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Outubro é natal

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já é quase natal, os supermercados estão abarrotados de panetone, o hotel castros na cálida goiânia já se vestia de pinheiros invernais, tudo acontece em outubro, como se o ano pulasse do carnaval direto pra outubro, como se o ano estivesse por um fio com o natal forçando a porta. tanta coisa teria pra falar e anunciar aqui no blog, mas cadê o tempo?, alguém sabe onde ele se escondeu? tem a bienal de arquitetura - dei uns pitacos pro pessoal do fruitmap, troquei brotos por sementes, mas sequer fui ao centro cultural são paulo visitar a cozinha. tem a mostra de cinema que fico triste em perder quase toda, teve a criação do convívio do slow food piracaia, tem um tanto interminável de ações do slow food são paulo e muda-sp, teve a festa gastronômica de goiânia com tanta novidade, com o boi curraleiro, a visita a uma fazenda com 35 mil pés de jabuticabas onde me entupi delas, tanta cúrcuma, banana marmelo, ingá de bolinha, muda de baunilha do serrado, tanta aula boa, com mara salles, ana soares, neka mena barreto, e os alegres e competentes chefs goianos, tem a feira de trocas de sementes que acontecerá na próxima sexta em Piracaia e vou estar lá. depois que voltei de uma semana em goiania, teve palestra que dei no dia mundial da alimentação no sesc campinas sobre pancs, teve oficina de vegetais pra cozinheiras de instituições atendidas pelo mesa brasil no sesc itaquera e ontem, sobre temperos, no sesc campinas de novo. e na próxima quarta, também no sesc campinas, vou falar sobre pancs. e teve um pepino amarelo lindo que colhi no sítio, teve o plantio de milho crioulo com sementes que foram do meu avô quando moço, o bolo de caneca de saquinho de milho que não tem milho, o tupinambo que brotou, o jacatupé que comprei pra plantar em um mercado de goiânia, o gatinho que aprendeu a subir e descer do telhado, a pitangueirinha que salvamos em galho seco abandonada na praça e já está toda folhosa, as flores de sabugueiro que esperam cheirosas ser colhidas para um xarope, e tanta flor, tanto fruto, tanta foto para salvar,  tanta abobrinha, tempo pra fazer abobrinhas, tempo para falar de abobrinhas, e abobrinha também objeto direto: falar abobrinhas. outubro tá quase terminando e ainda hei de ter tempo (alguém o tem sobrando pra trocar por idéias inúteis?) de voltar com força e vontade a contar tudo aqui. tenha paciência fiel leitor e leitora, que eu volto, já é quase natal, carnaval, tudo volta ao normal.

Ora-pro-nobis. Coluna Nhac do Paladar, edição de 24/10/2013

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Pronto, estou voltando. Antes, porém, aqui está a coluna de hoje do Caderno Paladar. Lá no blog do Paladar, também.  

Já falei inúmeras vezes no Come-se desta verdura dadivosa, mas não custa reforçar para os que chegam.  E o legal é que a planta é de graça. Você planta numa praça, no seu jardim, na chácara do seu tio, e nunca mais ficará sem alimento. 

Como diz o Jeneci, o melhor da vida é de graça. Mesmo assim, muita gente não quer. Prova disso é que numa das últimas podas que fiz fiquei (como sempre) com dó de jogar fora galhos vingadouros. Fiz várias mudas pra levar pro sítio, mas ainda sobrou pra dar. Então, o que fiz foi limpar os galhos, tirar o máximo possível dos espinhos e deixá-los prontos pra plantar. O problema? Não tinha a quem dar. Decidi, então, deixar na calçada, por onde passam muitas pessoas, junto a um cartaz com o nome e orientações, para que pegassem. Minha surpresa? Ninguém curtiu. Ô gente desconfiada.  Plantei tudo por aí. 



O texto para o caderno Paladar: 

São tantas coisas para dizer sobre a Pereskia aculeata, mas o principal é que suas folhas são gostosas, nutritivas e fartas.  É só a chuva dar sinal e novos rebentos em abundância vêm se juntar ao mar de folhas verdes, como um caviar num berço de espinhos – ou melhor, acúleos, o que na arte de espetação dos dedos dá no mesmo. Estes brotos com espinhos ainda moles são avermelhados, delicados e deliciosos. Outra iguaria produzida pela planta, mais comum em climas quentes, é o fruto, que em inglês é chamado de barbados gooseberry e se presta para o feitio de geleias. Sem falar nas flores atraentes e super melíferas. Tudo isto faz desta planta uma verdadeira fábrica de alimento. 

Para a nossa sorte, este cacto originário da América tropical é um dos mais primitivos, afinal os evoluídos perderam as folhas ou as tem atrofiadas. Se o clima não é tão quente, ele continua com suas folhas o ano todo e elas são do tamanho das de laranjeira ou até maiores. São gordinhas, de um verde escuro brilhante e, como características de sabor, não têm picância, acidez, pungência ou amargor, que costumam ser determinantes para a rejeição de certos alimentos. No caso destas folhas, a única falha de caráter, na opinião de alguns, é a mucilagem como a do quiabo – por isto é chamada também de quiabenta. Mas o que seria seu defeito a torna agradável à mastigação - crocante e úmida quando crua, macia e escorregadia quando cozida. Qualquer criança come e quer mais, não só pelo sabor, mas pela sensação. Aliás, crianças deveriam mesmo comer ora-pro-nobis com angu de fubá, uma combinação tradicional e perfeita,  já que as folhas são ricas em lisina, um aminoácido que falta na proteína do milho e é essencial para o crescimento ósseo.

Em Sabará, Minas Gerais, onde o frango com quiabo é um clássico,  há até uma festa dedicada à verdura, que pode ser apreciada em pratos salgados de toda natureza: omeletes, sopas, recheios, cremes, saladas, massas etc. Agora, basta ter umas folhinhas nas mãos que a gente fica imaginando usos.

Ultimamente a planta tem despertado interesse de pesquisadores de todo o país por suas propriedades nutricionais e terapêuticas comprovadas.  Além de ter mais proteína e ferro que a maioria dos outros vegetais de folhas,  sua mucilagem é rica em arabinogalactana, um biopolímero com fama de lubrificar e proteger a mucosa do estômago.

