Aqui está uma planta alimentícia não convencional que realmente recomendo ter por perto. Conhecida como ançarinha branca, é chamada em inglês de "goosefoot" ou "lamb´s quarters". Da mesma família daquela verdura que conhecemos por aqui como espinafre (o espinafre do Popaye é de outra família, diga-se), pode virar quase um arbusto quando em terra úmida e fértil. Originária da Europa, é tratada como planta super daninha e invasora no resto do mundo. Mas pelo menos nas cidades a gente quase não vê. É que pra dar sementes ela precisa crescer e as ervas ruderais, que crescem por aí, estão sempre disputando a sorte com os jardineiros que quando chegam é pra acabar com os matos - muitos deles antes de darem sementes. É o caso desta verdura, assim como os almeirões de árvore e solanáceas que só se reproduzem se conseguem passar despercebidas até o momento de produzirem frutos e sementes.
Minha primeira muda achei numa fresta de calçada, encostada à parede de uma casa beirando a rua, perto do Sesc Belenzinho. Não era o tipo de lugar por onde se passaria um jardineiro. Só por isto sobreviveu. Tirei de lá uma muda, plantei na horta comunitária, ela vingou, mas morreu e neste ano ainda não brotou.
Em compensação fui neste final de semana com o pessoal do Sesc visitar umas hortas urbanas em São Mateus e já na última horta, quando fechávamos o portão, vi um pé enorme do lado de fora, com mais de metro de folhas lindas e vistosas. Colhi um tanto e fiz refogada.
Encontrada em Piracaia, a Chenopodium giganteum, com poeirinha pink |
O nome científico, Chenopodium album, tem a ver com a poeirinha branca que se forma na superfície das folhas jovens. Da mesma forma, há a Chenopodium ginganteum cujo pó não é branco, mas pink. Parece que foi pulverizado com purpurina finíssima. É a coisa mais linda. Só a vi uma vez na vida quando nasceu espontaneamente na nossa chácara em Piracaia assim que compramos. Como era pequena e o espaço foi carpido, nunca mais tive a sorte de vê-la novamente.
O engraçado é que no dia seguinte à minha colheita em São Mateus fui à Bienal e lá estava um pé meio espigado de ançarinha branca no espaço criado pela artista portuguesa Carla Filipe, com várias plantas alimentícias não convencionais. Plantada em pneu, não estava tão vistosa quanto à panc da periferia, mas gostei de ver.
Na Bienal |
Na Bienal |
A verdura crua não é muito gostosa, assim como não é o espinafre cru - nem é recomendado devido à presença de ácido oxálico em grande quantidade. Mas ambos cozidos são deliciosos e se parecem. Assim, o que fiz foi aferventar a verdura e refogar no alho com pimenta. Ah, as sementes também são comestíveis e podem ser usadas para substituir parte da farinha de trigo em bolos e pães.
Ançarinha branca refogada no alho e pimenta
Afervente 2 litros de água com meia colher (sopa) de sal. Quando estiver fervento, jogue dentro cerca de meio quilo de ançarinha lavada - as folhas e galhos mais finos. Deixe cozinhar um minuto, despreze a água e reserve. À parte refogue 2 dentes de alho picados em 2 colheres (sopa) de azeite. Junte as folhas aferventadas e uma pitada de pimenta calabresa. Misture, aqueça, tire do fogo e sirva como acompanhamento de arroz ou angu, ou com pão. E nhac!