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Curso: Jardim Comestível - Uso culinário de plantas alimentícias não convencionais.

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Reproduzo abaixo o informe do simpósio do qual vou participar como palestrante, no Jardim Botânico Plantarum.
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Você sabia que muitas das plantas silvestres são saborosos e nutritivos alimentos?
 
Araruta, ariá, bertalha, bredo, coentro-bravo, cachi, cará, guandú, jacatupé, jambú, mangarito, moringa, ora-pro-nobis, serralha, taiá, taioba e vinagreira são apenas alguns exemplos de plantas que outrora foram amplamente utilizadas na alimentação básica de nossos ancestrais e que, por alguma razão, foram esquecidas pelas gerações que se sucederam.
 
Em comemoração à Semana Mundial do Meio Ambiente o Jardim Botânico Plantarum realizará encontro técnico com foco na revalorização, identificação, cultivo e utilização gastronômica de inúmeras espécies vegetais ainda pouco conhecidas.
 
O evento é destinado aos estudantes de biologia, gastronomia, agronomia, viveiristas, horticultores, jornalistas, chefes de cozinha e demais interessados nas tendências modernas da culinária.
 
PROGRAMAÇÃO
 
9h – Credenciamento e café de boas vindas (incluso) no Centro de Eventos JBP.
 
9h30min – Palestra Introdução à Etnobotânica – Harri Lorenzi
 
10h – Palestra Princípios da Gastronomia – Andrew Scott Bushee
 
10h30min – Palestra Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) – Valdely Kinupp
 
12h – Almoço (incluso) convencional e especial com PANC’s no Centro de Eventos JBP. Tempo livre para visitação ao jardim e à coleção de PANC´s.
 
14h – Palestra Plantas alimentícias não convencionais encontradas no espaço urbano da cidade de São Paulo  - Neide Rigo
 
15h – Palestra Resgate de Conhecimentos Tradicionais: Produção e Consumo de Hortaliças Não Convencionais no Vale do Paraíba/SP. - Cristina Maria de Castro
 
15h30min – Palestra Conversão da monocultura de Guanandi (Calophyllum brasiliense) em Sistemas Agroflorestais e seus desafios no manejo e formação do Ambiente & OBJETIVOS DA REDE AGROFLORESTAL DO VALE DO PARAÍBA – Patrick Assumpção
 
16h - Sessão de autógrafos por Harri Lorenzi nos livros da série Plantarum.
 
 
 
INVESTIMENTO (inclui café da manhã, palestras, almoço e certificado).
 
Até dia 15 de maio - R$ 200,00 por pessoa.
 
Após dia 15 de maio – R$ 250,00 por pessoa.
 
Até 15 de maio – R$ 180,00 (valor especial para Associados do JBP).
 
 
VAGAS LIMITADAS - GARANTA SUA PARTICIPAÇÃO
 
Consulte disponibilidade de vagas pelo e-mail curso@plantarum.org.br e aguarde as instruções de como se inscrever.
 
 
 
Como chegar              Onde se hospedar
 
 
Mais informações pelo telefone: 19 3466 5587 e no portal www.plantarum.org.br
 
Jardim Botânico Plantarum é uma associação sem fins lucrativos, dedicada à educação, pesquisa e à conservação da flora brasileira, reconhecida pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos.
Seu acervo botânico vivo é constituído por exemplares de mais de 3700 espécies de plantas, identificadas e cultivadas em uma área aberta à visitação com 80 mil m2 de jardins temáticos, maciços floríferos, lagos, bosques de árvores nativas e mais de cinco quilômetros de acessos pavimentados para caminhada e fruição.
 
Você pode colaborar para divulgação de nosso trabalho repassando esta informação entre seus contatos!
 
Caso não deseje receber nossos informativos, basta descadastrar seu e-mail em nosso portal.
 
 
 
 
JANTAR GOURMET "JARDIM COMESTÍVEL"
 
NO BRAVISSIMO RISTORANTE
 
Local: Jardim Botânico Plantarum – Nova Odessa – SP.
 
Dia 08 de junho de 2013, às 20h.
 
Jantar especialmente elaborado com plantas alimentícias não convencionais e cardápio tradicional.
 
Como reservar: 19 3498 2031 / 19 3402 6336 / 19 8136 7277 (TIM)
 
E-mail: bravissimoristorante@hotmail.com

Piracaia e os novos produtores de orgânicos, na Folha de São Paulo de hoje

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Milena entrevistando Ângelo 
Saiu hoje na Folha: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2013/05/1274716-cidade-do-interior-de-sao-paulo-recebe-rede-de-produtores-organicos.shtml

Pois é, o jornal nos chama de neo-rurais e eu nunca parei para pensar se gosto ou não do termo, mas tanto faz. O fato é que na última visita que fiz, em Piracaia,  para certificação participativa (projeto do governo que permite que os próprios produtores de orgânicos atestem-se uns aos outros, diminuindo os custos com certificadoras tradicionais, cujos selos custam caro), numa roda grande de produtores e apoiadores (meu caso), todos eram de fora e todos tinham outras formações não ligadas à roça. Mas todos com a mesma ambição. 

Dercílio Pupin, do Família Orgânica, que coordena agora este movimento "Piracaia Orgânica",  e acabou de comprar terras ali, é filósofo. Milena e Arthur são biólogos, outros são músicos, designeres gráficos, agrônomos, jornalistas, fonoaudiólogas,  médicos. Todo mundo querendo produzir comida mais limpa e ter mais qualidade de vida. 

Visitamos a produção do Ângelo, que é agrônomo e bioconstrutor - é dele o feitio da própria casa, com terra,  teto verde, tudo de bom e sustentável - a da foto.  Na volta,  passamos no sítio da Sonia, que de pasto está se transformando num verdadeiro oásis de cultivo orgânico, graças à consultoria do Pupin. Saí de lá com as mãos cheias de vagens, abobrinhas, brotos de girassois (que resolvi cozinhar pra provar e certificar que se parecem com alcachofras). E depois, esticamos até o sítio da Milena para comprar mel e queijo. Uma verdadeira circulação de mercadorias. 

A vistoria para obtenção do selo é atenciosa e o formulário, preenchido minuciosamente, na presença de todos os participantes que formam um grupo pequeno, de 8 a 10 produtores.  Quando o número de interessados é grande, forma-se outro grupo. Depois, pelo menos um terço de um outro grupo vem avaliar se tudo o que foi visto, dito e preenchido está correto e corresponde à verdade. Anexam-se documentos que possam comprovar (nota de compra de sementes orgânicas, por exemplo) e só então o selo é concedido. 