Só para que saiba, caso tropece nos seus ramos espinhosos por aí, a propagação da planta se dá facilmente por estaquia. É só espetar um pedaço do galho na terra. Se tiver onde plantar, basta cuidar para que não cresça desordenadamente formando uma barreira de espinhos intransponíveis, e terá comida o ano todo. Em certos países, ora-pro-nobis é praga. Sorte que aqui a gente cozinha e nhac.





BOLO DE ABÓBORA COM  ORA-PRO-NOBIS

5 ovos
400 g de abóbora madura crua
200 g de mandioca crua
50 g de manteiga
1 colher (chá) de fermento químico em pó
1 colher (chá) de sal
100 g de queijo meia cura ralado
40 folhas de ora-pro-nobis lavadas e secas

Bata no liquidificador os ovos com a abóbora picada em cubos. Junte aos poucos a mandioca picada. Bata bem até formar um creme homogêneo.  Junte a manteiga, o fermento e o sal e bata para misturar. Passe a massa para uma tigela e junte o queijo (reservando cerca de ¼ para polvilhar). Unte duas formas de bolo inglês, distribua entre eles a massa, alternando com folhas de ora-pro-nobis, formando camadas. A massa deve ficar baixa na forma – por isto o uso de duas formas. Polvilhe com o queijo ralado reservado e leve ao forno para assar em temperatura média por cerca de 30 minutos ou até dourar. Espere esfriar, desenforme e sirva frio ou gelado com salada de brotos de ora-pro-nobis com outras folhas verdes (algumas folhas de ora-pro-nobis podem ser batidas juntos com o vinagrete).

Rende: 20 fatias (cerca de 8 porções)

Nota: se quiser comer as fatias reaquecidas,  polvilhe queijo ralado sobre sobre os lados cortados e doure dos dois lados em frigideira antiaderente.


Mala cheia de Goiania 2

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As coisas começam a se acalmar por aqui e vamos fazer de conta de voltei ontem de Goiânia, onde participei da Festa Gastronômica Nossa Pitada. Só para não sentir que o assunto já esfriou, pois ainda ferve em mim a vontade de ir pra cozinha ou pra terra lidar com tudo o que pesou na mala. E o farei com o que sobrou. 

Quem sabe eu possa flambar com aguardente de jabuticaba a banana-marmelo caramelada no mel de favas de bolotas da Chapada das Mesas. Ou misturar o mel de florada de jabuticaba com o açafrão-da-terra de Mara Rosa para limpar a voz. Ralar o inhame roxo comprado no Mercado Municipal na banca do Seu Agostino, fazer mingau e comer com a farinha de mandioca bijuzada. E enfeitar um bolo de merengue bem branco com as rosas de coco da Dona Doceira. Plantar a baunilha do Cerrado para com suas favas aromatizar um doce de leite bem gordo. Ou comer o doce de leite já pronto embalado em palha de milho do mercado. Plantar o chuchu, triturar a cúrcuma já cozida e seca e usar com fatias finas das chalotinhas para temperar o chuchu verde forte que já brota. E levar também pra terra jacatupé, mangarito e cará moela, todos da banca do seu Agostino, para que cresçam, se multipliquem e encham de comida minhas cumbucas pretas de barro - lá usadas para assar empadões. Ou fazer sorvete com a banana marmelo para comer com compota de jabuticaba. Ou beber a pinga acompanhada do cajuzinho do Cerrado com sal. Ou não. Isto tudo se fosse ontem, pois pelo menos o cajuzinho já comi todo de uma só sentada, que eu não sou de aço pra resistir a tanta tentação.  

Dona Brazi, hoje, na Livraria Cultura

Festa Gastronômica Nossa Pitada, em Goiania: Assunto mato

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Prato da Neka: metade de uma tangerina coberta com bulbo de  funcho em
tirinhas, folhas de erva-doce, cabelinho fresco de milho e flocos de casca
de jabuticaba
Uma coisa legal do festival de gastronomia em Goiânia foi que pelo menos entre nós de São Paulo, Ana Soares, Mara Salles, Neka Mena Barreto e eu, uma ajudou a outra. Tivemos aulas separadas, em dias distintos, então pudemos contar com a ajuda e pitaco das outras. 

Logo no dia da chegada, Neka combinou uma visita a uma horta de orgânicos, na Fazenda Santa Helena, perto de Goiânia. Fui junto porque queria colher, quem sabe, mais caruru, beldroega e o que mais aparecesse crescendo à toa nos canteiros. Neka também queria verduras e alguns improvisos. Pois fomos com Adriana Lira, a proprietária, e nos divertimos. 

Para minha alegria e da Neka também, encontramos muitas verduras não convencionais. Neka é como eu, também adora um matinho e tudo leva à boca. Na saída ainda cismou de enfiar o pé no charco para pegar taboa. - Você vai usar? perguntei. - Eu não, é pra você! respondeu.  Confesso que já tinha muito assunto e o palmito da taboa deixei para uma próxima vez. 





Broto de baru, de milho, frutas secas, cagaita. Pré-preparo da
aula da Neka

É de comer?

Neka catando taboa com o pé na lama
Quem vê depois a aula toda linda, não imagina as aventuras que enfrentamos. A aula da Neka, a inaugural,  foi linda, cheia de verdes, brotos e frutas. Tudo cru. A minha teve pré-preparo um pouco diferente, pois queria mostrar as ervas muito frescas e isto só seria na sexta-feira. Ainda era terça. Já é mato, se for feio quem vai se interessar? 

Nos dois primeiros dias fiquei num hotel menor, com banheiro apertado e simples. Mas era ali que estavam as 21 pancs (plantas alimentícias não convencionais) plantadas em vasinhos de jornal que levei de São Paulo numa operação pra lá de complicada que começou dias antes, com a coleta e identificação e depois com as estufinhas individuais para não murcharen no avião. 

Bem, enquanto todos ficaram no bar Gloria, preferi ir pro hotel dar um jeito logo nas plantas colhidas na Fazenda Santa Helena que já estavam murchas depois de rodar o dia todo de van sob sol quente.  Eu queria dormir cedo. 

O que me esperava era uma caixa de verduras, beldroegas, carurus, tomatinhos do mato, pimentas e outras espécies,  arrancadas se possível com muita terra e raiz. Era só lavar uma a uma, mergulhar as folhas em água para tentar  reidratar, colocar em sacos plásticos com ar para fazer um microclima, fechar hermeticamente e deixar num canto fresco. Parecia fácil, mas as condições sobre a pia escura do banheiro eram precárias. Eu, atrapalhada, mesmo com o maior cuidado, deixei entupir o ralo e a água com barro foi se acumulando.

