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É tudo couve neste inverno

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Colhi no sítio: couve do repolho, couve variegata, couve-chinesa (chamada
de acelga), couve-rábano, couve roxa e couve manteiga 
Couve é cultura de inverno, é uma das verduras mais abundantes no mercado, mas nem por isto precisamos nos contentar apenas com a querida couve-manteiga para acompanhar a feijoada ou completar o minestrone. Já falei mais extensivamente sobre ela aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2010/09/couves-e-couves.html.  

Todas couves são da mesma espécie, descendentes de um ancestral silvestre comum. O que muda é a variedade. Algumas são de cabeça (repolho), outras não (couve-manteiga, couve-tronchuda, couve-chinesa). Algumas se especializaram nas flores (brócole, couve flore), outras no bulbo (couve-rábano) e algumas nos brotos (couve-de-bruchelas). O que todas estas tem em comum? Todas elas, mesmo as que são apreciadas por suas outras partes, têm folhas comestíveis e gostosas.  O que a gente vê nas feiras é um verdadeiro desperdício de alimento. Montanhas de folhas de brócolis e couve-flor são jogadas fora todos os dias, fora as que nem vão para o mercado, já descartadas no campo.  Além das folhas, os talos também são ótimos ingredientes e não tem porque jogá-los fora. Entram em sopas de legumes, no arroz, na fritada, na salada, na farofa. 

Estas das fotos, colhi no sítio. E o engraçado é que venho cultivando um pé de repolho como couve comum. Ele começou a formar a cabeça, mas não colhi. Foi então crescendo pra cima e eu fui arrancando as folhas de baixo. Agora sempre posso colher as folhas verdes que são meio curvadas, boas pra fazer repolho recheado e também pra refogar como couve comum. 

Nasceu também na horta outro tipo de couve, a chinesa (Brassica rapa var. pekinensis), que todo mundo chama de acelga (mas acelga é outra espécie, parente da beterraba, de folhas grandes com uma nervura central branca e grande como a da couve-chinesa, daí a confusão). Deve ter vindo a semente misturada com a de outra espécie e foi crescendo, crescendo. Só então percebi que era uma couve-chinesa de folhas soltas - as da folha não estão com nervuras grandes, mas as folhas mais externas, que já comi, estas sim. Posso ir colhendo as folhas uma a uma e elas são verdes escuras e não amarelas como na tradicional.  

Fora isto, tem as couves comidas como couves mesmo e elas não são todas manteigas, molinhas, verde lisinhas. Tenho plantada a rendada, a variegata com manchas brancas e a de veios roxos. A variegata é bastante ornamental, mas também gostosa. Como este é um defeito da planta, ela vive tentando se corrigir, por isto um broto pode acontecer de vir normal, uniformemente verde. 

Agora, meu xodó, em se tratando de couves, é a couve-rábano. Além das folhas macias e dos talos fininhos, os bulbos são deliciosos. Quando cozidos, lembram a couve-flor. E se forem cozidos no leite e gratinados, então, ficam ainda mais apetitosos. Depois dou receita.  

Na horta comunitária City Lapa também plantei algumas variedades, incluindo o broto que nasceu no pé de repolho. Um vizinho já me veio me contar que todos os dias colhe uma folha para seu suco verde - o bom das couves é que podem ser comidas cruas (diferente da taioba, por exemplo).  E quer outra vantagem? um pezinho dela ocupa pouquíssimo espaço e pode produzir muito num pequeno espaço de jardim. É uma espécie rústica, requer poucos cuidados e pega fácil de broto de uma planta adulta. E o inverno é a estação ideal para plantar e colher couves. 

Algumas couves que colhi: 

Couve-chinesa (ou acelga) de folhas soltas - sabor de mostarda

Couve-rábano

couve do repolho

couve variegata

couve rendada

Talos de vários tipos de couve 
Na horta comunitária City Lapa



O que é, o que é?

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Quem sabe, quem sabe? Diga aí.  Se não souber, chute, que tá valendo.
Resposta na segunda. Bom fim de semana!

Como fazer chocolate a partir das sementes do cacau. Ou resposta à charada

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Um a sete pra  mim. Desta vez facilitei demais a charada. E, fora um embondeiro ou baobá, um cupuaçu, araruta e as desconfianças comuns, o acerto foi geral: polpa de cacau. Parabéns, leitores!

Outro dia fui na casa de minha amiga Veronika e ela me ofereceu uns nibs que ela própria tinha preparado. Simplesmente torrou as sementes de cacau e triturou. O perfume era de chocolate. Mas a lembrei que precisava fermentar, ficaria melhor. Não só para eliminar o resto de polpa, mas também porque o calor gerado no processo fermentativo inativa a germinação, evita ranço e intensifica substâncias aromáticas.  Saí de lá com dois de presente. Veronika, por sua vez, também ganhou os cacaus de presente da Adélia, na Serra de Taubaté, descendo pra praia.  Resolvi tentar fazer as barrinhas, como aprendi lá em Belém, na Ilha do Combu. 

Como fiz:






Quebrei dois lindos cacaus, amassei sobre uma peneira, apertando para sair o máximo de suco. Bebi este suco que é delicioso. As sementes com resto de polpa, coloquei numa panelinha de barro, corri com pano e com a tampa e deixei fermentando num canto da pia por três dias. Borbulhou um pouco e soltou um perfume frutado maravilhoso.

Depois de fermentadas e secas ao sol, ficaram assim
Coloquei as sementes sobre um pano e levei ao sol para secar, bem espalhadas, recolhendo à noite por causa do sereno. Depois de uns três ou quatro dias, as sementes estavam secas.


Coloquei, então, as sementes numa frigideira de ferro e levei ao fogo, mexendo sempre, até que ficassem com a casca escura (da próxima vez não vou deixar escurecer tanto, acho que ficará com melhor sabor - pura falta de experiência).


Depois de torradas, as sementes devem se libertar das cascas torradas. Basta apertar com os dedos que elas se quebram e se soltam facilmente da amêndoa. Enquanto as sementes ainda estão quentes, é mais fácil triturar. Eles se quebram como amendoins torrados. Use pilão (é assim que se fazia no passado) ou máquina de triturar grãos. Eu fiz dos dois jeitos. Com a máquina é melhor, claro.

As sementes trituradas são gordurosas e podem ser moldadas rapidamente, antes que endureçam. Coloquei em forminhas de madeira forradas com plástico, pressionei bem e depois de 10 minutos (porque está frio aqui) já podiam ser desenformadas. Se quiser, pode moldar em cubinhos - fiz dois.

As barrinhas
Este mingau, fiz com leite, araruta e cacau. Na superfície ralei uma barrinha
As barrinhas podem ser raladas e usadas em leite, bolos ou mingau. Se bater o leite quente com elas no liquidificador, a diluição é facilitada.
O sabor é rústico, nada a ver com chocolates ao leite, por exemplo, mas é muito bom, lembra aquelas barrinhas mexicanas ou o chocolate da Ilha do Combu  (não tão gostoso, claro, mas se tiver mais cacau vou fazer outras experiências, aperfeiçoando).  No leite, no bolo ou no mingau, posso afirmar que é infinitamente melhor que achocolatados.

É claro, para quem tem apenas duas frutas como era meu caso, não é um negócio vantajoso, a não ser pela alegria de conseguir produzir a própria barra de cacau, mas imagine para quem tenha cacau perdendo ou facilidade em consegui-lo. O mesmo vale para o cupuaçu, da mesma família do cacau, que rende o cupulate - com a diferença que a casquinha não se solta com muita facilidade.

Agora, só para ilustrar, algumas fotos, entre elas frutas mencionadas entre os comentários da charada:

Cacau jacaré 

Cacau jacaré 











Cupuaçu 

Embondeiro ou fruto do baobá - a polpa é seca 



Cacau no pé

As sementes secando na rua em Belém 

Pão de queijo da Canastra feito pela Romilda em São Paulo

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Dendê se deu bem com esta visita 
Fiquei a semana passada por conta da amiga Romilda, que veio de São Roque de Minas, Serra da Canastra, junto com o filho João Vitor e a amiga Cleuza, e ficaram na minha casa.

Romilda foi convidada pelo Sesc Belenzinho para dar duas oficinas sobre o queijo num ciclo de atividades chamado Comer É Mais, do qual sou curadora.

Como os três nunca tinham vindo a São Paulo, aproveitei para passear e mostrar como vivemos aqui.

Já no primeiro dia, andamos de trem, metrô, escada rolante e esteira rolante, tudo novidade. Romilda adorou tudo, disse que agora só falta andar de avião.  Fomos ao mercado da Lapa, ao restaurante Tordesilhas, à feira e ao sacolão. E ainda quiseram conhecer a Rua 25 de Março, que eu não suporto, mas quem é de fora tem curiosidade. Fomos também ao Mercadão e Romilda quis sair correndo de lá assustada com os preços que chamaram mais atenção que a arquitetura e a diversidade.  Nada de pastel nem sanduíche de mortadela, ufa.

Minha casa virou uma queijaria 
Na mala, Romilda trouxe 25 quilos de polvilho azedo, mudas de framboesa, sete-capotes e gabiroba para eu plantar e, claro, muito queijo Canastra, sendo que a maioria comprei pra mim. Maturado, dura muito tempo.

O Segredo do pão de queijo da Romilda: testamos a receita do pão de queijo em casa e descobri mais um segredo, que eu não sabia quando dei a receita e dicas aqui no Come-se (http://come-se.blogspot.com.br/2014/01/canastra-o-pao-de-queijo-da-casa-da.html). Além do polvilho azedo, que tem que ser bem puro e este que ela trouxe é, a forma tem importância fundamental. Ela não aceitou assar na forma de alumínio que eu tinha porque era muito grossa. Tivemos que comprar uma mais fina, de chapa galvanizada. Segundo ela, o alumínio fino queima e o grosso demora pra aquecer e enquanto isso o pão de queijo não cresce e vai ressecando por cima. Outra coisa, o pão de queijo deve entrar no forno bem quente (o máximo, no fogão doméstico) e depois que cresceu bem, deve continuar em forno mais baixo para continuar secando e não murchar. Aquelas formas com cavidades para os pães de queijo também servem. Como os pães são enrolados com as mãos untadas com óleo, não é preciso untar as formas.  A quantidade de queijo às vezes varia. Na aula, pesei o que ela usava intuitivamente e deu 250 gramas para 1 quilo de polvilho. Ficou excelente, todo mundo elogiou.

Na oficina, vimos um trecho do filme "O mineiro e o queijo", de Helvécio Ratton, do qual Romilda participa com o marido, Zé Pão. No início, Romilda estava meio tímida, depois se soltou, contou causos e todos os segredos do pão de queijo. Querida que é, teve como assistente voluntária Mara Salles, chef do restaurante Tordesilhas, e nem por isto se intimidou. Alguém perguntou à Romilda se ela tinha gostado do pão de queijo de São Paulo. Séria, ela disse que não tinha visto pão de queijo em São Paulo.  Todo mundo riu, vendo aí uma provocação. Até eu achei graça, mas ela mudou de assunto, meio sem entender as gargalhadas. Só no dia em que ela foi embora é que me toquei que aquilo não foi nenhuma ironia. Ela, de fato, não viu nem comeu nenhum pão de queijo em São Paulo. Falha minha. Poderia tê-la levado no La Da Venda, mas não deu tempo.  Já os queijos azuis e mofados, ela viu no Mercadão, mas disse que ficou com nojo. Não teria coragem de comer aquilo, não. Do Grana Padano que provou numa banca, gostou bastante.

Amanhã dou a receita e falo da oficina de lobozó. Por enquanto, fotos da oficina de queijos (e fique ligado na página do Come-se "Próximos Passos").

Romilda no Mercadão
Na oficina, O Mineiro e o Queijo
João Victor, Cleuza, Marcílio, Mara Salles e Romilda
Eu, Romilda, Drika, Val e Mara 
Cleuza, Romilda e João Vitor no Tordesilhas
Testes no meu forno - veja as formas que deram certo
Preciosidade de Canastra
Quentinho, na oficina 

O lobozó com queijo da Canastra da Romilda

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Já falei de lobozó outras vezes aqui no Come-se, pois foi uma das comidas que mais me  impressionaram em São Roque de Minas, na Serra da Canastra. Você pode conferir aqui e acolá. Algo que não sabia é que a receita surgiu na família da Romilda, lembrando que Valdete, mulher do Zé Mário, é irmã da mãe de Romilda. Foi na casa dela que experimentamos, Mara Salles e eu, a delícia. A família é grande e, portanto, o lobozó se espalhou por São Roque de Minas.




