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Jambo-amarelo, jambo-cheiroso, jambo-rosa, rose apple

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Nhac

A não ser por uma groselha e uma ameixa, todas as outras respostas à charada ficaram no universo das Mirtáceas. É o caso do araçá e da guariroba, da mesma família do jambo, resposta acertada pela maioria dos leitores que arriscaram um palpite. 

Este jambo redondo, de cor entre laranja e salmão tem nome Syzygium jambos, sinonímia Eugenia jambos, da mesma família das mirtáceas que os araçás, as pitangas, goiabas, jambolão etc. Foi colhido em Águas da Prata, na pousada Canto dos Xamãs. Eram raros os frutos íntegros, quase todos comidos por pássaros ou, quem sabe, morcegos.  Mas os que pudemos provar tinham doçura de sorvete e aroma forte de rosas.  Como disse o amigo e leitor Guilherme Ranieri, lá no comentário da charada, jambo é uma esponja crocante com gosto de perfume, de rosas, de água de colônia de penteadeira de vó. Incrível é que todos estes atributos, no caso do jambo, lhe caem bem. Acho-o uma fruta deliciosa e intrigante, que sabe à sobremesa indiana já pronta para comer, com casca e tudo - sementes, não.

Há vários componentes aromáticos nesta fruta tropical de origem asiática (Leste da Índia e Malásia), mas o principal, que dá a sensação de estar comendo pétala gorda de rosa cheirosa ou fatias de maçã verde mergulhadas em água de rosas é o linalol, substância responsável pela fragrância de tantos perfumes famosos.


Estes, mais sem-graça. Vou ver se amadurecem mais. 
Ontem, coincidentemente, caminhando num clube da prefeitura perto de casa, me deparei justamente com um pé de jambo, um outro tipo, mais claro e mais insípido. Apenas docinho, com um quê de acidez e algo mais de tanino. Muito diferente daquele cor de rosa do Acre e da Ilha do Marajó ou deste de Águas da Prata, muito mais equilibrados no sabor. 

Bem, como acordo muito cedo e o café da manhã demorou um pouco a sair na pousada em Águas da Prata, quatro jambos amarelos foram meu desjejum. Não poderia haver melhor opção. Mas, se tivesse mais deles em mãos, faria chutney, lassi, geleia, cozidos em vinho, uma salada... 
E quem quiser ter um pezinho de jambo-amarelo, o Edilson pode mandar pelo correio: http://www.ciprest.com.br/produtos.htm

Amanhã é o Terra Madre Day

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Amanhã, no mundo todo, convívios do Slow Food e associados costumam comemorar o dia da terra, Terra Madre Day, celebrando o que ela nos dá. Há um ano, o Come-se comemorou com alguns leitores uma colheita urbana. Neste ano, vou estar com amigos na cidade onde tenho uma chácara. Para quem estiver por perto, transmito aqui o convite do Slow Food Piracaia: 

Convidamos a todos a se juntarem a nós em um
Almoço Comunitário no Parque Ecológico, em Piracaia-SP, para celebração do Terra Madre Day

O que levar?
A ideia é que os participantes levem um prato preparado
com alimento local para ser compartilhado e sua bebida.
Não esquecer de prato, copo, talheres, guardanapo
e toalha para colocarmos na grama. Lembramos que deve ser evitado o desperdício, o uso de utensílios descartáveis de plástico e que se deve dar preferência para produtos não industrializados.

Quando?
Terça-feira, 10 de Dezembro de 2013
Que horas?
Das 12:00 às 14:00

Onde?
Parque Ecológico de Piracaia
Rua Sebastião Ferreira de Araújo Filho
Bairro de Santo Afonso
Piracaia - SP

E aqui umas palavras sobre o evento que todos associados receberam por email do Slow Food Brasil. Junte-se a nós! 

"Terra Madre Day 2013
Celebrando o alimento local e protegendo a biodiversidade

Todo dia 10 de dezembro o Slow Food comemora o Terra Madre Day que é uma celebração mundial do alimento local.
Onde? Como?
Onde quer que você esteja, pode participar de um TMD.
Clique aqui e descubra os eventos registrados no Brasil e procure pelo mais próximo.
Você também pode fazer o TMD no seu próprio estilo. Pode ser um piquenique ou uma janta familiar, com os amigos, comunitária ou até uma festa. Pode ser grande ou pequeno. O importante é celebrar o alimento e a diversidade, do alimento e das pessoas.

Local
Valorize o alimento local.
Prefira consumir alimentos produzidos próximos de você.
Quanto maior a proximidade, mais você valoriza o entorno e tem garantia maior de um alimento fresco. Procure conhecer um pouco da biodiversidade local.

Indique um produto para a Arca do Gosto
O TMD sempre promoveu o uso de produtos da Arca do Gosto, que são alimentos em risco de extinção. Este ano queremos ir além e incentivar não apenas o uso deles, mas que as pessoas indiquem alimentos para que esta Arca cresça e proteja toda agrobiodiversidade com risco real ou potencial de extinção.

O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo e é de se supor que muitos alimentos tradicionais e silvestres estejam se perdendo junto com nossos biomas.
Indique alimentos de sua memória.
Aqueles que não se encontram mais.

Baixe o formulário de inscrição, preencha e envie para a comissão da arca (arcadogosto@slowfoodbrasil.com)

Participe e convide um amigo para se associar
(para mais informações escreva para contato@slowfoodbrasil.com)"
Slow Food Brasil

Só para ter uma ideia, dê uma olhada nos eventos que acontecem aqui no Brasil: (vá ao site para mais informações sobre estes e eventos no mundo todo) 

Data
Evento

Piquenique no Terra Madre Day do Slow Food Piracaia

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Ontem foi dia de celebrar o Terra Madre Day em Piracaia-SP.  Em plena terça-feira vários membros e simpatizantes do Slow Food Piracaia apareceram no Parque Ecológico da cidade ao meio dia para simplesmente compartilhar o alimento sobre a toalha estendida na grama. Um almoço coletivo, só isso. Só isso? Tudo isto. Afinal, todo mundo se empenhou para levar pratos feitos com ingredientes locais. Queijo fresco da Milena, pão integral e coalhada seca do Fábio, torta de queijos de produtores locais com tomatinho da horta da Sonia,  bolo feito pela Sonia com amoras orgânicas do Celso, salada de arroz de pilão do Carlos, meu caseiro,  com pepinos, tomates e ervas da minha horta, arroz com licuri feito pela Samara, crostines de abobrinha da Maria, ovos caipiras que compro dos meus caseiros, porção de tilápia frita (pescada na represa),  comprada no quiosque do Ari pelo Edu (recomendo!), refresco de hibisco que colhi no sítio e tantas coisas mais: melancia, pães, ambrosia, pudim de tapioca etc.  E foi assim, com uma trégua do temporal, o rio Cachoeira correndo clarinho (embora poluído, a gente sabe e lamenta), um viveiro da prefeitura ao fundo, que doa mudas de árvores nativas, mesas sob as árvores sopradas por vento de chuva, banheiros públicos decentes,  muita criança, cachorro, professora com seus alunos, enfim gente trabalhadeira que tirou a folga do almoço para comer junto, para celebrar o alimento que a terra nos dá.  Em cidade pequena isto é possível e desejável  - houve quem perguntasse se iríamos fazer piquenique todos os meses.  Seria bom e o Parque Ecológico é uma ótima opção de lazer para piracaienses e piracaianos que queiram dar uma folga às distrações eletrônicas e outros afazeres não prioritários para nosso bem estar.   

Veja mais sobre o Terra Madre Day no Brasil e no mundo aqui. Se quiser fazer sua própria celebração, o site explica como.  

Fique com algumas fotos: 





Milena trouxe queijo fresquinho 

No parque há o Quiosque do Ari
Que serve esta deliciosa porção de tilápia da represa (não de criadouros)



Até uma cachorrinha apareceu e educadamente esperou ser servida

Sonia fez a torta com queijos de três produtores diferentes de Piracaia



Nariz para te ouvir melhor

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Os pratos acima são só para você não se esquecer que este ainda continua sendo um blog de comida. Mas como já registrei aqui vários passos importantes da menina, faço-o novamente. Falar dela a cada dois ou três anos está de bom tamanho, não?

Hoje fomos, Marcos e eu, comemorar novo motivo de orgulho  no restaurante Jiquitaia, do qual já falei na semana passada.  Só nós, pais corujas, e comemos deliciosamente - eu, feijão tropeiro, Marcos, peixe -, brindamos, mandamos fotos para a filha e dissemos: estamos comendo esta comida deliciosa em sua homenagem. Resposta: carinha com boca invertida, snif. Ananda continuou trabalhando depois do encerramento da cerimônia de "formatura" da residência. Hoje o jantar para os pais será coletivo, mas refeições e viagens sem ela neste tempo todo foram várias. Almoços importantes, reveillon, festas, feriados, aniversários, várias datas foram passadas sem ela, que estava sempre trabalhando de dia ou de noite, às vezes de dia-e-de-noite.  Vida dura esta de médico. 

