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Choveu içá em Piracaia

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Estava eu lá em Piracaia neste final de semana trabalhando no jardim, sob um sol escaldante no domingo, quando começou a chover içá. 

No sábado, ao anoitecer, teve uma invasão de besouros, que se suicidavam queimados no lustre. E agora, sob o sol quente eles eram enterrados pelas formigas, para irem devorando aos poucos. Era isto que observava quando começou a cair içá do céu. No começo,  fiquei assustada com aquelas formigonas e confesso que matei algumas com o enxadão. Aqueles insetos realmente não faziam parte das minhas memórias. Mas me lembrei de ter conversado com a amiga Nana Tucci dias antes. Ela tinha ido à Lagoinha, no Vale do Paraíba,  fazer uma matéria para o Caderno Comida, do Jornal Folha de São Paulo e me mandou a íntegra do texto, que publicou no seu blog Calunga Cor de Rosa. Portanto, antes de continuar lendo, melhor ir lá para saber tudo sobre a caçada e o bicho: Formigou 

Nunca vi uma caçada, mas já comi paçoca feita com elas em Silveiras, também no Vale. E foi sobre isto, sobre o costume e a natureza do bicho que falei no post Delícias de Silveiras.  Compensa dar uma olhada nestes dois links antes de prosseguir.  

Tentei olhar em volta para descobrir de onde vinham, mas o sol estava se pondo e eu ainda tinha muito trabalho na terra antes de voltar para São Paulo.  Depois me arrependi. Devia ter procurado o formigueiro para acompanhá-lo. Não é toda hora que cai içá do céu. Quando resolvi catar algumas, várias delas já estavam com bundinhas pra cima, cavoucando buraco na terra ainda molhada da chuva do dia anterior.  Achei bom porque estavam entrando em terreno duro de terraplanagem. Assim, os novos formigueiros servirão para arejar as profundezas com suas galerias. Só espero que não virem saúvas cortadeiras vorazes que vão acabar com os meus verdes. 



Quando as catei do chão, já estavam sem as asas. Usei uma caneca de pegar grãos como se fosse pá e fui colocando num pote com tampa. Cerca de uma dúzia apenas. Congelei quando cheguei aqui e só hoje limpei. Eliana ajudou, mas é fácil. Estando congeladas, basta quebrá-la pela cintura, aproveitando apenas o abdome e descartando tórax e cabeça. Ela tem mais prática que eu, pois seus vizinhos que vieram de Minas e Pernambuco pegam içás aqui mesmo em São Paulo, quando começam a cair no asfalto. E preparam farofa em banha de porco com farinha de mandioca, para comer com cerveja.  Segundo ela, bastante içá e pouca farinha, diferente do que fiz. Como tinha pouco, fritei na manteiga e juntei farinha suficiente para o meu almoço. Comi com carne e verdura. E estava boa. No começo parece estranho, mas quando se vence o preconceito e começa a prestar atenção ao sabor, ele é bom, muito bom. E a textura,  crocante como pipoca. 



Não quero, não gostei ! Só quero as bolinhas crocantes! 
Dendê também adorou e queria mais. Claro, só as bolinhas crocantes,  o filé mignon da formiga. Já o que sobrou da separação, cabeça, corpo, perninhas, misturei como complemento proteico na comida da vira-lata, que come de um tudo (menos nozes, casca de jabuticaba e outras poucas coisas). Achei que bastava ser proteína para que Dendê devorasse, mas que nada. Não quis saber. Embora tudo bem misturado, ela conseguiu separar todas as cabecinhas. Algumas,  pegou com a boca e cuspiu para fora da vasilha. Outras, deixou no fundo. Não é boba nem nada esta filha de uma cadela. 

E aí, em algum outro lugar está tendo revoada de içá? Vamos pensar outros pratos com ela? 


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