Romilda ensinou a receita no Sesc Belenzinho, numa oficina do projeto Comer é Mais, do qual sou curadora. A receita dela é um tanto diferente daquela da Dete e, embora seja este um prato que permite muitas variações, há técnicas comuns a serem seguidas, a começar pelo corte do jiló, como se vê na foto. Para que não se forme um anel de película na rodela e se solte depois de o legume estar cozido, o seguimento é interrompido, tirando quatro faixas de casca.  É  importante também observar a hora certa de cada ingredientes. Mas, vamos à receita que Romilda fez no Sesc e eu fui anotando. Mesmo quem não comia jiló achou delicioso.

Lobozó da Romilda 

2 colheres (sopa) de banha ou óleo
2 a 4 dentes de alho picadinhos
1 quilo de abobrinha brasileira cortada em fatias (fatias da parte mais grossa devem ser cortadas ao meio)
2 colheres (chá) de sal ou a gosto
1 quilo de jiló cortado em rodelas
1 cebola cortada em rodelas
4 ovos
300 g de queijo Canastra ralado grosso
1 xícara de cheiro verde (salsa e cebolinha) picado
1 xícara de farinha de mandioca biju (ou de milho)

Numa panela grande coloque o óleo e refogue nele o alho. Junte a abobrinha e o sal, misture, abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar abafado por alguns minutos antes de juntar o jiló. Coloque o jiló e a cebola, misture, tampe a panela e cozinhar até que os legumes estejam macios (não leva água). Quebre os ovos um a um e vá colocando sobre os legumes, um em cada quadrante da panela. Enterre-os com os legumes, tampe a panela e deixe cozinhar um pouco, mas não totalmente. Misture para que ele se quebre em pedacinhos, junte o queijo e o cheiro verde e misture delicadamente para que o queijo derreta. Coloque a farinha (cerca de uma xícara ou mais) em quantidade suficiente apenas para absorver o caldo dos legumes. Se preferir um lobozó mais sequinho, junte mais farinha. Simples assim.

Rende: umas 20 porções

Algumas fotos do processo

A banana é para  uma sobremesa, que mostro amanhã




E nhac!




Sobremesa da Romilda: banana três quinas com queijo da Canastra

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Para encerrar a oficina da Romilda no Sesc Belenzinho, a receita da banana três quinas frita, com queijo por cima. Pronto, está dada a fórmula.  Quando estávamos pensando na aula do lobozó, sugeri que fizéssemos também uma sobremesa. Há vários bolos que Romilda faz com o queijo entre os ingredientes, mas quando perguntei sobre um jeito simples de comer como sobremesa, pensou, pensou e não se lembrava de nada - talvez supondo que eu estivesse na expectativa de algo mais elaborado. Insisti e ela veio com esta maravilha - ah, frita a banana e serve com queijo ralado por cima. E tem canela? perguntei. Ah, se quiser, põe. E quanto de queijo? Uai, quanto quiser ou quanto couber em cima da banana.

A banana três quinas a gente não vê muito por aí, mas na Canastra tem bastante. Em várias outras partes do Brasil também, às vezes com outros nomes, como banana sapo na Ilha do Marajó, ou banana marmelo em Goiânia. Aqui não tinha, mas Romilda disse que pode usar banana-da-terra. Cortou ao meio, de comprido e  depois ao meio na largura, resultando em 4 fatias. Fritou em óleo quente, em quantidade suficiente para cobrir as fatias. Tirou do óleo, deixou escorrer e cobriu as fatias com queijo ralado. A canela em pó era opcional e quem quis polvilhou. Todo mundo quis e repetiu.

O queijo da Canastra deve estar um pouco curado, firme para ser ralado.
Este tinha uns 20 dias 



Banana três-quinas 

O que é, o que é? que tem de mistura?

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Aqui em casa
Desta vez é só curiosidade para um tema sobre misturas que estou desenvolvendo. Quero saber se este termo é facilmente reconhecível por todos nós brasileiros como parte do nosso sistema alimentar e de nossa identidade cultural. Quero saber se na sua região o termo é usado. E de onde você é. Como é sua mistura e como os pratos são servidos. Entrada, prato principal, sobremesa? Ou pega da panela no fogão? Vai tudo à mesa em travessas?  O prato é montado com tudo junto ou come em etapas?  Tem sopa e salada sempre? Tem alguma objeção ao uso das palavras mistura, janta e bife? Sei, sei, é muita coisa pra responder. Mas se tiver preguiça, responda pelo menos: "O que tem de mistura na sua casa?" e "de onde você é?". Se ainda estiver com preguiça, responda o que comeu de mistura ontem. Qualquer uma das outras curiosidades respondida será bem-vinda.

Fiz aqui um levantamento das mesas que já fotografei Brasil afora. Seu jeito de comer é parecido?

Aqui em casa, São Paulo

Pirenópolis, casa do Caio, Goiás

No sítio, Piracaia

Pousada Figueira Grande, Piracaia - SP

Comida da Naza, Acrelândia - AC

Restaurante Popular - Goiânia - GO

Casa da avó do Hermano - Fortaleza - CE 

Uberlândia - MG

Piracaia - SP

Aqui em casa. São Paulo - SP

João Pessoa - PB

Campinas - SP

Piracaia - SP

Aqui em casa. São Paulo - SP

Casa da Ananda, minha filha. São Paulo - SP
São Roque de Minas - MG. Casa do Zé Mário e da Valdete 

São Roque de Minas - MG. Casa da Romilda 

Petrolina - PE

Soure - Ilha do Marajó - PA

São Paulo - SP 
Acrelândia - AC

Acrelândia - AC

Casa da mãe - São José dos Pinhais - PR

Casa da mãe - Fartura - SP
Uberlândia - MG

Gato com feijão, em Piracaia - SP - "If it fits, I sits


Novidades de agosto

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A paineira vermelha está florida em São Paulo. Já reparou? 
Antes de começar, agradeço a todos os leitores que responderam à minha questão no post anterior sobre mistura, janta e bife.  Tenho ali um excelente material a ser trabalhado e nestas horas fico orgulhosa dos leitores do Come-se. Dele dá para tirar preciosas conclusões. Aguarde. 

Mas agora, dê uma olhada na página Próximos Passos onde estou registrando minhas atividades. Pode ser que alguma lhe interesse. Ela está atualizada para o mês de agosto. Tem bate-papo com Lourdes Hernandes e João Rural, com mediação de Janaína Fidalgo,  sobre milho, no Sesc Belenzinho. E, logo depois, haverá também uma palestra sobre Slow Food com a Claudia Mattos, líder do movimento em São Paulo. As duas atividades fazem parte do projeto Comer é Mais, da qual sou curadora. Todas as informações estão lá na página. 

TEM TACACÁ NA TIETÊ 12ª edição – ESPECIAL DE 1 ANO: nesta próxima quinta-feira tem tacacá especial na calçada no restaurante Tordesilhas, na Alameda Tietê. Será aniversário de um ano da iniciativa e temos muito a comemorar. Já mostrei um pouco aqui.  Veja também uma animação feita especialmente para a data: https://dl.dropboxusercontent.com/u/4932928/tacaca.mp4

TORDESILHAS - AL. TIETÊ, 489 – JARDINS – TEL.: 3107-7444
07/08/2014 – QUINTA-FEIRA - DAS 17:00 H ÀS 20:00 H (OU ATÉ ACABAR O TACACÁ)
PREÇOS: R$ 13 (CUIA PEQUENA) R$ 17 (CUIA GRANDE) 
R$ 12 – SORVETES (DUAS BOLAS - SABORES AÇAÍ, TAPIOCA E CUPUAÇU)
OS PREÇOS TEM QUASE 20% DE DESCONTO EM RELAÇÃO AO CARDÁPIO NORMAL

PREÇOS PROMOCIONAIS PARA ESTUDANTES DE GASTRONOMIA (APRESENTAÇÃO DA CARTEIRINHA): R$ 11 (CUIA PEQUENA) R$ 15 (CUIA GRANDE)

HAVERÁ SORTEIO DE ALGUMAS CAMISETAS COMEMORATIVAS DE 1 ANO 
DO TEM TACACÁ

CURSO DE FOTOGRAFIA DA INÊS CORREA -  Minha querida amiga Inês já fez muito trabalho comigo e já apareceu muito no Come-se. Além de profissional de técnica e talento inquestionáveis, carrega consigo uma delicadeza contrastante com o peso do equipamento fotográfico. Fazer um curso com ela é um privilégio. Aproveite: 

Clique e Amplie

O que tem de janta? salada, arroz, feijão e bife de mistura. Ou: Nosso jeito de comer

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Na sexta-feira passada lancei uma questão sobre mistura e nosso jeito de comer. 
Transcrevo abaixo o resultado da pesquisa feita sem método nem direção. Está certo que a falta de critérios leva a falsas conclusões quando se deseja generalizar, afinal eu queria saber o que acontece Brasil afora. Cerca de 40 respostas não nos dá a segurança de afirmar quase nada num país megadiverso, mas se trabalharmos apenas com este universo somado a tudo o que já vi e provei andando por aí, posso dizer que o resultado confirma pelo menos uma coisa que a gente sabe: brasileiro gosta de comer vários tipos de comida combinando tudo no mesmo prato. 

O termo mistura existe em boa parte do país como sinônimo de tudo o que entra no prato além do arroz e feijão, estes sim, considerados prato principal. Salada não é mistura, mas há quem a considere assim. Salada é salada. E mistura é carne, peixe, frango, verduras e legumes refogadas. Aliás, refogado parece ser nossa técnica preferida para preparar vegetais; muita gente come fruta de sobremesa e sopa não é caldinho ralo de entrada - sopa, para nós, é prato único, geralmente um prato mais substancioso que substitui arroz, feijão e mistura. 

Sendo assim, porque será que a comida nossa retratada em cantos e versos, nas revistas e nos restaurantes, seja tão distante assim daquilo que praticamos no nível doméstico? Nem estou falando dos menus ultra contemporâneos nem nos menus-degustação (ando fugindo deles, aliás). Uma certa distância é compreensível, afinal a gente vai a restaurantes pelo prazer,  para celebrar e confraternizar, e também para comer diferente. Agora, por que será que nosso sistema alimentar é tão restrito ao ambiente doméstico e aos restaurantes populares de prato feito?  - que também não refletem a diversidade que temos de misturas. Não temos no nosso jeito de comer divisão entre entrada e prato principal. Temos salada, que às vezes também é colocada no mesmo prato, mas ainda que seja consumida em separado, é colocada na mesa no mesmo tempo. Assim como as outras misturas. A feijoada é, sim, um prato emblemático em relação ao nosso jeito: arroz, feijão com carnes, couve, farofa, tudo junto. Será vergonha? Por que será que japoneses comem à sua maneira, chineses e coreanos também, os árabes, os italianos, os armênios.. e nós não podemos? 

Até os termos, vamos aos poucos deixando de usar, não por serem errados, mas porque não são apropriados segundo os manuais de etiqueta. É feito dizer janta; bife e mistura são coisas de pobres, caipiras, nordestinos, da periferia (já ouvi de tudo). Porém, são termos que estão aí, muitos brasileiros conhecem, mas quando usam é apenas na intimidade. 

Luís da Câmara Cascudo, em seu História da Alimentação no Brasil, registra na página 705, do volume 2 (da edição de 1983, Edusp): "... Nesses dias o pescado garantia almoço e janta, cozidos e assados, e dava nome às refeições jubilosas.".  

A palavra janta aparece em dicionário pela primeira vez em 1880, na primeira edição do Caldas Aulete como o mesmo que jantar. E na edição digital de hoje está lá : Janta - sf.1. Pop. O mesmo que jantar.[F.: Dev. de jantar. Hom./Par.: janta(s) (sf.[pl.]), janta(s) (fl. de jantar).]. Portanto, a palavra existe como um sinônimo feminino do masculino jantar, ambas derivadas do verbo jantar. No Dicionário Aurélio também está lá: "Janta. (Dev. fe jantar.) S.f. Pop. Jantar. 

Então, o que é que determina se algo é certo ou errado, feio ou bonito na linguagem? Puro preconceito que se dá por transferência. Não é da palavra, pois se está dicionarizada como jantar tem peso igual, mas do sujeito que faz uso dela e da classe social à que pertence. A palavra é apenas mais popular. E aí basta alguém influente se apropriar do termo para que ele vire rapidamente pop (lembrando que pop está para jantar, como popular está pra janta), ganhando outro significado para o mesmo significante.   

Voltando ao comportamento, a pesquisa do IBGE pode responder melhor sobre nosso jeito de comer. Os resultados do último senso mostram que estamos diminuindo o consumo de feijão e ingredientes pouco processados em favor de alimentos industrializados, refrigerantes e outras bebidas açucaradas. Agora, uma coisa é certa, brasileiro ainda mantém o hábito de cozinhar em casa e isto é bom pois podemos acolher mudanças de comportamento e influências de outras cozinhas e ainda incorporar ingredientes ou combinações mais saudáveis e responsáveis, sem deixarmos de lado nosso jeito de comer, do qual deveríamos nos orgulhar e nunca nos envergonhar.   