Agora, o desafio é criar uma feira na própria cidade e incentivar os produtores tradicionais, ex-produtores  e consumidores da região a aderirem à causa (ainda se usa muito agrotóxico por lá). E quem sabe haja uma maneira de conciliar a produção de eucaliptos com a de comida, produzindo menos impacto ambiental. O eucalipto mudou de tal jeito a paisagem que até velhos comedores de içás reclamam que não tem mais formiga na época da revoada. E das nascentes, então, nem se fala. Várias foram riscadas do mapa. Fora os insetos, os pássaros, mamíferos, que não têm nenhuma predileção por eucalipais. Isto vai mudar, pelo menos se depender deste grupo.

Amanhã estaremos na Pousada Figueira Grande,  da Helenice, que também participa do grupo.  

Milena aplicando  o questionário na presença de todos
O grupo vai conferir a produção em sistema de agrofloresta


Limpos e deliciosos: Pupin no sítio da Sonia, colhendo abobrinhas e vagens

Na acola ou no carro de um neo-rural sempre há umas sementinhas 

Terra comprada pelo Pupin, onde vai plantar trigo 

Sobre a aula de Doces, no Paladar, Cozinha do Brasil

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Foto: Filipe Araújo/ Estadão

Tá tudo no jornal O Estadão de hoje, sobre o evento  Paladar Cozinha do Brasil. E algumas coisas mais, como receitas, ingredientes, fatos, vídeos e fotos, lá no blog do Paladar.  Como este texto da Cíntia Bertolino falando de nossa aula. 

Um doce, nem tão doce assim

TEXTO: CÍNTIA BERTOLINO, ESPECIAL PARA O ESTADO

O título da aula comandada por Ana Soares, Mara Salles e Neide Rigo não é exagero. Ao longo das mais de duas horas da aula Investigação Doce, o que se viu foi um mergulho, em profundidade, na tradição doceira brasileira. Uma tradição pouco conhecida, em que o açúcar, vejam só, não é o sabor dominante.
Para manter a tradição do brinde de boas-vindas, o trio abriu os trabalhos de sua sexta participação no Paladar – Cozinha do Brasil servindo uma dose de paiauaru, bebida de origem indígena. O paiauaru, este quase trava-língua, é feito com abacaxi fervido e fermentado por cerca de cinco dias. A doçura suave casou muito bem com o frisante involuntário. É que antes de envasar o paiauaru, Neide Rigo acrescentou caldo de cana-de-açúcar e conseguiu uma segunda fermentação. Um método champenoise da floresta. Normalmente, o caldo de cana é acrescentado, mas a bebida não é colocada em vidro hermeticamente tampado.
Instigadas pelo tema da aula, elas pesquisaram a origem, o gosto por um dulçor tão pronunciado, que parece ter nascido com o Brasil. Nas investigações descobriram o fermentado. As preparações com farinhas, como a puba, cuja leve acidez ajuda a contrabalançar o doce. “A fermentação adiciona um sabor novo ao prato, tira aquele sabor primário do açúcar”, contou Mara Salles.
A surpresa foi justamente essa. Descobrir novos mistérios que andavam soterrados sob montanhas de açúcar. Dentre os tantos pratos e ideias apresentadas (quem já viu uma aula do trio sabe o turbilhão novidadeiro que é), o pudim negro. Servido com farinha de mandioca fina, esse manjar preparado por Ana Soares, feito com castanha de caju, gergelim, rapadura, leite gordo, especiarias e morcela (o chouriço com sangue de porco), é doce, mas também tem uma pontinha salgada. Untuoso, avivou um gosto que parecia perdido na memória.
Inspiradas por Câmara Cascudo, pela confluência das comidas indígena, portuguesa e africana, pouco a pouco foram surgindo os bolos de puba, tabuleiros de adoçados (mandioquinha, abobrinha assadas), com melaço a gosto, o aberém, doce típico de Goiás, melaço de frutas...
Entre experiências explosivas (fermentar pode dar nisso), algumas malcheirosas, elas relevaram a perplexidade diante do convite para tratar de um assunto inesperado: “Nosso gosto favorito não é o doce. Preferimos o salgado, o ácido, o amargo. Foi um desafio superar um sabor menos apreciado”, confidenciou Mara. “O doce que a gente gosta não é tão doce assim. Não é tão fácil e rápido assim”, completou Neide.
Para encerrar uma apresentação pontuada por poesia, um brinde. Com o açúcar da cana, é claro. E um viva à cachaça.

Aberém

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FOTO: TADEU BRUNELLI/ESTADÃO

Aberém foi um dos doces preparados pela Mara Salles, chef do restaurante Tordesilhas, na nossa aula no Paladar Cozinha do Brasil.  Durante nossos encontros investigatórios, Mara apareceu um dia aqui com o milho fermentado dentro de uma moringa. O cheiro era tão ruim que contaminou a casa e foi motivo de muita piada. Eliana, que não trabalha mais comigo - sim, estou sem empregada e não tem nada a ver com algo de errado que Eliana tenha feito ou por força da lei, já que quanto a isto estava tudo mais que acertado, foi canseira mesmo -, chegou no outro dia e disse que ficou olhando a sola do pé e debaixo do braço pra ver se a catinga vinha dela.  O fato é que a fermentação do milho não podia ter sido feita ali na moringa, sem espaço para a dispersão dos gases formados. Na segunda experiência, numa panela de barro de boca larga, pronto, tudo acertado. E o milho fermentado teve um incremento de sabor, de textura, e se transformou em delicadas pamonhas ácidas e perfumadas, tradicionais no Centro Oeste,  anunciadas por vendedores ambulantes: berém, berém, quem quer berém? 

Manoel Quirino, no seu livro de comida baiana, diz que aberém é comida africana feita com a mesma massa do acaçá e que pode ser diluído para virar refresco. O da Mara foi servido assim, embrulhadinho em folha de bananeira, e fez o maior sucesso. 

Bem, aqui está a receita, a pedido da leitora Diulza, mas que também pode ser vista lá no blog do Paladar. Minhas receitas, posto mais pra frente, embora também estejam lá no blog. 

