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As oficinas em Cuité - PB

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O convite da professora Michele Medeiros, da Universidade Federal de Campina Grande, era para dar um curso de 3 noites para alunos da nutrição e uma conferência para a comunidade sobre  ingredientes locais.

Participaram das oficinas apenas alunos inscritos de qualquer ano da nutrição e pessoas da comunidade que trabalhavam com comida. Não levei nada daqui e, como já conheço alguns lugares do Semiárido, fiz uma programação baseada no que imaginei encontrar na feira.

Dediquei uma oficina para mandioca - beijus e tapiocas, outra para legumes e frutas, incluindo as verdes como mamão e manga, e a última para ingredientes não convencionais que encontramos durantes as andanças pela zona rural e até pelo espaço urbano - as mangas verdes colhemos nas ruas de Cuité. Usamos beldroegas, bredos, folhas de palma, jaca verde e temperos da feira - cúrcuma, sementes de mostarda, grãos de cominho, erva-doce, cravo, canela e pimentas.

Alguns alunos não haviam passado ainda pela disciplina de técnica dietética, que nos emprestou o laboratório para a atividade. A rotina do laboratório não é diferente do que foi para mim na USP. Todo mundo de jaleco de cientista em vez de avental, touca descartável de centro cirúrgico em vez de lenços, faixas e cabelos presos. Normalmente os ingredientes já são separados e vão para as bancadas dos grupos como substâncias para fórmulas. Faltam mesas nos laboratórios e sobram bancadas de inox ou granito. A comida é tratada de maneira muito protocolar - é preciso saber fator de correção, fator de cocção, rendimento etc. E isto está tudo certo. Mas faz falta um ambiente de cozinha, uma mesa colorida, umas cestas para dispor os ingredientes e o sentimento de partilha à mesa na hora da degustação, ainda que seja ela de estudo, afinal comida é cultura em qualquer lugar, até num laboratório.

Por isto gosto de arrumar os ingredientes todos juntos e cada um pega o que precisa. Gosto que observem a composição, que sintam atração pela forma, pela cor, pelo conjunto. Ouso acreditar que os ingredientes assim arrumados atraiam olhares e ditem ideias. Nutricionista tem que gostar de cozinhar, se interessar por técnicas e por ingredientes e não apenas por nutrientes - o que vai à boca é prato pronto. Pelo menos esta consciência a gente já se pode notar nos alunos mais jovens e isto é um alento.

Na oficina, mesmo quem nunca tinha cozinhado, quem não conhecia um jiló, quem não sabia que todos aqueles temperos podem ser encontrados na feira local, gostou da aventura de cozinhar com mais legumes locais com uso de técnicas não usuais e de cozinhar para confraternizar em volta de uma mesa farta.

No último dia foi a vez do improviso com o que foi encontrado. Sorte que neste Come-se tem de tudo um pouco e consegui elaborar um plano horas antes de começar a oficina usando os ingredientes encontrados e aproveitando o que havia sobrado dos dias anteriores. A sensação foi a jaca verde no leite de coco.

As fotos não estão à altura do prazer que senti nem do bom desempenho e animação dos alunos - ou eu trabalhava ou batia fotos - , mas deixo aqui como registro.  E, mais uma vez, agradeço à querida Michele Medeiros pelo convite e a todos os amigos que conheci e que me acolheram como se eu fosse de casa. Helena, Vanille, Mário, Vivi, Tarcísio, Elias, Clébio, Mônica e outros queridos, obrigada!














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