Justo nesta semana quando comemorava minha primeira colheita de cebola - uma pequena penca -, fiquei sabendo que em São José do Rio Pardo, a terra do chef Jefferson Rueda que não se lembrou de falar disso ontem na aula dele no Mesa Tendências, 20 mil toneladas de cebolas não serão colhidas por causa dos preços baixos desta safra. No ano passado, a cebola alcançou bom preço, o que motivou produtores a plantarem mais. Conclusão óbvia, o preço caiu e a saca está custando tão pouco que não compensa pagar para colher. Vale um Disco Xepa de chefs só pra aproveitar esta cebola que apodrece no campo.
Bem, mesmo assim, não posso deixar de me alegrar com minha primeira e insignificante colheita. Para a mim, a coisa mais grandiosa do mundo. Já tinha mostrado aqui o porque de nunca mais cortar cebolas em rodelas, pelo menos não na época de plantio. Primeiro porque o miolo pode ser replantado e segundo (e talvez isto me motive a continuar cortando assim durante todo o ano), porque o efeito lacrimejante é quase nulo - talvez a posição em que a faca passe pelas células diminua a liberação da substância irritante.
Se você acompanha o Come-se, verá que plantei as cebolas tem uns dois meses. E aprendi como plantar num curso de hortas. Não tem segredos. É só enfiar o broto na terra. Por isto, a cebola maiorzona levei de presente para a Vivian, a jovem professora agrônoma que me deu o toque - de cortar a cebola pela metade e deixar na geladeira para brotar. Sou péssima aluna, não fiz nada disso, mas também deu certo. Em vez de cortar ao meio, deixei o miolo inteiro, usando o que havia em volta dele na cozinha. E nem coloquei na geladeira (achei que ia ficar cheirando ruim). Coloquei direto na terra. Mas deu certo e agradeço pelo incentivo. Claro, o pessoal lá em São José do Rio Pardo deve ter técnicas mais apuradas para uma colheita mais produtiva (neste ano, não adiantou), mas para plantio doméstico como o meu, funcionou assim. Uma coisa que desconhecia e só descobri na mini colheita é que de um miolo nascem várias cebolas, como se fosse um bulbo de alho, só que separado. Nunca tinha parado para especular sobre isto.
Não fiz nenhum uso especial das cebolas que colhi, mas cortei pedaços, incluindo os talos, e assei com outros legumes colhidos no sítio em estágios não convencionais - jilós maduros, por exemplo. A melhor cebola que já comi na vida. Docinha, fresca, ainda impregnada com o perfume de terra molhada, com a vista para a água e as montanhas e com o cantar dos passarinhos que voaram sobre ela.
Todas as partes são comestíveis. E se você tira o broto, o bulbo cresce mais |
Corto cebolas assim: de um lado, de outro, tiro a pele e corto as laterais |
Planto um miolinho e colho uma penca |
E, bulbos, brotos, talos, folhas, tudo. Nhac! |