Tenho certeza que Carlos Alberto Dória, em seu livro Formação da culinária brasileira (Editora Três Estrelas, 2014), nos traz alguma luz a este respeito, mas os livros aqui em casa andam pela casa toda e o dele foi um desses que saiu do escritório para ser lido em outro local e só por isto não vou conseguir citá-lo.   
 
Agora, seguem as respostas, para você tirar suas próprias conclusões. E super obrigada a quem participou com sinceridade para compor este material valioso. 


1 - Leticia Cinto disse...
(gato com feijão nããão, pelamordeDeus :) Respondendo: na casa dos meus pais, mistura geralmente significava proteína animal, podia ser bife de vaca, carne de porco, frango (que eu não como e ficava sem mistura quando tinha), ovos, queijo fresco quente, coisas assim. A gente pegava tudo no fogão, direto da panela e comia tudo junto, às vezes com o caldinho da salada temperando tudo por cima. Aqui em casa é meio diferente, nem todo dia tem proteína animal, às vezes a mistura é uma berinjela bonita com molho de tomate. Sou de SP, interior, morando na capital. :)
2 - Bianca Ladyhawke disse...
Bom, vamos por partes... Eu sou do Rio Grande do Sul, mas atualmente moro no Mato Grosso do Sul. Lá no Sul não costumamos usar o termo "mistura", a primeira vez que ouvi foi ano retrasado, quando morava em Minas Gerais, e quem falou foi uma paraense. Na minha casa e na dos meus pais sempre teve a base de arroz, feijão e carne (normalmente bife ou frango), salada e algum legume. As vezes pode ser carne moída com o legume. Comemos tudo junto e costumamos colocar as panelas e travessas com salada na mesa. Salada tem sempre, sopa é prato principal, não entrada. Quanto aos termos, janta e bife são comuns, o mistura, como já mencionei, não. É comum misturar arroz e batata, mas macarrão não. Aqui comemos de mistura saladas com alface, tomate, rúcula, repolho, agrião, etc. De legumes, batata, cenoura, berinjela, vagem, ervilha, milho, beterraba, abóbora e abobrinha, e eu adoro jiló e quiabo, mas isso não é comum no RS. Gosto também de fazer verduras refogadas.

