como combustível - ou munição -,  por isto não é raro ver guerra de cream cracker, maçãs ou melancia nos páteos.

Nas escolas rurais não chegam produtos da agricultura familiar, pois o município prefere gastar os 30% que lhe cabe nas escolas urbanas, por questão logística. É mais fácil a distribuição de bananas, por exemplo, nas escolas da cidade, pois são todas perto umas das outras. Já as escolas rurais sofrem todos os tipos de castigo e lhes restam estes alimentos pré-prontos. E justo estes alunos são os que moram longe, em fazendas precárias,  sem plantações, com menos acesso a  frutas e verduras, e saem bem cedo de casa, enfrentando longas distâncias de estradas esburacadas.  Às 10 horas eles estão morrendo de fome e o que tem é biscoito com leite diluído com café ou um cuscuz seco com soja (a proteína preferida pois vem seca e não precisa de refrigeração) que é servido com água. Então, aquela história de que a merenda deve suprir 30% das recomendações nutricionais do dia, esqueça.  É inconcebível pensar numa escola rural sem uma horta sequer, sem uma fruta fresca ou um legume ou uma folha, sem um recanto agradável com sombra e mesas para os alunos comerem com dignidade. Mas elas existem e estão espalhadas por todo o Brasil, como aquela de Acrelândia. E depois queremos um mundo melhor, com adultos recheados de valores éticos e morais. Como, se nossas crianças são tratadas e alimentadas desta forma?

Mas, tudo bem, ontem teve bons exemplos também. Conhecemos, na comunidade Cachoeira, em Curaçá,  uma horta comunitária tocada por dez famílias com muita gente jovem. O terreno, as sementes e a assistência são doações de uma mineradora da região, não porque ela é caridosa, mas como forma de minimizar os estragos ambientais que fiz por ali. Mas vou falar das coisas boas. Cada família cuida do seu pequeno espaço de 75 por 9 metros e ali produz, irrigando direto na terra, ou molhando a terra com regador, berinjelas, coentro, repolhos, couves, repolho, mamão, entre outros itens. Berinjela é como se fosse uma panc (planta alimentícia não convencional), porque não tem saída, ninguém sabe o que se faz com ela, e assim amadurece no pé. Jiló e manjericão, a mesma coisa.  O manjericão é plantado só para as abelhas.

Visitamos ainda uma pequena granja onde as galinhas recebem não só milho, soja e complementos minerais e vitamínicos, mas também folhas de leucena e mamões plantados só pra elas ali na propriedade,  que se vira sem energia elétrica. Algumas fotos.

Pedras abundantes do sertão, craibeira florida e jeguinho. E coisa rara por
aqui: céu de chuva 

Delma e seus repolhos 

Antônio ensinando a usar as folhas da cenoura pra
rechear peixe 

Repolhão 

Escola rural 

Hilário, outro jovem que produz em outra comunidade, Antônio, marido de
Delma, e João, da equipe da Coopercuc

Todo mundo tira lasquinha da amburana de cheiro. Medicinal e perfume.

Os umbuzeiros estão floridos

A flor é perfumadíssima e linda 

O manjericão daqui é super perfumado, mas ninguém usa na comida. É mais
uma panc 

Berinjelas amadurecem no pé. Ninguém sabe como comer 

Mesmo o quiabo não tem boa saída 

A granja quase artesanal. A porta do galpão é aberta e elas podem ciscar no
terreno.







Temperos não convencionais do sertão: chalotas, amburana e manjericão

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Chalotas do sertão 
Não são só estes itens. Muitos outros que costumamos usar como temperos dos mais apreciados, como hortelã, grãos de mostarda e pixuri, por aqui não são usados na cozinha mas simplesmente como remédios.