Conchinha com a palma da mão, retirada do barro com os dedos, nada adiantou. Tive que tirar a água com saco plástico e jogar no vaso, já começando a sujeira, até que consegui esvaziar a cuba. O chão do banheiro começou a ficar enlameado. Achei que tinha resolvido com a retirada de toda a terra, mas qual nada. Tive que usar uma pinça pra desobstruir o ralo e aí foi saindo coisas que não eram minhas - fio dental, grampo, cabelo.... Com o ralo limpo, liguei a torneira, a água começou a fluir devagar e logo se acumulou de novo. Resolvi desenroscar um copinho que fica embaixo da cuba - certamente a terra estaria parada ali. Antes, porém,  tive que esvaziar o lixo para usar o cesto como balde para a água que escorreria. Abri a rosca e splash. O balde era pequeno e a água lameada lavou o chão.  A esta altura,  o pessoal que tinha ficado no Glória certamente já estava dorminho e eu ali com o banheiro inteiro pra limpar, incluindo box, espelho, azulejos, vaso, tudo sujo de lama. Papel higiênico já quase não tinha mais. Cadê rodo?, não tem. Cadê tapete-toalha? não tem. Terminei de limpar as verduras e com o chuveirinho lavei tudo. Fiz a mão de rodo e minha toalha reserva de pano de chão. Lavei também a caixa de plástico da fazenda e coloquei as verduras lavadas e ensacadas dentro. No fim até gostei de lavar o banheiro com sabonete. Ficou tudo limpo, reluzente, cheiroso, com a toalha lavada estendida pra secar. Tivesse um pedaço de palha de aço teria deixado aquilo quase tão limpo quanto o branco banheiro do Castros, para onde fomos depois, quando já não precisava daquela banheirona que teria se transformado numa piscina de barro.  Pelo menos deixei o hotel com banheiro mais limpo e pia desentupida. 

Sorte que tudo aquilo era só para colocar na mesa, com finalidade pedagógica,  já que a verdura que usaria na aula tinha levado de São Paulo higienizada dentro de uma vasilha.  

Fui dormir de madrugada decidida a acordar bem cedo para a vista ao maior jabuticabal do mundo. Amanhã eu conto. Ah, as verduras estavam lindas no dia da aula.  



Festa Gastronômica Nossa Pitada, em Goiânia: O maior jabuticabal do universo

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Pode parecer exagero, mas de fato visitamos o maior jabuticabal do universo. Pois do Brasil é com certeza e só aqui.  O passeio foi promovido pelos chefs Rafael Correia e William Carvalho, que dariam no festival uma aula só sobre jabuticabas.  A Fazenda e Vinícola Jaboticabal fica em Nova Fátima, perto de Hidrolândia, não muito distante de Goiânia e dispõe de 35 mil pés de jabuticabas. Depois de um estresse hídrico naturalmente sofrido durante a estiagem (de pelo  menos dois meses), o pomar começa a ser irrigado em 18 de julho. Dois meses depois, passa a ser liberado em lotes aos visitantes. Assim que as plantas começam a receber água, começam a florescer desesperadamente cobrindo-se de uma névoa de flores brancas e melíferas.  O  período de colheita e abertura à visitação (e comilança) começa em setembro e segue até novembro (neste ano, até 15 de novembro - portanto, corra lá). 

Plantação a perder de vista 
O proprietário, Paulo Rodrigues, recebia um grupo de estudantes de agronomia no dia e dividiu com nós a atenção. Ou melhor, multiplicou a atenção, pois foi o tempo todo solícito igualmente com os dois grupos. Ele contou que o pai era pedreiro e que na década de 1940 pegava uns bicos de levar para vender,  na jovem Goiânia,  carregamentos de jabuticabas em carros de boi.  Logo comprou seu próprio boi e plantou um pequeno pomar. Começou a plantar mais e mais, pois sabia do potencial da fruta numa capital que nascia com vigor. Muitos zombaram dele enquanto seu negócio só prosperava e inchava como uma jabuticaba tinindo de madura.  Hoje é isto aí, 35 mil pés de frutas. Só nos finais de semana, durante a safra, a fazenda chega a receber 4 mil visitantes que pagam para entrar e podem passar o dia comendo jabuticaba até morrer. 


Nossa hanami
As pessoas armam rede debaixo das árvores prenhes de bolinhas pretas. Quem já advinha que vai desmaiar de tanto comer leva até colchão para estender naquele tapete de frutas. Podem fazer picnic durante a floração e colheita, preparar churrasco. Ou ficar ali só para apreciar o espetáculo. E se há quem goste de tomar suco de canudinho, por que não sugar jabuticabas no canudão? Pois é, Paulo conta que tem gente que leva um cano de pvc, deita-se na rede, ergue o canudo, encaixa num galho coalhado de frutinhas e aí é só fazer um pequeno movimento  para as bolinhas descerem  por gravidade como quem escorrega no tobogã. É muita ousadia. Mas, Paulo, que cuida daquilo desde os 13 anos, acha graça e diz que tudo pode, desde que deixem o local sempre limpo.  Se a pessoa quiser colher pra levar embora também pode. Aí é só pagar à parte o que foi colhido. 

Jabuticaba poema: só tem tamanho
Há por ali todo tipo de jabuticaba: branca, sabará, rajada, poema etc. A maior parte é a pingo-de-mel, de tamanho médio, casca fina, docinha, perfumada, suculenta, polpa grossa de atolar os dentes.  Há uma outra, enorme, de nome "poema". O bom é iniciar na pingo-de-mel, viciar naquela doçura e quando chega na poema você acha que vai ter a qualidade da pingo em dobro. É só dar uma dentada e .... Decepção total. É ácida, cascuda, tânica. Boa pra indústria, mas não pra chupar. Um poema abstrato, duro, sem emoção. 

De tudo o que produz, 75% é destinado ao turista que chega, come e  às vezes leva pra casa. O resto vai para o processamento de fermentados, sucos, licores.  As cascas, ricas em antocianinas, são vendidas para a fabricação de barrinhas de cereais. E, segundo Paulo, a farinha da casca vem sendo estudada como alimento funcional para redução de diabetes, colesterol e tumores.  






