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Festa Gastronômica Nossa Pitada, em Goiânia: Boi curraleiro

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Já quase ia me esquecendo de contar uma coisa sobre o festival de gastronomia (Nossa Pitada) do qual participei recentemente em Goiânia. Uma das estrelas foi o boi curraleiro. 

Fora do espaço onde aconteciam as aulas, uma grande churrasqueira foi montada. O cheiro de carne tostada e carvão acesso incitava a fome e aqueles desejos mais primitivos de comer proteína animal.  Ando cada vez menos comendo carne, mas não resisti àquela que chegou para degustação com mandioca e farinha.

A palestra dada pelos chefs Marcus Costa e Ângelo Carlos não foi simplesmente para demonstrar o ingrediente, afinal eles foram atrás da história e de boas referências com quem realmente entende.  Para isto contaram com o apoio da professora Clorinda Fioravante, da Universidade Federal de Goiás, que também falou durante a palestra.  E foram até o local onde o boi é criado, conversaram com os fazendeiros,  com os pequenos criadores e conheceram o projeto da professora que pretende ampliar a criação junto aos Kalunga, comunidade quilombola cravada na Chapada dos Veadeiros. Ou seja, trouxeram o boi inteiro para aula. Literalmente, inclusive, já que a cabeça do bicho ficou ali exposta na mesa espreitando o que se falava sobre ele.  Meio assustador e chocante, mas para comedores de carne isto é importante – saber que um bicho foi morto e que carne não nasce embalada em bandejas de isopor, saber que devemos reverenciar cada pedaço de carne comida, evitar desperdícios, comer todas as partes e se lembrar que elas foram guiadas por um par de olhos.  Quem sabe assim não comamos menos carne e mais vegetais.  

Assaram várias partes e todas ficaram macias. Mérito dos chefs e do boi
Acontece que a terra dos kalunga não é muito boa para cultivo, por isto são mestres na criação de gado.  Até a década de 60 o que predominava ali era o boi curraleiro, substituído mais tarde por raças ditas mais nobres ou produtivas como o Gir e Nelore.  Hoje não restam muitas cabeças deste gado rústico. Não se sabe ao certo, mas num levantamento recente contava-se cerca de 5 mil em todo o país.  No Piauí ainda tem importância, mas praticamente desapareceu do restante do país.

No entanto, se tudo der certo, os kalunga vão voltar a criar o curraleiro, graças ao projeto comandado pela professora Clorinda que tem reintroduzido a raça entre eles pouco a pouco com o apoio de fazendeiros locais - eles doam gado para o projeto.  Tudo para que a raça não desapareça e os kalunga possam manter a tradição.

Trazido ao Brasil pelos colonizadores, o boi curraleiro, também chamado de pé-duro, é bastante rústico, menor, dá menos leite, mas a qualidade da carne é muito boa, marmorizada e macia, e, segundo quem conhece, o leite tem um sabor incrivelmente bom, diferente daquele dos gados leiteiros.  É o gado ideal para pequenas criações pois é dócil, gentil no trato, fácil de ser acostumado no curral e se alimenta da vegetação nativa como  capim, babaçu etc – que também contribui para a boa qualidade de carne.

É free-boi? Não, é curraleiro!

Veja o vídeo feito pelos chefs e apresentado durante a aula. 


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