Assim, a amburana (que pode ser usada como cumaru ou fava tonka, com mesmo perfume), as cebolinhas brancas (ou echalotes, chalotas) e o manjericão são espécies usadas apenas para chás medicinais. As pequenas chalotas são cultivadas pelas pessoas como um pequeno mimo fitoterápico e vendidas na feira, a preço de 2 reais o maço. São usadas para chá de bebês, para crises alérgicas, gripes etc.

Manjericão, uso como remédio e banho pra crianças
Já o manjericão e a hortelã são usados para chá para o estômago, coração e banho de menino. Ninguém por aqui imagina o manjericão sendo usado como erva para molho de tomate, por exemplo. Na oficina de hoje usei e algumas merendeiras gostaram, outras acharam estranho, por associarem à remédio. Preferem usar coentro. E é incrível como o manjericão por aqui é perfumado - como todos os perfumes da caatinga. E também é incrível a nova descoberta que aprendi com o povo daqui. Um maço de manjericão estava num saquinho posicionado na frente, a meus pés, no carro com cinco pessoas. De repente todo mundo sentiu o perfume. E todos se manifestaram. Hum, que perfume é este? Cada um expressou de uma forma. Quando eu disse que era o manjericão, alguém perguntou? - Ué, passamos sobre um fio de água?, perguntou uma pessoa distraída. - Sim, todos responderam. Foi então que descobri que estávamos passando por um riachinho e que sempre que se passa por alguma água ou poça d´água, o manjericão expressa seu perfume.

Amburana a 1 real. Pixuri, a 2. Mostarda, plantada pelo feirante, a 1. 
Quanto à amburana, quase me confundi quando uma pessoa me disse que usava pra comida.  Insistindo na pergunta, fiquei sabendo que na comida queria dizer para os efeitos da comida, ou seja, para digestão.

Os grãos de mostarda, encontrei na feira. O feirante disse que as pessoas usavam como remédio para alguma patologia, da qual já não me lembro mais. Era só pisar um pouco, juntar água e tomar. Acho que era pro coração. Quando perguntei de onde era aquela mostarda, ele quis me enganar, achando que estaria agregando valor ao seu produto, ao responder que era de Juazeiro, cidade grande, desenvolvida. Quando insisti em saber mais, ele confessou. - Ah, pois, esta aí fui eu mesmo que plantei, na minha roça. Quase se desculpando por ter um produto local.

Os passarinhos abaixo são os que dão colorido à mata branca. O primeiro, cor de laranja com preto, é o sofrê ou corrupião. O segundo, cardial.

Sofrê ou Corrupião

Cardeais

Cardeais

Oficina com as merendeiras de Uauá

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Muitas delas trabalham em escolas rurais e grande parte lida com muitas dificuldades no dia-a-dia. Em comum, todas têm que ser criativas e levar tempero de casa para tornar mais palatável a tal da carne de soja  - eu que pensei que carne de soja fosse coisa de anos oitenta....

A atividade faz parte do grande projeto "Tecendo elos na comercialização de agricultura familiar do sertão do São Francisco", com o objetivo de contribuir para ampliar a comercialização da agricultura familiar. Fui contratada pela Coopercuc, parceira neste projeto com o Programa Semear,  para dar estas oficinas de capacitação para as merendeiras das escolas da rede pública municipal e estadual.

Falei das boas práticas na manipulação de alimentos e fiquei impressionada de saber que a maioria delas nunca recebeu uniformes nem treinamento. Elas usam esmaltes nas unhas, unhas compridas, brincos, colares, blusas sem manga, sandálias, cabelos soltos. Para a oficina, usaram os aventais que a  Coopercuc mandou fazer e a faixa na cabeça, sugestão minha. Li trechos do livro "Vamos Comer - Da viagem das merendeiras, crônicas e conversas" da Nina Horta, discutimos sobre as dificuldades que enfrentam, e falamos de brincadeiras de infância.