O vinho é envelhecido em tonéis de carvalho
Toda a produção é feita sem uso de agrotóxicos e o adubo usado é orgânico. Na  propriedade há ainda um restaurante, mirante para apreciar o mar de jabuticabeiras e lojinha com produtos de jabuticaba, como vinhos, geleias, doce em compota, licores, aguardente, mel etc.  Visitamos ainda a vinícola. Provei de todas as bebidas alcoólicas e a de que mais gostei foi o fermentado tinto suave, que lembra um vinho fortificado como o Porto. Os outros, achei muito ásperos e tânicos demais. O fato é que entre todos os produtos de jabuticaba e as bebidas alcoólicas ou não, fico com as frutas chupadas do pé. 


Embora o bolo de arroz, com fermentação natural, feito pelo Rafael e Willian, coberto com calda de jabuticaba estivesse divino. 

O que é, o que é? Ou: que flor é esta?

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No meu jardim quase tudo é comestível e não paro de ganhar sementes, mudas, bulbos, tubérculos. Às vezes guardo para quando tiver tempo de arrumar recipientes adequados, etiqueta, terra etc. Ou então deposito num canto de terra sombreado até o tempo aparecer. Acontece também de recolher vasos com plantas desacordadas por circunstâncias naturais ou negligência e cuidar até a recuperação. Não é raro me esquecer a origem. Quando percebo, a coisa está brotando e acontece de não me lembrar o que é. Foi o caso destas batatinhas. Forcei a memória pra me lembrar de onde vieram, mas que nada. Elas se parecem com ariá, cheguei a provar um pedaço, mas não reconheci. Vi que estavam começando a brotar. Coloquei como prioridade separar os tubérculos e encontrar vaso adequado, mas quando percebi já despontava uma flor branca e lilás. Depois, outra e logo outra mais. Na pressa, agora, enfiei todas batatas juntas num só vaso e não para de sair flor. As flores surgem diretamente do tubérculo à moda dos Crocus, cujas flores que brotam de bulbos são mais simétricas, rosáceas.  Nada de ariá, portanto, que tem folhas grandes.  Bem que podiam ser comestíveis, bem que eu poderia me lembrar como foram parar no meu jardim. Se esqueci o nome de quem me deu, peço desculpas desde já. Caso não seja de comer, ainda assim agradeço pela beleza das flores como candelabros. E, claro, qualquer dica de floristas de plantão será bem vinda. O que é, o que é?

Festa Gastronômica Nossa Pitada, em Goiânia: Cúrcuma de Mara Rosa

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Gosto de oficinas assim, escolhe um ingrediente e explora, mostra tudo, como é plantado, como é processado, o que se faz com ele. Foi deste jeito a aula sobre cúrcuma de Mara Rosa no festival Nossa Pitada em Goiânia.  As chefs Monick Braga e Gabriela Borges, professoras da PUC-GO, mostraram um vídeo sobre plantio e secagem do açafrão-da-terra na cidade de Mara Rosa, cidade responsável por 90% da produção goiana e que faz até festa para a cúrcuma.  E mostraram receitas. 

É uma cultura fácil, farta e limpa  - não requer uso de adubos e defensivos industriais. Foi introduzida na cidade de Mara Rosa pelos bandeirantes, que a plantaram em fileiras para demarcar a terra onde se encontrava ouro.  Hoje há uma cooperativa (Coperaçafrão) que processa os rizomas e manda para todo o país. Quem puder comprar direto desta cooperativa, não deixe pra depois, pois Goiás exibe a melhor cúrcuma que já provei, talvez por causa da pureza do produto, a maioria vem de Mara Rosa. 

Antes de produzir o pó, a cúrcuma é lavada, cozida e desidratada em fornos - tanto o rizoma principal como os dedinhos que ficam em volta dele. Com o calor, a coloração fica mais forte. A cúrcuma fatiada, seca ao sol e socada em pilão, tem coloração mais fraca. 

Na aula, Monick e Gabriela mostraram o uso da cúrcuma não só em pratos salgados como tantos que há em Goiás  - não dá pra fazer uma galinhada sem cúrcuma, por exemplo. Mas também em sobremesas. Mil folhas em texturas cúrcumas, bolo amanteigado, brigadeiro branco, crocante de massa de harumaki, compota de peras... tudo com cúrcuma. 

No fim, ainda ganhamos potinhos de cúrcuma em pó. E os dedinhos secos, quem quis, levou embora. Imagine se minha bolsa não ficou cheia deles. 




Remédio bom para garganta
Estava neste dia quase sem voz por causa da combinação de falar em local barulhento e resfriar o corpo em ar condicionado e o chef Marcus, marido da Monick, me ensinou um remédio de cúrcuma com mel. Fizemos na hora com o mel de florada de jabuticaba que trazia na bolsa e não é que a garganta foi melhorando.  É só fazer uma pastinha com o pó e ir comendo um pouquinho de vez em quando. 



Dia D, de Drummond

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Exemplo de flor feia. Buva: Conysa bonariensis, aquela que ganhou a batalha
pela vida contra o glifosato.  E Come-se! 
Hoje é dia dele. E aqui um poema de que gosto. 

A flor e a náusea (do livro A Rosa do Povo, Carlos Drummond de Andrade)
"[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio "


Plantas e Abelhas não convencionais

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Panc com anc
Já que o assunto de capa do Paladar de hoje é abelhas, especialmente as sem ferrão, aproveito  para falar do bate-papo promovido pelo Sesc Campinas na semana passada dentro do evento "Bate-papo: saberes populares e práticas sustentáveis - Meliponicultura e Pancs.  Afinal, uma coisa depende da outra. A conversa foi entre mim, que falei das pancs - plantas alimentícias não convencionais, especialmente as ervas espontâneas, e o biólogo e meliponicultor Wesley Gama, cujo conhecimento sobre o assunto extrapola o que se aprende nos bancos da universidade, afinal começou a lidar com isto desde menino com o pai.  

Foi a primeira vez que pude sentir diferenças grandes entre os méis que ele levou para provarmos. E, segundo ele, há diferenças também dentro da própria colmeia - diferentes potinhos podem guardar méis de floradas diferentes. Vimos através de um plástico transparente as abelhas se movimentando em suas colmeias, aprendemos as diferenças entre elas, os tipos de caixa mais apropriados, modos de fazer armadilhas para capturar abelhas enxameadas etc. 