Aberém: receita preparada por Mara Salles 

Ingredientes
500 g de milho amarelo seco
2 litros de água
4 cravos da índia
1 pau de canela
2 limões tahiti
Folhas de bananeira

Modo de preparo
  • 1. Escolha o milho, lave e coloque para fermentar num recipiente de barro com 2 litros de água. Cubra o recipiente com um tecido fino (gaze, por exemplo) e deixe repousando em temperatura ambiente por 2 dias.
    2. Passados os 2 dias, escorra o milho, descarte a água e bata no liquidificador com água nova, na proporção de 2 volumes de água para 1 volume de milho.
    3. Coloque a mistura no recipiente de barro sem tê-lo lavado e deixe por 2 dias na geladeira.
    4. Higienize as folhas de bananeira com um pano úmido e, depois de bem secas, passe pela chama do fogo rapidamente para que fiquem maleáveis. Reserve.
    5. Coe o milho fermentado em peneira fina, adicione o líquido obtido em uma panela com o açúcar, a canela em pau e os cravos.
    6. Leve ao fogo médio e mexa sem parar. Quando atingir a consistência de manjar, desligue o fogo.
    7. Ponha uma colherada de sopa do aberém no centro da folha de bananeira e faça um embrulho com cuidado para que não vase.
    8. Cozinhe os invólucros no vapor por 15 minutos. Deixe descansar em temperatura ambiente até esfriar. Guarde na geladeira.

    A primeira experiência

  • Piracaia Orgânica pode dar selo a pousada. Figueira Grande

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    Ontem, aquele mesmo grupo do Piracaia Orgânica, já citado aqui, esteve na Pousada Figueira Grande (aliás, o primeiro lugar onde almocei em Piracaia). A prefeita, Terezinha das Graças da Silveira Peçanha, e o secretário da agricultura também estiveram no encontro e se comprometeram a nos apoiar. Agora é trabalhar para concretizar vários sonhos, listados na forma de projetos. O Edu Filomeno, da Unaghi já fez de presente o logo e começou o site. Logo o movimento contará com um ponto de venda na cidade de Piracaia e assim caminhamos. Neste sábado haverá um plantio simbólico de trigo na propriedade do Pupin (do Família Orgânica). Se quiser aparecer, será um prazer. 

    PIRACAIA ORGÂNICA


    Visitamos a propriedade da Helenice, com mata atlântica super preservada, e espaço para horta no barranco, e depois almoçamos, com participação de todos no fogão, preparando alimentos colhidos na hora: mandioca branca, chuchu, moranga, acompanhados com suco de amoras do sítio do Celso, produtor que também faz parte do movimento.

    A ideia é que as pousadas que aderirem ao movimento, que passarem a usar orgânicos em seus cardápios, recebam também o selo do Piracaia Orgânica. Helenice, em sua pousada Figueira Grande, usa grande parte do que cozinha de sua própria horta e pomar,  cultivada de maneira limpa, ou vinda de produtores locais. Que a iniciativa dela sirva de exemplos para tantas outras na região.  Seguem algumas fotos. 

    A horta feita em barranco, com canteiros apoiados em pedras

    Laranja do pomar da pousada

    Reunião com a prefeita - a do meio (Milena sempre anotando tudo)

    Mandioca e refogado de moranga com chuchu

    Mesa farta na pousada

    Vista de um dos chalés da pousada

    Mandioca branca - de diâmetro inacreditável

    Pupin e Helenice na horta

    Lanche: banana local e bolo feito pela Sonia, com mel da Milena

    Pupin observa os canteiros 

    Lanche: pães caseiros (um deles, eu fiz) e conserva de coração de bananeira

    Qualidade do ar: liquens verdes e vermelhos

    Um  olho para o mundo

    Todos na cozinha. A prefeita é a segunda da direita




    Lobozó. Ou qual é o seu mexidão?

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    Meus almoços na solidão têm sido assim, um mexidão com o que encontro por perto de bom e substancioso. Ultimamente tenho sempre ovos caipiras, queijo de leite cru, abobrinhas ou jilós frescos, banha de porco, todos de Piracaia. E na hora da fome, tendo fogo e panela, temperos e farinha de milho, que miojo,  que nada. A farinha já é pré-cozida e tem ai um excelente aliado para virados e sopas de última hora. Se a farinha for orgânica, não-t, tanto melhor, é claro. 

    Os legumes tenros cozinham em cinco minutos. O ovo fica pronto em um ou dois minutinhos. E depois é só aquecer a farinha. 

    O lobozó é aquela mistura que aprendi a fazer (ou aprendi o nome) lá com a Waldete, do Zé Mário, da Serra da Canastra. De lá pra cá, já repeti a receita tantas vezes que já me dou o direito de fazer meu próprio lobozó alterando ingredientes aqui e acolá. Se tem vagem, boto vagem. Se tem dois ovos, dois ovos. Se tem abóbora madura em vez de abobrinha verde, assim será. Aí está, um prato fast food substancioso, completo, nutritivo. E ainda assim seguindo a filosofia do bom, limpo e justo do Slow Food,  que em absoluto significa apenas comer devagar. 

    Na minha família cada um tem seu próprio mexidão, cheio de particularidades, truques e trambiques.  O cunhado Tonho Penhasco nomeia o dele de argamassa, vá vendo. O outro, de mexidão. Por aí, são vários exemplos destes limpa-geladeira, para aplacar a fome sem dispêndio de tempo e firulas. E o seu, qual é o seu mexidão? 

    O meu tem sido o lobozó, que satisfaz não só a necessidade de aplacar a fome em tempo recorde mas o prazer de comer coisas tão gostosas todas juntas.  Para este, usei a abobrinha e a vagem que trouxe do sítio da Sonia e o queijo da Milena. E os ovos, da caseira

    Lobozó com abobrinha e vagem

    Refogue 1 dente alho socado e 1/4 de cebola picada em um pouco de gordura de porco (ou manteiga ou azeite). Acrescente 1 xícara de legumes picados - abobrinha e vagem (mas podem ser outros). Meio tomate picado também e pimenta, se quiser. Junte um pouquinho de água e sal e cozinhe até ficar tudo macio, tenro, sem água. Junte dois ovos e misture. Acrescente uns pedaços de queijo fresco ou maturado.  Em seguida, junte 1 xícara de farinha de milho em flocos. Misture ainda no fogo, até o ovo ficar cozido e a farinha, quente. Junte cheiro-verde picado e sirva. Coloque em prato fundo e nhac! 