Há aqueles que são bons generalistas de nascença e os que nasceram para ser especialistas em alguma coisa. Eu, por exemplo, sou especialista em generalidades. Jamais seria uma especialista porque ora me interesso por matos da rua, ora quero saber sobre a bioquímica da curcumina. Já Ananda cisma com uma coisa e estuda a fundo, por isto agora entende quase tudo (sempre há o que aprender) de nariz, ouvido e garganta. Como o pai, formou-se em otorrinolaringologista. E gosta de fazer cirurgias (eu desmaio só de pensar em sangue), faz bem. E depois do jantar, mostra para o pai tomografias de pacientes, vêem juntos vídeos de cirurgias, discutem casos. Bonito de ver. 

E tudo bem que ela mal tem tempo para cozinhar ou falar de comida, minhas paixões. Mas gosta dos restaurantes que gosto, um alento. E pelo menos já acerta todos o que é, o que é, o que me deixa feliz. Mas quando penso que vou ter minha filha mais perto de mim, fico sabendo que  foi convidada para ser preceptora (chefe dos residentes) no mesmo departamento de otorrino do HC, no ano que vem. Ou seja, mais almoços sem ela, mais saudade e mais vontade de podermos voltar a cozinhar juntas. Um dia, quem sabe... Tudo por uma causa justa.

Ela era uma bebê séria (e meio careca, analfabeta e banguela) 
E virou uma séria médica, sabida e sorridente 
Já falei dela aqui e ali

Festa Gastronômica Nossa Pitada em Goiânia. Requeijão Moreno

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A matéria de capa hoje no Caderno Paladar é sobre nossos queijos. Traz exemplos de todo o Brasil. Marajoara, coalho, manteiga, serro, salitre, canastra, araxá, colonial e serrano. São queijos que a despeito do entraves de circulação se insinuam pelas fronteiras Brasil afora e já podem ser encontrados para comprar em pontos de venda ou pela internet. Finalmente podemos apreciar a diversidade queijeira de nosso país.

A matéria cita o trabalho do Slow Food, que já mostrei aqui e lamenta a ausência do queijo do Centro Oeste que ainda não atravessa fronteiras.  Foi por isto que me lembrei de um ingrediente sobre o qual já ia esquecendo de falar a propósito da recente viagem a Goiânia para participar do Festa Gastronômica Nossa Pitada. Se depender das malas de quem visita o Centro Oeste, podemos dizer que, sim, o requeijão moreno atravessa fronteiras sorrateiramente na completa clandestinidade, chegando ao destino ainda melhor.


A caminho para a cidade de Pirenópolis, paramos numa grande concentração de comércio de beira de estrada, a  feira de Teresópolis. Ali se vendem de panelas de alumínio a abóboras gigantescas. Conservas, doces de leite e requeijão moreno estão entre os itens que se repetem em várias bancas.  Numa das bancas, numa cozinha improvisada e devidamente telada, um rapaz prepara o famoso requeijão moreno. Pode ser branco também, mas o moreno é o mais gostoso, pois leva na massa manteiga dourada, o que dá a ele um sabor amendoado delicioso.

É um queijo clássico dos Goianos. Mineiros também fazem, assim como várias regiões do Brasil têm sua versão (São Luiz do Paraitinga tem um requeijão de prato divino; no Rio Grande do Norte o requeijão de raspas faz sucesso, no Marajó o requeijão é feito com a mesma técnica porém com leite de búfala e em Minas também há requeijão branco, moreno e de raspas - cada um diferente do outro, com seu marcador regional).



Bem, pudemos assistir ao feito do requeijão em tempo real e ainda saímos de lá com a receita (já as fotos, através da tela ficaram lamentáveis, mas ficam aqui como registro): para 250 litros de leite, 2 litros de manteiga, sendo que só 1 litro é dourada antes.  O leite cru é deixado coberto de um dia para outro para coalhar. No outro dia, a coalhada é separada do soro e cozida em leite fresco para "lavar" a acidez. O coalho é drenado novamente e cozido com em manteiga dourada que vai sendo incorporada à massa devagar. Depois, mais manteiga é adicionada - desta vez, a manteiga crua. Em algum momento deste processo um tanto de sal é adicionado. Quando a massa está bem liguenta, é colocada em formas para que o queijo endureça. Ninguém que não tenha provado vai conseguir imaginar o que é este requeijão comido ainda quente e mole de colherada.

Estes são de Pirenópolis, de outra viagem, branco e moreno 
Claro, neste caso, a produção artesanal atende a uma demanda enorme de compradores motorizados que param ali para comprar a delícia, mas no caso do requeijão feito domesticamente o leite é acumulado aos poucos, diariamente,  até dar a quantidade ideal para uma boa quantia de queijo (que justifique a trabalheira que dá). Então o leite cru deixado coberto a descansar talha e libera a nata que sobe à superfície. Esta nata é recolhida dia-a-dia à medida que mais leite vai se juntando ali e na vasilha. Depois é aquecida para liberar a manteiga que é deixada no fogo até dourar. Os coágulos de leite são separados e aquecidos (só aquecidos, não fervidos) com leite fresco para lavar e tirar a acidez. Até três vezes o processo pode ser repetido, pois se os coágulos estiverem ácidos não darão liga ao queijo.  Depois de cozidos os coágulos e incorporados com a manteiga, a massa elástica pode ser moldada num prato com ajuda de colheres ou colocadas em formas, onde ficam até esfriar e endurecer.  Enfim, um queijo cheio de técnicas e sutilezas.

Se tiver curiosidade de ver o processo, assista a este vídeo caseiro (havia outros vídeos, já citados em outro post quando falei do requeijão de Pirenópolis, mas foram tirados do ar) que mostra uma receita  bem caseira e original.





Cebolinha, cebola e cebolona. Valem quanto pesam.

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Colhidas do vaso
Entre o ideal e o possível a distância pode ser grande, mas qualquer passo dado é melhor que nenhum. Acho que a vida se tornaria mais fácil, menos complicada e a gente, menos agoniada por não conseguir a perfeição. Se não consegue usar todos os alimentos orgânicos, use pelo menos uma parte. Se não tem lugar para plantar, adapte uma jardineira na janela. Se quer plantar uma árvore, escolha uma praça abandonada. Não sofra, faça o que dá. Até parece conselho de auto-ajuda, cruzes, mas tive a clara noção disso ao colher estas mini cebolas aqui em São Paulo. Talvez não desse tanta importância ao fato se não tivesse, quase ao mesmo tempo, colhido cebolas da mesma idade e do mesmo tipo no sítio em Piracaia, onde foram cultivadas em condições muito mais favoráveis que a que tinha aqui.  

Plantadas displicentemente, apertadamente

Todas elas, plantei a partir do miolo de cebolas que usei na cozinha, como já mostrei aqui. Acontece que fui enfiando os miolos num pequeno vaso com terra. Algumas, levei para replantar no sítio. Em pouco tempo, as cebolas ficaram  grandes, bonitas, sem uso de fertilizantes nem defensivos. Mostrei algumas aqui.  O resto, ficou no vaso esquecido. Outro dia fui ver a pequena cultura e estavam tão apertadas que se espremiam saindo pra fora da terra. Colhi todas e eram tão pequenininhas que couberam na palma da mão.

Deu gosto apoiá-la na mão
Só com o talo curto
Pequenas como alhos
Não tive curiosidade de pesar as pequenas, mas a grande era tão biteca que não me contive. Com um pedaço do talo, mais de meio quilo. E todo o talo e folhas também foram aproveitados. 

Dourando no azeite com alhos

Douradas com fígado de galinha

As cebolinhas se juntaram àqueles alhos, foram douradas no azeite ao qual de juntou ervas, passas e fígados de galinha aferventados em caldo bem temperado e escorridos. 

Com carne de lata

Pimentão, tomates, berinjelas, cebolas, alho - todos colhidos no sítio
As cebolas grandes entraram como complemento da carne de lata (direto de Goiânia, presente da Emiliana) e nos legumes assados (todos colhidos em Piracaia!). 




Aferventa em água e escorre
Bate no liquidificador com azeite
Usa para refogar comidas cozidas
Como o arroz (com sobras de tomate e abobrinha por cima)

Já os talos brancos, usei como cebola também. E as folhas grandes e ainda verdes, separei os melhores pedaços, lavei bem, branqueei rapidamente e bati com azeite e sal. Guardei num vidro na geladeira. É ótimo para refogar arroz e legumes. No arroz de pilão, além de usar para refogar, joguei um pouco por cima depois de pronto. Ficou gostoso, nhac! 

Vamos fazer panetone?

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A receita deste panetone está aqui. 
Não, não é agora. A menos que você já tenha o seu levain. Se não tem, comece a fazer hoje para ter um bom fermento para a próxima semana. 
Se tem o levain e já quer fazer um panetone, esta receita que dei aqui dá super certo. 

