Com Tradescantia zebrina e limão |
Estas tradescantias são vistas aos montes por aí, principalmente em praças e jardins com os quais não se quer ter muito trabalho. Para falar a verdade, nunca dei muita importância a elas - a não ser para a traboeraba.
Débora não foi a primeira a me perguntar se a Tradescantia pallida purpurea (conhecida como trapoeraba-roxa, coração-roxo, trapoerabão ou trapoeraba) era comestível. No livro Plantas Alimentícias não Convencionais (PANC) no Brasil, os autores dizem que “outras trapoerabas também são comestíveis” sem especificar quais. Débora me disse que a mãe tomou uma bebida fermentada feita com a erva no México. Fui atrás e descobri que nos estados de Tabasco, Yucatán e Chiapas pode ser encontrada uma bebida fresca, feita em casa a partir da infusão da planta Tradescantia zebrina, especialmente, mas que a T.pallida purpurea também é usada para o mesmo fim e ambas recebem o nome de “matali”. A bebida fermentada, ainda não encontrei. Como refrigerante, tem esta aqui.
Pelo que vi, estas plantas ornamentais de origem tropical e hábito rasteiro são bastante usadas como fitoterápicas - para eliminar pedras renais, curar hemorragias, dores de estômago e diarreias. E também como repelente de insetos e larvicida – combinadas com outras ervas. Outro uso para a T.pallida purpureaé como planta para biomonitoramento de poluição do ar.
A bebida refrescante chamada de “agua de matali” tem uma cor roxa tentadora. Com adição de rodelas e gotas de limão torna-se vermelha – é o que acontece com o pigmento antocianina que é sensível à variação de pH. Como a bebida leva açúcar ou mel e suco de limão, tem sabor de limonada e cor de groselha. A erva em si não tem muito sabor. Já comi da trapoeraba de flor azul e folhas verdes, Commelina erecta, da mesma família Commelinacea, e esta sim tem ao menos textura macia, mucilaginosa e sabor agradável. Já a trapoeraba-roxa, lambari, trapoeraba-zebra ou judeu-errante, esta que usei para fazer um dos refrescos, é insípida e a textura é firme – provei o que sobrou da cocção para o refresco. Imagino que as folhas possam ser aproveitadas em pratos se picadas ou bem cozidas. Na salada não achei agradável e referência não encontrei nenhuma.
Com T. pallida purpurea sem limão . Cor linda, sabor de nada |
A T.pallida purpurea também fez uma bebida de cor linda e tem os mesmos usos medicinais da T.zebrina. Não encontrei nenhuma referência de pratos feitos com elas - provei as folhas cozidas e não gostei - tem textura muito firme e sabor algo adstringente. Aqui vemos as duas sendo citadas como ingredientes para o refresco.
O refresco de ambas é muito bom porque a cor é um ótimo incentivo e tem o doce do açúcar ou do mel e o ácido do limão... Ou seja, é uma limonada colorida e apetitosa. Podemos adicionar suco de laranja e folhas de hortelã e ficará ainda melhor.
No México, recebe outros nomes como hojas de cucaracha (difícil de acabar com a planta que se espalha como baratas) ou moradilla – por causa da cor.
Então, para variar os corantes vermelhos e dar um descanso para o hibisco, que tal usar tradescantias? Para evitar confusão e ao mesmo tempo homenagear o México que tanto tem a nos ensinar (e aos norte-americanos, mais ainda), vou usar para o refresco o mesmo nome que a bebida recebe por lá: “água de matali”.
Com T. pallida purpurea com limão |
Água de Matali
Ferva 1 litro de água com 1 xícara ou mais de folhas de matali (trapoeraba-zebra ou coração-roxo - Tradescantia zebrina ou T. pallita purpurea) e espere esfriar ainda com as folhas. Coe, adoce a gosto e junte suco de um limão. Sirva com rodelas de limão e bastante gelo. Com folhas de hortelã ou menta, se quiser.