No começo, elas estavam meio reticentes. Depois, quando começaram a recordar a forma como brincavam de casinha, foram se descontraindo. Aprendi muito com elas.  De um modo geral, as brincadeiras envolviam comidinhas em cacos e panelinhas de cerâmica, que eram recheadas com folhas de bredo, beldroegas, língua de vaca, folhas de umbu. Uma disse que ia pra mata com estilingue, matava um passarinho e tratava como galinha. Depois assava na fogueirinha e comia com outras crianças. Chamavam de picnic esta refeição fora de casa. Outra refogava um bredo, bem picadinho, tudo bem explicadinho, ia buscar um pouco de farinha e fazia uma farofa. E uma delas disse que roubava um naco de bode de sol, bem pequeno, pra mãe não perceber. O xiquexique assado sempre aparecia, o mocó de macambira também. De interessante apareceu ainda o café de fedegoso - sementes torradas e socadas no pilão,  a palma nova picadinha e tantas outras curiosidades.

Depois, diante de uma mesa cheia de hortaliças da agricultura familiar,  fizemos alguns preparos com mandioca, como bolo de mandioca com abóbora, mandioca com molho de tomate ao forno com queijo de cabra,  e beijus coloridos (couve, cenoura e beterraba),  recheados com queijo ou banana, canela e queijo de leite de cabra.

Vejam cá algumas fotos - participaram também estagiárias da Coopercuc, diretora e funcionárias da instituição que nos emprestou o espaço para as oficinas, e a nutricionista do município.






















Convite: Cozinhando no quintal

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Clique e Amplie














Estou triste por perder  hoje o lançamento do livro da Renata Meirelles, da editora Terceiro Nome. A obra, com fotos lindíssimas, retrata o universo das crianças de várias partes do Brasil e suas brincadeiras de casinha - leia-se, de cozinha. Elas fazem pratos sofisticados com flores, lama, pedrinhas, folhas quaisquer. Como todos nós um dia fizemos.  Para o lançamento, Renata preparou continuidade da brincadeira. A conferir. Ah, fiz a apresentação do livro com o maior gosto.

Uma pequena amostra deste trabalho você pode ver no vídeo que ela fez e eu já mostrei aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2013/09/casinhas-no-vale-do-jequitinhonha.html

Hoje, 08/10/2014 - 19 horas
Instituto Alana
Rua Fradique Coutinho, 50 - 11° andar

Apareçam lá por mim!

Oficina com merendeiras, parte 2. Hortaliças, frutas e temperos do Sertão

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Temperos do Sertão. Ou tudo que encontrei fácil por aqui 
Dando continuidade ao post de ontem, sobre a oficina com as merendeiras, relato um pouco da oficina de hoje. Falamos de vegetais da agricultura familiar e formas de usá-los. No macarrão com sardinha, por exemplo, um clássico da merenda escolar que costuma ser servido sem molho,  introduzimos folhas de bredo (amaranto), que só alguns reconhecem como alimento, e mais nas brincadeiras de casinha e nas épocas remotas de necessidade. E falamos sobre técnica de cozinhar macarrão. Nas escolas, o macarrão costuma ser cozido em grandes quantidade, geralmente em panelas pequenas, com pouca água. O resultado é um macarrão embolado, como dizem as merendeiras. Pra completar o estrago, a massa cozida é passada por água fria pra tirar o excesso de goma. Elas aprenderam também a fazer quiabo sem baba, berinjela com especiarias, suco de manga verde com capim santo (gostaram tanto que não sobrou nem pra degustação)  e outros, misturando ervas. 

Aliás, a oficina de ervas aromáticas e outros temperos foi interessante, pois quando falei de amburana (fizemos mingau gelado e arroz doce com amburana), ressaltei que chefs famosos como Rodrigo Oliveira, do Restaurante Mocotó, usavam. Como percebi que ninguém conhecia o Rodrigo, apelei para outro ainda mais famoso. As respostas foram engraçadas. Alex o que? Alezatala?, conheço não? Quem é esse? Oxe, aqui não tem disso não. Que coisa é essa? 