O levain também não tem erro. Se tem farinha em casa, ganhe tempo, comece agora mesmo. http://come-se.blogspot.com.br/2012/07/pao-do-zero-com-fermento-natural-levain.html. Com este tempo quente dá gosto ver como fermenta rápido. Se seu fermento ficou pronto e quiser ir se adiantando, bem. Se não, guarde na geladeira até eu voltar ao tema. 

Na semana que vem vou fazer o meu panetone com limão zamboa, passas e só. Mas as frutas, pode ir comprando as que preferir. 

E a do levain, está ali


Tortilla de patata ou tortilla española

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Pelo menos tortilla de batata parece ser unanimidade entre espanhóis, embora haja variações para a fritada país afora. Tortilha de verduras, de cebola, de angulas, de alcachofras, de aspargos, espinafres, favas, vagens, pimentões, cogumelos, à valenciana - com arroz e presunto ou sobra de paella, murciana, com muita verdura etc.  A de batata é a coisa mais simples de se fazer quando se tem ovos, batatas e cebola. 

No sítio costumo fazer com o que tem. Folhas de cebola, cebola, batata, verduras cozidas, sobras de salada etc, como esta aí em cima. 

Mas as últimas batatas foram colhidas há uns dois meses e três ainda restavam sóbrias na cesta. É incrível como estas batatas colhidas pela gente, cultivadas sem aditivos, duram uma eternidade na cesta, sem brotar, sem apodrecer, sem se fazer notar por qualquer modificação na aparência. Estava aguardando a hora certa para fazer uma tortilha como manda o figurino ou os manuais de receitas tradicionais. É um dos pratos pelos quais suspiro sempre que faço e/ou como. Quente ou fria. Com ou sem vinho. O importante é estar com bastante fome e sem culpas. Tinha acabado de retirar no laboratório o resultado do meu exame de sangue e como está tudo dentro dos ótimos parâmetros de normalidade, fiz logo uma tortilha com três ovos caipiras e usei o azeite que foi preciso para mergulhar cebolas e batatas. 

Parece tudo tão óbvio de fazer, mas como sei que há por aí moçoilas e moçoilos que não tem a mínima ideia de que se pode fazer em casa algo mais delicioso que hambúrguer de rede e quase tão fácil quanto um macarrão instantâneo, deixo aqui o passo-a-passo. Quem sabe você não se anima a começar o ano cozinhando em casa? Tudo bem que é um prato bem gorduroso, mas se feito a cada morte de papa - ou de las patatas -, não há mal nenhum, certo? 

Os ingredientes são estes: 3 ovos, 3 batatas médias, 1 cebola,
 além de sal e azeite para fritar

Frite cebola e batatas (como estas são orgânicas, não tirei a casca - se não
for o caso, melhor descascar)

Não precisa dourar. Basta que as batatas estejam macias. Escorra e retire
o azeite da frigideira - deixe só um pouco para fritar a tortilha

Bata levemente três ovos, junte a cebola e a batata frita e tempere com sal

Aqueça a frigideira e despeje a mistura de ovos. Deixe o fogo baixo

Quando a parte de cima começar a firmar, vire com a ajuda de um prato ou
uma tampa plana e escorregue a tortilha de volta para a  frigideira para
dourar do outro lado

Sirva quando os dois lados estiverem dourados e a tortilha, firme e  cheirosa.
 Junte uma salada e ..

Nhac!





Mirtáceas abandonadas. Cabeludinha, pitanga e uvaia.

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Uvaias do ex-nosso sítio em Fartura
Pelo que tenho observado, as frutíferas da família das mirtáceas estão entre as que mais são abandonadas por aí. Talvez por serem plantas prolíferas, baratas e decorativas quando bem cuidadas. Então, bastou uma ligeira fraqueza, um sinal de cansaço pela falta de espaço ou de água, que são colocadas pra fora de casa sem remorso ou piedade nem direito a esperneio. É mais fácil comprar outra muda. E assim nosso sítio já ganhou algumas árvores desta família.




A guapirijuba (Myrciaria glazioviana), também conhecida como cabeludinha ou jabuticaba amarela, é uma mirtácea do mesmo gênero da jabuticaba, com casca firme como uma jabuticaba, com textura aveludada, e uma semente proporcionalmente grande como a da pitanga, sobrando pouca poupa para comer, o que é uma pena, deliciosa e perfumada que é.   Encontramos o pé abandonado junto a um clube da prefeitura aqui no meu bairro. Minha vizinha Ana foi que primeiro a avistou e nos avisou. Fomos lá com o carro. O vaso estava quebrado, mas conseguimos colocar o torrão seco num saco e replantar em casa até o momento de ir definitivamente para a terra, onde agora produz feliz. Já comi algumas frutinhas dela.





Esta pitangueira, encontramos numa praça, à beira de um colapso, sem nenhum sinal vital a não ser um pulso fraco, um verdejar ainda fresco observado através uma arranhadura  (passar a unha no galho é como faço para ver se a planta ainda está verde e viva).  Estava que era pele e osso, ou galho e raiz. Sem nenhuma folha, mal sabíamos se era uma uvaia, uma jabuticabeira ou uma pitanga. Foi levar para casa e regar e as primeira folhas começaram a surgir. Agora já está firme e forte para florir e frutificar na terra livre. De lambuja ainda veio um guaimbé que também vai para o sítio (havia outro vaso de figueira - que se recuperou e já foi para o sítio também).



Em Piracicaba, neste fim de semana, encontramos este vaso com um pé de uvaia jogado à beira de um córrego, totalmente estorricado, mas ainda com folhas. Trouxemos para casa, regamos e deixamos o vaso junto com a pitangueira para logo irem para o sítio.

Ainda em Piracicaba, descobri uma árvore de jambinho pink (Syzygium myrtifolium) carregada de frutos. Não estava abandonada à própria sorte na secura de um vaso, mas encontrava-se num estado de pura negligência. Perguntei para um, para outro e ninguém sabia o nome. Apenas os pássaros cantavam felizes pulando de galho em galho em algazarra. Está certo que esta é uma mirtácea exótica e que o fruto não é aquele jambo rosa todo, mas para que tanto desprezo? Ele é docinho, gostoso, é fácil de separar a semente e dá pra fazer compota e geleia.

A sorte é que as mirtáceas parecem ser mais resistentes à seca que ao excesso de água. Eu tinha uma uvaieira no vaso que produziu muitos frutos durante uns três anos.  Um dia fui viajar, choveu muito, ninguém percebeu que o furo do vaso estava entupido. Quando cheguei, a planta estava imersa num lodaçal, já tinha perdido muitas folhas e logo morreu. Já tinha feito geleia e sucos com seus frutos (uma das mirtáceas de que mais gosto - além das pitangas, da feijoa, da jabuticaba, do jambo e de todas elas). Uma grande perda.
As sementes foram para a Argentina. Se não fui interceptada, devem estar
chegando. 

E é incrível como tem gente apaixonada por mirtáceas e até aquelas que se dedicam a fazer coleção delas, como o argentino Marcos que conheci recentemente por causa desta família. Mandei a ele sementes de grumixama e uvaia e aproveitei para tirar do chão algumas mudas de cereja-de-joinvile para mim.

E quem tiver ou vir mirtáceas em situação de abandono, é só me avisar, que, se eu puder, vou buscar.


Leituras de fim de ano. Revista 22, Manual e Almanaque do Slow Food

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Tudo fresquinho. Acaba de ser divulgado no site do Slow Food Brasil duas publicações. Uma delas é o Manual do Slow Food, que explica tudo sobre o movimento. Se ainda não conhece, poderá saber tudo sobre a Arca do Gosto, as Fortalezas, o projeto Mil hortas na África, o Slow Fish, o Terra Madre e muito mais.  Com muitas fotos e textos em português. Acesse aqui:
http://slowfoodbrasil.com/slowfood/manual-do-slow-food. A outra é o Almanaque 2013, também em português, com assuntos interessantes sobre o que anda acontecendo mundo afora, sobre alimentos protegidos pela Arca do Gosto, saberes tradicionais, práticas artesanais,  notícias sobre as fortalezas, convívios etc.  As fotos são belíssimas. Confira lá:

E, para completar, a excelente revista da Faculdade Getúlio Vargas, Página 22, sobre sustentabilidade e economia de transição. Você pode se cadastrar e receber a revista impressa na sua casa. Acesse: http://pagina22.com.br/novo_leitor/.  Mas se preferir ler o conteúdo online, poderá acessar  http://www.pagina22.com.br/index.php/category/revista/ para ver o número atual que aborda o tema Alimentação e todos os outros já publicados.   Há ainda um texto da Janice Kiss sobre o trabalho do Come-se, que me deixou lisonjeada:   

Boa leitura! 

Tapioca e Biju!





Coluna do Paladar, edição de 19 de dezembro de 2013: Casca de jabuticaba

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Hoje tem Paladar e coluna Nhac, sobre jabuticaba. Exatamente sobre a casca. O título, dado pela redação, ficou perfeito: Joga as cascas pra cá! Veja lá no blog do caderno a edição completa.

