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A arte de plantar jabuticabas

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Na caixinha em que as próprias jabuticabas vieram 
Há várias artes para se conseguir uma boa muda de jabuticaba. Seja por alporquia da raiz, plantando um galho maduro numa lata com água ou comprando uma boa muda já produzindo cujo preço, a depender do porte e produção,  pode ser o de um carro. Eu mesma só sei uma arte que é a chupar e cuspir alguns caroços - outros tantos vão goela abaixo. 

Jabuticaba é o tipo de mirtácea da qual a gente não costuma encontrar muda  embaixo da fruta mãe (deve ser aquele artifício que algumas plantas têm de inibir mudas filhas por perto para estimular a diversidade). E também não parece ser planta semeada por passarinhos. Acho que não são bobos de carregar a fruta grande para outro lugar ou ainda comer a fruta com caroço (pássaro que come caroço de jabuticaba sabe o funhumhum que tem).  Preferem bicar na árvore. E as sementes que comemos tampouco viram plantas. Então, o negócio é separar sementes e plantar mesmo. 

Depois dos cinquenta anos paira sobre o pensamento o pouco tempo que nos resta. Plantar sementes começa a parecer coisa de gente jovem que terá uma vida pela frente para comer o fruto.  A gente tem pressa, quer logo uma jabuticabeirona vivida cheia de frutos para atolar o dente ligeiramente, quer aquele prazer urgente. E tudo bem, a gente tem ótimos viveiros como o Ciprest e o Oiti, por exemplo, de amigos. Mas se também podemos plantar sementes, que não vejamos, não comamos,  não tem problema.  Fica para as gerações futuras, lembrando que no meu neto, no meu bisneto, haverá uma parte gulosa de mim.  E se não plantamos sementes estaremos agindo como no esquema egoísta e perverso das pirâmides. Só os primeiros do pico se dão bem, o resto que vem que se desmorone. 

Então o que tenho feito e já falei aqui é jogar sobre terra todas as sementes que caem na minha mão ou na minha boca. Nem que seja apenas para dar de presente ou para plantar na beira de um riacho careca. Ou só para ter a alegria de ver aquela semente seguir o ciclo e dar vida a todas as informações da planta mãe que traz encapsuladas. 


Estas jabuticabas comprei para fazer as fotos da coluna do Paladar. Isto foi em Dezembro. Separei as cascas que ia usar, reservei a polpa para suco e sorvete e fiquei com as sementes na peneira. Não tinha nem um só vaso dando sopa no momento. No improviso, o que fiz foi pegar terra do jardim mesmo e encher a própria caixinha de papelão com ela. Umedeci e joguei ali as sementes diretamente da peneira ainda úmidas de polpa. Era para ser um esquema de emergência. Mas esqueci completamente. Outro dia fui mexer no matagal em que se transformou o pedacinho de jardim que tenho e percebi uma florestinha de plantas iguais crescendo à sombra de outras mais agressivas. Afastei as outras plantas, e reconheci quase desfeita a caixinha de papelão. Fiquei feliz porque nunca tinha conseguido fazer vingar uma semente de jabuticaba. E agora, de uma só vez, quase todas as que ali joguei.  Mesmo com tempo seco não tive escolha, tive que novamente improvisar vasos para as mudas. Fiz de jornal. E aí estão, para a posteridade. Acho que são vinte e cinco vasos, alguns com 2 ou 3 mudas que ainda precisam ser rearranjadas caso prosperem. 


E, para não dizer que não falei de comida, se você também plantar sementes acho que já pode ir sonhando com aquela tapioca ou com o sagu








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