Bom, acho que é isso, espero ter ajudado!
Blogger3 - Diego Manoel disse...
Sou de Limoeiro-PE, mas moro em Recife.
Nunca usei a palavra mistura p isso =P
Entrada e sobremesa só em restaurante, sopa só no jantar e se sobrar no café da manhã. Prefiro carne de porco, mas como não gosto de comprar em mercado grande, só como quando compro no interior, quando faço comida é para se servir no fogão, lavar pratos não é cmg!
Como meus pais moram no interior, sempre tem variedade, carne de boi, galinha, capão, porco, peixe, bode, ovos, queijo coalho e por aí vai. Mainha sempre faz salada simples e/ou cozida, as vezes só jerimum na água e sal, corro desse último xD
O feijão/fava, presente em quase todos os almoços, independente do tipo, sempre leva charque e alguma carne com osso.
Tudo servido na mesa.
Anônimo4 - Karla Lima disse...
Eu sou do Rio de Janeiro, e atualmente moro no exterior. Eu sempre comi em travessas e pegando a comida pouco a pouco, o que não significa que sou aversa a mistura ao contrário, sempre misturei comida. Qdo me mudei para fora do país, por morar sozinha e num apartamento pequeno peguei o hábito de comer pegando direto da panela e as misturas foram parar não só na hora de comer qto também na hora de cozinhar o prato. Minha mistura favorita é a mais básica de todas, arroz, feijão, farofa, em casa, em forma de PF ou em restaurantes, esse 3 juntos são imbatíveis.
Anônimo5 - Anônimo disse...
Sou de São Paulo, capital e atualmente moro em Ubatuba/SP. Comeria tudo de todas as fotos! hahaha Mas identifiquei "minha mesa" realmente nas fotos de São Paulo e nas da "Casa da Mãe". Sempre tem arroz, feijão e algum legume/verdura cru ou cozido. Sou quase vegetariana. Sirvo poucos pratos, se forem mais de 4, é pq é dia de festa. Mistura, pra mim, é a proteína animal.
As panelas ficam no fogão e cada um se serve de tudo direto da panela de uma vez só. Entrada quase nunca. Sobremesa de vez em quando. Sopa só à noite e geralmente no inverno.
Acho que é isso.
Adoro seu blog!
Beijo grande.
Ana Paula
Anônimo6 - Anônimo disse...
Eu sou carioca. Nunca ouvi o termo "mistura" no sentido de comida.
Aqui em casa nunca tem sopa nem sobremesa. Salada é muito raro, mas às vezes tem, e como junto com o prato, não como entrada. Sempre tem arroz, feijão, alguma carne e verduras e legumes refogados no azeite e alho. Difícil ter fritura, mas rola uma batata ou aipim cozido quando não tem arroz. Quando tem peixe ou coisas com molho, não tem feijão. E pegamos a comida no fogão. Mesa posta só quando tem visita.
O jeito mais parecido com o comer aqui de casa é o de São Roque de Minas.
Não tenho nenhuma objeção ao uso dos termos, haha, mas não sei se no Rio se fala "janta", a nossa família fala "jantar"!
Ontem comi frango ao curry de leite de coco com arroz e ervilha orgânica refogada.
Espero ter ajudado, abs, Joana
Anônimo7 - Barbara Miotto disse...
Oi Neide,
sou do Rio Grande do Sul, de Nova Prata, uma cidade da serra gaúcha. Nunca ouvi o termo "mistura" por aqui, não. Eu diria que a gente não tem uma "mistura" de comer todo dia, mas com certeza come-se bastante massa. Na minha casa somos só eu e meu marido, então fazemos a janta e o que sobra é o nosso almoço do dia seguinte. Não tem esse esquema de entrada/prato principal etc, é sempre um prato só. Às vezes tem salada à parte e às vezes só tem os legumes e verduras que já estão compondo o prato da janta. Gosto sempre de tentar fazer pratos com muitos legumes/verduras pra dar uma incrementada na nossa alimentação. Sobremesa normalmente tem, mas é sempre alguma coisa comprada (chocolate, por exemplo). A gente serve nossos pratos direto das panelas que ficam no fogão e comemos no sofá, assistindo algum seriado. Nada de mesa. Às vezes tem suco também (sempre natural, que eu faço), refrigerante ou café-com-leite (sim, às vezes a gente toma café-com-leite junto com a janta). No dia que tem sopa, ela é sempre o prato principal (e único). Nos domingos a gente sempre almoça na casa dos meus pais, com toda a (grande) família. Lá, sim, comemos à mesa, todos juntos, e as comidas são servidas ora na panela, ora em travessas. Sempre tem salada e cafezinho.
Na janta de ontem comemos tortillas (massa comprada pronta) recheadas com um refogado de legumes (cebola, alho, pimentões, cenoura) e coraçãozinho de frango, suco natural de limão, flan (aquele pudinzinho comprado pronto) e chocolate de sobremesa.
Blogger8 - Ana Carolina disse...
Sou de São Paulo, capital. Ouço bastante o termo mistura, mas já vi com três significados diferentes, às vezes refere-se o que tem além do arroz e feijão, às vezes à carne e às vezes ao acompanhamento além do arroz feijão e a carne.
Em casa a gente pega tudo das panelas no fogão, eu como tudo junto, mas meu marido come as coisas meio separadas. Quase sempre temos salada, que comemos antes de tudo, um prato principal que normalmente é 'arroz, às vezes feijão, proteína animal e legumes cozidos ou verdura refogada', ou 'macarrão com molho', ou outra coisa do tipo. Sempre como fruta depois da refeição e às vezes temos algum doce de sobremesa. Sopa não é sempre, normalmente comemos como refeição na janta e no frio, mas se dependesse do meu marido comeríamos em qualquer refeição, qualquer clima.
Enfim, é isso. Parabéns pelo blog, sempre com coisas muito legais!
Blogger9 - Paulinha disse...
Neide, achei tão engraçado esse post! Sou de Americana-SP. Para nós é a coisa mais comum do mundo usar a palavra mistura!
Mistura é normalmente o que tem além do arroz, feijão e a carne.
Aqui em casa pegamos a comida direto da panela, só tem uma mesa mais caprichada se tem visita.
Normalmente é arroz integral, feijão , uma carne e um refogado e/ou salada. Quando não comemos feijão normalmente tem algum legume no arroz. Mesmo quando tem alguma massa comemos salada junto!
Sopa é mais difícil e comemos mais no inverno. Sobremesa quase sempre tem, seja uma fruta, iogurte ou um chocolate.
10 - Gilda disse...
Eu sou de Lavras-MG. Lá eu nunca ouvi falar em mistura. Mas em janta sim. Mudei para Belo Horizonte. Fiquei sabendo da tal da mistura, como sendo o que tem além de arroz e feijão. Como é uma cidade com gente de muitas partes, cada um fala do seu modo - janta ou jantar - e não são todos que falam em mistura. Hoje moro em Ubatuba e aqui também se usa falar em mistura, mas varia o que seja a mistura. Na casa da minha mãe e na minha casa sempre teve salada, todos os dias, arroz e feijão e normalmente alguma carne acompanhada de algum legume cozido com ela ou servido ao lado. Atualmente não como mais carne, então faço duas refeições combinando, ou seja, o prato vegetariano é acompanhamento da carne das outras pessoas. Cozinho em panelas de pedra ou de barro, então elas vão à mesa e fazem bonito. Sempre teve sobremesa, na casa da minha mãe e na minha, às vezes um doce, outras uma fruta. Sopas geralmente só no jantar, acompanhadas de pão ou torradas, como prato único, nos dias frios. Faz muito tempo que abolimos o jantar, fazendo apenas um lanche que até pode ser um sanduíche, granola com iogurte e frutas ou alguma torta salgada.E vejo que muita gente em Belo Horizonte e em Ubatuba também aboliu o jantar. Só não sei de ninguém que coma gato com feijão, ainda bem. Gato deita em cada lugar....kkkk
11 - Anônimo disse...
Olá Neide!
Sou carioca, mas meus avós eram da roça no Espírito Santo. Na minha casa usava-se o termo mistura sim e se referia a carne, embora a verdura fosse obrigatória e a preferida da maioria. E pegávamos a comida nas panelas mesmo tudo bem simples e o feijão era sempre preto.
Cátia Milhomens
12 - Beth disse...
Olá Neide! Em casa e nas casas das minhas tias, irmãs da minha mãe o termo "mistura"era bastante utilizado e para mim significava o que acompanhava o arroz/feijão, geralmente uma carne e algum legume ou farofa. A salada estava sempre presente mas não era classificada como "mistura". Minha mãe e irmãs nasceram e cresceram em Santos, filhas de espanhóis. Meu pai era português, mas não vivia sem feijão....Ah, o serviço era geralmente panelas na mesa, pois mantinham melhor a temperatura.
Hoje em dia me identifiquei mais com a foto do gato pois os meus dormem sobre o fogão, que quase nunca é usado...
13 - Paulo Antonini disse...
Oi, Neide!
Que delícia de postagem!
Em Torrinha, Brotas e São Carlos, três cidades onde morei, mistura é uma forma comum de chamar o que tem além do arroz e do feijão. Também sei que em Orlândia, Dois Córregos e Rio Claro, essa expressão também é usada. Já em Campinas, carne não é mistura. É só carne.
Em casa, as panelas vão para a mesa e tudo é servido no mesmo prato. Sempre tem salada (que também é mistura) mas tem que ter legume ou verdura refogada e alguma carne nas refeições.
Á noite, usamos a expressão janta.
A panela só não vai para a mesa quando é alguma refeição de comemoração - aniversário, natal, ano novo - quando tudo é servido em travessas ou bandeja.
Ás vezes as panelas de arroz e de feijão ficam no fogão e só a mistura vai pra mesa.
Sopa é prato principale não tem acompanhamento nenhum (pelo menos na minha família e nas casas de amigos e parentes onde já tomei sopa).
Agora estou morando no Mato Grosso do Sul, mas não reparei nesse modo de tratar o que acompanha o arroz e feijão. Que o termo janta é usado para a refeição da noite, isso eu sei que é.
Espero ter colaborado!
Abraço.
14 - Crist Silva disse...
Aqui em Lins -SP também falamos mistura,a comida aqui em casa é parecida com da sua filha ,mais simples e a pedido da filha quase sempre tem ovo,verdura carne não é todo dia .Comemos mais verduras e legumes,arroz e feijão sempre ,refrigerante as vezes só no final de semana e ainda as vezes.
2 de agosto de 2014 10:41
 15 - Letícia disse...
Só mistura bonita aí!!
Aqui no subúrbio do RJ mistura existe, mas vejo o termo ser usado mais pelo pessoal que migrou da região nordeste. Na casa de algumas das minhas amigas, que são filhas de nordestinos, tem mistura. Só não tem se a situação apertar muito. Saindo do subúrbio e partindo para a baixada fluminense, o termo também é usado, mais uma vez, mais pelos nordestinos e descendentes.
Aqui em casa a "mistura"é a proteína e a salada, seja de folhas ou de legumes ou dos dois. Mas concordo com o outro Carioca quando ele diz que o termo aqui no Rio é mais usado para a "carne". Os vegetais são os "legume". Carioca odeia "S".
O prato é sempre no estilo PF, direto da panela para o prato, exceto domingo quando o acompanhamento (que por sinal, é como chamamos a "mistura" em minha casa) é servido em travessa na mesa, mas o arroz e o feijão ainda vem direto da panela. Só natal que arroz vai para a travessa.
Sobremesa é coisa de final de semana também. Ou quando tem visita ou quando dá aqueeeeeeela vontade e já se tem tudo em casa. Mas durante a semana, sobremesa é fruta ou bombom. Só pra adoçar a boca.
Salada tem todo dia, já a sopa é prato único e para dia de frio. Quando tem sopa, só tem sopa e pão.
Aqui só se tem objeção ao uso da frase "to morrendo de fome" e ao desperdício. Os dois, como minha vó ensinou: "são pecado!"
Ontem foi: Arroz branco, feijão preto, linguiça de frango acebolada e mostarda refogada. Também teve farofa, sempre tem farofa, mas eu não sou muito fã.
Oi, Neide! Sei o que é mistura, mas não era palavra corrente em Sampa, de 1937, quando nasci, até l978, quando me mudei de lá. Melhor dizendo, daí! Como sou vegetariana, minhas refeições não levam carne, frango ou peixe. Almoço de hoje: cenoura, couve e inhame, refogados com alho e curry. Já quanto à mesa, uso muito jogo americano, os alimentos são servidos em travessas, a não ser quando preparados em panelas de barro que, estas sim! vão à mesa. Ah, não misturo a salada com os outros alimentos, no prato. E prefiro a salada depois, como os franceses, como um digestivo. Sopa, na minha infância, era só à noite. Já em minha casa, aparece esporadicamente, e no inverno. Um creme de abóbora e um pão feito em casa, hummm.... Sobremesa, quando recebo amigos ou, então, rarissimamente, quando meu corpo pede açucar. Fruta, pra mim, nunca foi sobremesa: esta tem que ser doce! Mas o que disse, não impede que me sinta perfeitamente a vontade se tiver que me servir da panela -tudo tem seu lugar e está tudo certo. Abração,
adelia.. Ah, esqueci de dizer que só uso "jantar", "janta é tempo de verbo!beijos,
adelia
17 - Juba disse...
Oi, Neide! Aqui em casa (São Paulo, SP), é bem parecido com a casa da Paulinha: arroz integral, feijão (não tem todo dia, mas não é só o carioquinha), peixe assado, frango refogado, de vez em quando linguiça ou costelinha de porco, macarrão, polenta muito boa, molho de tomate idem. De raro em raro um bifão de contra ou picanha, em geral feito na grelha (elétrica, pois é apartamento). Quando morávamos em casa com quintal, o peixe ia do ceagesp pra churrasqueira.
Salada e verdura tem todo dia. Todos se servem no fogão. Sobremesa quase nunca, mas sempre tem fruta. Para beber, água.
Na janta (sim, sem o r) às vezes pode ter só sopa ou lanche.
Ah, esqueci: chamamos de mistura (embora os vizinhos não), e colocamos tudo junto no prato, também.
18 - Anônimo disse...
Oi Neide, adorei encontrar a palavra mistura no sentido de comida, aqui. Atualmente moro em Minas (Uberlandia), mas sou goiana, e em Goias passei a maior parte de minha vida. Cresci ouvindo essa palavra e varias vezes ouvi meu pai dizer, "sua mãe faz mistura dimais". Hahaha, era bem assim, arroz e feijão eram sempre a base, e o resto era mistura. Esse eh o conceito que ate hoje me acompanha. Beijos. Sandra Pacheco
19 - Mari disse...
Neide,mistura,janta e bife são termos conhecidos, sim. Desde a infância no interior de São Paulo, quando a variedade de misturas era grande. Na vida aqui em São Paulo, capital, bife e janta permanecem em uso corrente, mas mistura não. A refeição usual aqui em casa (só jantar, almoço é na rua) é composta de algum arroz, que pode ser integral, branco, sete grãos ou jasmin, alguma verdura em salada ou regogada e carne de frango, boi ou peixe. Raras vezes o feijão aparece. Massa uma vez por semana. Sopa é prato principal no inverno. Tudo servido direto das panelas sobre o fogão. Em alguns dias come-se pão com frios e queijo. Sempre tem frutas na sobremesa. E doces ou sorvetes também. Em dias festivos a mesa é posta e a comida colocada em travessas.
20 - Sandra Mara disse...
Olá Neide! Mistura, janta e bife são termos conhecidos e usados na minha família. Nasci e cresci no interior de São Paulo - Votuporanga. Sou filha de nordestinos e casada com um fluminense. O que não entra na minha alimentação e na do marido é feijão. Compro apenas quando minha irmã vem ficar uns dias em casa. Gosto muito de legumes e passei a apreciá-los mais quando vi a sua receita de lobozó. Beijos
21 - Bruna Oliveira disse...
Oi Neide!!! Sou Piauiense e como nordestina esse termo mistura é bem comum para nós, aqui em casa, assim como na casa de meus familiares a proteína é sempre a mistura, mas utilizamos ainda,o termo misturado para o feijão com arroz ( que é o baião de dois )e dizemos " hoje tem feijão misturado com arroz",que vem acompanhado de uma carne guisada ou algo mais sequinho, nem sempre a mesa é posta,mas em dias que temos visita tudo é feito com muita muita pompa.Essas nossas culturas e costumes são de fato uma mistura de sabores maravilhosos,kkk!!!
22 - Ana Alice disse...
Neide,
sou paulista e em casa nunca usamos o termo mistura. Aqui em casa no almoço, sempre temos saladas de folhas e vegetais às vezes com castanhas e frutas. Sempre temos também alguma folha refogada ou vegetal refogado ou na forma de suflê ou virado. Viradinho temos quase sempre (pelo menos 1 vez por semana) com farinha de milho ou de mandioca e com qualquer coisa mais (ovo, cenoura, feijão verde, guandu, banana da terra.
Quanto à mesa, sempre colocamos a comida na mesa, em travessas ou tigelas. No jantar temos sempre sopa, acompanhada de torradas ou pão de minuto. Ah, e no almoço temos sempre uma proteína (carne de vaca, frango ou peixe).
23 - Simone disse...
Oi, sou de Belém, e se não bastasse a fartura da culinária local, sofremos em casa influencia portuguesa e espanhola, então fora quando temos feijão, que sempre acompanha arroz, farofa, alguma carne, vinagrete... Gostamos muito de pratos encorpados do tipo "Único", paella, cozidão, sopão, saladão, sabe? rsrsrs Foi muito bacana ver você falando de Belém por aqui. Abs.
24 - Carla Chaves disse...
OLá, sou do interior do maranhão mas vivo em Brasía desde os 7 anos, no MA e no DF Mistura é a carne,ovo peixe ou frango!.. temos salada sempre, e comemos junto com a comida, quero dizer arroz feijão ,mistura e salada!, sopa é prato principal... Abraços .Carla Chaves.
25 - Sandra disse...
Olá, Neide!
Adorei este post.
Sou mineira de Belo Horizonte e não conhecia o termo mistura. Vou muito ao norte de Minas, na cidade de Manga – beira do Rio São Francisco – e naquela região também nunca ouvi este termo.
Acho que o mais usado por estas bandas de cá, são almoço e janta (“o que tem de almoço?” ou “hoje tem janta?”). Para o almoço, sempre arroz e feijão, carne, algum legume refogado e salada variada. Carne cozida sempre acompanha um angu (ô delícia). Sopa na janta e só quando faz frio. Nada de entrada. Sobremesa não é regra, mas gosto de preparar alguma no domingo e vez por outra tem uma barra de doce (goiabada ou rapadura) ou alguma compota de fruta.
A janta, normalmente, é o que sobrou do almoço. Às vezes ela vira um mexido. Cebola, alho, ovo e farinha não podem faltar nesta hora.
Depois de pronta a comida, cada um faz seu prato no fogão mesmo. Hoje em dia, quase não sirvo à mesa e sinto falta disso, viu?
O almoço de ontem foi arroz, feijão, costelinha e batata assadas, salada de pepino, pimentão, tomate, agrião e salsinha. A sobremesa foi rapadura batida.
Um grande abraço,
Sandra Jorge
26 - Jeferson Dalprá disse...
Jeferson de Nova Trento - Santa Catarina.
Aqui não usamos o termo "mistura". Janta e bife sim, são comuns.
A comida de cada dia é a base de arroz, macarrão, aipim ou polenta (terra de imigrantes italianos, mas polenta mesmo, com farinha de milho caseira e não "polentina"), feijão, algum tipo de carne (boi e frango, peixe com menos frequência), a carne também pode ser substituída por ovos (tem coisa melhor que polenta com ovo frito e banana frita??) algum legume cozido e saladas (crua e legumes em conserva). Sobremesa só no domingo. Domingo aliás é o dia do churrasco, com arroz, maionese de batatas e farofa e ás vezes uma massa como lasanha ou pastelão para acompanhar. Sopa algumas vezes por semana, mais no inverno e sempre na janta, raramente no almoço, a não ser a minestra (sopa de feijão) que costuma ser prato único de vários almoços. É isso.
 27 - Elisa Duarte Teixeira disse...
Neide, eu sou de Minas, nascida em BH, mas toda a família é do Sudoeste do estado, região de Gauranésia, Guaxupé, Muzambinho, Poços de Caldas, Botelhos, para aquelas bandas. Lá em casa, a base da alimentação, fosse no almoço ou no jantar, era o arroz com feijão e uma proteina, geralmente carne de porco, vaca ou frango, ou ovo, e tudo o mais que estava no prato e fosse cozido, era "mistura". A salada, quase sempre presente, era uma categoria à parte. Podia ser de folhas e/ou de legumes crus (como cenoura e beterraba) ou cozidos (como vagem, cenoura, beterraba, chuchu). Uma das minhas favoritas era a salada de mogango cozido com molho de cebola e vinagre, que nunca mais vi em lugar nenhum... Hoje, morando no exterior, considero o arroz a base da minha alimentação, e costumo comer pouca carne, geralmente já misturada à "mistura" na hora de preparar, por praticidade, e bastante salada! :o)
 Ah, esqueci de falar que "jantar"é coisa chique demais, só para situações formais (nunca tinha usado a palavra até mudar de Minas pra São Paulo) - no dia-a-dia, "janta"é o nome da última refeição do dia. Em casa, sempre comemomos pegando tudo direto da panela, a não ser que tenha visita, caso em que tudo vai para a mesa em bonitas travessas.
28- Stefano disse...
Sou de Ribeirão Preto/SP e de Belo Horizonte/MG e sim, dos dois, hora lá hora cá.
O costume nosso é arroz, feijão, salada e mistura. Ou seja tudo o resto, vegetal, animal ou os dois juntos.
Não temos regras quando a onde pegar, as vezes no fogão, outras na mesa ou parte em um e parte no outro.
29 - Georges Lacombe disse...
Neide,
o uso da palavra mistura para indicar a proteína animal só conhecí quando vim morar em Campinas.No Rio de Janeiro, minha terra natal, mistura é um prato feito a base de arroz e ou farofa com tudo que sobrou na geladeira, incrementado muitas vezes com um ovo. Esse prato serve-se direto da frigideira onde é preparado e come-se na cozinha e nunca na sala de jantar.
Num almoço padrão no Rio na casa de minha avó (que tem hoje 94 anos) leva-se as comidas em travessas para mesa. Uma tigela de feijão preto, uma travessa arroz branco, uma travessa de salada de alface, tomate, agrião (de folhas grandes e bem picante), pepino e cebola crua. Uma travessa com a carne, normalmente bife de alcatra ou de fígado ou peito de frango com cebola refogada, uma travessa de purê de batata, finalmente uma travessa de legume que pode ser cenoura, brócolis (de cacho grande), abobora, abobrinha, vagem ou chuchu. Sobremesa sempre um doce caseiro (banana, abobora, doce de leite) e uma fatia de queijo minas. Café coado. Não se usa janta nunca sempre falamos jantar. Jantar quase sempre com sopa.
30 - Carla Menegat disse...
Nossa Neide, essa tua pesquisa me lembra coisas que tenho lido/pesquisado sobre história e antropologia da alimentação. E desculpa se vou meter meu bedelho, mas bom mesmo era tu perguntar se as pessoas podiam responder também se comem igual à como comiam na casa dos pais. Vejo essa transformação com muita força na minha geração ao menos (tenho 31 anos). Mas enfim, metido o bedelho vou dar minha contribuição.
Sou descendente de italianos lá da Serra Gaúcha e minha mãe chamava de mistura todos os acompanhamentos que não fossem arroz. Se o prato principal era polenta, o porco frito ou o frango à passarinho, o queijo com nata, a fortaia (espécie de fritata), as verduras refogadas, tudo era mistura, menos a salada, a mãe sempre referia a ela como "a salada".
Grosso modo, a mesa tinha um prato principal ( que podia ser dois, se fosse arroz e feijão, ou bife e arroz, ou estrogonofe e arroz, enfim, arroz não era mistura), a salada e a mistura. Legumes eram mistura, batata, abóbora ou mandioca (e seus purês) eram mistura, bolinhos e outras friturinhas eram mistura.
Aqui em casa, chamo tudo de acompanhamento, até porque nossa mesa tem menos pratos numa refeição que na casa da minha mãe tinha. Vida corrida, cozinha empobrecida. Meu marido, portoalegrense de família pelotense também reconhece o termo mistura, mas como eu, por alguma dessas modernidades não usa.
Dou aula metade da semana em Pelotas e lá vejo meus alunos usarem o termo com uma intimidade que só o cotidiano dá. Só pra te situar, dou aula num campus rural de um instituto federal. Tenho alunos que moram no campus em regime de internato e escuto todos os dias comentários sobre como a "mistura" do almoço era boa ou ruim naquele dia.
É comum na linguagem local o uso do termo bife e janta. Outro termo que tu podia pesquisar era "merenda". Desculpa é que acho que entra na mesma linha de indagação, rsrsrs, e fiquei curiosa.
Enfim, escrevi demais, mas tem alguma coisa no teu blog que me faz sentir como se estivesse sentada batendo um papo enquanto toma um mate...
Na minha casa a base é arroz, feijão e carne. Não usamos o termo mistura, mas aqui em Cuiabá, onde moro, é bastante comum esse termo. Para nós, em casa, além do básico, sempre tem um legume, ou verdura, ou salada, farofa também gostamos muito.
32 - Evandro Hernandes disse...
Hoje tenho 50 anos. Morei com meus pais até os 28, quando casei. Tenho duas filhas. Até quando estive lá na casa dos meus pais, era comum perguntar o que tinha de mistura. Era uma herança cultural dos pais deles, mantida em casa. Entretanto, essa herança não foi repassada, por motivos que não sei dizer. Hoje nem eu, nem minha esposa nem minhas filhas falamos de mistura. Moramos na região centro-oeste do Estado de São Paulo, na cidade de Catanduva.
Hoje eu procuro servir tudo à mesa, na própria panela às vezes e em outros recipientes na maioria das ocasiões. Procuramos cozinhar em panelas um pouco bonitas, que cabem bem sobre suportes que recebem coisas quentes. E assim vão à mesa. São panelas de aço in0x ou de alumínio colorido. Desta forma cada um pode montar o seu prato, ora tudo junto, ora em etapas, separado, conforme o gosto de cada um. Raramente vamos até a panela, no fogão, montar o prato. E neste caso não se come por etapas. Só se volta ao fogão para repetir ou reforçar um ou outro componente do prato que acabou de ser comido.
Sopa é muito difícil. Salada sempre. Esta é habitualmente de alface, a hortaliça mais pródiga nas gôndolas dos supermercados. A mistura é normalmente um bife ou uma carne de panela, com ou sem batata. Às vezes um ovo, mas raramente solteiro. Abobrinha refogada também comparece com frequência. Bem, isso é o mais comum, mas há variantes interessantes como uma massa no final de semana (a macarronada clássica sumiu), uma carne assada, churrasco (no domingo sempre). Polenta nem todo mundo aprecia (comida de pobre!), uma costelinha de porco, um franguinho na panela (mais coxa e sobrecoxa que o resto). Há ainda o quiabo, o espinafre com ovo, a escarola, a couve e o xuxu, todos refogados.
Basicamente isso.
33 - aguiar disse...
Ah! Neide que pergunta maravilhosa!!
Minhas melhores lembranças estão sempre em volta de uma boa mesa! Boa mesa = FARTURA.Sou de uma família muuuuito grande, os almoços de domingo,qdo criança, era na casa do meu avô, e lá tinha todas as opções de proteína: peixe, galinha, carne, pato, porco e mais arroz, macarrão, feijão, pirão, farofa, polenta...tudo na mesma mesa (gigante)e cada um escolhia o que queria comer, podia misturar a vontade! Chamamos de MISTUREBA.
Hj na minha casa, qdo nos juntamos, ainda fazemos umas misturas assim rsrsrsr.Por exemplo, domingo chamei meus irmãos para almoçar comigo, então fiz feijão rajado com legumes, arroz, salada verde com tomate, legumes cozidos no vapor, peixe assado, farofa e frango desfiado ao molho de tomate.E foi muito bom, minha filha disse: É mãe hj o almoço tá uma mistureba só! Aí cada um fica a vontade pra comer o que mais gosta, ou quem sabe um pouquinho de cada coisa!
E assim a vida segue mais leve, sem muito mimimi. Bjos
34 - Blogger Neusa Mitsuko disse...
Oi Neide,sou descendente de japoneses, nissei( primeira geração NASCIDA no Brasil). Na minha infância, sempre teve gohan ( arroz cateto),e Okazu ( tudo que não era arroz). Muita verdura refogada ( minha mãe aprendeu a refogar usando óleo, alho , cebola aqui no Brasil),ou em forma de oshitashi ( verdura cozida rapidamente na água,espremida para tirar o excesso de água, com shoyu) frango ensopado com batatas,ou inhame, assado era raro, gastava muito gás,aliás, tudo que era preparado no forno gastava muito gás, então bolos e assados,só no Oshougatsu ( Ano Novo).Comíamos muito ovo, na época tínhamos granja, meu preferido era omelete e mingau de maizena com gemas no lanche.Passava mal se comia bife! Sopa era mishoshiru, de tofu era raro, era mais de inhame ( imô). Cebolinha (negui) não faltava, plantava-se sempre.Feijão tinha com frequência, não sei quando aprederam a comer, carne seca, bacalhau, linguiça, quando nasci, já comiam.Hoje tenho 57 anos ( caçula de 10 filhos), na minha casa tem arroz , feijão, salada,alguma proteína, legume ou verdura refogada com missô,com shoyu, refeição japonesa completa, só esporadicamente. Sushi, sashimi , só em momentos festivos.
35 - João Pedro disse...
Sou do Rio/RJ. Nunca ouvi essa expressão. Pelas fotos acho que entendi o que é, mas não conhecia o termo.
36 - Mary Cavalari D'Avanzo disse...
olá!
Sou de Bragança paulista (SP) e por aqui usa-se normalmente o termo "mistura" para designar tudo o que acompanha o arroz e feijão nosso de cada dia