Como diz Jussara (coordenadora do projeto da Coopercuc em parceria com o Programa Semear), aqui em Uauá, Neide Rigo é mais famosa que Alex Atala (ele que não nos ouça - se bem que poderia achar divertido também). 

Iolanda me trouxe fuba (ou fubá mesmo, como dizem aqui)
No final, ainda ganhei de presente da merendeira Iolanda um pote de fuba, que ela mesma preparou torrando o milho e socando no pilão. e ganhei muitos abraços, deus te abençoe e fique com deus. É sempre muito gratificante a troca de experiências com estas mulheres, que mais me ensinam que eu a elas.  Algumas fotos:, 




Convite: Seminário Internacional sobre alimentação no Sesc Belenzinho. Vinte anos do Mesa Brasil

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O Mesa Brasil, programa do Sesc que coleta alimentos onde sobra e distribui para instituições que possam aproveitá-los, completa 20 anos e, para comemorar e debater a questão da alimentação (entre carências e excessos), organizou um seminário internacional que vai reunir especialistas e pesquisadores, do Brasil e do exterior,  de várias áreas da alimentação. Mara Salles, Josimar Mello, Bela Gil, Patrícia Gentil e até esta que vos fala, estarão lá. E muito mais gente importante. É só conferir a programação.

Minha parte será uma oficina sobre PANCS - plantas alimentícias não convencionais - encontradas no espaço urbano. Adoro quando meus leitores se encontram e se reconhecem nestes eventos.

Confira o vídeo abaixo para saber um pouco mais e não deixe de ver a programação, com datas, horários, preços (barato como tudo do Sesc, claro). Ainda dá tempo de se inscrever. Corra lá. Programação Completa e mais informações aqui.

Ovos na panela de barro

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Aprendi com dona Joana, de Uauá, que lugar de ovos é na panela. Fomos à casa de uma produtora rural de nome Bela e chegamos na hora da cocada. Ela disse que o doce estava esfriando e fiquei sonhando com uma cocada de coco. O inusitado seria pelo coco, que é pouco ali no sertão. Quando Bela apareceu com a forma cheia e foi cortando o doce liso, fiquei buscando indícios crespos de coco. Foi aí que fiquei sabendo que cocada é qualquer doce de corte, com ou sem coco. Doce de mamão, por exemplo, é cocada. Doce de leite bem lisinho é cocada também. 

Próximo aprendizado: sobre ovos. Perguntei se tinha ovos porque queria fotografar. Nas comunidades, sempre há um ovinho para comer com o cuscuz que muitas vezes ainda é feito com milho no pilão. Sim, tinha ovos. Bela disse que colocaria num prato de vidro, pra ficar bonito. E eu querendo uma baciinha daquelas de alumínio alumiando, amassada, quase furando, com as bordas cortadas pelo uso. Ou um daqueles pratos de ágata bem batido, ou ainda, quem sabe, um prato de louça bem lascado. Mas, que nada, Bela que gosta de tudo bonito, me deu um prato de vidro intacto e eu, claro, aceitei, agradeci. No fim, o tal do prato transparente nem ficou mal na foto, fantasiado pela luz do sertão que o projetou na superfície de madeira como um mandala iluminada. 

Dona Joana, porém, já sabendo meus gostos, foi procurando com os olhos um suporte mais rústico e logo soltou:  - Ah, pois, aqui está a panela de barro, porque o certo mesmo é guardar ovos em panela como esta, que conserva os ovos fresquinhos. - E completou: - Aliás esta panela era minha!  (tinha dado a panela justo pra guardar ovos). A foto nem saiu boa, pois era muita panela pra poucos ovos, mas o que parece uma bobagem, mudou pra sempre meu jeito de guardar ovos. Assim como alhos, ovos gostam da frescura do barro, conservando-se assim fora da geladeira por mais tempo. Usei, para os ovos caipira de Piracaia, a panela de barro que ganhei dos amigos Hermano e Manuela, de Fortaleza. 