Mas o que quero mesmo deixar aqui é o contato do Wesley. Ele é uma pessoa generosa (mocinho de tudo) e experto no assunto, que vale a pena conhecer. E o melhor: vende caixas já com enxames de vários tipos de abelhas nativas sem ferrão, na região de Campinas.  Eu quero todas. 

Aqui o contato do  Weslley Gama para quem quiser comprar caixinhas da jataí, tujuba, mirim etc: 
weslley@imobiliariaindepencia.com / weslley.snipes@ig.com.br



Raízes, de onde viemos e para onde vamos. Semana Mesa São Paulo

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Quentinhas: Semana Mesa SP 2013

Estamos a poucos dias da Semana Mesa São Paulo realizada pela revista Prazeres da Mesa e Senac Santo Amaro. Dê só uma olhadinha na programação e veja que tentação: http://www.semanamesasp.com.br/2013/ .  Se tudo der certo, estarei lá! 

Pequi é um perigo. Festa Gastronômica Nossa Pitada em Goiânia

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Na feira
Na Festa Nossa Pitada
Na estrada: pequi e jabuticaba
Durante o festival de gastronomia em Goiânia (Nossa Pitada), os bastidores faziam parte da atração. Ir à feira, comer no Panela Mágica, se encantar no Restaurante Popular (Neka que o diga) etc. Tudo isto,  junto com as aulas que pudemos acompanhar, é assunto para um livro. 

Demos muita sorte de estarmos em Goiânia numa época de muito caju, jabuticaba, cúrcuma,  cajuzinho do Cerrado e a alegria do goiano: pequi. Eles estavam nas aulas, nas ruas, nas feiras e restaurantes. Por toda parte.  


Na feira

Neka compra um tanto e aproveita para esfregar na pele, na boca. - Deve
ser bom pra deixar a pele bonita, não? O vendedor achou estranhíssimo
Quem nunca provou pequi (Caryocar brasiliense) saiba que há no caroço apenas uma pequena espessura de polpa comestível. No cerne há uma castanha, mas entre uma coisa e outra há um campo minado. É fruta que não se morde, que não se chupa. É fruta de roer com cuidado, segurando com as mãos e nunca com o garfo - a não ser que já chegue em lascas (como é vendido aqui em São Paulo, geralmente em conserva). Quando o dente sente que a polpa já não está macia deve-se parar ou terá um desagradável encontro com o que há de mais fino e atrevido em matéria de espinhos minados, já que abaixo da fina barreira mais firme eles são soltos e ávidos por uma língua macia.  Tudo bem, goiano sabe, mineiro sabe e toda tribo do Xingu.  Mas e os estrangeiros desavisados? 


No restaurante Popular
Bem, num dos dias em Goiânia voltamos ao restaurante Popular, onde havia pequi de panelada. Nunca tinha visto pequi assim, refogado e cozido com sal, purinho,  sem frango ou arroz, uma delícia, pra comer como batata, guardadas as particularidades.  

Comemos muito, rimos, bebemos e nos descuidamos de orientar Alex, o sobrinho italiano do Don Fabrízio, chef de Arraial d´Ajuda - BA, sobre as particularidades do pequi.  E logo estava o moço do lado de fora do restaurante em posição constrangedora com a língua de fora e duas mulheres com pinças em cima dele. Todo mundo achou graça e confesso que eu também. Fui a primeira a chegar à cena com a câmara para fotografar. Antes, perguntei se ele permitia. Se estivesse bravo ou constrangido, não fotografaria, mas ele estava encarando aquilo com certo humor. Depois de mim, outros fotografaram e o moço virou sensação e motivo de chacota.  A própria Dona Lourdes, muito preocupada, retirou quase todos os espinhos.  Um ou outro sempre resta mas o organismo dá um jeito de eliminar ou, quem sabe,  absorver para sempre. 


Alex com a língua semeada de espinhos. Que situação... 
Situação mais ou menos resolvida, dona Lourdes super sem-graça, Don Fabrizio se culpando por ter descuidado do sobrinho que não falava português e eu continuando a roer um e mais outro, dos pequenos, de polpa finíssima. Comendo e comentando com a chef Rose De Lena sobre o perigo dos espinhos, me gabando de saber comer pequi, que nunca me deparei com espinhos e blabla e,  tibum, cheguei à zona proibida. Tarde demais. Senti pontadas na língua como se tivesse mordido uma almofada de agulhas, com as agulhas presentes e descoladas agora para a almofada de músculo. É um incômodo tremendo. Sorte que foram só uns dois ou três espinhos teleguiados. Quem estava por perto tentou me convencer a ir lá fora na fila da pinça da dona Lourdes. Mas, não, não, deixa pra lá, não foi nada, amanhã passa.  Vi no espelho e os espinhos não estavam aparentes. Parece que entraram, se esconderam sob a mucosa só pra me azucrinar. Mas eu os sentia. De qualquer forma, é basta dar tempo ao tempo, pois eu, ali, na vista de todos e de câmeras fotográficas em punho, com a língua de fora, nananinanão, nem pensar.  Quatro dias depois não havia mais sinal deles.  


Rose De Lena mostra como roer pequi



O melhor da vida não tem preço

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Piracaia em foto minha e o quadro "A banalidade da banalidade do Mal" com intervenção do artista britânico Banksy, que pintou sobre a paisagem (um quadro de um tal de K. Sager)  o soldado nazista e que foi a leilão. 

Queria tanto saber tirar aquele banquinho dali (foto abaixo para quem não clica link) e devolvê-lo ao seu propósito de acolhida e contemplação.  Mas quem liga para um banquinho que foi para o meio da fogueira? Queria desvirá-lo, colocá-lo na primeira paisagem e oferecer assento a todos juntos - os que os que o trataram como lenha e arma e os que reprimem, todos estes soldados armados, abrandá-los com a imagem, conforto sem preço. Quem não sonha com a banalização do bem? Vamos conversar,  resolver de outro jeito, jogue suas armas, aceita uma água, eu pego pra você.  Alguém sabe fazer isto?  - Desvirar e inserir o banquinho na minha foto?  Banksy, puxe o banquinho ali! 