Bem, já falei de casca de jabuticaba em vários outros posts, como neste:
http://come-se.blogspot.com.br/2012/11/jabuticabas-passas.html e naquele: http://come-se.blogspot.com.br/2010/12/jabuticaba-casca-em-compota.html

Aqui, o texto que mandei pro jornal, com fotos minhas. E, depois da receita, mais dicas de como usar as partes, com fotos minhas.


Jabuticaba - joga as cascas pra lá

É tentador explorar com palavras os sentidos ativados quando atolamos os dentes na massa suculenta e doce algo ácido de uma jabuticaba. Muitos cronistas e poetas já o fizeram. Portanto, sejamos pragmáticos.  

Imagino que todo brasileiro já tenha visto uma jabuticabeira florida e depois frutificada. Quem não viu, coloque na lista, é obrigatório, afinal a Myrciariajaboticabaé cultivada em todo nosso território. É uma das árvores mais apreciadas para se ter em quintais e pomares domésticos, pela beleza da florada e gostosura dos frutos,  bons de comer no pé.  

Como outras fruteiras tropicais, a jabuticaba tem safra curta, apesar de duas por ano – na primavera e no verão -,  e alta perecibilidade. Isto faz com que haja grandes perdas.  De um modo geral temos pouca cultura de aproveitamento integral destas frutas, talvez pela abundância da safra que nos faz, de boca cheia, perder a razão e o senso de provisão. Gostamos de jabuticaba fresca, de preferência sabará ou pingo-de-mel, direto do tronco, primeiro o que tem e depois o que vem.  Mas quem dá conta de comer tanto? E comprar na caixinha parece que perde metade da graça. O que não se perde nunca é o alto teor de antocianinas, compostos antioxidantes que conferem aos vegetais tons do vermelho ao azulado. É a mesma substância presente nas uvas escuras e nos vinhos tintos e que a gente aprendeu que faz bem para a saúde.  No caso das uvas, a antocianina vai para o vinho enquanto que as cascas da jabuticabas costumam ir para o lixo, pois comemos a polpa.

A sorte é que não faltam pesquisadores para comprovar os efeitos benéficos da casca, para estudar melhores métodos de secagem e conservação e para inventar formas para aproveitamento alimentar, fitoterápico e cosmético. Por isto já encontramos por aí a casca da fruta liofilizada, barrinha de cereais colorida, a casca passa, aguardente, fermentado, vinagres, além dos preparos caseiros tradicionais como geleias e compotas.

Uma coisa que tenho feito quando me deparo com grande quantidade da fruta é desidratar as cascas e guardar para fazer chá com especiarias.  Lavo bem as frutas, espremo uma a uma e uso a polpa para fazer suco. As cascas, abertas pela metade e bem espremidas, coloco sobre uma peneira forrada e coberta com voal e deixo secar ao sol.  Ou, se o tempo está úmido, seco no forno, com fogo baixinho e a porta entreaberta. De vez em quando remexo para secar por igual. Quando está bem seca, sem perder a cor, guardo em saco de papel. Se restar alguma umidade, vai terminar de secar. Quando quero um chá de frutas vermelhas com especiarias, coloco um punhado de casca, um cravo, um pau de canela, uma rodela de gengibre  e às vezes uma vagem de cardamomo e fervo. Bebo bem quente ou deixo gelar e tomo como refresco, com gelo e rodela de limão. Além de saudável, já que a antocianina continua ali,  a bebida tem cor linda e sabor delicioso, perfumado e frutoso. 

E esta infusão colorida de jabuticaba, mais ou menos apurada, com ou sem especiarias, pode ser usada de muitos jeitos: no lugar de água para hidratar o polvilho da tapioca, por exemplo,  completando o vinho no vinho quente ou a cachaça no quentão, para fazer gelatina colorida e sorvetes mais nutritivos para as crianças e para fazer este sagu sem vinho que adaptei de uma receita alcoólica que aprendi com a chef Mari Hirata. 

Se acontecer de você não ter tempo de aproveitar toda a jabuticaba na safra, enquanto ela está bem fresca, lave bem, congele a fruta inteira e você terá as cascas para aproveitar depois, além de poder chupar cada uma como sorvete encapsulado.   

SAGU DE JABUTICABA

1,5 litro de água
½ xícara de sagu, de preferência de bolas grandes
500 ml de infusão de jabuticaba (feita com 1 xícara de cascas secas e água – ferva por 5 minutos)
½ xícara de açúcar
2 paus de canela
2 cravos
Cascas de ¼ de laranja e de ¼ de limão taiti, só a parte colorida, cortadas em tiras finas

Numa panela grande, coloque a água e leve para ferver. Junte o sagu e cozinhe por 1 hora (um pouco menos se usar o sagu tradicional, de bolinhas pequenas) ou até que fique com um miolo ainda opaco.  Escorra e lave em bastante água gelada para tirar o excesso de goma.

Enquanto isso, junte a infusão de jabuticaba com o açúcar e as especiarias (canela, cravo e casca de laranja e de limão) e cozinhe por 2 minutos. Desligue o fogo, tampe e deixe em repouso por 15 minutos. 

Descarte as especiarias da calda e leve-a novamente ao fogo. Quando ferver, junte as bolinhas de sagu e deixe cozinhar por mais alguns minutos ou até que fiquem completamente cozidas, sem o miolo branco.  Escorra e reserve a calda. As bolinhas, coloque em forminhas individuais molhadas com água (pode usar xícaras de fundo abaulado) e resfrie sobre água com gelo ou em temperatura ambiente (na geladeira, endurece).  Leve a calda ao fogo e deixe apurar até ficar com consistência de xarope.  Desenforme o sagu e sirva com a calda fria.


Rende:  4 porções 

Com a mesma infusão, você pode fazer gelatina e servir com compota

A polpa, passada por peneira pra tirar as sementes, pode ir pra sorveteira sem açúcar, com um pouco da calda das cascas reduzida. Um delicioso sorbet que também pode ser servido com a compota. 

A polpa sem as cascas e sementes podem ser batidas com um pouco de caldo de cana e água gelada pra fazer refresco de sabor incrível. 

E pode ser usado para cozinhar tapioca, que fica como sagu. É só jogar uma colherada de creme e nhac! 

Ainda a casca da jabuticaba. Tapioca de jabuticaba com banana

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Tapioca não precisa ser branca quando se faz com a fécula seca da mandioca  - polvilho doce. Se partimos do amido ainda úmido, chamado também de goma,  não tem sentido desidratar para hidratar de novo com outro líquido. Mas quando usamos o polvilho, qualquer líquido colorido, mais nutritivo, desde que não tenha gordura, pode ser usado. 

Já vi muita tapioca rosa feita com suco de beterraba, e também fica linda. Mas se quiser aproveitar aquela infusão feita com cascas de jabuticaba mostrada no último post, a tapioca ganha um sabor delicado que faz boa companhia para recheios doces. Com banana e doce de leite, como mostro aqui, fica muito boa. A infusão não deve ser adoçada, claro, afinal a tapioca deve ter sempre o sabor neutro. Uma pitada de sal, sim, é desejável. E se quiser aromatizar com cravo, canela, cardamomo, ficará ainda melhor. 

O jeito de fazer é o mesmo que já mostrei aqui, apenas substituindo a água pela infusão de casca de jabuticaba fria. É só colocar polvilho numa tigela, cobrir com o líquido, deixando passar um pouco a superfície e esperar até que o polvilho fique totalmente sedimentado no fundo da vasilha e que você possa desprezar este líquido sem que o polvilho se movimente. Assim ele estará totalmente hidratado. Costumo deixar uma noite inteira assim. Não pode deixar muito tempo porque ele pode fermentar. Se o tempo estiver muito quente, melhor deixar na geladeira. Depois de jogar o líquido fora, cubra o polvilho molhado com um pano limpo e seco para que absorva a umidade excedente. Costumo deixar uma hora assim. Aí, basta quebrar os torrões, temperar com uma pitada de sal e passar pela peneira previamente (pode deixar num recipiente fechado, a mistura já peneirada, para que não perca umidade) ou diretamente sobre a frigideira quente, sem untar. Antiaderente ou não. Quando os grumos se juntarem formando um beiju, basta virar e deixar mais um minuto ou menos.  Vá controlando o fogo e o tempo para que o beiju fique elástico, úmido, macio. Se o fogo estiver muito forte ou o tempo, excessivo, o beiju ficará abiscoitado, não flexível.  Se passar a goma diretamente sobre a frigideira, faça-o fora do fogo, especialmente se não tem prática para peneirar e ao mesmo tempo distribuir a goma peneirada por toda a frigideira. Se demora muito e a frigideira está muito quente, não dá tempo de os grânulos se gelatinizarem colados e acabam virando farinha.   E se a tapioca é mais grossa, tudo bem espalhar a goma com colher. Mas se é fininha, é melhor não mexer - por isto, é bom treinar a destreza de peneirar e espalhar ao mesmo tempo. 

