Milena entrevistando Ângelo |
Pois é, o jornal nos chama de neo-rurais e eu nunca parei para pensar se gosto ou não do termo, mas tanto faz. O fato é que na última visita que fiz, em Piracaia, para certificação participativa (projeto do governo que permite que os próprios produtores de orgânicos atestem-se uns aos outros, diminuindo os custos com certificadoras tradicionais, cujos selos custam caro), numa roda grande de produtores e apoiadores (meu caso), todos eram de fora e todos tinham outras formações não ligadas à roça. Mas todos com a mesma ambição.
Dercílio Pupin, do Família Orgânica, que coordena agora este movimento "Piracaia Orgânica", e acabou de comprar terras ali, é filósofo. Milena e Arthur são biólogos, outros são músicos, designeres gráficos, agrônomos, jornalistas, fonoaudiólogas, médicos. Todo mundo querendo produzir comida mais limpa e ter mais qualidade de vida.
Visitamos a produção do Ângelo, que é agrônomo e bioconstrutor - é dele o feitio da própria casa, com terra, teto verde, tudo de bom e sustentável - a da foto. Na volta, passamos no sítio da Sonia, que de pasto está se transformando num verdadeiro oásis de cultivo orgânico, graças à consultoria do Pupin. Saí de lá com as mãos cheias de vagens, abobrinhas, brotos de girassois (que resolvi cozinhar pra provar e certificar que se parecem com alcachofras). E depois, esticamos até o sítio da Milena para comprar mel e queijo. Uma verdadeira circulação de mercadorias.
A vistoria para obtenção do selo é atenciosa e o formulário, preenchido minuciosamente, na presença de todos os participantes que formam um grupo pequeno, de 8 a 10 produtores. Quando o número de interessados é grande, forma-se outro grupo. Depois, pelo menos um terço de um outro grupo vem avaliar se tudo o que foi visto, dito e preenchido está correto e corresponde à verdade. Anexam-se documentos que possam comprovar (nota de compra de sementes orgânicas, por exemplo) e só então o selo é concedido.
Agora, o desafio é criar uma feira na própria cidade e incentivar os produtores tradicionais, ex-produtores e consumidores da região a aderirem à causa (ainda se usa muito agrotóxico por lá). E quem sabe haja uma maneira de conciliar a produção de eucaliptos com a de comida, produzindo menos impacto ambiental. O eucalipto mudou de tal jeito a paisagem que até velhos comedores de içás reclamam que não tem mais formiga na época da revoada. E das nascentes, então, nem se fala. Várias foram riscadas do mapa. Fora os insetos, os pássaros, mamíferos, que não têm nenhuma predileção por eucalipais. Isto vai mudar, pelo menos se depender deste grupo.
Amanhã estaremos na Pousada Figueira Grande, da Helenice, que também participa do grupo.
Milena aplicando o questionário na presença de todos |
O grupo vai conferir a produção em sistema de agrofloresta |
Limpos e deliciosos: Pupin no sítio da Sonia, colhendo abobrinhas e vagens |
Na acola ou no carro de um neo-rural sempre há umas sementinhas |
Terra comprada pelo Pupin, onde vai plantar trigo |