Em casa gosto de servir a refeição em travessas, pois acho mais bonito para os olhos.
No dia a dia sirvo sempre arroz, feijão, salada de folhas (alface, rúcula, agrião, escarola, almeirão, alternadas) com tomates e cebolas.
Uma carne (porco, boi ou frango, quase nunca frita, )
uma verdura refogada (espinafre, couve, escarola)
e algum tipo de legume, que pode ser também em forma de salada (se o tempo estiver quente) ou refogada se for no inverno.
Um suco de frutas natural e uma sobremesa, que pode ser uma gelatina, uma fruta, um pedaço de bolo, ou uma compota de frutas.
No dia a dia em casa somos 6 pessoas na hora das refeições, e eu sempre digo que fazer o almoço, é na verdade minha hora de lazer e terapia, pois adoro o que faço.
Sopa faço geralmente na hora do jantar, porém só no inverno. No geral, é apenas um lanche e servido apenas para 3 pessoas, então costumo brincar dizendo que meu jantar é sempre constituído de pão e queijo (vindo direto de Toledo - MG, maravilhoso, diga-se passagem.
Então é assim que são as refeiçoes no dia a dia em nossa casa.
Bjs, Neide!
Mary Cavalari

Quinta sem trigo. Folha de mandioca frita, empanada com raíz mandioca. Ou peixinhos da roça

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Tinha a impressão de já ter publicado aqui esta experiência, mas acho que não (me corrijam se estiver errada). Inventei esta friturinha de folha de mandioca para levar ao Festival Ver o Peso da Cozinha Paraense, do qual participei em Belém, no jantar das boieiras,  onde chefs e cozinheiras do mercado Ver-o-Peso cozinham junto. Falei do evento aqui e apenas citei os "peixinhos de folha de mandioca".

Estes, com polme de farinha mais polvilho
Também mostrei os rolinhos recheados feitos com a folha aqui.  Mas desde então fiquei repetindo a receita tentando eliminar o trigo na hora de empanar. Embora seja pequena a quantidade na receita que levei, achei que poderia fazer melhor. Primeiro, substituí a farinha por mais um tanto de polvilho de mandioca (amido/ fécula/ goma seca). Ficou bom, mas achei que dava pra radicalizar literalmente e usar apenas a própria raiz, da qual poderia extrair o amido fresco. Ralei a raiz, espremi (a polpa pode ser aproveitada em bolos) e tirei o caldo leitoso, cheio de amido. Deixei o amido assentar um pouco para dispensar um pouco do líquido (que pode ser usado como tempero, um tipo de tucupi fresco, que deve ser aferventado), temperei o que restou com sal, misturei bem e usei este caldo grosso com consistência de polme para passar pelas folhas cozidas que foram antes polvilhadas com polvilho, usando uma peneirinha fina. Fritei em óleo abundante e virou um peixinho crocante com gosto de mandiopã ou pororocas de Limeira, bom para aperitivo. Se quiser incrementar, pode polvilhar as folhas com pó feito com camarão seco e juntar os lóbulos da folha puxando pelo cabinho.

Desculpe-me se não passo a receita precisamente, mas neste caso a quantidade de amido da mandioca pode variar. Depois de algumas tentativas frustrantes,  a gente aprende a identificar a densidade do polme que funciona. Fica aqui a ideia para ser aperfeiçoada pelo próprio leitor ou leitora.

De certo,  tenho que a folha de mandioca (aliás, para quem chama de mandioca apenas a raiz venenosa, saiba que estou falando de folha de aipim ou mandioca mansa) deve ser bem nova, fresca e cozida com os cabinhos até que fiquem macias. E o tempo também pode variar.

Se espiar  lá na postagem do Rolinho frito de folha de mandioca, vai ver como cozinhei.

Acho que, pelas fotos, dá pra entender melhor o caminho que percorri.

E nhac!




Araruta. Coluna Nhac no Paladar, edição de 7/8/14

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Colhi um pouco de araruta no sítio e aproveitei pra voltar a falar dela, desta vez na coluna do Paladar de ontem. As batatas de couve-rábano também colhi e volto a falar delas depois. Para quem não viu o Estadão, o texto está também no blog do caderno. Veja os links abaixo.