Se quiser aproveitar a dica, depois me conte se deu certo. 

E de lá da caatinga, outros ovos de capoeira, como se diz no sertão daqueles que conhecemos por aqui como ovos de galinha caipira:






Bode é um cabra curioso

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Eliane, criadora de cabras, na Serra da Besta, em Uauá
O bode é um cabra curioso. Na caatinga, é um dos poucos animais que sobrevive ao chão pedregoso, à falta de água e à escassez do alimento. Muitas vezes é a única fonte de proteínas da população. Já não se cria mais gado a não ser que o cabra seja muito teimoso. Por outro lado, o bode acaba com a paisagem da caatinga se criado nos fundos de pasto (áreas comuns e protegidas) e sem alguma confinação das cercas feitas com galhos de catingueiras - e o sertanejo sabe fazer cercas como ninguém. Mas o bode só destrói a caatinga porque o homem destruiu as macambiras pontudas, espinhudas, que protegem a biodiversidade dando a oportunidade de novas plantas se desenvolverem. Macambiras protegem também os pequenos roedores, pois é cabra ali se abaixar pra ter os olhos furados. 

Pra driblar a falta de alimento, muita gente planta palma para os bichos  - e, curiosamente, diferente dos mexicanos, não acham que a palma ou nopal possa ser comida para humanos. Para as cabras, há quem tenha o cuidado de colher pela manhã as raquetes de palma, deixar resfriando e só dar aos bichos quando estão friinhas. E, como vimos Eliane fazer numa comunidade rural de Uauá, na Serra da Besta, as palmas são fatiadas para os animais não se engasgarem. 

O queijo de cabra é comum, mas não é todo mundo que sabe fazer. Tem formato retangular, é delicioso com vinagre de umbu  - e, quem sabe, umas fatias de berinjelas grelhadas. Agora, a carne de bode assada (na verdade, frita) é unanimidade. Em todo lugar tem. E quando não tem dela fresca, sempre há uma manta seca pra botar na panela quando chega uma visita. E uma coisa que todo mundo gosta é desta carne bem esturricada e salgada (às vezes, excessivamente, como a do hotel onde fiquei - neste caso torna-se intragável). De um modo geral, a gordurinha tostada dá ao conjunto um equilíbrio, evitando que fique tão seca.
Mas, voltando às cabras curiosas, elas não podem ver um objeto, uma mochila diferente, que logo querem espiar, abrir, comer. E vão vencendo medos, se aproximando, pois a curiosidade é mais forte que a razão. Nestas horas, a gente pode pegá-las facilmente pela galhada só pra ouvir o bééeeeeh! 
Venham, ela não está olhando
O que será isto?
Deixe que eu abro

Podem vir, vamos comer o que tem dentro
Corredor para livre passagem sem destruir o pomar

Eliane cortando palmas para os bichos
Queijo do leite da cabra

Bode assado 

Plantas protegidas das cabras

Flores do sertão

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Já era
Poderia chamar a maioria destas flores que apresento aqui de poncs - plantas ornamentais não convencionais. A não ser as flores que viram frutos como a de umbu e de maracujá, quase todas as outras cabem na unha do dedo mindinho.

Um homem passou pela rua, me viu achagada, quase beijando o chão para fotografar, e perguntou: está tirando retrato de pulga, sua moça? Disse que era flor e ele balançou a cabeça. Por acaso eu acabei e segui na mesma direção do homem, a tempo de ouvi-lo conversando sozinho: coitada, que louca, fotografando florzinha...