Protesto fecha Marginal Tietê; PM age contra manifestantes (Foto: Reprodução/TV Globo)
O que este banquinho está fazendo aí ? Não fica melhor na
na foto lá em cima?
(Foto: Reprodução/TV Globo - daqui)

Banana marmelo na Festa Gastronômica Pitadas

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Banana figo, a amarela 
Em Goiânia, ainda se encontra nas feira a banana marmelo. É mais barata que a banana-da-terra, também é boa pra fritar ou cozinhar, mas muita gente a despreza. Foi por isto que as chefs Nancy Veloso e Marta Gouveia resolveram apostar no ingrediente, junto com a abóbora, outra tantas vezes injustiçada, para compor a aula "Banana e Abóbora: diálogos irreverentes", na Festa Gastronômica Pitadas.  

Já mostrei o pé dela aqui. Tínhamos uma touceira desta bananeira em Fartura. Quando meu pai vendeu o sítio, tirei mudas de várias bananas e já não me lembro de quais. Só sei que fiquei com as mudas aqui em casa, num balaio, sem ter onde plantar. Acabei levando todas para a praça perto de casa. De tempos em tempos passavam os jardineiros contratados da prefeitura e as podavam como grama. As danadas rebrotavam. Depois que compramos um sítio, fomos um dia até à praça na surdina e substituímos as quatro mudas que sobraram por mudas de abacates. Levamos para Piracaia e lá estão viçosas. Só não sei se entre elas está a banana marmelo. Estou torcendo para que sim, pois as chefs goianas mostraram inúmeras outras possibilidades além das que eu já conhecia.  Meu pai chamava de banana-figo. Tem aqui um pão feito com ela. 


Peixe com banana e rocambole de banana com carne seca e coração de bananeira. 

Infelizmente não pude assistir à aula da dupla, mas tive tempo de experimentar as delícias e ficar estimulada a comprar a banana na feira, que viajou resistente pra São Paulo.  

Numa noite em que não saí para jantar, cheguei ao quarto do hotel e lembrei que tinha a banana marmelo comprada um dia antes e mel da Chapada das Mesas, de florada de favas de bolota. Melhor isto que batata chip de pacotinho barulhento.  Como disse, banana marmelo fica melhor quando cozida. A única fonte de calor no quarto, além da água escaldante que poderia coletar da torneira, era a cafeteira. Então, o que fiz foi substituir a jarra d´água pela banana com casca que cozinhou enquanto fazia outras coisas. Depois de quase meia hora, eis a banana cozida, molinha, doce, restauradora. Foi só abrir, cobrir com um fio de mel e nhac! 




O que fazer com folhas murchas. Folhas de nabo no arroz

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As folhas murcham porque perdem água e muita gente sabe que para recuperá-las basta hidratá-las novamente, mas já vi cozinheiros e cozinheiras jogando fora folhas assim, aparentemente irrecuperáveis. 

Agora, mais que nunca, quando trago quase tudo do sítio, costumo me deparar com situações assim, em que as folhas chegam murchas, especialmente quando colhi por causa das raízes, sem pensar muito nas folhas. Foi o caso destas folhas de nabo. A maioria de nós pensaria em jogá-las no lixo, mas vamos pensar duas vezes antes de fazer isto. 

Depois de hidratadas em água fresca - não precisa ser gelada, elas poderiam ir para saladas. O tempo varia a depender da severidade da desidratação. Dez, quinze minutos ou até meia hora. Como prefiro folhas de nabo e rabanetes cozidas, uso no alimento que estou preparando - arroz, fritadas, sopas. Colocar no arroz é um bom recurso quando as folhas são poucas, insuficientes para uma salada. E nem precisariam estar super hidratadas. Contribuem com o sabor como se fossem tempero e com a nutrição do prato, com um pouco de vitamina, fibra e mineral.

E nesta semana tem Mesa-SP no Senac Santo Amaro. Então, só vou postar aqui pílulas que não me exigem muito tempo pra pensar. 

Estavam assim
Depois de 15 minutos ficaram lindas assim
E gostosas assim. No arroz com tomate e batata-doce

E já eram. Nhac!

Escargots aux coquilles de noix de coco. Ou como tirar lesmas do seu jardim em cascas de coco

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Não, não é de comer. Pelo menos dessa vez. Embora estas lesmas sejam limpinhas e talvez tenham sabor de coco, eu só encararia se elas tivessem comido todos os meus matos. Do contrário, prefiro disputar a mesma comida delas: minhas folhas de ora-pro-nobis, beldroegas, majorgomes, polpa de abacate, batatas etc. 

E na batalha pela comida, inevitavelmente cometemos maldades, afinal tenho ao menos de tirá-las do meu território. 

A tarefa era árdua sempre que a terra estava muito úmida. Agora é a vez delas, com estas chuvas contínuas de primavera. Tentei várias armadilhas. Uma ou outra aparecia ali junto ao paninho umedecido com leite ou uma tampinha com cerveja, mas nada se compara a estas cascas de coco que emborquei no jardim por puro apego - deixe aí, uma hora hão de servir para alguma coisa: um vaso, uma cuia, lascas para carvão. Havia ainda restos de coco aderidos e elas já haviam sido utilizadas para embalar doces, feitos pelo Manuel das mandiocas, da feira do bairro. Talvez. Mas acho que havia também cuias ainda não usadas, só raspadas, com restinhos de coco fresco, que peguei com o Manuel. Já tem tempo, não me lembro bem.  Resumindo, eram cascas de cocos não limpas totalmente do que continham. 

Mas um dia já não tinha mais vasinhos para colocar mudas e resolvi finalmente usar as cascas. Quando peguei, a surpresa: um monte de lesmas gordas, gordurosas, flofis, que encontraram num só lugar, casa e comida. Eca.  Foi só ferver todas elas num balde e jogar fora. Triste fim. Podia ao melhor tê-las cozinhado em leite de coco: escargots aux lait de coco. 