Aqui tenho um vídeo que mostra a peneiragem. O modo de fazer a tapioca é um pouco diferente porque lá fiz aquela tapioca instantânea em que se junta o polvilho seco e a água já na medida certa e não é preciso esperar a hidratação.  Mas, para iniciantes, é mais difícil de acertar o ponto e a tapioca não fica tão flexível e macia.  Prefiro hidratar com bastante líquido e jogar fora o excedente. Não tem erro. Mas veja lá o vídeo

E aqui, como fiz a tapioca de jabuticaba com banana. Poderia ter incrementado o recheio e apresentação, mas fiz com o que dispunha no momento e ficou deliciosa, acredite. Está aí pra você recriar à vontade. 

Faça uma infusão com cascas de jabuticaba. Deixe esfriar  e despeje
sobre polvilho doce de modo que passe um centímetro, mais ou menos, da
superfície 

Quando o amido estiver assentado no fundo da vasilha, despreze o líquido
excedente e cubra com pano para absorver o excesso de umidade

Desfaça o amido molhado em torrões, tempere com uma pitada de sal e
peneire diretamente sobre uma frigideira. Leve ao fogo e faça os beijus
Recheei com doce de leite e banana nanica crua
Coma assim
Ou assado (enrolado como sushi, cortado e grelhado em frigideira
antiaderente sem gordura). E nhac! 

Receita de panetone

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Fica assim! 
Há uma semana, fiz o chamado. Quem quisesse fazer panetone, que começasse a cultivar seu próprio fermento natural ou levain. E dei o link onde podia começar a fazer um com farinha e água somente. Se ainda não fez e agora se sente instigado, por que não começa agora? Com o clima quente desta época do ano aqui no trópico, será possível fazer seu panetone ainda para o Natal. 


Um ótimo presente de Natal. Compre aqui

Para quem não tem o levain, aqui vai o link onde mostro: http://come-se.blogspot.com.br/2012/07/pao-do-zero-com-fermento-natural-levain.html. Há várias formas de se começar um, como o que nos ensina Luiz Américo Camargo, em seu livro recém-lançado (ótimo, por sinal, com várias receitas e técnicas para se trabalhar com levain)  "Pão Nosso", do selo Panelinha, feito com suco de abacaxi em vez de água. Imagino que a enzima proteolítica bromelina iniba outras formas de vida proteica mas não as leveduras. De qualquer forma, a técnica de começar com uma bolinha na água, como aprendi com Vittorio Lorenti, da padaria Basilicata, também dá super certo e, depois de um tempo, levains começados de maneiras diferentes mas mantidos no mesmo lugar e alimentados com a mesma farinha terão características muito semelhantes. 

Esta receita a que cheguei agora é parecida com aquela fórmula do post de 2011. Porém, acrescentei mel para deixá-lo mais úmido e usei mais frutas, que deixei hidratar em vinho moscatel por um dia. Tudo para evitar uma massa ressecada. Pretendia usar apenas uvas passas e compota de limão zamboa, mas uma que fiquei com dó de usar toda minha compota e outra que tinha muita fruta seca dando sopa - quis aproveitar. Mudei outras pequenas coisas que você poderá perceber ao comparar as receitas. São os aperfeiçoamentos. Pode não ter ficado superior aos tops gourmets que há por aí - mais por causa do forno, mas, em relação à marca mais popular de panetone dos supermercados, pode ter certeza que ficou.  Ontem comprei um desses só para comparar e o que a gente mais sente é essência sei lá do quê (essência de panetone, como se panetone fosse um fruto que desse no pé). Chega a ser amargo de tanta essência e o retrogosto fica pra sempre. Fora o tanto de outros aditivos que tem ali. Decididamente esta receita fica bem melhor. 

Então, vou colocar aqui todo o passo a passo para você ver como é simples.  Se já tem o levain, mesmo que guardado na geladeira, murcho, recolhido, ou se o seu levain está super refrescado, ainda borbulhante, comece igual. Se não tem levain, comece-o agora e quando estiver pronto, volte aqui pra continuar. Se não tem os 300 g suficientes, complete-o umas três horas antes com mais água e farinha.

O enfeite não é de comer

Panetone com fermento natural (levain)

Ingredientes para a esponja
300 g de fermento natural/ levain/ isca (se tem menos que isto, 
400 g de farinha de trigo branca orgânica (uso da marca Mirella)
300 ml de água filtrada
Para a massa do panetone
700 g da esponja (o restante, guarde como isca para o próximo pão ou panetone)
200 ml de leite integral morno
250 g de açúcar
20 g de mel 
1/2 colher (chá) de sal
700 g de farinha de trigo branca orgânica (ou um pouco mais, se precisar, para uma massa meio grudenta)
200 g de manteiga sem sal em ponto de pomada (temperatura ambiente, se for verão)
Casca ralada de um limão siciliano, 1 laranja baia e 1 limão taiti
2 ovos inteiros
2 gemas
600 g de uma mistura de uvas passas brancas e pretas, damasco e tâmaras picadas
100 g de casca de laranja em compota escorrida e picada (opcional - usei compota de limão zamboa
2 xícaras de vinho moscatel 
Manteiga para besuntar antes de assar
Modo de fazer
Pese 700 g da esponja (levain reformado e levedado) para usar no panetone

Faça a esponja: Comece no começo da noite, para continuar o pão no outro dia. Numa tigela coloque os 300 g de isca de fermento/ levain e junte a água e a farinha. Misture bem até conseguir uma massa homogênea. Dependendo da fluidez do seu levain, talvez precise juntar um pouco mais de farinha. Tem que ficar uma massa grudenta.  Cubra com plástico e deixe em repouso por cerca de 12 horas ou até a massa virar uma esponja cheia de bolhas, aerada. Use 700 g desta esponja (que aqui não foi misturado a mais nada além de água e farinha e portanto é o próprio levain reformado) e guarde o restante em recipiente coberto, na geladeira, para fazer em outro momento (eu guardo fermento sem reformar na geladeira por até mais de um mês) outro pão ou panetone se quiser. 

Bato na batedeira ou na máquina de pão

Sabor natural de panetone
A massa fica elástica assim

Faça a massa de panetone: numa bacia, coloque os 700 g de esponja da receita acima e junte o leite morno. Misture bem. Acrescente o açúcar, o mel, o sal e metade da farinha. Misture bem com colher de pau. Junte, aos poucos a manteiga, os ovos e as gemas. Vá colocando devagar a farinha restante e misturando com a colher. Quando possível, deixe de lado a colher e vá trabalhando a massa com as mãos. Bata bem - talvez suas mãos fiquem um pouco melecadas, mas é normal. Se tiver uma máquina de pão potente e grande ou se tem uma batedeira com gancho para massas de pão,  deixe este trabalho para uma delas (foi o que fiz).

Secando as frutas sobre um pano

Incorporando as frutas


Quando a massa estiver homogênea - deve ficar macia e grudenta e não firme como massa de pão, junte as raspinhas de cítricos e misture bem, cubra a bacia com plástico e deixe levedar (se estiver fazendo frio, coloque no lugar mais quente da casa - se for o caso, faça uma cabaninha ou coloque dentro de uma caixa e cubra com plástico preto) pelo tempo que for necessário - cerca de 6 horas foi o que a minha demorou. A massa deve ficar bem fofa. Deixe as frutas picadas (mas não a compota) cobertas com o moscatel por um dia para hidratar - as frutas absorverão todo o vinho. Espalhe as frutas, incluindo a compota picada,  sobre um pano limpo e seco para tirar o excesso de umidade.  Espalhe a massa com as mãos, achatando-a numa superfície enfarinhada e coloque sobre ela as frutas. Vá dobrando e achatando a massa até as frutas estarem bem distribuídas.

Massa grudente

Divida a massa em 6 partes e coloque em forminhas de papel, próprias para panetone, com capacidade para 500 gramas (compre em casa de artigos para festas).  Coloque uma bolinha de manteiga em cima  de cada um, apoie as formas sobre uma assadeira e deixe-os crescer, em lugar protegido, mais umas 5 horas ou até que a massa ocupe quase todo o volume das formas (não precisa, mas prefiro untar as formas, assim é mais fácil desgrudar depois).  Ligue o forno a 200 ºC e deixe pré-aquecer por 30 minutos (se chegar à temperatura antes, melhor - mas, se tem um forno doméstico e simples como o meu, melhor ligar no máximo e esperar até que esteja bem quente - estes fogões são muito imprecisos, mas cada um conhece o seu).  Leve a assadeira ao forno (confira se os panetones cabem em altura no seu forno - se não, abaixe a grade ou use formas mais baixas, como as de bolo inglês ou marmitas redondas - nestes casos, untadas e enfarinhadas). Deixe assar por 1 hora ou até que a superfície esteja bem corada.



Enfie dois espetinhos de bambu na base dos panetones ainda quentes e emborque-os apoiando os pauzinhos sobre os assentos de duas cadeiras, ou encaixados na abertura de uma gaveta, por exemplo - na foto se entende melhor. Deixe assim até esfriar totalmente  Desta forma, os panetones resfriam sem perder muita umidade e sem que esta se acumule no fundo da embalagem, molhando-a. Duram mais tempo macios. Embale-os em sacos plásticos (também à venda em lojas de festas). Se não for consumir ou presentear em uma semana, melhor congelar.
Rende: 6 panetones com cerca de 450 g

E nhac!