    Sopa de mato. Ou sopa de mostarda com farinha de milho

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    Poderia ser ainda lobozó-sopa, pois os ingredientes são quase os mesmos que usei para o lobozó de ontem. Tão parecido o princípio que a Daniela (a leitora que me deu pezinhos de acerola pro sítio) me lembrou da sopa de mato de sua avó,  que inspirou meu almoço de hoje, já que tinha sobrado mostarda refogada de ontem. Segue a mesma linha de sopas que já dei aqui, como a de menstruz rasteiro com fubá, o mingau de alho da Dona Neide, do Vale do Ribeira, ou a sopa de milho com cambuquira.

    Sempre que falo de farinha de milho esqueço que muita gente, especialmente quem mora fora do Brasil ou da região Sudeste, não conhece o produto feito com milho fermentado, triturado e tostado em grandes bijus,  que são quebrados e embalados. Para estes, aqui está um filminho que fiz numa pequena fábrica em Fartura.

    Bem, aqui vai a mensagem com receita da Daniela Piemonte: Coloque água para ferver e tempere a gosto. Eu coloco sal, azeite e alho picado. Quando ferver adicione verdura picada bem fininha (almeirão, escarola), em seguida vá colocando farinha de milho mexendo sempre, não muito se não vira um angu duro.Ferva mais um pouquinho e está pronto. Delícia! Eu como assim: além da sopa, faço uma saladinha com a verdura picadinha, tempero com limão, sal e azeite, umas gotas de pimenta. Coloco a sopa por cima, e... nhac!;). Também fica bom com cebola picadinha e folhas de coentro.

    Aqui, minha versão: 

    E nhac! 


    Sopa de mato 

    Numa panela de barro, coloquei 1 colher (sopa) de azeite, 1 dente de alho picado, 1 colher (sopa) de cebola picada e meia pimenta verde e meia vermelha (dedo-de-moça sem semente). Quando a cebola estava macia, juntei 3 xícaras de água quente e 1 xícara de mostarda refogada com seu caldo - foi refogada só em alho e cozida com um pouco de água, sobra do dia anterior. Lembrando que pode ser qualquer mato.  Quando a mistura ferveu, juntei meia xícara de farinha de milho, aos poucos, mexendo sempre, até engrossar. Temperei com sal e coloquei com cuidado dois ovos (quebrados à parte). Deixei cozinhar por 2 minutos. Desliguei o fogo, juntei  um pedaço de queijo de leite cru (meio curado), salsinha, pimenta-do-reino e nhac!  Dá pra duas porções. 

    Valeu, Daniela! 


    Esquina Mocotó

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    Agora teremos mais motivos pra ir até a Vila Medeiros. O chef Rodrigo de Oliveira (com a ajuda de sócios investidores) está abrindo o Esquina Mocotó, que não servirá mocofava nem baião de dois, como no bom e velho Mocotó, mas criações suas já um pouco mais distantes das amarras do pai, Seu Zé. Seu eu fosse chef também gostaria de ter a liberdade de criar sem que ninguém me colocasse o dedo no nariz exigindo coerência. E a comida do Mocotó tem coerência. Rodrigo soube como ninguém introduzir mudanças sutis à comida do pai,  trazendo mais leveza, graça e criatividade, sem perder o respeito pela tradição.  Agora, é esperar pra ver o que nos reserva o Esquina Mocotó que deve abrir neste sábado. 

    O Mocotó vai continuar sendo para mim aquele lugar onde sempre como bem e barato e ainda encontro amigos. É longe pra caramba e quando vou durante a semana me empenho em pegar trem, metrô e taxi. Mas vale a pena. Espero que o Esquina seja assim tão cativante. 

    Mural do mexicano Felipe Ehrenberg no Mocotó 
    Almocei lá na semana passada com a Fernanda do Hortelões Urbanos, que conheci no Paladar, Cozinha do Brasil.  Comemos baião-de-dois, dadinhos de tapioca, salada sertaneja, creme brulê com amburana e cartola. Tudo muito gostoso. Aproveitamos para conhecer o Esquina Mocotó, ainda de cadeiras pra cima, com os últimos retoques. As instalações, a cozinha, a brigada, as panelas, os equipamentos, tudo de primeira. Acho que poucas cozinhas nos Jardins têm aquela estrutura. O pessoal, já uniformizado, estava na cozinha preparando um jantar de apresentação para os investidores. E as cenourinhas já estavam ficando com aquele jeito de guarnição de jardim. Veremos... 

    Eu, Fernanda, Rodrigo, Alberto e Mark (e o mural do Felipe)
    Enquanto apreciávamos o lindo e alegre painel do mexicano Felipe Ehrenberg (marido da querida Lourdez Hernandez) no descontraído Mocotó, lotado por sinal, em plena sexta-feira, chegaram Alberto Landgraf, chef do Epice, e Mark Emil Hermansen, que trabalha no Noma, na Dinamarca. E, junto com o Rodrigo, estava formada uma turminha dos que participaram recentemente do Paladar, Cozinha do Brasil - que ajuda a fazer amigos.  

    Aqui, algumas fotos: 









    Esquina Mocotó  
    Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1108 - geminado ao Mocotó
    Inauguração neste sábado, 18 

    Produção do sítio. ou Eu também gosto de alface!

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    Outro dia mesmo, num elogio rasgado à rusticidade do amargo almeirão roxo, desdenhei a pobre da alface, tão frágil, tão sensível, tão nhenhenhem. Mas também,  em mais de um ano de sítio em Piracaia, nenhuma alface tinha sido colhida. O caseiro dizia que a terra era ruim, ou era dura, ou não chovia, ou chovia demais, ou tinha muita braquiária, as formigas não deixavam. Sempre uma desculpa. E acabei achando que só mesmo o resiliente almeirão pra se dar bem por ali. 

    Mas os novos caseiros, Silvana e Carlos,  já chegaram arrebentando, desmistificando. Foram afofando a terra, colocando composto, foram trazendo do próprio sítio sacos de estrume curtido, fazendo canteiros, mudinhas com sementes. Sem deixar faltar água e carinho. E neste fim de semana a surpresa gratificante: dois canteiros de dar água na boca de Horácio embaixo de pleno sol. Eu, que nem ligo muito pra esta verdura, devorei com admiração um prato de folhas, docinhas, crocantes, pra comer puras.  

    Hibisco, com sementes do Senegal 
    Além da alface, as mostardas que eu mesma tinha plantado estão saudáveis, graúdas, picantes. E o hibisco, com sementes do Senegal, já na hora de colher. Colhi também pimentas, abobrinhas e abobrona, jilós já maduros, vagem lab-lab, feijão andu, cúrcuma, batata-doce roxa, acerola etc. E, junto com mexericas e abacates trazidos por Carlos e Silvana, a mesa foi se enchendo de comeres. 