Os doces de coco feitos pelo Manuel

Melhor usar assim. É só pedir na feira e emborcar no jardim 

Cuias de quenga de coco 



Uma penca de cebola colhida e 20 mil toneladas apodrecendo

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Justo nesta semana quando comemorava minha primeira colheita de cebola - uma pequena penca -, fiquei sabendo que em São José do Rio Pardo,  a terra do chef Jefferson Rueda que não se lembrou de falar disso ontem na aula dele no Mesa Tendências, 20 mil toneladas de cebolas não serão colhidas por causa dos preços baixos desta safra. No ano passado, a cebola alcançou bom preço, o que motivou produtores a plantarem mais. Conclusão óbvia, o preço caiu e a saca está custando tão pouco que não compensa pagar para colher. Vale um Disco Xepa de chefs só pra aproveitar esta cebola que apodrece no campo. 

Todas as partes são comestíveis. E se você tira o broto, o bulbo cresce mais

Corto cebolas assim: de um lado, de outro, tiro a pele e corto as laterais
Bem, mesmo assim, não posso deixar de me alegrar com minha primeira e insignificante colheita. Para a mim, a coisa mais grandiosa do mundo.  Já tinha mostrado aqui o porque de nunca mais cortar cebolas em rodelas, pelo menos não na época de plantio. Primeiro porque o miolo pode ser replantado e segundo (e talvez isto me motive a continuar cortando assim durante todo o ano),  porque o efeito lacrimejante é quase nulo - talvez a posição em que a faca passe pelas células diminua a liberação da substância irritante. 

Planto  um miolinho e colho uma penca
Se você acompanha o Come-se, verá que plantei as cebolas tem uns dois meses. E aprendi como plantar num curso de hortas. Não tem segredos. É só enfiar o broto na terra.  Por isto, a cebola maiorzona levei de presente para a Vivian, a jovem professora agrônoma que me deu o toque - de cortar a cebola pela metade e deixar na geladeira para brotar. Sou péssima aluna, não fiz nada disso, mas também deu certo. Em vez de cortar ao meio, deixei o miolo inteiro, usando o que havia em volta dele na cozinha. E nem coloquei na geladeira (achei que ia ficar cheirando ruim).  Coloquei direto na terra. Mas deu certo e agradeço pelo incentivo.  Claro, o pessoal lá em São José do Rio Pardo deve ter técnicas mais apuradas para uma colheita mais produtiva (neste ano, não adiantou), mas para plantio doméstico como o meu, funcionou assim.  Uma coisa que desconhecia e só descobri na mini colheita é que de  um miolo nascem várias cebolas, como se fosse um bulbo de alho, só que separado. Nunca tinha parado para especular sobre isto. 

E, bulbos, brotos, talos, folhas, tudo. Nhac! 
Não fiz nenhum uso especial das cebolas que colhi, mas cortei pedaços, incluindo os talos, e assei com outros legumes colhidos no sítio em estágios não convencionais - jilós maduros, por exemplo. A melhor cebola que já comi na vida. Docinha, fresca, ainda impregnada com o perfume de terra molhada, com a vista para a água e as montanhas e com o cantar dos passarinhos que voaram sobre ela. 








Semeando tomatinhos. Ou salada de tomatinhos com ora-pro-nobis

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Comprei tomatinhos doces em embalagem de plástico só pra plantar sementes.  Já não tenho mais lugar em casa para bandejas sementeiras, então furei a embalagem e semeei ali mesmo. Antes até que eu comesse todos os tomates, os brotos já estavam grandes assim. E  neste exato momento clamam por um lugar maior. A disposição já tenho, só me falta o tal do tempo. 

Com os tomatinhos desmiolados e outros nem tanto fiz salada com ora-pro-nobis. Simples assim. 

No vinagrete, folhas de ora-pro-nobis branqueadas e batidas com vinagre
e azeite. 

Chats aux tomates e as solanáceas colhidas

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Berinjela, tomatinhos, pimenta, tomate, jilós em diferentes estágios
Neste último final de semana colhi algumas espécies que estavam no ponto, antes do ponto, além do ponto. Só quem planta descobre que frutas e legumes podem ser consumidos em vários estágios e não só naqueles que nos são apresentados nas feiras. 

Bem, o que descobri depois, já na cesta, era que praticamente tudo o que havia colhido era da família das Solanáceas, uma das mais importantes na botânica alimentar. Afinal, pertence a ela vários dos itens presentes no nosso cotidiano. Berinjelas, tomates, jilós, pimentas, pimentões, batatas. Quase todos são frutos, do ponto de vista botânico, veículos mais ou menos carnudos que encerram as sementes - tomates, jilós, berinjelas, pimentas. São chamados popularmente de legumes ou hortaliças, usados geralmente em pratos salgados. Outros, do ponto de vista leigo e prático, são frutos chamados de frutas, pois são mais adocicados, consumidos em doces e sucos: tomate de árvore, cubiu, lulo etc.  Aliás, a pergunta inútil: tomate é fruta? A resposta está aqui.  E tem solanácea da qual não consumimos o fruto, mas o tubérculo, caso da batata. 

Berinjela, tomate, pimenta, jiló, tomate de árvore, cubiu

Na minha cesta havia de tudo:  pimentão verde, jiló maduro (é só não consumir a casca, um pouco mais firme, de resto é maravilhoso), pimentas verdes e maduras, cubiu meio minguado, mas cubiu, tomate de árvore ainda verde derrubado por pássaro, e berinjela.  As batatas, colhi algumas semanas antes, um pouquinho - já havia colhido outro tantinho, que fritei com água, como mostrei aqui. 


O gatinho Biju gosta de ir comigo à colheita e pula em mim, se enfia no bolso do avental, vai olhando tudo e depois  posa com a irmã Tapioca junto ao tomate. 

Prendre deux chats, quelques tomates. Servir chaud e nhac! 

Biju no bolso do meu avental de colher


Convívio Slow Food Piracaia

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Mara Salles ajuda a servir
Finalmente criamos um Convívio do Slow Food em Piracaia. Começamos em cinco, o número mínimo de associados para se criar um convívio (que pode ser no seu prédio, no seu bairro, na sua escola - ou você pode se juntar a um que já exista na sua cidade), mas estamos crescendo passo a passo. 

Para celebrar este novo grupo fizemos ontem um almoço coletivo no sítio. Entre piracaienses e piracaianos (nós, os forasteiros), éramos cinquenta. A ideia era destacar o prato que poderia ser símbolo da cidade. Afinal, piracaia é peixe assado, moqueado, feito ali na beira do rio ou da praia, embrulhado na folha de caeté, na sororoquinha, na folha de bananeira. Ou só assado na grade do moquém feito de galhos, sobre braseiro lento, sem folha nem nada. Temperado com pimenta, sal e pimenta, só sal. Com limão, sem limão, com içá, tucupi, saúvas. Servido com mandioca, farinha de mandioca, bananas assadas, pirão ou o que tiver à mão. No fogo ou na brasa da lenha, é o que importa. É prato pra comer ao ar livre, junto de amigos. Pelo menos na Amazônia, a piracaia ainda sobrevive assim.  