Ano que vem

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A equipe do Come-se foi dispensada para voltar  só no ano que vem. Obrigada, leitor e leitora, pela companhia prazerosa por mais um ano. E peço desculpas por nem sempre corresponder ao que espera de mim. Desejo boas festas e um ano novo de saúde, comida farta e boa para todos! - só não exagere porque tem mais gente pra comer e na próxima refeição haverá de ter mais comida.  Inté! 

A multidão éramos nós

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Chega uma hora que é a de voltar pra casa. Já estou naquele ponto em que não sei mais qual é meu melhor endereço. Se aqui em São Paulo ou no sítio em Piracaia. Fico triste de voltar, lá durmo tão bem. Depois re-acostumo. Também gosto daqui. 

Só sei que esta foi a primeira vez que passei tanto tempo no sítio. Foram dez dias com apenas uma saída para uma piracaia na pousada da Helenice. Fora as caminhadas por perto, a ida à cachoeira e à represa. Durante este tempo nos encontramos com alguns vizinhos e avistamos alguns poucos carros na estrada. O silêncio fazia com que o canto dos pássaros fosse ensurdecedor. Mas dormíamos com eles, de modo que acordávamos muito cedo, junto com o sol e totalmente repousados, restabelecidos. Ficávamos trabalhando na terra até o sol se por, ou melhor, desaparecer por completo deixando atrás de si um véu de escuridão, pois às vezes quando entrávamos em casa o relógio já marcava nove. Dormimos pouco mas compactamente, como deve ser. Sem distrações como televisão ou internet. Apenas música. Marcos é um DJ incansável e não deixa uma só atividade sem trilha sonora, desta vez com overdose de Vitor Ramil, Jeneci e Mosca, que não me desagradam nem um pouco. Acordamos com música de maritaca, tico-tico e o farfalhar atabalhoado do tucano. Depois de uns três bocejos estávamos inteiros para apreciar a manhã, tomar café olhando a represa, levar susto com gato pulando no nosso ombro e às vezes (uma só vez)  repousar com ele. Isto, sem querer dormir mais durante o dia e, o melhor indicativo de bom sono, sem olheiras.  Internet havia, mas nem cheguei a abrir o laptop ou o tablet. Via alguns emails no celular à noite e me programei para responder apenas às urgências - que, felizmente, não houve.  E assim, pudemos nos dedicar a plantar, colher, cozinhar e descansar a cachoça. Por isto, peço desculpas a falta de resposta nos comentários.  

Marcos e meu cunhado Darly construiram um viveiro com sombrite ganhado dos amigos Juliana e Flores, de Holambra. Inauguramos o espaço com 300 vasos - com mudas se apertando dentro deles (assim sendo, umas 500 mudas, penso eu, loucas pra irem pra terra).  Fora isto, fizemos replantios, podamos, mudamos plantas de lugar, multiplicamos espécies, lutamos com formigas, tiramos sapos do caminho, tiramos fotos de lagartas assustadoras, colocamos feijões pra secar ao sol e recolhemos ao escurecer, amarramos com arame o jirau do chuchu, conferimos o andamento da compostagem, guiamos as plantas trepadeiras, reparamos arames farpados etc. E os caseiros também. 

No Natal teve pernil que tinha sido encomendado no supermercado da cidade, o Goyos. E para o ano novo fizemos javali que foi caçado ali mesmo nas redondezas por um vizinho - o danado vinha comendo toda a roça do homem que conseguiu caçar, abater e dividir com a vizinhança. Comemos com cuscuz que os amigos Carol e Rodrigo levaram. Na virada, nada de fogos de artifício. Para não dizer que passamos na obscuridade e isolamento, iluminamos o momento com o velho e bom bombril incendiado e amarrado a um arame que, girado com força, produz faíscas lindas. E também fizemos fogo de verdade com tochas de folhas secas de araucária, como homens da caverna querendo fazer parte do barulhento e iluminado reveillon que víamos e ouvíamos do outro lado da água.  No fundo, não queríamos, não. 

De resto, o milharal já tem milho pra comer refogado. Eu havia esquecido como é bom o milho tirado da palha e cozido na hora. O cheiro da palha se mantém nos grãos e não tem nada que ver com o milho que a gente compra já pelado.  O pé de camapu (physalis), que ganhei da leitora Daniela, estava carregado e se beneficia do fato de ser ignorado pelas formigas. O mesmo se deu com os pés de acerola (também presentes da Daniela), que estavam apinhados de frutinhas verdes e vermelhas. Colhemos ainda alguns araçás vermelhos. E as goiabas estão por ficar prontas. As morangas estavam abóboras esparramadas pelo chão. O mandiocal está à toda, assim como as pimenteiras. O maracujá está lançando flores e frutos. Aliás, encontrei uma flor de maracujá branca no caminho da cachoeira. E nesta época há muitos moranguinhos silvestres na beira da estrada, onde também encontrei uma intrigante framboesa verde que, quando bem madura, continua verde amarelada e com sabor de uva.  

E é isto, a vida continua, o Come-se também. Não ainda, pois amanhã vou pra Serra da Canastra visitar Dete, Zé Mario, Zé Pão, Romilda.  Até a volta! E depois, seguimos a rotina. 

Fique com algumas fotos que devem valer pelo registro (em breve voltarei a ter uma câmara decente -  desde que deixei cair a máquina do bolso no vaso sanitário - prestes a ser usado -, tenho feito fotos com celular) 

Morangas maduras

Bolinho de chuva num dia de chuva, feito pela Ananda

Biju não comeu o ninho. Os feijões serão replantados

Quatro tipos de feijões secando. Mais dois serão colhidos

Araçás e acerolas

A Tapioca some, mas Biju está sempre com a gente

Mandiocal e couves

Os milhos colhidos

A multidão éramos nós

Vários deles estão sempre por perto. Lindos!

Camapus

Lulo. As folhas estão maior que meu antebraço

Biju pula na gente e dorme no ombro

Marcos terminando o viveiro

A flor de maracujá do mato



Lagarta que queima

Fogo que arde; Feliz Ano Novo! 


Entre comida e fauna. Serra da Canastra

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Cansei de falar de comida. A coisa tá ficando chata, glamourosa demais, conceitual além da conta, marqueteira a não mais poder e desmesuradamente cara. De hoje em diante vou falar de pássaros e bichos soltos e vivos.

É lógico, tudo isto é mentira, afinal um outro mundo é possível e eu não vou fugir da minha paixão.  E é deste outro mundo alimentar que vou continuar falando. Da comida de que gosto, da comida que as pessoas comem em suas casas ou nos restaurantes de verdade, da comida gostosa que alimenta todas as fomes, desejos e sentidos. Vou falar da comida da Serra da Canastra amanhã, mas por hoje fique com a enrolação das fotos dos bichos de lá.

Se você vai pra Serra esperando silêncio, esqueça. Desde os primeiros raios de sol, é um imenso barulhinho bom de maritacas e curicacas, canarinhos, graveteiros e marias-pretas, siriemas e tucanos ao longe. Ao redor da casa, galos e galinhas ciscando, cachorros quase quietos sob ou sobre bancos, cobras em barrancos e, claro, bezerros apartados berrantes que colocam a gente cedinho de pé pra ir ao curral segurando nas mãos uma canequinha de café sobre a qual se espirra o leite espumoso e quente direto da fonte.















Fubá, cachorrinho do Zé Mário aprendendo a descer do banco

Fubá, do Zé Mário e João Vitor, filho do Zé Pão e Romilda



   

Serra da Canastra. Casa dos produtores de queijo Zé Pão e Romilda

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Há dois anos já falei um pouco sobre a rotina na casa desta família: http://come-se.blogspot.com.br/2012/01/na-casa-do-ze-pao-e-da-romilda.html

Mara Salles (chef do restaurante Tordesilhas) e eu fomos de novo nesta mesma época de começo de ano. Daquela vez caía água de derrubar pontes. Agora o tempo era seco de desacorçoar, de secar fontes, de enrolar as folhinhas do arroz plantado,  fazer pedras arderem sob nossos pés.

Em compensação, o céu estava muito azul e a água do córrego que passa a poucos metros da casa tinha água cristalina que continuava a arredondar as pedras do caminho.  Romilda e Zé Mário não mudam os ponteiros do relógio para o horário de verão, de modo que continuam a se levantar na hora das galinhas e das vacas. Ainda é escuro quando o casal começa as tarefas.  Romilda passa o café, põe fogo na lenha e já deixa o feijão ir cozinhando devagar. Acompanha o marido ao curral onde o trabalho começa iluminado por fraca luz acesa enquanto a claridade do dia  não chega. Invariavelmente Romilda toma um cafezinho em pé, acompanhado de um pão de queijo. No curral anda de lá pra cá com um banquinho de um só pé atado ao corpo para facilitar o agacha-e-levanta exigido na amarração dos pés das vacas, trabalho que se estende até a hora do almoço, quando terminam a ordenha de quase 50 vacas.  No meio da jornada, o trabalho é interrompido para o lanche. Romilda leva para Zé Pão bolo, pão de queijo e uma caneca de alumínio bem areada com café doce. No curral, Zé Pão completa a caneca com leite direto da vaca, que faz espuma densa que nunca vi em cafeteria alguma. Ele se senta em cócoras amparado pelo pé solteiro do banquinho que também carrega atado ao corpo, molha seu pão de queijo com um pouco de leite e come sem pressa. De volta ao trabalho, para sempre que necessário para levar o balde cheio de leite até a casinha de queijo.