    E nhac! (a salada, protagonista, lá atrás .. falha minha)

    Arroz com cúrcuma e tudo o mais da horta

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    Chegou a hora de colher a cúrcuma (ou açafrão-da-terra). Já falei tanto de cúrcuma aqui (é só ir aí no campo de busca), que me restrinjo a dizer que nesta época as folhas amarelam e tombam. É hora de collher. 

    Ou se colhem ou se deixam os rizomas na terra para que na primavera ressurjam em grande moita. O ideal é colher, separar e na época certa replantar para ter moitas separadas, multiplicando a próxima colheita. E depois de colhido, o rizoma pode ficar em local fresco para ser usado conforme a necessidade. Ou se pode fatiar, secar ao sol e pilar para se usar o pó. Eu prefiro deixar em local fresco até que comece a brotar, quando será a hora de plantar - e  isto acontece lá pro final de setembro.

    E fresco, uso ralado junto com o alho que vou refogar - uns dois rizomas para um prato com rendimento de 4 porções. Ou bato no liquidificador com a água que vou usar no prato a ser preparado. No caso do arroz, uso 1 unidade para cada xícara do grão.  Além de colorir como açafrão, confere bom sabor e um tanto de curcumina, o antioxidante que nos faz mais saudáveis. 

    Este da foto, com tudo o que tinha plantado por perto, fiz assim: refoguei alho e cebola em pouquinha gordura de porco. Juntei 1 xícara de arroz, mexi, juntei 1 colher (chá) de sal, mexi. À parte bati 1 rizoma sem pele e 1 galho de manjericão com 1 xícara de água morna no liquidificador até triturar bem. Coei, misturei com 1 xícara de água fervente e despejei sobre o arroz. Acrescentei vagem de orelha-de-padre (lab lab), pedaços de pimenta dedo-de-moça sem sementes, cambuquira de abóbora e de chuchu (os brotos jovens), grãos de andu e flores de capuchinha. Quando ferveu, abaixei o fogo e cozinhei por cerca de 15 minutos. E nhac. 

    Se quiser comprar para comer ou plantar, procure em feiras de produtores, no Mambo, no Ceagesp, sacolões. É a hora de encontrá-los por aí. 

    Estes, ganhei da amiga Veronika, que também já colheu os do quintal dela 

    Maionese de leite com óleo de girassol. Com mostarda e nas batatas

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    No Paladar Cozinha do Brasil, Alex Atala ensinou a fazer a velha receita de maionese de leite, mas eu não vi a aula e não encontrei a receita depois, por isto usei esta do site do David Leite, autor do livro "The New Portuguese Table: Exciting Flavors from Europe's Western Coast". Ele conta que conheceu o molho num restaurante português, mas que a receita a proprietária tinha trazido do Brasil. 

    O molho  não é exatamente uma maionese, que para ser deveria levar necessariamente ovos. Mas é uma boa emulsão, técnica que torna possível a união de água e óleo. Acontece que as gemas são ricas em lecitinas, que são emulsificantes naturais e permitem que o líquido da própria gema e do elemento ácido que tempera, como limão ou vinagre, possam continuar unidos mesmo depois de cessado o batimento. No caso do substituir as gemas por leite, e só usar alho que também tem emulsificantes e o limão, cujo ácido coagula levemente o leite. É só um pouco, porque não queremos uma coalhada. Há muitas receitas por aí. Esta foi a que achei mais equilibrada e confiável nas proporções e só fiz algumas pequenas modificações. Embora a receita original peça um óleo neutro que não comprometa o sabor e a cor,  branquinha, preferi usar um óleo com personalidade, como o de girassol (o orgânico, extraído a frio), que tem sabor amendoado com algo de alcachofras. O azeite de oliva também é boa opção e deixará um ótimo sabor. 


    Maionese de leite 
    1/3 xícara de leite gelado (usei leite integral, bem gordo)
    3/4 de colher (chá) de suco de limão
    1 dente de alho pequeno,  descascado
    1/8 de colher (chá) de pimenta-do-reino branca moída na hora (opcional)
     3/4 de xícara de óleo de girassol extraído a frio (ou outro óleo neutro, ou uma mistura de óleo de girassol mais azeite de oliva)
    Sal a gosto 

    Combine o leite, o suco de limão, o alho,  a pimenta (se for usar) e uma pitada de sal em um copo de liquidificador.  Bata por 30 segundos ou até o alho ficar bem triturado (se quiser soque-o antes num pilão - foi assim que fiz).  Com o aparelho ligado, despeje lentamente o óleo, gota a gota, no início, continuamente.  Gradativamente, vá aumentando a quantidade de óleo adicionada, num fio contínuo, até que a mistura fique cremosa, com consistência de maionese. Prove o sal e acrescente mais, se necessário. Rende uma xícara e pode ser guardada na geladeira por até uma semana se usar leite pasteurizado (eu usei leite integral apenas fervido e deixei 3 dias na geladeira). Gelado,  o molho ficará mais denso que quando tirado do liquidificador. 

    Variações: você pode juntar ao molho pó de curry, mostarda preparada, cúrcuma, gengibre, coentro, salsinha, tomate seco picado, azeitonas, anchovas, alho negro etc. 

    As folhas de mostarda, que foram colhidas no sítio 
    Minha variação: folhas de mostarda, que piquei e triturei no processador (mas poderiam ser apenas super bem picadas numa tábua). Depois de picadas, juntei três colheradas do molho e misturei bem. Serve para rechear sanduíches e temperar saladas.  

    Batatas orgânicas e sementes de abóbora descascadas do Merc. da Lapa

    A salada de batatas com molho de mostarda: cozinhei as batatas (descascadas) em água salgada até que ficassem al dente. Escorri e deixei esfriar (assim, terminaram de cozinhar). Misturei a maionese de folhas de mostarda e complementei com sementes de abóboras (era pra ser de girassol para combinar com o óleo, mas não tinha), ligeiramente torradas em um fio de azeite. E nhac! 


    Insetos. Ou "Com uma farofinha... ", no caderno Aliás

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    Saiu ontem, no caderno Aliás, do Estadão. E está lá no site do jornal: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,com-uma-farofinha,1033173,0.htm



    Com uma farofinha...

