A colheita |
http://blogs.estadao.com.br/paladar/parece-mortadela-mas-e-crua/
http://blogs.estadao.com.br/paladar/pure-de-crua-e-carne-seca/
Mas aqui também está, com mais fotos:
Paredes não são bons suportes |
Os frutos pesados podem cair sobre o telhado |
Prometo que a série não proposital das esquisitices comestíveis oxítonas em a termina aqui. Ou pelo menos teremos um intervalo, afinal ainda temos macassá e tantas outras. Depois de falar dos desconhecidos e ou negligenciados pacová, gravatá e tamuatá, eis que surgem maduros apoiados na cerâmica fresca do telhado da minha varanda vários cruás na cor e formato de grandes peças de mortadela. Há deles também na cor berinjela. Não resisti em apresentá-los para um número maior de pessoas que talvez assim se motivem a plantar em seus quintais, desde que disponham de espaço onde a planta possa trepar ou se alastrar à vontade.
Quem conhece um pouco da obra do artista holandês Albert Eckhoult, que esteve no Brasil no século 17 na comitiva de Maurício de Nassau para documentar a fauna e a flora da colônia, já deve ter visto o cruá nos quadros de natureza morta com outros frutos abundantes na época.
Eles ainda podem ser vistos dependurados nas bancas de variedades no Mercado de São Joaquim, em Salvador-BA, como fruta medicinal. Ou ainda exposta como fruta exótica nas coloridas bancas de frutas do mercado municipal de São Paulo.
Só que de exótica a fruta não tem nada. É nativa do Brasil, foi levada daqui para outros países da América Latina e Central onde se espalhou facilmente. Pelo aspecto da planta já se nota que é parente da abóbora, do pepino e do melão, da família das cucurbitáceas, embora tenha características muito particulares. O que mais chama a atenção nesta fruta é o perfume agradável de longa duração. Aliás, o nome científico dá destaque para esta qualidade: Sicana odoriferaé seu nome em latim. Popularmente, responde também por nomes auto-explicativos como melão-mortadela e melão-cheiroso, entre outros como jamelão ou jambolão, melão caboclo e melão-do-norte. Cruá é o traz menos confusão. Outra característica marcante, e que poderia ter sido útil no tempo em que era moda, é o fato de produzir naturalmente, quando batido para suco, espuma densa e estável, sem acréscimo de qualquer emulsificante, graças à presença de cucurbitacinas, substâncias oxigenadas produzidas pela planta para se defender de herbívoros.
No Brasil a fruta já foi muito mais usada como alimento no passado. Está certo que sua fragrância prognostica uma polpa muito mais gostosa que realmente é ao natural, mas como sabemos que nem todos os frutos são para consumo imediato - não comemos, por exemplo, pepinos ou abóboras diretos do pé -, devemos ter em mente que o cruá pode ser um ingrediente fantástico para sucos, geleias e doces em pasta, com adição de açúcar. E justamente por não ser o fruto muito doce, ele pode ser cozido e usado como legume para fazer pratos salgados como sopas e purês.
Nos outros países vizinhos para onde a fruta foi levada, encontramos diferentes formas de uso, como refrescos fermentados e sorvetes ou como um sachê para perfumar roupas de cama e de cozinha dentro dos armários. Tente manter um cruá na entrada de sua sala e sentirá como a casa toda ficará perfumada. O fruto maduro com pedúnculo pode durar meses sem estragar. Outra forma de consumo é aproveitar o fruto ainda verde, tendo assim os mesmos preparos do pepino.
Como preparar: o fruto maduro tem casca muito dura que deve ser serrada. Corte o fruto ao meio no sentido do comprimento e, com uma colher, cavouque o miolo com as sementes e passe tudo por uma peneira. O suco obtido pode ser usado para fazer sorbets ou ser tomado como refresco – pode ser batido com outras frutas. As sementes podem ser tostadas com sal e comidas como aperitivo. Já a polpa firme que sobra junto à casca pode ser tirada com uma colher ou com boleador se quiser usá-la crua. Para usar a polpa cozida, corte em pedaços menores e afervente em água salgada (a polpa ainda junto à casca) ou cozinhe no vapor até a polpa ficar bem macia. Raspe a polpa cozida com uma colher e descarte a casca que ainda continuará dura. A polpa poderá ser usada para fazer sopas, pães e purês, por exemplo.
Purê de cruá com carne seca
Para o purê
3 xícaras de polpa cozida de cruá (veja no “como preparar”)
1/2 xícara de leite
1 colher (sopa) de manteiga
1 pitada de noz moscada
1 pitada de sal
Para a carne seca
1 xícara de carne seca dessalgada, cozida e desfiada
1 colher (sopa) de manteiga de garrafa (ou azeite, se preferir)
Meia cebola picada
1 colher (chá) de colorau
4 colheres (sopa) de salsinha e cebolinha picadas
Meia cebola picada
1 colher (chá) de colorau
4 colheres (sopa) de salsinha e cebolinha picadas
Prepare o purê: coloque a polpa do cruá cozida numa panela e junte o leite. Bata bem com o mixer ou no liquidificador. Leve ao fogo e deixe ferver, mexendo sempre. Desligue o fogo, junte a manteiga e misture para derreter. Junte a noz moscada e o sal e misture.
Prepare a carne seca: numa frigideira, aqueça a manteiga de garrafa e coloque a cebola. Deixe murchar. Junte o colorau e um pouco do líquido de cozimento da carne (ou água quente). Junte a carne seca e espere aquecer bem. Se o refogado estiver muito seco, junte mais um pouco de líquido. Prove o sal e corrija, se necessário. Desligue o fogo, junte o cheiro verde e sirva sobre o purê.
Aqui no Come-se há várias outras receitas com o fruto, como neste post: http://come-se.blogspot.com.br/2010/04/crua-do-quintal-pure-de-crua-suco-de.html