NHAC!
Toda araruta tem seu dia de mingau
Receita: Gratinado com araruta

E aqui também vai a versão integral:





Toda araruta tem seu dia de mingau
Por Neide Rigo. Coluna Nhac. Caderno Paladar

Entre os vegetais, a araruta é o equivalente à cabeça de bacalhau - todo mundo sabe que existe, mas ninguém vê.  Pelo menos nos dias atuais. Do rizoma desta planta se extraí uma fécula finíssima usada abundantemente no passado para biscoitos, brevidades e mingaus, da qual sobrou hoje apenas uma fina poeira, afinal este é um ingrediente que sofre sério risco de desaparecer e já não é mais encontrado no mercado.   Quando você encontra um pacote como o nome de araruta ou ararutinha no rótulo, custando duas vezes mais que polvilho de mandioca, e confere a lista de ingredientes, está lá: “fécula de mandioca”, ou seja, o mesmo polvilho de mandioca  pelo qual poderia pagar a metade.  Ou, pior, esta informação não aparece no rótulo,  mas, se você liga para o serviço de atendimento ao consumidor da empresa e inventa que sofre de alergia mortal à mandioca,  o impostor confessa rapidamente. “Bem, veja bem, é amido  de mandioca, mas a araruta está em falta e o polvilho tem o mesmo comportamento” é o que costumam dizer.  Então, se você não sabe reconhecer o pó de araruta, desconfie sempre.  
Primeiro, que o comportamento não é o mesmo. A araruta faz um mingau menos visguento, mais macio e deixa biscoitos mais crescidos e crocantes. E se estão vendendo uma coisa pela outra, e nada contra o polvilho de mandioca,  deveriam ao menos cobrar o mesmo preço, mas a falsificação é mais cara.
Está certo que uma verdadeira araruta hoje custa bem mais que o dobro do polvilho de mandioca (cerca de quarenta reais o quilo), mas, pela raridade e apreço,  o uso já não é o mesmo do passado.  Minha mãe conta que quando sua família ou seus avós se mudavam,  sacos enormes de polvilho de araruta faziam parte da provisão e ele servia para alimentar a família no café da manhã com biscoitos e papas, numa época em que o trigo era artigo raro. Hoje, no mundo todo,  o uso da araruta é mais parcimonioso, mais para fazer cobertura transparente para tortas de frutas ou espessar molhos como os da culinária chinesa, por exemplo.  
Agora, nem toda arrowroot pode ser traduzida como nossa araruta. Estudiosos acreditam que esta que conhecemos e que é considerada como a verdadeira,  Maranta arundinacea,  da família das marantáceas, tenha seu centro de origem  no continente sul-americano, sendo encontrada em estado silvestre nas florestas venezuelanas.  Entre os índios aruaques, era conhecida como aru-aru, ou alimento dos alimentos e esta é só uma das explicações para o nome.  E  servia não só para comer mas também para curar feridas por flechas envenenadas, mordidas de cobras  e picadas de insetos.   Já o nome em inglês, arrowroot, denomina mundo afora  não só a raiz dos aruaques mas também a fécula de outras plantas amiláceas tropicais, como Curcuma angustifolia, a Cana indica, a Zamia pumila, a Zamia integrifolia e a Pueraria lobata.  As féculas destas, sim, têm performances parecidas com a da nossa araruta.
Apesar da perda de espaço para outros amidos mais fartos, como o de milho e o de mandioca, a araruta ainda tem defensores ardorosos entre consumidores, chefes e produtores.   Já vi pequenas produções na Bahia, no Espírito Santo e em Minas Gerais, mais pelo prazer de não deixar a cultura morrer, que propriamente pelo lucro que ela representa.  
A planta é ornamental e produz, em touceiras na superfície do solo, os rizomas que são colhidos anualmente.  Eles são cônicos, segmentados, têm pele lisa e brilhante de cor de marfim quando despidos de uma película marrom que os recobre . A polpa é fibrosa, mas quando jovens os rizomas podem ser usados como batata.  Há também uma variedade esférica chamada ovo-de-pata.
No processo de extração da fécula, a araruta é ralada ou triturada com água até soltar o líquido leitoso que é peneirado para separar a fibra e deixado em repouso para sedimentar a fécula, amido, polvilho ou goma, nomes dados para esta porção carboidrato da planta .  Depois de algumas horas, o líquido excedente pode ser desprezado, sobrando apenas o amido que é seco e transformado em pó.  Este mesmo processo, para pequenas quantidades, pode ser feito em casa usando liquidificador e o amido, seco ao sol.  Quando a produção se dá em escala maior, a secagem é feita na sombra e em ambiente protegido. 
Se você quiser comprar o polvilho, procure casas de produtos naturais,  feiras de produtores  e até via  facebook. Wagner Finotti, por exemplo, é um pequeno produtor de Uberlândia-MG que cultiva a planta e vende o polvilho de araruta em sua página “chacaraparadisouberlandia”.   Já visitei plantações em Conceição de Almeida, no Recôncavo Baiano,  num dia de campo da araruta, e um dos produtores, Pedro Coni,  também atende por email  (saboresdeararutas@gmail.com) e entrega por correio. Ambos produtores vendem ainda mudas para quem quiser cultivar.
Ultimamente as embalagens diminuíram de tamanho já que o produto passou a ter mais indicação como espessante. É usado quase como uma especiaria, sendo um ótimo substituto do amido de milho pois espessa em temperatura mais baixa,  fica mais transparente e é insípido.  Aliás, o polvilho de araruta substitui com vantagens qualquer amido usado para engrossar molhos.  Até a farinha de trigo do bechamel  para gratinar pode ser trocada pela araruta. E se tiver em mãos a própria raiz fresca  poderá extrair o amido na hora, junto com o leite ou líquido que vai ser usado, como na receita que dou a seguir.  Fiz um gratinado comum com as batatas de couve-rábano, mas usei um pedaço de araruta em vez da farinha na hora de fazer o molho.  
Às vezes, especialmente no inverno,  encontro ararutas no bairro da Liberdade, mas nunca ouvi dos vendedores o nome certo. Dizem apenas que é batata chinesa, um nome genérico para várias raízes e tubérculos nos mercados asiáticos.   Se tiver o formato e o jeito de araruta, pode comprar que é ela. Dura alguns meses na cesta até começar a brotar. Se isto acontecer, é só deitá-la num vaso e cobrir com 10 centímetros de terra para ter novas ararutas quando as folhas murcharem.   E assim não deixamos a araruta morrer.
Algumas dicas
- 1 colher (sopa) do pó de araruta equivale a aproximadamente 50 g do rizoma (bata no liquidificador com parte do líquido frio da receita e passe por peneira antes de levar ao fogo).
-  1 colher (sopa) de pó de araruta pode substituir a mesma quantidade de maisena ou de polvilho.  Para substituir a farinha de trigo, troque 1 colher (sopa) desta por 2 colheres (chá) de araruta.
- Se estiver usando o pó, não se esqueça que, do mesmo modo que a maisena, a araruta deve ser diluída em líquido frio antes de ir ao fogo.

Couve-rábano gratinada com araruta
6 batatas pequenas de couve-rábano
Meio litro de leite
1 colher (chá) de sal
1 pitada de noz moscada
50 g de rizoma de araruta descascado e picado
2 colheres (sopa) de manteiga
6 colheres (sopa) de queijo da Canastra meia-cura ralado

Descasque e corte em rodelas as batatas de couve-rábano.  Coloque numa panela, cubra com leite, tempere com sal e noz moscada e leve ao fogo baixo. Deixe cozinhar por cerca de 25 minutos ou até as rodelas estarem macias. Escorra o leite e  meça uma xícara (se faltar, complete com água). Espere amornar e coloque no liquidificador com a araruta. Bata bem até ela ficar triturada. Passe por peneira fina e leve este leite ao fogo junto com metade da manteiga. Cozinhe, mexendo sempre,  só até engrossar.  Prove o sal e corrija, se necessário. Unte uma forma refratária com a manteiga restante e coloque as rodelas de couve-rábano. Despeje o molho por cima e polvilhe o queijo ralado. Leve ao forno quente e deixe até o queijo ficar dourado.
Rende:  6 porções

Particularidades do sul do Paraná

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O sete do corte "setinho". 
Cheguei sem avisar em São José dos Pinhais, ao lado de Curitiba, no domingo. Ainda do táxi liguei pro meu pai felicitando-o pelo dia. Eram seis da manhã, mas como sei que o pai se levanta cedo não soou estranho dizer que queria ser a primeira filha a cumprimentá-lo "diretamente de São Paulo" pelo seu dia. Menos de um minuto depois eu já estava na porta tocando a campainha para surpresa geral.

Eu ainda estranho um pouco visitar meus pais numa casa urbana depois dos tantos anos que viveram no sítio, em Fartura, interior de São Paulo. Havia ali muito o que fazer, muitas distrações. Agora resta um pequeno quintal com galinha, pequena horta e muitas flores. O importante é que eles se sentem menos sozinhos com minha irmã morando ao lado. E, se faltaram distrações, sobraram algumas horas para ficar ali à toa, descansar, e isto também é bom. As horas foram gastas com atividades corriqueiras como colher chuchu, colocar chuchus brotados na calçada para pedestres pegarem,  ir ao supermercado, ao açougue ou à padaria. E com isto a gente também aprende.

Primeiro descobri que colocar coisas na calçada para que outros usufruam (aqui, vivo colocando mudas e jornal lido do dia, que acomodo todas manhãs num recipiente próprio) não é exclusividade minha na família. Quando achei que estava dando uma grande dica para eles, de colocar chuchus brotados na calçada, minha mãe disse que já faz isto quando tem excesso de produção de qualquer coisa no quintal, especialmente chuchu. Enche uma caixa e deixa na calçada que, por sua vez, está tomada de plantas comestíveis como taioba, almeirão etc.  Já mostrei o quintal e a calçada deles aqui.  Bem, algumas pessoas pegaram dois chuchus e no final chegou uma mulher e perguntou se podia levar a caixa inteira, que iria plantar numa chácara da família. Claro, levou.

Setinho no sanduíche com mostarda

E depois aprendi que o corte de carne vendido ali como "setinho" recebe este nome porque um osso da paleta cortado forma o número sete. E isto minha mãe me mostrou com a carne já na panela pronta para receber a tampa de pressão.  Ela refogou em óleo a grande posta de carne cortada em pedaços e temperada com alho socado com sal  até corar. Juntou um pouco de água quente que cobrisse e cozinhou por cerca de 20 minutos, deixando secar quase toda a água. É um corte delicioso e feito assim, cozido na panela, fica suculento e macio, bom para comer como recheio de pão. Foi isto que fiz. Fiquei pensando nos terríveis lanches de viagem nas paradas de ônibus e me animei em montar dois sanduíches com a mistura do almoço - esta carne, sem o osso, claro, e mostarda refogada.  Não vi a hora de chegar a parada do ônibus para devorar os dois a um só tempo.




Na padaria, para comprar os pãezinhos do sanduíche,  me deparei com uma vitrine com kukes e chineques. Kuke, ok, afinal bolo em alemão é kuchen, a gente sabe o que é uma cuca ou cuque.  Agora, chineques nunca tinha ouvido falar, porém hoje já sei que vem de caracol, que se chama schnecken em alemão, e também nomeia os pãezinhos recheados, cortados e assados com o caracol pra cima.


Mônica Salmaso - Violada

Minha chia

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Eu sempre começo um olhar torto para qualquer produto que já chegue se apresentando como milagroso. Mas também sempre lhe dou uma chance, afinal ele pode ser mais um aliado na cozinha e na saúde e representar apenas mais uma jogada comercial no pernicioso mundo dos superalimentos.

E se é alimento vegetal, bem cultivado, é certo que trará muitos benefícios à saúde.  Pode até ter mesmo muitas qualidades nutracêuticas, mas se o alimento não é gostoso, a moda não pega. Se o alimento precisa ser importado, então, terei a curiosidade de experimentá-lo mas dificilmente vou incorporá-lo à minha dieta ainda que seja o alimento mais milagroso do mundo.

O problema é que, quando o pobre do alimento é tachado como panaceia, ele mal tem chance de se apresentar como um bom ingrediente na cozinha.  À primeira expectativa frustrada como salvador da pátria, em especial como emagrecedor, ele é relegado ao esquecimento e substituído pelo próximo da fila.  Muita gente não quer se implicar minimamente na mudança de hábitos de alimentação mas acredita em todos os modismos como quem espera por um messias.

O  preço começa nas alturas e vai baixando conforme aumentam as ofertas e diminui a procura. Já aconteceu com tantos outros - falei do hibisco aqui.  Tanto que outro dia vi no mercado uma farinha de nome "Seca Barriga".  Tudo o que caiu de moda e deve ter encalhado estava ali: feijão branco, farinha de maracujá, hibisco, linhaça, açaí, quinoa etc. Devia ter uns 20 ingredientes a tal farinha. E sempre tem um que cai nessa.

Ainda caro no supermercado: 210 reais o quilo 
Quando a chia apareceu, chegou a custar R$ 150,00 o quilo no Mercado da Lapa. Hoje custa R$ 40,00, mas mesmo assim no supermercado ainda há pacotinhos com preços absurdos - veja a foto.

Logo que surgiu por aqui, comprei um pouquinho para experimentar. Adorei de cara. Não pelo sabor, que lembra um pouco algas, mas pela crocância e pela mucilagem que se forma em volta das sementes quando hidratadas.


Comi um pouco e joguei um pouco pro santo - pra terra, digo. Espalhei pelo quintal da casa aqui e também no sítio em Piracaia. Passou um tempo, nem me lembrava mais, afinal jogo tantas sementes pro santo, e comecei a notar aqui e ali umas flores roxinhas em espigas quase como lavandas. Não liguei uma coisa com outra e fui deixando. Quando as flores secaram no pé, colhi alguns ramos e chacoalhei pra ver que tipo de semente caía. Levei um susto. Eram chias. Pronto, acredito em tudo o que disserem sobre ela. Não no milagre, mas na bondade genuína da semente. Agora posso usar à vontade. Nem que ela não fosse esta potência toda, mas só pelo fato de eu ter semeado e colhido já estava valendo. Agora tenho dela já florindo em pleno inverno na horta comunitária da minha rua.

