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Índios Kayapó. As crianças

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Estive recentemente junto aos Kayapó, na aldeia Pykany, terra indígena Mekrângnoti, no Pará e vou postar aqui aos poucos o que vi por lá, a começar pelas crianças.  Em outro post conto o que fui fazer lá. Estou publicando também no instagram @neiderigo 



Entre os Kayapó, crianças não ficam recebendo sermões nem castigos nem correções. Elas são livres pra brincar inclusive com água, fogo e faca. Aprendem pelo exemplo, tentativa e erro. Copiam dos mais velhos o jeito de dançar, de pescar, de carregar bebês e também de se pintar com jenipapo e urucum. Pintam-se umas às outras com graça e cuidado. Enquanto as mulheres usam uma cuia grande pra colocar a tinta (mastigam e cospem as sementes do jenipapo verde e misturam com carvão de uma determinada espécie), elas pegam a banda vazia do próprio jenipapo e a transformam numa cuinha.

Mão de criança Kayapó com cuinha de jenipapo (uma banda sem as sementes usadas no preparo da tinta), pra conter a tinta do próprio jenipapo, e varetinha de inajá pra pintar a pele. Nas brincadeiras infantis



Crianças Kayapó eventualmente também fazem birra como os filhos dos kuben (os não índios), com a diferença de que podem chorar à vontade sem receber adulação ou broncas.  Até que param. Parecem se esquecer porque mesmo começaram. Claro, as mães sabem quando é choro de dor ou de manha e acodem quando há precisão. E os brinquedos podem ser uma esperança. Às vezes os insetos, que servem também de isca para pegar peixes, são eviscerados por elas para que fiquem inertes e colaborem com a brincadeira. Mas enquanto estão vivos são acariciados, grudam nos dedos, encaram.


Crianças Kayapó não ficam entediadas sem saber com o que brincar ou pedindo para adultos inventarem atividades. Elas mesmas produzem o próprio brinquedo e se divertem enfrentando perigos às vezes. Aprendem cedo a lidar com facões, água, fogo. Aprendem pelo exemplo a cuidar da floresta e a domar o fogo - mas começam cedo brincando com ele.  Fazem grandes labirintos com palhada, brincam, se rolam neles e depois tacam fogo, pulam, pisam, chutam, tropeçam.  Crianças mais velhas cuidam dos mais novos e os protegem, mas inventam brincadeiras sem que nenhum adulto se intrometa. De qualquer forma, eles estão sempre por perto e as crianças são de responsabilidade da aldeia, como filhos de todos. 






Mãos de crianças Kayapó. Que tateam, descobrem, brincam, se sujam, pintam, se enfeitam, ostentam adornos, aceitam proteção. 



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