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Uvas quilômetro nenhum

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Teve um tempo em que festas de fim de ano significavam caixas de madeira preenchidas com cachos intactos de uvas rosadas, cerosas, doces, cheirosas, que faziam a alegria das crianças. Depois a gente perde a inocência e aquele sabor, às vezes confundido com as boas memórias afetivas, já não parece tão bom. Desde que sei do tanto de defensivos que se usam nas uvas, não consigo comê-las com a mesma alegria.  Mas neste ano, tudo será diferente e poderei viver um pouco como no passado. Meus dois pezinhos de uva, da rosada e da verde, me deram uma boa carga, bem melhor que as anteriores. 

Queria ter eu provado das primeiras maduras da safra, mas algum ser vivo chegou antes - certamente um ratinho, pois dizem que pássaros não bicam uvas. Quando voltei de viagem, só restavam os pedúnculos. Decidi então ensacar os dois maiores cachos que amadureceriam na sequência só para ver se a artimanha funcionaria. Funcionou. Tanto que o cacho vizinho, o próximo na linha sucessória de amadurecimento, já havia sofrido algumas baixas e os empacotados estavam lá, inteirinhos. Colhi os cachos maduros, usei as embalagens para proteger outros e empacotei toda a safra com saquinhos reaproveitáveis que fiz com voal de cortina. Agora quero ver quem ganha a disputa. 

Pois estas uvas rosadas estão tão doces, perfumadas e sadias,  que a lembrança delas vai ocupar todo o espaço onde se abrigavam aquelas da infância. Marcos e eu comemos sem tirar sementes e sem culpas, espremendo as cascas entre os dentes, extraíndo a tinta, a essência e o perfume com a maior alegria do mundo. Uvas do quintal de trás, quilômetro sub-zero! E de um quintal tão mequetrefe, como diz Nina Horta do seu, muito maior que o meu.  A verde ainda não atingiu o seu auge, mas deve chegar lá.

Dizem que pássaro não come uva. Então foi um rato.
Bolinhas por bolinhas, que coma pimentas - do lado das uvas!







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