Índios da Amazônia quando chamam "Vamos a uma piracaia?" é como convidar "vamos a um churrasco", só que com peixe. O melhor seria na beira das águas, mas em Piracaia o rio virou represa, os peixes viraram todos tilápias e os pescadores artesanais desiludiram.  Mas ainda hemos de pescar,  bagres, que sejam. Por enquanto, o moquém virou uma grande churrasqueira de ferro e fizemos uma piracaia ao nosso modo, respeitando ao menos o fogo de lenha, o ar livre e a vista pra água. Quem sabe não atraímos para nosso lado pescadores que nos ensinem a pescar, que nos mostre qual o melhor momento de cada peixe para que procriem e não despareçam. Quem sabe não descobrimos onde estes pescadores se escondem (e os peixes também). Quem sabe não voltam a se animar se nos dispusermos a comprar e comer peixinhos mesmo que magros e com espinhos e não só a carnuda tilápia exótica engordada com ração.  Quem sabe restaurantes de Piracaia não se animam a preparar sua própria versão de piracaia? Quem sabe uma moqueca caiçara feita com filezinhos de peixe miúdo ou uma poqueca de peixe gordo na folha de caetê? Cada restaurante poderia ter seu Prato Piracaia - "Prato Piracaia: peixe no dia na folha de caetê assado na chapa do fogão de lenha"; ou "Prato Piracaia: bagre em moqueca assado na folha de bananeira",  por exemplo. Não custa sonhar - e investir.  

Mas voltando ao nosso almoço, Sonia trouxe da casa dela folhas de bananeira, que limpamos e sapecamos no sábado. Trouxe também mandioca e o peixe, que encomendou de um criador dali mesmo, do bairro do Pião. Na falta de peixes nativos, tivemos truta, bem gostosa. Mara Salles, restaurante do Tordesilhas, queria ir pro sítio pra descansar um pouco da loucura de São Paulo e acabou na cozinha, claro. O que para todos nós foi um grande presente. Na mala ela ainda trouxe tucupi reduzido com formigas, que ganhou da dona Brazi, de São Gabriel da Cachoeira - AM e farinha de Uarini tipo ovinha, que usamos para rechear o peixe.  E falar em tucupi, Mara Salles, Tordesilhas, comida amazônica, tem tacacá na Tietê nesta próxima quinta.  

Os caseiros coletaram na semana passada içás criadas ali mesmo na nossa chácara e elas viraram farofa que foi servida com o  peixe. Bananas da farofa vieram do sítio do caseiro. Outra causa defendida pelo Slow Food é o queijo de leite cru e ele estava presente na mesa em várias versões, que trouxemos de uma degustação no Mesa-Tendências/ Senac  do GT de queijo de leite cru do Slow Food. Carlo Petrini, fundador do Slow Food estava lá e mandou auguri!.  Havia também queijo de leite cru fresco do vizinho Fernando. Milena e Artur trouxeram jabuticabas grandes e doces.  A melancia, compramos no supermercado da cidade. Verduras e flores vieram da cesta do Piracaia Orgânica e da minha horta.  Algumas mesas e cadeiras foram emprestadas da casa paroquial da cidade (os luxos de cidades pequenas, poder emprestar mesas e cadeiras da igreja)  A prefeita Terezinha, que não pode vir mas mandou representante, o Lopez, da casa de Agricultura, mandou dizer que apoia o movimento e que coloca à nossa disposição um local com fogão de lenha no portal da cidade para fazermos eventos (outro luxo de cidade pequena). Eba!

As colaborações foram muitas, acho que nem vou me lembrar de todas.  Ana Luíza Trajano, do Brasil a Gosto doou para nosso convívio a peça de cerâmica com madeira, um mini moquém, onde é servido em seu restaurante o  peixe na folha de bananeira. Os embutidos artesanais eram da Adriana Lopez de São Bento do Sapucaí.  Cênia, do Slow São Paulo, mandou folhetos e outros objetos com logo Slow.  Virgínia, do Slow Gonçalves-MG e bananacombina.com, doou antepastos de coração de banana.  Ricardo, da Wheat mandou pães. Eliana e Uriel trouxeram projetor pra passarmos um vídeo do Slow.  Na linha de montagem dos peixes, Fábio, Eduardo, Nícolas, Tainá, Suzana. Na limonada de limão rosa com caldo de cana e na caipirinha, Ivo. Na grelha, abanando, Ruy. Voz e pandeiro, Darly, no violão, Edu. Na aquarela, Dalton. Na organização, Denise. Na catança de içás, Carlos e Silvana (aliás, outra tradição escondida de Piracaia). Na limpeza delas, Ignês, Renato e Marina. E na disposição, todos nós todos de lá pra cá.

Bem, este foi só o começo.  No dia 10 o Slow Food comemora o Terra Madre Day.  Junte-se a nós! 

Veja algumas fotos:

Embutidos da Adriana Lopez, de São Bento de Sapucaí

Pães da Wheat e queijos de leite cru de todo o Brasil, incluindo Piracaia


Limonada, suco de frutas, água 

Uriel estando o projetor

Edu e Fábio na linha de montagem da piracaia
Foram amarradas com fios de fórmio (Phormium tenax), útil planta para
se ter por perto

Já assadas
Dez minutinhos de cada lado

A água não está tão longe
A folha ajuda a manter o peixe suculento

O prato piracaia doado pela Ana Luíza Trajano
Com molho de tomatinho da horta ou com tucupi reduzido com formiga

O pratinho entre mim e Sonia

Maluh Barciotte, do Slow São Paulo
Içás do quintal
Renato, Marina e Ignês limpando içás

Farofa de içá

Eu, Sônia, Maluh e Regina

Quanta gente! Mas tudo deu certo



No final, sempre alguém pega o violão e começa a cantar


Carlo Petrini manda auguri ao novo convívio! Sônia, a representante do
Convívio Piracaia e eu. 

















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