Na hora do almoço, é coisa rápida. Um arroz sempre fresco, o feijão cozido lentamente, um refogado de verdura ou abobrinha, jiló, quiabo, o que tiver na horta. O tempero está bem ali, é só puxar uma cabeça de alho da trança que repousa sobre o fogão de lenha com toque defumado. Uma manteiga de porco, nome da banha, e quem sabe uma cebolinha.  Não é sempre que tem tomate nem pimentão, nem cebola. Colorau nunca usam.Pimenta-do-reino, talvez.  E tudo fica tão bom.

João Vitor, o menino, continua a não gostar muito do trabalho com o queijo. Quer ser outra coisa, mas não sabe bem o que. Gosta de fotografar, reconhece a flora e a fauna de Canastra, foi um ótimo guia, sempre doce, atencioso.  Incentivei-o a começar a fazer mudinhas de espécies nativas. São tantas flores raras, frutos pouco conhecidos, plantas medicinais e aromáticas. Ele fica um pouco entediado como qualquer menino de sua idade de passar os dias de férias ali sem comunicação, longe dos amigos e da cidade. Aliás, quem tiver um lap top sem uso ou um i-phone ultrapassado e quiser fazer uma boa ação, posso intermediar a doação (nenhum outro celular dava sinal ali, mas meu i-phone pegava e ele poderia usar internet, ler coisas interessantes, pesquisar).

Depois do almoço é hora de ir pra casinha fazer um dos mais deliciosos queijos da Canastra (a produção toda é vendida para queijeiro, sinto muito). Na mesa da cozinha há sempre uma bandeja de alumínio com garrafa térmica de café adoçado no centro, frequentemente renovado, rodeada por copos de vidro. Um prato com queijo está sempre presente para os de casa e os que vão chegando, se abancando, esticando a prosa, alternando café e queijo.  Mas nada atrapalha a lida que vai até o entardecer, de domingo a domingo, trabalho sem fim. O dia ainda pode terminar com pães de queijo quentinhos, grandes e crocantes.

Recolhemos soro e pingo, fizemos experiências na cozinha, ajudamos no almoço, na pia, Mara fez barreado,  tomamos banho de cachoeira, fomos a pé pra casa do Zé Mário e nos lavamos no rio cuja água parece igual, mas nunca é a mesma.  Dois anos se passaram e a vida ali parece seguir a mesma toadinha, dia após dia. Só parece.


Amora verde, com gosto de uva 

Driblando a pouca luz pra ver o barreado feito pela Mara

Depois de um dia de cozimento lento na lenha. Com temperos da Canastra

Erva doce, comum nas hortas

Secador de louça engenhoso

Arroz, feijão, frango caipira, mandioca, refogado de legumes, bucho
de porco recheado

Um pouco do que tem na horta: chuchu, abobrinha, quiabo

Mandioca não falta


Alho em cima do fogão de lenha. Defumando devagar

Capricho

Apesar do pouco tempo para o trabalho doméstico, Romilda deixa sua
cozinha sempre assim, arrumadinha

Planta minúscula do tamanho de minha mão. Há centenas assim

João Vitor

Mara anotando a receita do pão de queijo

Mara guardando o soro do queijo canastra

Bolos de fubás


Romilda troca de botas para voltar ao curral com o lanche do Zé Pão


O dia amanhecendo e o coador já foi usado e lavado 

Antes de ir pra lida

João Vitor:  hidromassagem no córrego


Zé Pão, queijo, queijo

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Sobre o Zé Pão, a Romilda e João Vitor, esta família de produtores de queijo em São Roque de Minas, na Serra da Canastra - MG, já falei um pouco ontem e dois anos atrás, nestes posts: http://come-se.blogspot.com.br/2014/01/serra-da-canastra-casa-dos-produtores.html e 
http://come-se.blogspot.com.br/2012/01/na-casa-do-ze-pao-e-da-romilda.html

Mas sempre há um pouco mais a dizer. Zé Pão é uma figura quieta, gentil e trabalhadeira que quando a gente acorda já está no curral tirando leite, ainda escuro. Se vai a um compromisso à noite na cidade, uma reunião por exemplo, pede desculpas, se despede mais cedo que todo mundo e vai pra casa dormir porque no outro dia tem que acordar às 4 e meia, às vezes até antes, se não não dá conta de terminar a ordenha até a hora do almoço. Sorte que tem uma companheira que acompanha. A forma como trata a mulher Romilda - são casados há mais de 30 anos -  deveria ser um exemplo a muitos marmanjos destemperados que se dizem educados na cidade grande. É Bem pra cá, Bem pra lá.  Se ela pede qualquer coisa, mesmo que ele esteja no meio de um trabalho, reconhece na hora a urgência da empreita e se apressa na execução, com cara boa, sem reclamar, com gosto. Pode acender o fogo pra mim, Bem? É pra já, ele responde e sai em passo apressado. Acabou a água? Lá vai ele conferir as conexões do cano. A recíproca é igual. Zé Pão se senta num banco ao lado da mesinha onde ficam o filtro de água e o pequeno tonel de cachaça. Dá umas bicadas, mas só depois que terminou tudo, no fim da tarde, sem contudo perder a sobriedade. Se o menino faz qualquer comentário maldoso sobre o hábito, Romilda é a primeira a ralhar para defender o marido, "respeita seu pai, menino".  Para o menino, ele faz todos os gostos. 

De vez em quanto Romilda pega um copinho de café e  vai até a janela enquanto bebe e pensa na vida olhando longe. Zé Pão se aproxima, a abraça acompanhando o olhar dela e fala "vai chover" ou "a serra tá bonita".  Uma vez ela já ficou muito chateada com ele com a frase dita numa hora de irritação de um dos dois:  "Vai cangar grilo" teria xingado  Zé Pão como quem diz vá pentear macaco, catar coquinho na ladeira ou enfim não enche. Ela virou as costas ofendidíssima e o deixou só. Logo deram os dedinhos certamente.  Ela diz que não moraria no Senegal porque não ia aceitar dividir seu homem com nenhuma mulher, não, como é a prática islâmica por lá. E que não gostaria de ter morado na cidade porque não encontraria em lugar algum homem como aquele seu Zé Pão da Canastra.  Enfim, eles se amam de verdade e se tratam com carinho e respeito. 

Quando dá oito e meia, nove horas, Romilda para o que está fazendo no curral, vai até a casa, coloca café doce até metade de uma caneca de alumínio areado, uns pedaços de bolo e pão de queijo numa vasilha e volta para junto do marido que completa a caneca com leite esguichado direto da teta da vaca. E ele sabe qual delas tem o melhor leite. Sai quente, espumoso, cheiroso, como nenhuma máquina ou estabilizante são capazes de produzir. Zé Pão se acocora sobre o banquinho de um só pé e vai despejando leite aos pouquinhos sobre a bocada de pão a ser mordida. Molhar o pão de queijo no leite seria o esperado, mas talvez não o faça para não comprometer a pureza. Da próxima vez pergunto. 

Descobri que ele toma o lanche quando chegou à metade das vacas ordenhadas. São quarenta e tantas, na mão. Quando o recipiente de 60 litros está quase cheio ele para, coloca aquele peso todo no ombro e anda até a casa de queijos. No intervalo para o almoço, senta-se à mesa e se serve de arroz bem branco, ainda saindo vapor dos furinhos formados na superfície, feijão de caldo grosso perfumado a alho e cozido a baixa temperatura durante longas horas da manhã no fogão de lenha, carne de porco ou frango caipira na panela de ferro e legumes refogados (é disso que eu gosto, ele diz). Depois do almoço não dá pra parar muito, não. Logo é hora de voltar ao trabalho na casa de queijo. Os dois trabalham juntos e quietos e quando se falam é com sorriso no rosto. Reviram o queijo do dia anterior, separam o pingo, fazem novo queijo, higienizam tudo e deixam o ambiente em ordem para o outro dia. 

E eu ali com meu braço espichado empunhando uma canequinha com pouco café para completar com leite. E como gostamos destes queijos canastras tão trabalhosos. Quem quiser provar o queijo do vizinho e parente Zé Mário, sobre o qual falo depois, tem lá na A Queijaria.  Do Zé Pão, tem pra vender não. 

