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Mais água: "Si num cabá esse negóci de calipi as turma vai passá fome"

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Fonte secando em Piracaia
Veja a fala de agricultores de São Luiz do Paraitinga no vídeo abaixo sobre eucalipto, especialmente a do homem na segunda metade da gravação.  

 A situação é grave, há várias causas para nosso desabastecimento de água, mas não podemos nos esquecer das florestas plantadas. Este é um nome fantasia dado para as plantações de eucalipto que assolam o país. Fantasioso porque floresta pressupõe diversidade de fauna e flora, perenidade, proteção de corpos hídricos. O que não é o caso.  A falsa floresta cresce assustadoramente rápido, afasta fauna e flora e ainda seca todas as fontes de água perto dela e de tempo em tempo vem abaixo, deixando a terra exposta e os mananciais já exauridos ainda mais desprotegidos. Conclusão, nossas fontes estão secando.

Que a cidade de São Paulo era totalmente coberta por fontes e córregos pouca gente sabe, e que hoje nossa água tem que vir de longe, menos ainda. O importante é ter água na torneira. Agora, se já perdemos nossa capacidade de captar água das nossas fontes em nosso território (o certo ao menos seria cada um captar e reservar água de chuva em seu domínio particular para usos diversos) e nossa água vem de longe, é hora de se preocupar também com as fontes distantes com as de Piracaia e região que estão secando. E aí entra o eucalipto.  Ou encontramos formas mais segura de convivermos com isto, com políticas duras de manejo,  ou não teremos água pro nosso feijão em breve. E nesta estiagem a culpa não é só da fatalidade climática.  As represas eram rios, os rios tinham afluentes, os afluentes estão secando. A Sabesp deveria se preocupar não só na orientação de economia de água (que é óbvia e necessária), mas também com os eucaliptos dos topos de morro e do meio do caminho todo além do gado que pasta nos fundos de vale das represas onde deveria haver mata ciliar.  Em Piracaia, de onde vem parte de nossa água, esta situação é constante e ninguém faz nada. Agora, com o corte de grande parte do eucalipto plantado há alguns anos - por agricultores que substituíram suas roças pelo dinheiro do arrendamento pela Votorantim, os topos de morro estão carecas. Aquilo então era uma floresta?  

Parece tudo muito trágico, mas não dá pra falar de figos em compota quando não se tem água (pelo menos hoje, amanhã talvez dê uma boa receita). Pequenos agricultores estão sendo assediados para aderirem ao plantio de eucalipto pelo próprio governo, como vemos neste parágrafo de uma notícia da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República: "A proposta para a construção da Política Nacional de Florestas Plantadas é conduzida pela SAE desde 2010, com o apoio de outros órgãos do governo e da Câmara Técnica Especializada, formada por especialistas dos setores público e privado. Entre os objetivos da política estão a ampliação de estímulos para a inserção dos pequenos e médios produtores no mercado de florestas plantadas, a geração de emprego e renda e a atração de investimentos". Veja o restante do texto aqui: http://www.sae.gov.br/site/?p=19576

Não é novidade alguma o êxodo rural crescente, a situação de miséria em que se encontram agricultores na cidade expulsos de suas terras e as condições precárias dos trabalhadores em falsas florestas de eucalipto que empregam gente apenas para aplicar venenos e depois para cortar, transportar ou fazer carvão. Piracaia foi notícia dia desses.  Ou seja, geração de emprego é balela.

Mas voltando às águas de São Paulo, não deixe de ver o vídeo "Como encontrar uma nascente em São Paulo" com a dupla do Rios e Ruas, o geógrafo Luiz Campo Jr. e o urbanista Roberto Bueno, que aliás fez uma fala ontem no curso de Permacultura que estou cursando.  Eles são esperançosos, especialmente quando temos em São Paulo Horta das Corujas, Praça da Nascente e um grupo grande de gente que faz. E, ok, amanhã falo de comida. 


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