    Embora negue de pés juntos, o brasileiro é um papa-inseto vocacional. E basta alguém admitir que come içá para surgirem outros insetívoros

    18 de maio de 2013 | 15h 59
    Podemos até discordar da estratégia da FAO de combater a fome e prevenir catástrofes nutricionais estimulando o consumo de insetos, pois uma das saídas seriam ações para melhorar a distribuição de alimentos e evitar seu desperdício. Mas duas coisas são certas. Uma é que, involuntariamente, comemos insetos, ovos e larvas com certa frequência. Afinal, ainda que evitemos alimentos industrializados vermelhos à base de carmim, corante natural feito a partir de cochonilhas, é difícil fugir da proteína animal do bicho da goiaba e dos carunchos dos cereais, às vezes ainda na forma de ovos ou larvas. Outro dado é que o Brasil é essencialmente um papa-insetos, ainda que não o admita, pelo menos até agora.
    O próprio documento da FAO cita o País usando referências do especialista baiano Eraldo Medeiros Costa Neto, que estima em 135 o número de espécies de insetos comestíveis por aqui. Diante de nossa biodiversidade e das quase 2 mil possibilidades mundo afora também mencionadas pelo relatório, é de se imaginar que esse número seja ainda maior.
    O hábito indígena de comer insetos – sejam formigas nos vários estágios, larvas de abelhas, cupins, tenébrios, lagartas ou crisálidas – sobrevive, e podemos trazer do Alto Rio Negro deliciosas saúvas inteiras com tucupi e pimenta ou paneiros com seus abdomes moqueados. Ainda podemos ir à cidade de Silveiras, no Vale do Paraíba, para comer içás em restaurante popular. Mas mesmo nos bairros da cidade de São Paulo e arredores encontramos grandes formigueiros de saúvas cortadeiras, terror dos jardins, com o mesmo sabor de citronela do inseto amazônico.
    O perfume cítrico característico dessa espécie, Atta sexdens, vem do feromônio produzido numa glândula mandibular. A substância tem várias funções, entre elas a de inibir o crescimento de micro-organismos outros que não o fungo desejável para a própria nutrição da colônia. Porém, apesar do apreciado sabor herbáceo na cabeça dessas formigas, o hábito disseminado por todo o Brasil é perseguir as fêmeas em revoada, chamadas de içás ou tanajuras, quando estão prenhes. É exatamente o abdome esférico, do tamanho de um grão de ervilha, que é dourado na própria gordura ou na banha de porco e comido como petisco crocante, puro ou com farinha. Uma mistura de torresmo com amendoim torrado, uma iguaria.
    No entanto, tirando o exemplo do Vale do Paraíba e da Amazônia, onde há certo orgulho do alimento, pouca gente admite que come ou já tenha comido içá ou qualquer outro inseto. É hábito taxado como primitivo ou de pobre – exceção feita a quem viaja para o México, ou Tailândia, Japão, China e tantos outros países asiáticos, onde os insetos são vendidos na rua ou em lojas especializadas. Basta ao turista experimentar um deles, fotografar e postar na rede social como fato pitoresco e, pronto, está batizado. Passar a encarar os insetos como alimento nutritivo e saboroso do dia a dia, sem distinção de classe, é outra história.
    No verão passado, por exemplo, quando consegui recolher um tanto de içá em Piracaia, cidade a 100 km de São Paulo, achei que só eu sabia que aquele inseto era comestível, que só eu tinha presenciado centenas de formigas gordas caindo do céu. Aos poucos, as pessoas foram revelando que também coletaram içás naquela tarde de domingo que anunciava chuva com trovoadas – mas só depois de eu dizer que já tinha provado a formiga até em restaurante e gostava muito. Não fosse assim, teriam negado até a morte.
    Não é diferente o que acontece com os bichos de coco, de taquara, de tronco de palmeira. A larva do besouro Pachymerus nucleorum, por exemplo, cresce dentro da amêndoa do fruto de várias palmeiras, como o licuri, que produz coquinho adocicado e crocante. Essas larvas, que parecem confitadas em gordura de coco como uma síntese da polpa que as alimentou, são apreciadas em todo o Brasil, seja a que dá no butiá, no babaçu ou no buriti. Os nomes regionais variam conforme a planta e são geralmente repletos de "os": gongo, coró, fofó, boró, bigolô, gogolô. No interior do Maranhão, os gongos do coco babaçu fritos viram ingrediente para farofas ou são servidos com arroz. Mas é comida interna, familiar, de pertencimento. Vá querer compartilhar essa emoção...
    O preconceito chegou com o colonizador, que encontrou aqui grandes dissonâncias de costumes e higiene em relação aos padrões europeus. Vide os termos pejorativos e de asco em relação aos hábitos alimentares dos índios nos relatos dos viajantes. Hoje sabemos o que nossos índios sempre souberam: que quase todos os insetos são comestíveis – grilos, lagartas sem pelo, larvas, crisálidas, cupins, abelhas, besouros. Estaríamos mais saudáveis e teríamos menos problemas ambientais se não comêssemos tanta carne e tantos camarões – que se alimentam de restos putrefatos do fundo do mar – e enxergássemos gafanhotos nutridos à base de folhas verdes como limpos e apetitosos camarões do campo.
    * NEIDE RIGO É NUTRICIONISTA, COLUNISTA DO PALADAR E AUTORA DO BLOG COME-SE

    Tordesilhas em novo local. É hoje!

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    Foi triste acompanhar a desmontagem do restaurante Tordesilhas. Desde 1999 esteve plantado ali daquele lado da Paulista que ainda sobrevivia com seus sobradinhos charmosos,  mas o bairro foi alcançado recentemente pelas gruas da especulação imobiliária que chegam destruindo tudo para erguer torres. 

    Meio a contra-gosto no inicio, Mara Salles resistiu a ir para o Jardins, do outro lado da Paulista. Já que não teve escolha, ao menos teve a sorte de encontrar um lugar agradável na Alameda Tietê, que reformou e deixou com a mesma cara aconchegante do espaço da Bela Cintra. Tudo o que pode ser salvo do velho sobrado, foi aproveitado no novo restaurante. Parte do enxoval foi trocada e dos equipamentos também. Você vai ver lá a mureta do alpendre, as janelonas de ferro, a decoração e, principalmente os leais funcionários, que trabalharam todos estes últimos meses nos bastidores da reforma. Todos os bons, se salvaram. 

