Já quase ia me esquecendo de contar uma coisa sobre o festival de gastronomia (Nossa Pitada) do qual participei recentemente em Goiânia. Uma das estrelas foi o boi curraleiro.
Fora do espaço onde aconteciam as aulas, uma grande churrasqueira foi montada. O cheiro de carne tostada e carvão acesso incitava a fome e aqueles desejos mais primitivos de comer proteína animal. Ando cada vez menos comendo carne, mas não resisti àquela que chegou para degustação com mandioca e farinha.
Fora do espaço onde aconteciam as aulas, uma grande churrasqueira foi montada. O cheiro de carne tostada e carvão acesso incitava a fome e aqueles desejos mais primitivos de comer proteína animal. Ando cada vez menos comendo carne, mas não resisti àquela que chegou para degustação com mandioca e farinha.
A palestra dada pelos chefs Marcus Costa e Ângelo Carlos não foi simplesmente para demonstrar o ingrediente, afinal eles foram atrás da história e de boas referências com quem realmente entende. Para isto contaram com o apoio da professora Clorinda Fioravante, da Universidade Federal de Goiás, que também falou durante a palestra. E foram até o local onde o boi é criado, conversaram com os fazendeiros, com os pequenos criadores e conheceram o projeto da professora que pretende ampliar a criação junto aos Kalunga, comunidade quilombola cravada na Chapada dos Veadeiros. Ou seja, trouxeram o boi inteiro para aula. Literalmente, inclusive, já que a cabeça do bicho ficou ali exposta na mesa espreitando o que se falava sobre ele. Meio assustador e chocante, mas para comedores de carne isto é importante – saber que um bicho foi morto e que carne não nasce embalada em bandejas de isopor, saber que devemos reverenciar cada pedaço de carne comida, evitar desperdícios, comer todas as partes e se lembrar que elas foram guiadas por um par de olhos. Quem sabe assim não comamos menos carne e mais vegetais.
Assaram várias partes e todas ficaram macias. Mérito dos chefs e do boi |
No entanto, se tudo der certo, os kalunga vão voltar a criar o curraleiro, graças ao projeto comandado pela professora Clorinda que tem reintroduzido a raça entre eles pouco a pouco com o apoio de fazendeiros locais - eles doam gado para o projeto. Tudo para que a raça não desapareça e os kalunga possam manter a tradição.
Trazido ao Brasil pelos colonizadores, o boi curraleiro, também chamado de pé-duro, é bastante rústico, menor, dá menos leite, mas a qualidade da carne é muito boa, marmorizada e macia, e, segundo quem conhece, o leite tem um sabor incrivelmente bom, diferente daquele dos gados leiteiros. É o gado ideal para pequenas criações pois é dócil, gentil no trato, fácil de ser acostumado no curral e se alimenta da vegetação nativa como capim, babaçu etc – que também contribui para a boa qualidade de carne.
É free-boi? Não, é curraleiro!
Veja o vídeo feito pelos chefs e apresentado durante a aula.
Veja o vídeo feito pelos chefs e apresentado durante a aula.