Umas fotinhas de lá (e, por favor, autor do  https://www.facebook.com/vendadaroca, não roube as fotos para postá-las sem crédito como se fossem suas, não, que é feio e eu posso ficar brava) 

Zé Pão tira leite 

Enche minha caneca e a dele

Toma seu lanche molhando o pão de queijo com leite

A casa de queijo

Os panos usados para escorrer o soro lavados secando ao sol
Minha bagagem da viagem: queijos do Zé Pão e do Zé Mário (o com pano
branco é meu:  fiz com pingo da Canastra e leite de Piracaia) maturando
naquela queijeira improvisada feita pelo Zé Marcos aqui de casa








Canastra. Fazenda do Zé Mário e da Valdete

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Se quiser ver e ler sobre a primeira vez que estive na fazenda do Zé Mario e da Valdete, lá na Serra da Canastra, clique aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2012/01/queijo-da-canastra-na-fazenda-do-ze.html

Verá, pelas fotos, que pouca coisa mudou na rotina desta família produtora de um dos melhores queijos da Canastra - já abocanhou prêmio de melhor queijo artesanal mineiro duas vezes e só não ganhou mais porque não foi inscrito novamente dando chance aos outros. Este, sim, pode ser encontrado aqui em São Paulo (na loja A Queijaria). 

Apesar da secura do tempo que faz Zé Mário evitar olhar para a plantação de arroz - diz que fica triste porque as folhinhas ficam enroladas para se preservar -, a pastagem continua verde, as vacas seguem sadias, taioba sempre tem, um cacho de banana três quinas pendurado perto da casa nunca falha, uma abobrinha ou outra, o quiabo e o jiló, mesmo que não fartos, dão conta para o lobozó. E a mandioca está sempre ali debaixo da terra, eterna provisão. Na despensa não faltam polvilho para as quitandas e a carne de porco conservada na manteiga de porco, o verdadeiro fast food caipira, o nosso confit.  E tem os queijos maturados e sobras frescas da produção do dia, sempre à mão para completar a mistura,  que conta também com ovos e galinhas que ciscam no quintal. 

Dete é metódica e zelosa no trabalho e na casinha só ela entra, toda paramentada, com higiene impecável. Não é à toa que é um dos mais caros queijos da Canastra. Mas já falei tudo isto no post citado lá em cima. Enquanto ela terminava o trabalho, fomos adiantando o almoço, colhendo mandiocas, picando a taioba e os legumes. Como a comida da Romilda, não há muito tempero além da banha, do alho e da cebolinha. Não precisa de mais nada. A leve fumaça da lenha dá o toque final aos pratos que encantam pela simplicidade e sabor. Não há ali pratos requintados no desenho, mas a técnica é apurada, a cozinheira, habilidosa e os ingredientes, de primeira.  Não tem como comer e não repetir. 

Desta vez, não pousamos lá. Estávamos hospedados na casa do Zé Pão e da Romilda que é sobrinha da Dete. Decidimos ir a pé (mesmo porque não havia outra possibilidade) até a fazenda do Zé Mário que fica a uns 4 quilômetros, serra abaixo, num lindo vale. Saímos muito cedo para não pegar sol. João Vitor, filho dos nossos anfitriões, foi nosso guia e, para descer, todo santo ajuda. Na hora da volta, porém, lá pelas quatro da tarde, pegamos um sol de meio dia, de castigar. Vinha curva, virava curva, e a estrada só fazia subir, subir. E nem um diabo velho montado num trator que fosse passou para dar carona. Nem uma boa gameleira surgiu na beira da estrada para nos fazer sombra. O jeito foi ir fazendo pequenas paradas nas poucas sombras de barranco que encontrávamos. Demoramos mas chegamos e a visita valeu cada gota de suor. 

Apesar da fama (Zé Mário e família já apareceram no filme O Mineiro e o Queijo, em entrevistas e, recentemente, no Globo Repórter), a família continua a viver com simplicidade e decência, sem ambições. Zé Mário filosofa, por exemplo,  que não acha certo dar soro para vaca - não acha ético a vaca beber o que ela própria produz. Diz também que o ideal é que cada vaca produza o menos possível, pois, coitadinha, como pode carregar um úbere tão pesado? Então, ali, não tem essa de incrementar a dieta do rebanho com ração aditivada para que as vacas fiquem bombadas, não. A ração que recebem por dia - cerca de 2 litros de milho produzido ali, é só para fazer o manejo no curral na hora da ordenha e servir de veículo para medicações como o remedinho homeopático que usam para evitar carrapatos.  Ali, segue-se o lema de que nada demais é bom, nem dinheiro demais presta, como Zé Mário disse recentemente no Globo Repórter (o vídeo pode ser visto aqui

Enquanto estávamos lá chegou o funcionário do Fernando, da loja A Queijaria, que vai buscar pessoalmente as joias. E o bom é que a relação entre produtor e vendedor é pra lá de justa. Almoçamos todos juntos. Juntou-se a nós uns produtores de queijo Canastra de Medeiros - que provei ontem na casa da minha irmã, maravilhosos -, que chegaram para também mandar a encomenda para a Queijaria. Então, se quiser comprar o queijo do Zé Mário na loja, já vá sabendo que não é barato e que pratica-se aí um comércio justo em que a pequena produção  - pouco mais de uma dezena de queijos por dia é produzido ali - é resultado de muito trabalho e excelência que de forma alguma faz destes pequenos fazendeiros gente rica de dinheiro. Mas de saúde, de alegria, de ética e bons costumes, ah, disto tudo há uma riqueza imensa.  

Bem, aqui algumas fotos:

Mara e Ivo até tentar arrancar a mandioca
Mas Zé Mário chega de mansim

E num instantim mostra como é que se faz


A mandioca solta a casca assim
  
Desta mesma mandioca se faz o polvilho que faz o biscoito

Melão de São Caetano que enfeita a horta

Zé Mário gosta de filosofar sobre a vida e os costumes

Pimenta é sempre no molho para acompanhar a comida. E ovos frescos.

Uma sobra de queijo do dia vai pra panela no lobozó

Suco de limão cravo com capim santo,  minha contribuição. Pimenta e angu

Taioba, abobrinhas e jiló da horta


Ô comida boa que faz esta Dete

Carne de porco, mandioca, feijão de dois tipos

Taioba e carne de porco
Comida simples que enche o prato
Zé Mário e Dete vivem lá embaixo

Mas vamos lá
Na hora de subir...
Onde encontrar o queijo do Zé Mário em São Paulo:  A Queijaria: Rua Aspicuelta, 35 - Pinheiros - São Paulo - SP - Telefone: (11) 3812 6449

Precisa-se de um notebook

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Antes que me questionem, não, não, o João Vitor não pediu para eu pedir pra ninguém. Pediu pra eu ver o preço de um notebook usado, de um i-phone usado, de i-pad usado. O aipim novinho ele tem lá e pode oferecer cozido aos visitantes.  Ele vive só com os pais, Zé Pão e Romilda, os produtores de queijo sobre os quais falei aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2014/01/serra-da-canastra-casa-dos-produtores.html. Eles vivem e produzem queijo numa fazenda da qual não são donos. 

Está certo, quando a gente vai lá é uma delícia, só aproveita a parte boa. Quando a visita vai embora, o trabalho duro continua e o menino, de férias, fica um pouco entediado por estar tão longe da cidade, de outros jovens e sem comunicação.  Ele gosta de tecnologia, de fotografia, entende um pouco, mas não tem como praticar.  Os celulares não pegam ali, mas meu i-phone, com chip Vivo, tinha bom sinal. Ele quer comprar um, mas acho um absurdo de caro, para isto teria que vender uma vaquinha ou mais. E assim fariam menos queijo, já vendido a preço tão baixo. A família vive com muita dignidade, porém, qualquer coisa fora do orçamento exige um sacrifício extra .  E, sim, ele prometeu que vai ajudar mais os pais, fazer por merecer. Agora, mesmo que vá enchendo o cofre porquinho, isto pode demorar e desanimar. 

Tirando muda de bambu verde-e-amarelo para eu trazer
Na cozinha de casa (a casa e a fazenda são do padrinho, para quem os pais
trabalham)

Jogando pedra no rio

Como sei que muito leitor ou leitora vira e mexe troca de equipamento porque precisa se atualizar, ganha de presente ou simplesmente não resiste ao último lançamento, peço aqui a doação. Não quero fazer nenhum favor com chapéu dos outros, não. Se eu pudesse, eu mesma compraria. Posso passar o endereço e a pessoa manda diretamente para o menino. Ou então, que vá dar um passeio à Canastra, entrega o presente ao João Vitor e de quebra leva um dos melhores queijos da Canastra vendido por aí sem identidade. Também vou mandar uns livros (ele nunca leu Harry Potter e gostaria de ler).  Enfim, a vida no campo é boa, mas ter contato com o mundo também ajuda a reforçar este valor e saber que é possível viver longe da cidade sem ficar isolado.  Ele disse que adoraria ler, por exemplo, o Come-se. Então, veja aí se não tem um notebook encostado. 

Meu email: neide.rigo@gmail.com 

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