Num outro episódio, fotografei esta flor roxa diferente, que nunca tinha visto na caatinga e nunca mais vi. Era mínima,escura e a luz do sol já ia indo embora. Para garantir uma foto melhor depois (o que não aconteceu), arranquei um galhinho e perguntei para o rapaz que nos acompanhava no carro. - Sabe como chama esta planta? - Sei. Se chama m-a-t-o! Isto, aos risos, claro.

Já no aeroporto de Petrolina aconteceu algo interessante e divertido. Os passageiros seguiam para o avião no meio da pista em fila disciplinada, quando avistei uma moita de perpétuas e saí pela tangente. Só havia visto iguais àquelas numa escola, abandonadas entre matos e lixos. Um guarda acompanhava e orientava a fila com cara sisuda. Ele estava preparado para qualquer eventualidade ligada à segurança, à qualquer movimento que saísse do normal, mas não soube o que responder quando saí da fila e disse que precisava fotografar aquela moita de flor. Ele fez cara de assustado, olhou ao redor procurando a moita, não sabia do que eu estava falando, não sabia se autorizava ou proibia, já que não fiz pedido algum mas simplesmente avisei, e, afinal, aquela moita não deveria estar ali no meio da grama - era mato. Por fim sorriu. Perpétuas lindas aquelas. O passageiro que se sentou ao meu lado também não entendeu muito quando debulhei todas as florezinhas que consegui roubar dentro do saco virgem de vômito à procura de sementes.



Mas o que deu raiva mesmo foi quando no último dia em Uauá presenciei o floricídio de malvas brancas que se abrem pela manhã e descansam após o meio dia.  Estas foram as primeiras e as últimas flores que fotografei em Uauá. Logo que cheguei, elas me chamaram a atenção pois enfeitavam, perto da cooperativa,  um muro sem rebocos de um terreno baldio, numa calçada não pavimentada, e ainda cobria o fio de água escura que corre a céu aberto  e que domina as sarjetas da cidade sem esgoto tratado. Achei tão generoso da parte das malvas - um enfeite que modifica a percepção de um lugar onde o verde e as cores são pouco valorizados (como se isto não fizesse parte do nosso bem-estar - hoje já temos pesquisas que mostram o bem que a simples visão da natureza nos faz).  Mas no dia de vir embora, passei novamente pela cooperativa e vi o jardineiro fazendo seu trabalho, passando a enxada nas malvas. Fui com jeito conversar com ele, que também fez cara de me achar louca. As respostas foram estas: - Isto é mato. - As pessoas querem a calçada limpa. - Está tampando a passagem do esgoto. Etc. Diante de minha insistência de que poderia tirar só o capim, ele respondeu que se não tirasse tudo iam dizer que ele não trabalhou (!).  Tentei ainda argumentar que a guanxuma, o outro nome da planta, poderia evitar com que ele ficasse careca, já que seu extrato é usado em xampus para o problema. E que logo logo estaria ali a  Avon, o Boticário, a Natura ou L´Occitane em busca dessas flores que crescem tão bem na caatinga. Mas nada o fez demover da ideia de cortá-las pela raiz deixando a calçada pelada em folha e flores.

Um coisa boa foi que na casa da Dona Jovita tomei chá de flores de umbu - azedinho e perfumado.

 Aqui, fotos de algumas flores não convencionais, vulgo mato.


Bom-dia!




Perpétua da escola

Perpétua do aeroporto

Batata-de-purga

Amaranto

Flor de melão de são caetano





Cosmus rosa

Flor de cansanção

Maracujá da caatinga

Pinhão bravo 

Flor de umbu (no chá)






Malva pela manhã

Malva se fechando ao meio dia
Cardo santo, também conhecida como carro santo. Um tipo de papoula

Convite - Sesc Consolação amanhã: Os guardiões das sementes e hortas esquecidas

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Os Guardiões das Sementes e Hortas 
Esquecidas

COM NEIDE RIGO

SESC Consolação


A pesquisadora de alimentos Neide Rigo apresentará, por meio de exposição 
interativa (o toque, o cheiro, a degustação), diversas espécies de hortaliças 
que fazem parte da cultura alimentar brasileira mas que estão sendo 
esquecidas e seus usos extintos da culinária. Os agricultores familiares 
desempenham papel importante na conservação de algumas espécies, 
cultivando-as para serem vendidas em feiras de produtores. Neide demonstrar
á como fazer um nhoque de pingar com folhas de taioba e folhas de batata 
doce.