A planta Salvia hispanicaé anual, de verão, e originária das áreas montanhosas que se estende do oeste central do México até o norte da Guatemala. Além de ter uso culinário como alimento básico das civilizações pré-colombianas, era também usada como oferenda pagã aos deuses aztecas. Foi este um dos motivos para que os espanhóis tentassem eliminar a cultura e substituir por grãos do velho mundo.

Pesquisas atuais revelam que a chia tem boa quantidade de proteínas de alto valor biológico, com aminoácidos essenciais  (carente, no entanto, em lisina) e é importante fonte de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3. Isto, e mais o fato de conter fibras, mucilagens e antioxidantes, pode contribuir para seu efeito hipoglicemiante quando inserido na dieta. E quando misturada a algum líquido forma um gel gostoso de comer que dá alguma saciedade.

No México, a chia é usada em águas frescas - acrescente uma colher de sopa dentro do copo da limonada e espere hidratar por 10 minutos. As sementes podem ser consumidas cruas, apenas hidratadas, ou na forma triturada e aí  pode entrar no preparo de tortillas, pães, biscoitos etc.

Água fresca de chia com limão rosa 
Como sagu, feito com hibisco:  viciante 

Kefir de leite com chia, banana, melado, fúba e chia tostada 

Como eu uso: para colocar na limonada ou água fresca (do mesmo jeito que se colocam as sementes de manjericão) e para fazer um falso sagu de hibisco (apenas coloque umas 2 colheres de sopa de sementes num copo de refresco de hibisco e espere hidratar). É uma opção também aos mingaus de leite ou para espessar o kefir.

Chia absorveu a água do jiló 
Recheio cremoso, sem caldo
Também fica bom para substituir o pão quando quer enxugar um recheio doce ou salgado (entre a massa e um recheio mais molhado, por exemplo). Veja na foto um recheio de sobra de jiló com um pouco de caldo. Juntei chia para absorver este caldo e juntei um pedaço de queijo. Pensei nisto quando vi a quantidade de líquido que consegue absorver.  Recheei um pastel de milho e nhac.  Para um melhor aproveitamento das proteínas e ácidos graxos, os grãos podem ser triturados. Mas se você quer enganar a fome e dar espessura a alimentos líquidos, use os grãos inteiros e hidratados.

Batata doce cozida na calda de hibisco com crocante de chia
Uso ainda os grãos torrados como se fossem gergelim crocantes. Claro, o sabor é muito diferente. A chia é muito menos marcante, mas o crocante contrasta graciosamente com alimentos mais macios como banana ou batata doce.

E os grãos podem ser cozidos junto com arroz. Esta mistura já deixei pronta com os grãos secos: arroz, quinoa, ervilha, feijão fradinho, trigo, amaranto e chia

Começaram as inscrições para o Paladar Cozinha do Brasil

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Já estão abertas as inscrições para a oitava edição do Paladar Cozinha do Brasil. Algumas atividades oferecem poucas vagas que não demoram para esgotar. Eu participo de duas delas. Uma, no sábado, na já tradicional tríade, Mara Salles, Ana Soares e eu, com o tema "O que é que tem de mistura?" (pronto, descobriu porque fiz o post sobre isto dias atrás). E a outra, uma oficina sobre "Plantas aromáticas pouco convencionais", em que vou falar sobre e mostrar temperos vegetais pouco conhecidos como macassá, malva-de-cheiro, manjericão-anis, xambá, planta curry, folha de curry, pacová, folha de cúrcuma etc.

Uma coisa boa é que neste ano o evento ocupa um espaço mais informal. Será no campus Vila Olímpia da Faculdade Anhembi Morumbi. Com a presença de alunos, as atividades  prometem lotar. Veja lá no blog do Paladar toda a programação e garanta já sua vaga.

Clique e Amplie
 Veja sobre o evento e programação no blog do Paladar, nestes links
http://blogs.estadao.com.br/paladar/garanta-seu-lugar-no-8o-paladar-cozinha-do-brasil-edicao-14814/
http://blogs.estadao.com.br/paladar/paladar-cozinha-do-brasil-chega-a-sua-oitava-edicao/

Milho Joaquim crioulo não transgênico pra fuba, cuscuz, canjiquinha e farinha de milho. Quinta sem trigo

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Debulhado para secar mais antes de embalar
Pensava em plantar muitos tipos de milho no sítio em Piracaia, mas um deles era essencial, o milho Joaquim, que batizei assim quando falo dele com minha família. Queria ter a semente que esteve com meu avô Joaquim desde que ele tinha 17 anos, segundo diz minha mãe, que também cultivou do mesmo milho enquanto teve sítio. Acontece que meus pais se mudaram de novo para a cidade e, desta vez, não carregaram junto as sementes. Logo no primeiro ano que compramos a chácara, tentei encontrar alguém na cidade de Fartura-SP que tivesse conservado a semente que meu  pai distribuiu  para alguns produtores conhecidos. Sem sucesso. No segundo ano pedi ajuda de uma amiga da família, Meire, que mora lá. Ela teve dificuldade mas conseguiu duas espigas do milho Joaquim com um sitiante e me mandou por correio.

Pois bem, plantei (Carlos e Silvana, na verdade), colhi (em pessoa), debulhei (à distância) e embalei eu mesma. Não adubamos nem corrigimos a acidez da terra. Carlos simplesmente tirou a braquiária e plantou. Também  não usamos nenhum defensivo.  A rocinha foi pequena, suficiente para estas duas espigas. Como já ouvi dizer que os javalis andam ali à espreita, na próxima safra vou plantar tudo espalhado. Vai dar mais trabalho para colher, mas a quantidade continuará sendo pequena, só para o consumo, e os bichos, se chegarem, terão mais trabalho.

O milho Joaquim, crioulo, sementes do avô
Pronto para colher

Recém-colhido
Apenas duas espigas renderam 18 litros que distribuí em garrafas pets. A sorte (ou não) é que não tenho nenhum vizinho nas proximidades que plante milho. O eucalipto acabou com a roça de subsistência e da abundância. Muitos deixaram de plantar também por causa dos javalis que derrubam o milharal todo.
O vizinho mais próximo a plantar milho é meu próprio caseiro, cujo sítio da família está a três quilômetros de distância do nosso, mas também planta sementes crioulas. Portanto, a chance de este milho continuar sendo um verdadeiro crioulo não transgênico é grande, embora eu não possa garantir que não tenha sofrido algum cruzamento involuntário com algum milho comercial enquanto esteve em Fartura. Só sei que este é o milho do meu avô, isto no momento é o que importa. É claro, eu seria muito mais feliz se soubesse que seu dna continua imaculado, mas os transgênicos estão por toda parte como uma ameaça a estas variedades antigas.

Enquanto o milho é verde há muitas possibilidades, porém não se pode pensar muito, pois a temporada é rápida. A gente sabe lidar com o legume, mas não com o cereal depois de seco. É o milho seco, porém, que resistirá longo tempo no paiol e dará sustento durante todo o ano, até que venha a próxima safra. Sempre foi assim entre as populações rurais, pelo menos. O milho fresco é maravilhoso como ingrediente, mas é sazonal.

Prestes a ser embalados
Prontos  para o uso 
Quando me vi frente à frente com aqueles litros de milho, afinal plantei apenas para consumo próprio, tive a mesma sensação de quem recebe nas mãos um bebê sem estar preparada para  isto, sem saber o que fazer com ele. Acontece que perdemos a intimidade com o ingrediente que agora só nos chega depois da transformação industrial. É difícil comprar milho inteiro para alimentação humana. Para galinha, a gente encontra.

E, contraditoriamente, o milho vem às nossas casas de uma forma ou de outra em grande parte do que comemos, seja como amido, xarope, farinhas, fubás, canjicas etc.  E o pior é que perdemos o jeito antes mesmo de termos a chance de apresentá-lo aos nossos mais modernos equipamentos domésticos.

Claro que no passado triturar o milho e ainda livrá-lo do germe e da película era trabalho insano feito no pilão, em moinhos d´água, monjolos, e assim que foi possível comprar os produtos já processados ninguém mais quis saber de lidar com o milho em casa. Pena que isto aconteceu para muita gente antes das facilidades dos moedores de grãos manuais ou elétricos, do liquidificador, do processador.  Na verdade, um moedor manual já resolve muita coisa (é lógico que agora meu sonho de consumo é a peça moedora para a batedeira kitchen aid, mas estou feliz com meu moedor de manivela). O conhecimento do processo de nixtamalização (já ensinei a fazer aqui e ali), comum na mesoamérica, também facilitaria grande parte do trabalho se a técnica fosse mais difundida por aqui - embora nem mexicanos fazem mais o processo em casa, afinal há farinhas prontas.

Bem, para conseguir usar os milhos que colhi e fazer jus à difícil busca do milho Joaquim,  tive que lançar mão daquilo que aprendi com amigos. Foram as mexicanas Madelen e Maria quem me ensinaram tudo sobre nixtamalização, quando nos conhecemos no Senegal, e agora já fiz tantas vezes que me sinto um pouco íntima do processo.  Então, tortillas com milho nixtamalizado foram os primeiros preparos desta safra. Os links são estes aí em cima.

O caseiro Carlos fez um pouco de canjica, mas não presenciei o trabalho no pilão, em que o milho demolhado foi socado coberto com palha, para não pular. Quando eu mesma fizer e/ou participar, conto tudo aqui.

A fuba

Toste até os grãos ficarem crocantes como piruás, sem deixar queimar.
Usei a pipoqueira com tampa, já que alguns grãos estouram feito pipocas
Simples assim: agora é só moer 
Porém, lembrei que um jeito fácil de processar este milho seco era fazer a fuba, aquela farinha de milho torrado com sabor de pipoca que conheci com a Ana Rita Suassuna (já falei dela aqui e ali) Maria, minha faxineira que é pernambucana, provou da que tinha feito e ficou emocionada, saudosa por nunca mais ter comido. Aproveitei a presença e sabedoria dela e fizemos mais um pouco para ela levar. Ela me corrigiu o ponto de torrefação do milho - tem que ser bem devagar, em fogo baixíssimo, para secar sem queimar.

Farinha de milho sertaneja

O milho fica de molho por uma noite ou pouco mais
O milho molhado é triturado, restando uma farinha úmida e solta 
Passe por peneira para aproveitar para a farinha apenas os grãos fininhos
Simples também: agora é só secar numa frigideira em fogo baixo até que os
grãos fiquem crocantes
Lembrei ainda da farinha de milho sertaneja (tomo a liberdade de batizá-la assim para  não confundir com a farinha de milho caipira, aquela de flocos) que tem sabor de raspa de polenta tostada ou de broa de milho, outro dos ensinamentos da Ana Rita Suassuna. Foi só deixar um tanto de milho de molho de um dia para outro, escorrer e triturar no moinho. O que sai triturado não é uma massa como no milho nixtamalizado, mas uma farinha úmida e solta. Ana Rita me ensinou a fazer e disse que a porção mais grossa poderia ser usada para fazer cuscuz. Pois da minha moeção, com ajuste para mais grosso, consegui ter pelo menos três porções para diferentes usos. Com o que peneirei finamente fiz a farinha, tostando em wok em fogo baixo, sem parar de mexer, por 10 minutos. A gente sabe que está pronto porque os grânulos ficam crocantes.

Esta farinha é tão gostosa, mas tão gostosa, que se você  provar nunca mais vai querer comer sucrilhos. E a fuba te fará esquecer de vez aquelas ditas farinhas lácteas.  Você pode usá-las com a comida, com carne, feijão, ou junto com leite, café, iogurte, frutas.

Peneiragem e frações

O que resta na peneira pode ser lavado para tirar as películas 
O farelo sobe à superfície quando os grãos são cobertos com água.
Basta ir tirando com uma colher-peneira
Com peneiras em diferentes granulações, você consegue produtos
específicos. Em sentido horário: no canto superior esquerdo, a farinha,
depois o farelo, a canjica maior, a canjica menor (juntei as duas depois) e os
grânulos, um pouco mais grossos que a farinha, para cuscuz
A parte mais grossa que sobrou, peneirei mais uma vez e assim tive duas granulometrias diferentes. Cada uma delas fui lavando e tirando as fibras de película que ficavam em suspensão. Tive assim grãos maiores para canjiquinha e mais finos para o cuscuz.