    Cenas da despedida:


    Estivemos no velho Tordesilhas no dia de entregar as chaves (que chaves? não havia mais portas..), em março,  ajudamos a carregar coisas, enchemos também nosso carro de heranças para o sítio em Piracaia e depois fomos a uma padaria, Marcos e eu, Mara e Ivo, comermos pão com mortadela de despedida. Estávamos num clima um pouco melancólico. 



    Os meses se passaram e na última sexta teve um "esquenta" para os amigos no novo espaço. Já na rua, mesmo sem ver placa, advinha-se que é ali o Tordesilhas que se ilumina em amarelo, mostrando o ambiente convidativo. No lugar do terraço do velho, agora temos um alpendre, com vista para a alameda. 




    A câmera e a fotógrafa não fizeram jus à beleza da comida

    A comida continua maravilhosa e os funcionários com sorrisos familiares circulam com desenvoltura como se ali sempre estiveram. Se o outro lado da Paulista perdeu mais uma atração, o Jardins estará ainda mais florido com o ganho - aliás, na frente do restaurante há uma pata-de-vaca cor de rosa, já com flor. 

    A diferença é que agora o Tordesilhas não abre mais no almoço durante a semana, mas no fim da tarde já estará pronto para servir qualquer pedido do cardápio. Isto quer dizer que não precisamos mais nos preocupar quando quisermos almoçarmos tarde ou jantarmos cedo, pois a partir das cinco a cozinha estará a toda. E será também uma ótima opção para happy hour, pois os acepipes do Tordesilhas são imbatíveis. 

    Dona Dega, mãe da Mara, cozinheira, não aguentava mais as férias forçadas
    Onde fica: Al. Tietê, 489 (onde funcionava o Day by Diet)
    Tel. 11 3107-7444




    Pão de mel com doce de leite

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    Numa das reuniões com o grupo Piracaia Orgânica, comemos pão de mel levado pela Sonia, feito com o mel que compramos na Milena, de produção própria. Aqui em casa, Marcos é um devorador de mel (puro, com manteiga de amendoim ou com tahine).  Uso também uma colherada na massa de pão, para dar cor à crosta e conservar a umidade da massa. E agora temos a sorte de sempre termos mel produzido pelas abelhas de alguém que conhecemos. 

    O da Sonia
    Quase nunca uso mel nas receitas doces, mas resolvi arriscar o pão de mel da Sonia, cuja receita era feita com leite condensado. Aventamos a possibilidade de usarmos doce de leite no lugar do ingrediente da latinha e eu disse que testaria. Na semana passada ganhei da Ananda um doce de leite argentino muito bom e testei a receita. Nem preciso dizer que ficou uma delícia. Tudo o que leva leite condensado pode ser feito com doce de leite cremoso diluído, sem prejuízo algum. Em vez de uma latinha de leite condensado, usei 3/4 de xícara de doce diluído em meia xícara de leite (que aí embaixo, nos ingredientes, agrupei com o leite que já existia na receita). 

    Fora esta interferência, todo o mais continuou como a receita que me mandou. Aqui vai, então, minha versão, a partir da receita da Sonia Campos. 

     Pão de mel com doce de leite 

    3/4 de xícara de doce de leite
    1 e 1/2 xícara de leite integral
    2 colheres (chá) de canela em pó
    1/2 colher (chá) de cravo em pó
    1 colher (chá) de noz moscada
    ½ xícara (chá) de café forte
    2 colheres (chá) de bicarbonato de sódio
    1 e ½ xícara de mel
    3 xícaras de farinha de trigo
    1 colher (sopa) de fermento em pó

    Bata todos os ingredientes (menos o fermento e a farinha) na batedeira até estarem bem misturados. Acrescente a farinha de trigo, uma de cada vez, mexendo até ficar bem homogênea a massa. Acrescente o fermento e misture bem. Coloque em assadeira grande untada e enfarinhada e leve para assar em forno médio. Deixe por 50 a 60 minutos. Retire do forno e jogue por cima do bolo ainda quente 200 g de chocolate em barra meio amargo ralado. Espalhe o chocolate cuidadosamente com uma espátula. Deixe secar e esfriar antes de partir o bolo. Se quiser, pode assar em forminhas individuais ou em assadeira redonda, partir em camadas e rechear com doce de leite. Rende: cerca de 40 pedaços. 

    O mel da Milena 

    Dente-de-leão. Coluna do Paladar, edição de 23 de maio de 2013

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    FOTO: Tiago Queiroz/Estadão
    Hoje tem Nhac lá no Paladar. Falo do dente-de-leão, esta erva que já apareceu por aqui tantas vezes e não cessa de aparecer nas calçadas. Bem, você pode ir direto ao blog do Paladar, mas trago também aqui a versão integral.
    ...

    Temos muitos nomes para este matinho nativo da Europa e Ásia, sendo o mais popular, dente-de-leão. Mas responde também por taraxaco, amargosa ou chicória silvestre. 

    Não me lembro de tê-lo visto sendo vendido em feiras livres ou supermercados, mas é daquelas ervas ditas daninhas que vão aos poucos tingindo de verde das folhas e amarelo das flores as calçadas e jardins abandonados sem que ninguém as perceba. Até que a pouco chamativa flor que cresce na ponta de uma haste amadureça em forma de uma bolinha de pompom de seda.  Aí vem o vento ou uma criança que sopra por brincadeira. E, pronto, a espécie está disseminada. Perto de minha casa sempre há uma pequena plantação esquecida e nunca estou desabastecida. Na pressa, faço um angu, refogo umas folhinhas com bacon e nhac.

    Esta família botânica a que pertence o dente-de-leão agrupa outras espécies que a gente conhece melhor – a  margarida, a alcachofra, a camomila e o girassol, por exemplo. As flores vivem frequentadas por abelhas e como as outras citadas   não são comuns, mas em capítulos, agrupamentos de flores pequenas assentadas num mesmo receptáculo, normalmente plano. Nas bordas, as pequenas flores podem ter uma parte prolongada simulando pétalas. E ao redor de tudo, folhas modificadas dando o desenho de flor.  Se as flores tem estas particularidades, com os frutos não seria diferente. São em forma de aquênios, ou frutos secos, finos, ínfimos, com um chumacinho de pelos na extremidade. Todos juntos eriçados sobre a base dão a forma da bolinha de seda que se desmancha em voo ao menor sinal de instabilidade. É assim que se dispersam.  