Local: Convivência

21/10/2014 - 13 horas - Local: Convivência - Grátis
É só aparecer! 

Veja toda a programação aqui

Campari caipira: Campira

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Foi nosso professor Sandro, de olericultura orgânica, lá em Piracaia, que, num dos intervalos para o café, falou do Campari do caipira. Disse que misturavam groselha, cachaça, zimbro e losna e estava pronta a bebida parecida com aquela amargosa, só que dava barato por causa da erva losna ou Artemia absinthium. Fiquei com aquilo na cabeça, não por causa do possível e folclórico barato mas pelo amargo certeiro que eu aprecio no Campari. A artemísia ou losna tem tujona, substância que em altas doces pode ser tóxica e produzir alucinações e outros efeitos deletérios como acontecia no século 19 com a bebida absinto (este é um assunto polêmico, que deixo por conta do leitor, já que discute-se se era a erva ou a alta porcentagem alcoólica que produzia alucinações e até convulsões). Que a alta graduação alcoólica e o consumo rotineiro e exagerado de bebidas alcoólicas fazem mal à saúde ninguém desconhece ou duvida. Agora, a artemísia em pequenas doses é simplesmente uma erva medicinal e amarga até no cheiro. Então, usei apenas dois galhinhos de artemísia (que mantenho na hortinha comunitária, presente de uma vizinha) para meio litro de cachaça. Juntei também umas sementes de pacová e cerca de uma xícara de xarope de hibisco, que por acaso já tinha aqui.  Deve ficar bom também com xarope de jabuticaba

Artemísia ou losna, cachaça, pacová e xarope vermelho

Deixei em infusão por 20 dias e tomei uma colherada aos poucos, afinal depois dos cinquenta anos gosto de ter meus pés fincados no chão, sem artifícios para viagens desconhecidas. Uma colherada e nada. Duas colheradas no outro dia e também nada, só uma ligeira alegria. Por fim, servi com gelo e rodela de limão e a cabeça continuou no lugar, apenas com a gostosa sensação do pouco álcool. Marcos disse que não tem nada a ver com Campari a não ser pela cor e o amargor. Ele odeia Campari, mas adorou minha bebida que batizei de Campira em homenagem ao Sandro. Faça o seu variando ervas amargas, sem esperar nada além do entorpecimento alcoólico. Isto, claro, se você gosta de bebidas amargas como vermute. 

Campari e Campira

Kefir beer, country wine, espumante caseiro

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Nada de O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,refri-proibido-para-menores-imp-,4870O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,refri-proibido-para-menores-imp-,4870O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,refri-proibido-para-menores-imp-,4870máquina carbonatadora que injeta gás carbônico em água gelada para fazer bebidas gasosas. Estes refrigerantes são muito  mais que isto. São bebidas naturalmente gaseificadas e alcoólicas.

Entre meus amigos, está virando moda. O Guilherme faz, minha vizinha Ana, a amiga Ana Laura e a Sonia (levamos a bebida num picnic do Slow Food neste último final de semana na ecovila Clareando, em Piracaia, e foi um sucesso). Está todo mundo explorando como nunca suas colônias de kefir-de-água.  Eu já tive kefir de água anos atrás, presente da Neka Mena Barreto. Não achava muita graça naquele caldo de açúcar mascavo com gosto de água choca. Por isto, logo troquei pelo kefir de leite, que tomo todos os dias no café da manhã batido com frutas (bem, se você não sabe o que é kefir, há alguns posts aqui no Come-se).

