Uma coisa é pegar duas jabuticabas e fazer cozinha contemporânea, de vanguarda, seja lá o nome que se dê, desenhando um risco rubi no prato. Outra é aproveitar uma baciada que a gente não dá conta de comer mesmo dividindo com os amigos. O fato é que não sei outro jeito para não desperdiçar se não congelar antes que fermente para lidar com ela depois ou fazer geleias e compotas. Já dei receita com jabuticaba de tudo quanto foi jeito: vinagre, tapioca, sagu, gelatina, chá, casca desidratada, no papel de banana, com sal, com açúcar, passa, compota, caipirinha e calda. Nunca pensei, no entanto, em fazer da calda um xarope para usar em refresco. Ando com mania de fazer xaropes. É uma saída rápida e gostosa para o verão quando não se tem tempo para fazer um suco de fruta fresca. E uma variação para a simples água. Ao refrigerante, nem se fala. Depois que fiz o xarope de sabugueiro, já fiz de hibisco, de ervas aromáticas e agora o de jabuticaba.
Estas chegaram recentemente com as goiabas, pelas mãos do caseiro, mas as que usei foram as congeladas que tinha da outra safra. Precisei de espaço no freezer e tive que fazer escolhas com o que havia dentro. Imediatamente, claro, pensei em fazer mais xarope colorido. Ainda tenho o de hibisco, mas nunca é demais ter outro sabor, ainda que da mesma cor.
Para o xarope de jabuticaba, foi só colocar as frutas (congeladas já lavadas), uns 3 kg mais ou menos, numa panela de inox e cobrir com água. Deixei cozinhar por cerca de 1 hora até que a água ficou bem tingida e a fruta macia. Coei no pano - a foto lá em cima-, sem espremer muito. Rendeu 2 litros de caldo. Juntei meio quilo de açúcar e voltei ao foto. Deixei ferver até o açúcar derreter e ficar com consistência de xarope. Apaguei o fogo, juntei o suco de um limão, esperei esfriar e engarrafei. Na hora de beber, é só diluir 1/4 de xícara ou a gosto com água e gelo num copo.
Poderia ter parado por aí, jogado fora o bagaço. Mas ainda havia tanta cor, tanta polpa, tanta antocianina, este pigmento antioxidante que a gente tanto busca nos vinhos. Então o que fiz foi tentar uma segunda extração. Coloquei o bagaço na panela, juntei mais água e cozinhei mais 10 minutos. Passei por pano novamente apertando um pouco mais e coletei o líquido, 2 xícaras. Coloquei na panela este suco com 1 xícara de açúcar e o suco de 1 limão tahiti e deixei cozinhar em fogo baixo até o ponto de geleia (tem receita parecida aqui e o ponto da geleia de hibisco, que é igual).
Poderia ter jogado fora agora o bagaço, mas ainda tinha tanta cor, tanta polpa, tanta antocianina... Resolvi fazer mais uma extração. Bati tudo no liquidificador rapidamente com um pouco de água, passei por peneira para reter sementes e cascas, pressionando bem. E à polpa obtida juntei igual quantidade de açúcar. Levei ao fogo e deixei apurar até ficar como uma goiabada cremosa. Ficou uma delícia, com muito sabor ainda da jabuticaba. Pode ser usado como base para sobremesas ou servido como geleia, para passar no pão.
Mas ainda tinha tanta cor.... Agora deixo o assunto da quarta extração para um próximo post, quem sabe.