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Saímos com mãos vazias e voltamos com sacolas cheias |
Ontem foi o
Terra Madre Day e até agora já aconteceram ou estão para acontecer, mundo afora, 857 eventos para comemorar a data. O Come-se convidou leitores e amigos para celebrá-lo com um dia de campo na cidade, descobrindo e reconhecendo espécies comestíveis no espaço urbano. A ideia era que estivéssemos em 10 ou 11, no máximo, porque depois cozinharíamos o produto da colheita e minha cozinha é pequena. Mas a turma cresceu e saímos em quatorze pessoas que depois se ajeitaram entre o fogão, a pia e a mesa do quintal. Deu tudo certo e ninguém se lembrou que era segunda-feira (sim, todos trabalham, mas deram um jeito). Cênia Salles, lider do convívio do
Slow Food São Paulo também participou.
Alguns leitores do blog, eu já conhecia e outros, não, mas foi como se fossem todos de casa, suportando o calor, o barulho das panelas, o improviso e o espaço pequeno. Tivemos a sorte de contarmos com a presença de um leitor do Come-se que sabe tudo de planta. O Guilherme Ranieri reconhece muito mais espécies comestíveis que todos nós e com ele aprendemos muito durante todo o trajeto que fizemos pelas ruas da City Lapa. Não só reconhece, mas sabe tudo sobre elas, desde o nome científico até a fisiologia da espécie.
Rodrigo Ferreira também contribuiu bastante, pois além de subir nas árvores para colher frutas, é especialista em agrofloresta e nos mostrou pequenos exemplos pela cidade, como um canteiro na praça Senador José Roberto onde encontramos bananeira, mamoeiro, feijão, beldroegas e batata-doce - desta, colhemos as folhas.
Juliana Valentini, do viveiro Oiti, de Holambra e do blog
Deverdecasa, colaborou com seu conhecimento e laranjas para o suco (as últimas de um pomar vizinho que foi derrubado). Ainda ganhei farinha de milho, cachaça, mudas e sementes. E se tudo isto não bastasse, na hora de lavar, cortar, picar, cozinhar, todo mundo compartilhou o trabalho, de modo que fiquei tranquila para cozinhar e conversar sem afobação. Flora, minha sobrinha, foi também meu braço direito. Está certo que deixei algumas etapas adiantadas porque chegaríamos com fome. Um dia antes cozinhei feijão verde que ganhei da amiga Marisa Ono,
do blog Delícia, que o cultiva em Ibiúna. Antes de sairmos, deixei cozinhando arroz integral com outros grãos e na véspera fiz uma torta de manga verde com receita da sogra da Juliana, já que as mangueiras paulistanas estão carregadas. Preparei ainda no domingo uma massa de nhoque com banana verde. Havia sobre a mesa alguns ingredientes trazidos de Piracaia, como ovos de galinha caipira e tomatinhos da roça, outros trazidos do sitio da Marisa, em Ibiúna, além de uvas, pimentas e ervas do meu quintal. Tudo isto para, junto com nossa colheita, improvisar nosso almoço.
Nas ruas encontramos grumixamas vermelhas e amarelas, pitangas, uvaias, graviolas, limões, tamarindos, mangas e bananas verdes. De ervas, colhemos beldroega, língua de vaca, buva, bredo, serralha, folhas de batata-doce, dente de leão, serralhinha, salsão silvestre, mentruz, flor de sabugueiro etc. Encontramos ainda vagens vermelhas de feijão e cúrcuma. A grande novidade e encanto, no entanto, foram os pepininhos silvestres avistados pelo Guilherme na cerca de uma casa meio abandonada. Se eu soubesse que era de comer, não teria metido a enxada, nos disse uma mulher que se disse cuidadora da velha moradora.