Mas o fato é que meu amigo Guilherme, que faz refrigerante de batata-doce (do excelente blog Matos de Comer) me incentivou a ter o kefir de água novamente e desde então venho fazendo progressos nas bebidas que faço com ele. Algumas têm cara e sabor de espumantes suaves, outras ganham corpo de cerveja ou de refrigerante alcoólico. A depender do açúcar inicial, o resultado fica na linha do paiauaru ou do kwas - estes, fermentados sem um iniciador.

O kefir é uma colônia de leveduras e bactérias que funciona como um iniciador ou fermento (além dos efeitos probióticos - melhora a flora intestinal, a imunidade etc). É claro que isto é só um projeto que precisa ser aperfeiçoado. Ainda preciso aprender a controlar melhor a fermentação e o teor alcoólico, mas aos poucos e com os erros estou chegando a um bom resultado. Para aperfeiçoar, quero ainda comprar um medidor de grau brix - mede-se a densidade de açúcar inicial e após a fermentação e, com uma fórmula, chega-se ao teor de álcool da bebida. Quanto à fermentação, já não produzo mais bombas caseiras depois que resolvi adotar de vez o velho e bom selo-d´água na falta de um airlook (já mostrei o selo d´água quando mostrei o feitio de vinagre - que necessita de fermentação prévia).

Por enquanto ainda não tenho uma fórmula do espumante, mas tenho mantido várias garrafas borbulhantes no balcão da cozinha como experimentos. Em poucos dias produzo espumantes frescos e diferentes, bons para estes dias quentes. De frutas, gengibre, ervas, hibisco. Ainda tenho muitas combinações em mente, mas por enquanto, vou falar apenas como faço o de hibisco e você pode ir criando o seu, a gosto.  O teor de açúcar é que vai determinar o grau alcoólico.  Costumo fazer um refresco de hibisco cozinhando cerca de 100 g das flores (sépalas) secas em 3 litros de água e adoçando com 1 xícara de açúcar orgânico. Peneiro, adiciono 1 colherada de grãos de kefir de água e deixou fermentando com o selo d´água (é só inserir uma mangueirinha bem ajustada na tampa de uma garrafa Pet ou rolha e deixar a ponta dentro de um copo com água - o gás carbônico sai mas o oxigênio não entra). Quando acabarem as borbulhas, praticamente todo o açúcar se transformou em álcool. Basta agora engarrafar e deixar na geladeira por uns dois dias.

Mas se quiser uma segunda fermentação na garrafa, e é isto que vai torná-la frizante, adicione 1/2 colher (chá) de açúcar dentro de cada garrafa de 500 ml (daquelas de cerveja reutilizadas, com presilha) e deixe mais dois dias em temperatura ambiente. Antes de abrir, coloque a bebida na geladeira por um dia. E ainda assim, enquanto ainda não sabe domar a fermentação, abra a garrafa apontada para o céu. Se não tiver garrafas com presilhas (vale comprar uma cerveja industrial só pra isto, pois estas garrafas são quase eternas), use garrafas de água com gás vazias, pois são mais reforçadas e suportam a expansão do gás. Basta, pelo menos umas três vezes por dia, desrosqueá-la devagar para deixar escapar o excesso de gás.

Para que isto não aconteça, segure a tampa com a mão,
deixando escapar um pouco do gás antes de entornar
no copo

Bebendo estrelas

Cozinha de experimentos - e o kefir no pote ao lado (para fazer o selo d´água,
basta furar com ferro quente a tampinha e ajudar a mangueira sem folga
alguma para entrada de ar (a mangueira não deve encostar no líquido)

Espuma densa

Flor de sabugueiro com gengibre - ficou horrível
Com flor de sabugueiro e limão rosa


Geladeira cheia para o picnic do Slow Food Piracaia - estas, da amiga Sônia

Quem provou, aprovou




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