O cuscuz

Os grânulos temperados com sal foram ajeitados sem apertar  na cuscuzeira

Cozinharam por 10 minutos em três etapas 

Foram  umedecidos com água fria e passados por peneira
No fim, recebem uma colher pequena de manteiga e ficam soltinhos
O cuscuz, fiz do jeito africano, como se faz cuscuz de semolina (dá pra prepará-lo também a partir do fubá, como já mostrei aqui). Coloquei o triturado úmido na parte de cima da cuscuzeira forrada com pano. Deixei cozinhar por 10 minutos ou até começar a sair vapor da superfície, com os grãos bem grudados. Passei para uma bacia, fui esfarelando à medida em que juntava um pouco de água fria - numa quantidade que os grãos possam absorver, sem encharcar. Passei por peneira grossa e coloquei novamente os grãos na cuscuzeira. Deixei cozinhar mais 10 minutos e repeti o processo. Os grãos voltam para a cuscuzeira para cozinhar mais 10 minutos pela terceira vez. Porém, na bacia, em vez de água, juntei uma colherada de manteiga. E está pronto para servir. Se quiser guardar, passe por peneira e eles vão se conservar inchados e soltinhos. Aí, basta aquecer no vapor na hora de servir. Você nunca mais vai querer ouvir falar em floco, flocão, polentina, milharina.

Canjiquinha 

Separam-se os grãos do farelo 
Misturei os dois tamanhos e cozinhei em água salgada. Cremosidade de
risoto
À canjiquinha já úmida, juntei o dobro do volume de água e levei ao fogo baixo, mexendo de vez em quando. Temperei com sal e deixei cozinhar por meia hora - os grãos devem estar macios (canjiquinha al dente, não, por favor). Juntei um pouco de manteiga e nhac. Se não fosse preparar na hora a canjiquinha, por estar molhada, teria congelado antes de cozinhar.

E se você não tem moedor de grãos, elétrico ou manual, tente o liquidificador que também dá certo (pelo menos para fazer a farinha e canjiquinha - amanhã falo da canjiquinha de liquidificador.

O resultado 

A farinha de milho sertaneja

E a fuba. Ambas vão para garrafas como as de mandioca 


O cuscuz com legumes e sardinha como comi no Senegal (lá com arroz
quebradinho)

A canjiquinha cremosa com couve. Hummmm, nhac!







 Amanhã mostro como fazer a canjiquinha no liquidificador.

Canjiquinha de liquidificador

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Continuação do último post.

Eu sei, estou atrasada. Este post era pra ser na sexta-feira, mas meu dia não tem dado pra nada. Admiro quem vive a dizer que não sabe o que fazer para passar o tempo. Bem, mas enquanto eu não descubro uma máquina que me multiplique, vou usando as máquinas que me ajudam a economizar o tempo.

Meu liquidificador é a máquina aqui em casa que mais trabalha. Logo cedo bate frutas com kefir e ao longo do dia está pronto e por perto para o que der e vier.

Milho demolhado por 12 horas

Você deve ter visto o último post sobre como fazer a canjiquinha, a fuba e a farinha de milho. Usei, para tal, o moedor de manivela. Quis repetir a experiência usando máquinas elétricas. Primeiro, só para tirar a dúvida, tentei triturar o milho demolhado no processador. Quase quebrei o copo, mas os grãos continuaram inteiros, mesmo adicionando um pouco de água.

No processador não deu certo
No liquidificador, com um pouco de água, os grãos se quebram e soltam a
película 
A canjiquinha lavada, pronta pra ir pra panela, e a película que é descartada
(desagradável de mastigar quando grudada ao milho)
Então, coloquei os grãos junto com água no velho e bom liquidificador. Talvez um copo de acrílico chegasse a quebrar - o meu último, assim, quebrei tentando bater cúrcuma seca -, mas o meu é de plástico fosco e flexível e aguentou o tranco. Bateu, bateu e triturou. Não chegou à granulação fina pra fazer a farinha de milho, mas para quirera, xerém ou canjiquinha, ficou perfeito. O atrito liberou a película que forma uma camada sobrenadante na tigela com mais água. Basta, então, retirar este resíduo da superfície (dar às galinhas, colocar no minhocário, juntar ao composto)  e passar a canjiquinha por peneira. Se não quiser prepará-la na hora, congele ou guarde na geladeira por 1 ou 2 dias.

Para cozinhar, basta usar o dobro do volume em água e cozinhar até ficar macia, cerca de 30 minutos em fogo baixo, mexendo de vez em quando e juntando mais água quente se secar. Tempere a água com sal. No final, se quiser mas não precisa, junte uma colherada de manteiga e nhac. Este é só um jeito. Você pode cozinhar com carne de porco ou usar leite em vez de água e fazer um mingau doce pra comer com nata e canela.

E, com couve, abóbora e carne,  nhac!



Refresco com xarope de gengibre com pimenta-do-reino bem picante

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Refresco bom para o inverno
Claro, o gengibre que colhi no sítio não foi daqueles bitelos que a gente encontra no supermercado, mas em matéria de potência não ficou atrás.

Na mesma época em que colhi, chegou a revista Saveur com um especial anexo só sobre drinques.  E numa página sobre as combinações de bebidas com especiárias estava lá a receita que me chamou a atenção: Ginger syrup, para fazer sua própria ginger beer misturando o xarope com água gaseificada.

O inusitado é que a receita pede pimenta-do-reino, para que o xarope continue picante mesmo depois de cozido, afinal o gengibre perde potência quando cozido.

É um ótimo aliado para quando bate aquela sede de algo diferente, que não seja refrigerante. Pode ser misturado com água sem gás, com gás, ou kefir de água (prefiro este).

Aqui vai, então, a receita, mais ou menos seguindo a da revista. Já fiz várias vezes e mudei à vontade as quantidades dos aromas. Quanto mais, melhor, mais forte.

Colheita de inverno (chia, abóbora, cúrcuma, araruta e gengibre)
Colheita de inverno 2 (gengibre, cúrcuma e batata-doce)
Xarope de gengibre com pimenta-do-reino.

2 xícaras de água
2 xícaras de açúcar
2 colheres (sopa) de pimenta-do-reino
1 mão de gengibre sem pele picado (cerca de 1 xícara picado - mas pode ser mais)

Leve tudo ao fogo baixo e cozinhe até o açúcar derreter . Guarde na geladeira por até um mês e vá diluindo com água ou kefir de água a gosto.

Se quiser fazer ao pé da letra, conforme a Saveur, aqui foto. É só clicar e ampliar. Está lá no site da revista também.



Chuchu recheado. Chayote relleno

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Em Porto Rico o chayote relleno é um jeito comum de se preparar o chuchu e foi minha inspiração. Por aqui chuchus não costumam ser escavados e recheados, mas é um prato que pode ser único quando se quer uma refeição mais leve.

Gosto de salada feita com o vegetal cozido ou refogado simplesmente em óleo e alho, com cheiro verde e pimenta-do-reino no final. Há tantas outras formas de prepará-los, porém, com tantos chuchus esperando uso,  resolvi experimentar uma receita nova para variar.


Voltei de Curitiba com tantos chuchus na bagagem que minha mãe não acreditou que eu pudesse carregar a mala. O chuchuzeiro cresceu num pequeno muro, no jardim/ horta da minha mãe (como o meu, é tudo misturado, flores e utilidades) e a maioria dos que trouxe já estava brotando em cima do telhado da vizinha, que por acaso é minha irmã. Coloquei a escada, puxei com o rodo e recolhi quanto pude. Um tanto, ainda deixamos na calçada para que os pedestres pegassem.

Os brotados que trouxe já presenteei e plantei no sítio. Sobraram alguns não brotados, bastante espinhudos.  Já tive um parecido na grade de frente da minha casa, só que este é muito mais agressivo. Os "espinhos" incomodam na hora de colher, porém, basta passá-los por água morna que eles abrandam.  Bem, aqui o jeito que fiz, meio sem receita, que não precisa.

Um deles era felipe

Chuchu recheado

Com um descascador de legumes, tirei o excesso de casca e "espinhos". Escavei para tirar os germes (que usei depois). Cobri com água, temperei com sal e deixei cozinhar por 30 minutos ou até que ficassem macios. Escorri e escavei mais - esta polpa cozida e escavada, piquei e reservei.


Na frigideira com óleo, juntei uma pitada de cominho e deixei começar a pipocar em fogo médio. Coloquei alho e cebola e refoguei até dourar. Acrescentei a carne moída (300 g para 6 chuchus) e temperei com sal, pimenta e alho negro da Marisa Ono picado (não precisa, mas eu queria usar). Refoguei até que ficasse cozida e soltinha a carne.  Juntei a polpa do chuchu reservada,  uma pitada de páprica defumada e salsinha picada (em Porto Rico é comum juntar azeitonas e passas, além de tomate - veja no google, há várias receitas).

Distribuí a carne entre as concavidades e cobri com pão ralado misturado com queijo da canastra (meia cura) e requeijão moreno (de Minas também), ambos ralados.Coloquei por cima uns pedacinhos de manteiga, levei ao forno quente e deixei dourar um pouco. Na hora de servir, juntei mais canastra puro. E comi com mais nada. Nhac.


Os germes, dourei no azeite e nhac também!  (são adocicados, com sabor que lembra alga)





Caril. Pó de curry com folhas de curry pra fazer curry

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Acho que não é novidade nenhuma dizer que pó de curry é feito com folhas de curry junto com outras especiarias e usada para fazer o prato curry. A mistura, nascida da mente inglesa, foi uma tentativa de resumir num só pó a combinação de especiarias usadas pelos indianos nos pratos de curry, onde entram também as folhas próprias para se fazer estes curries, da planta Murraya koenigii. 

Para quem quer saber mais sobre o vegetal popularmente chamado de "folha de curry", veja lá no post que escrevi anos atrás. 

Acontece que recentemente participamos de uma verdadeira operação de resgate de uma árvore já adulta e a replantamos no sítio. Dei pra minha amiga Veronika uma mudinha e esqueci de dizer que virava uma moçona grande. E que depois pode se espalhar, lançando brotos distantes da planta mãe, e que as raízes chegam a atravessar a rua, como acontece na frente da casa da Nina Horta (veja como Nina conseguiu).  Aliás, a planta dela é a mãe de todas as que já tive, tenho e presenteei, incluindo esta da Veronika, que quis transferir a planta para lugar maior antes de se mudar pra Barcelona - com medo de voltar e encontrar sua casa tomada por floresta indiana. 

Então, fomos até sua casa, podamos a árvore e conseguimos tirar a árvore toda com um torrão de terra - no outro dia levamos para o sítio e replantamos num lugar onde será útil para conter erosão (na Ásia a planta é usada com este fim para além do aroma).  O fato é que com a poda me deparei com uma baciada de folhas soltas. Ia esperar secar e usar como palhada no minhocário ou na horta comunitária. Mas tive dó. Sorte que estavam limpas, lavadas, havia caído uma boa chuva antes.  Tentei secar ao sol na própria bacia, mas era muita coisa, então meti tudo dentro de um saco de voal, fechei e coloquei na máquina de secar roupa. Ficaram sequinhas e assim pude destacar as folhas dos galhinhos e guardar para fins diversos. Se não conhece, digite aí no campo de buscas "curry" ou "caril" e veja quanta receita boa se faz com ele. Se quiser comprar mudinhas, procure o viveiro Ciprest, aí nos links. 

Com a grande quantidade que consegui, resolvi fazer uma grande quantidade de pó de curry para guardar pronto, aproveitando também para fazer uma experiência, incluindo além destas folhas outras também aromáticas que encontrei no sítio. Há ali um arbusto de canela, não sei de qual espécie, mas certamente do gênero Cinnamomum, com folhas super perfumadas, como se fosse o pau de canela mais suave. Dizem que as folhas são mais ricas em eugenol, típico aroma de cravo da índia, mas estas folhas sabem mesmo à canela e não a cravo. 

Bem, aqui vai a receita para um pó de curry delicioso, totalmente adaptado para o que tinha em mãos. Mas você pode diminuir as folhas de curry e excluir as de canela, que terá como resultado a receita clássica.



Pó de caril 

1 litro de folhas de caril 
1 xícara de folhas de canela
1 xícara de grãos de coentro 
1 xícara de grãos de cominho 
1/4 de xícara de grãos de mostarda 
1 colher (sopa) de grãos de pimenta-do-reino
1 colher (sopa) de feno-grego 
4 dentes de cravo 
1 colher (sopa) de gengibre em pó 
1 xícara de cúrcuma (açafrão da terra, em pó)
1 colher (sopa) de pimenta seca em flocos

Toste as folhas em frigideira só para quem fiquem bem secas e quebradiças. Reserve. Toste as especiarias (reserve o gengibre, a cúrcuma e a pimenta em flocos), mexendo sempre, até começar a liberar perfume. Misture as ervas e as especiarias tostadas e triture no liquidificador, com cuidado, desligando, mexendo, ligando de novo. Por fim, junte a cúrcuma, o gengibre e a pimenta. Misture bem e guarde em vidros.  Rende mais ou menos 1 litro



















Em breve, uma receita para usar este pó. 




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