As mangas verdes já estavam na torta feita antecipadamente, mas foram também para um chutney cru com pimenta e cominho, para a salada e para o suco. O bredo foi aferventado em água com alho e sal e ajudou a temperar o arroz junto com o feijão verde e cebolas. Já as folhas de batata-doce foram simplesmente refogadas no alho e cozidas em pouca água até que ficassem macias. As folhas picantes de buva (Conyza ssp) foram transformadas pela Cenia em pesto delicioso servido com a salada verde feita com todas as outras folhas além de tomatinho da roça e os micro pepinos silvestres (Melothria pendula). Para o purê, usamos as bananas verdes cozidas com casca na pressão e temperadas com creme de leite, cebolas douradas com a cúrcuma ralada e grãos de cominho e de coentro tostados e triturados. Para decorar o purê, espalhamos sementes de língua de vaca (Talinum paniculatum), aquecidas na manteiga. A massa de nhoque de banana verde (purê de banana temperado com noz moscada, sal e manteiga) já estava dentro de tubos de biscoito e foram cortadas em rodelas, como nhoques romanos de semolina. Cênia cobriu com queijo meia cura, de Piracaia, ralado e creme de leite. Por cima espalhou folhas de manjericão e orégano e levou ao forno. Bebemos suco de laranja, de tamarindo e de manga verde e comemos de sobremesa a torta de manga e a de banana com ameixa feita pelo Fábio Metello. Pronto, tivemos um almoço leve, fácil, gostoso, feito com vegetais que crescem por aí à sombra da observação do homem urbano. Ah, como aperitivo tivemos degustação de horchata de xufa feito com batatinhas de tiririca que eu trouxe da Espanha, comemos polpa de baobá que eu trouxe do Senegal, e alho negro preparado pela amiga Marisa Ono.
Acho que todos nós gostamos da experiência. E já que não temos por aqui floresta com cogumelos como os europeus que saem para a coleta com cestinha de palha e cajado, que tal reunir seus amigos, se paramentar de tênis, chapéu, água, canivete, tesoura e sacola de pano, um pau de vassoura com um gancho (como o que o Marcos fez para mim) e sair por aí olhando praças verdes e calçadas de terra descoberta em meio ao escuro do asfalto e ver o que consegue colher. Pode não ser um modo de se viver, economizar e comer todos os dias, mas garanto que pode ser muito divertido e instrutivo, principalmente se estiver em boa companhia. Eu estive!
Algumas fotos (minhas e da Flora Rigo):
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Grumixama vermelha |
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Um pau de vassoura com ganchinho na ponta (feito pelo Marcos) ajuda a puxar frutas como estes tamarindos |
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Cuidados com mangas verdes. O látex queima |
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Tiramos só algumas bananas. O resto ficou para amadurecer. Cuidado com a seiva, que mancha a roupa |
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Cenia feliz por alcançar as mangas |
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Surpresa: pepininhos silvestres na cerca |
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Bananeira e limoeiro numa ilha verde entre asfaltos |
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Rodrigo nos mostra um micro exemplo de agrofloresta |
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Algumas vezes o sinal verdeja para nós. |
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Rodrigo colhe limão rosa |
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Rodrigo colhe cúrcuma |
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Guilherme mostra batatinha da tiririca amarela |
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A última uvaia |
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As jabuticabas ainda estão verdes |
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Lúcia subiu na cerca para colher pepininhos |
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Graviolas no chão |
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Feijão que entrou no prato de arroz |
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Pepininhos |
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Cúrcuma |
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Tiririca amarela (Hypoxis decumbens) - come-se a batata |
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Grumixama amarela |
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Limão rosa |
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Pitangas |
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Mangas verdes cozinhando para a torta |
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As últimas laranjas dos últimos pomares |
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Alimentos locais |
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Todo mundo ajudando a preparar. Lili, de branco, não pode esperar o almoço pronto. Perdeu, Lili! |
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Os pratos prontos com suco de manga verde |
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Purê de banana verde com "papoulas" de língua de vaca |
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Salada urbana |
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Arroz com feijão verde e bredo |
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Curry de manga verde |
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Folhas de batata doce |
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Pesto de buva |
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nhoque de banana verde |
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Torta de manga verde |
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Torta de banana com ameixa - contribuição do Fábio Metello |
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Gente no chão: Sonia e Janaína (escondida) |
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Na banqueta: Fábio, Carol e Cenia |
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Com comida no colo: Letícia, Guilherme e Lúcia |
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De boca cheia: Sonia, Janaína e Juliana |
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Andrés Sandoval (autor do banner do Come-se) e Rodrigo |
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Com prato limpo, lambido, quero mais! Juliana, Nana e Flora |
Veja também, no blog da Juliana, o post sobre a experiência e muitas fotos legais: http://www.deverdecasa.com/2012/12/o-primeiro-terra-madre-day-gente-nunca.html