    Mas toda esta descrição é para que,  da próxima vez que estiver andando pela cidade de São Paulo ou de Lisboa, ou de qualquer outra capital mundo afora, você pare e observe que a disposição das próprias folhas serrilhadas como dentes (de leão, é claro) e verde escuras,  assentadas na mesma altura em volta de uma base, faz da verdura uma roseta basal difícil de esquecer ou de confundir com qualquer outra. E se acaso colher por engano alguma erva parecida, saiba que todas as assimiladas ao dente-de-leão, serralhas ou serralhinhas, são comestíveis.  

    Na zona rural as folhas são encontradas facilmente nos cultivos de roça, nem sempre benquistas, mas apreciadas junto com outras ervas espontâneas como alimento principalmente nos  tempos em que alfaces não eram tão abundantes e dispersas nos mercados.  Mesmo na Europa, com uso ancestral na cozinha e na farmácia, já foi muito mais comum.  Sorte que tanto lá quanto aqui ainda há agricultores interessados em preservar a biodiversidade alimentar que cultivam a erva para vender em feiras de produtores. Já vi algumas vezes na feira de orgânicos do Parque da Água Branca, aqui em São Paulo.

    No romance A Ciociara, de Alberto Moravia, que conta as dificuldades de duas mulheres que voltam ao vilarejo natal durante a segunda guerra mundial, a erva é mencionada junto com outras que cresciam espontaneamente nas montanhas,  chamadas todas indistintamente de chicórias,  e serviram para matar a fome em tempo de penúria. A personagem descreve estas ervas assim: “Luísa, a mulher de Paride, acompanhou-me a primeira vez para me ensinar e bem depressa me tornei tão hábil como os camponeses, conhecendo as várias espécies uma por uma, pelo nome e pela forma. Lembro algumas: o mastruço, que na cidade se chama agrião, com as folhas e os pés tenros e doces, de um verde-escuro; o dente-de-leão, que se encontra entre as pedras dos socalcos, de um verde quase azul, com folhas finas, compridas e carnudas ..”

    Não são exatamente carnudas como as folhas de beldroegas ou espinafres, mas são folhas consistentes quando adultas e melhor apreciadas se cortadas em fatias finas como nossa couve para a feijoada. Folhas jovens são tenras e podem ir inteiras para as saladas. Nos dois casos, porém, não deixam de ser amargas, não posso mentir. Mas são deliciosas para quem tem apreço por este sabor que combina com bacon, abacates e alhos.

    Pelo nome científico, Taraxacum officinale,  já conseguimos ter sobre a planta a certeza de utilidade, afinal espécies nomeadas officinale são sempre aquelas com aplicações na fitomedicina. Além de serem ricas em antioxidantes, vitaminas, minerais e, como qualquer verdura, clorofila, as folhas, raízes e flores são diuréticas e também indicadas para problemas biliares e estomacais. Mas, para isto, é melhor procurar um médico fitoterapeuta que sabe fórmulas e dosagens adequadas. Nosso negócio é comida.

    O que interessa aqui é saber que as folhinhas são gostosas como o almeirão e apetecem justamente por terem um amargo bom, conferida pelos princípios amargos como a taraxina. As flores em botão fazem as vezes de alcaparras, as abertas são aproveitadas em licores e geleias e a raiz, torrada, vira bebida como café.

    Quem ainda não está acostumado com a verdura deve começar com algo de fácil aceitação, como este macarrão. Acrescentei alho negro no final, mas alho fresco pode ser usado no lugar, fritando antes com o bacon. Uma salada com folhas jovens regadas com vinagre e gordura quente em que se fritou bacon também pode seduzir. E as flores em broto podem estar juntas.  Para quem gosta de amargos, um bom refogado sobre um angu mole pode ser visto lá no blog do Paladar.

    FOTO: Tiago Queiroz/Estadão


    Macarrão com dente-de-leão e bacon

    2 litros de água salgada com meia colher (sopa) de sal
    150 g de macarrão de massa curta
    2 colheres (sopa) de azeite
    40 g de bacon picado em cubinhos
    Meia pimenta dedo-de-moça madura sem sementes picada
    100 g de folhas de dente-de-leão
    4 dentes de alho negro*

    Numa panela, coloque a água salgada e leve ao fogo. Quando ferver, junte o macarrão e cozinhe pelo tempo indicado na embalagem (cerca de 8 minutos ou até ficar al dente). Enquanto isso, numa frigideira, coloque o azeite e o bacon na frigideira e frite até o bacon dourar. Junte primeiro a pimenta e depois o dente-de-leão picado e refogue até murchar. Tempere com sal a gosto (cuidado porque o bacon já tem sal) e junte o alho negro fatiado no final. Escorra o macarrão, coloque na frigideira e incorpore à verdura, chacoalhando a frigideira. Sirva bem quente com lascas de queijo da Canastra curado, se quiser.

    Rende 2 porções

    *Se não tiver alho negro, acrescente junto ao bacon umas fatias de alho fresco, comum. Vai ficar bom do mesmo jeito.


    FOTO: Tiago Queiroz/Estadão

    Refogado de dente-de-leão para comer com angu

    5 pés de dente-de-leão
    2 colheres (sopa) de gordura de porco ou óleo
    2 dentes de alho grandes bem picados
    Meia xícara de água quente
    1/4 colher (chá) de sal

    Lave bem as folhas,  escorra e pique em fatias de meio centímetro. Reserve.
    Numa panela, coloque a gordura e o alho picado. Deixe começar a dourar e junte a água e o sal. Coloque na água as folhas e deixe cozinhar para que fiquem bem macias (cerca de 3 minutos). Se precisar, junte um pouco mais de água aos poucos. Prove o sal e corrija, se necessário. Sirva com angu ou polenta mole.

    Rende de 2 a 3 porções

    Para o angu, misture 1/2 xícara de fubá fino de milho com 3 xícaras de água. Leve ao fogo, mexendo sempre,  até começar a espessar. Tampe a panela, abaixe o fogo e cozinhe por meia hora ou até que esteja soltando do fundo da panela e com consistência cremosa. Não precisa ficar mexendo. Se quiser, junte uma pitada de sal.  Rende: 2 a 3 porções

    Pudim de leite com leite (sem leite condensado)

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    Pode parecer redundante dizer que o pudim de leite é de leite, só leite, sem leite condensado. Mas há gente que não acredita ser possível tal façanha, como se não houvesse pudim na era A.lc.  Poderia ter usado leite comum, sem concentrar, mas acontece que esqueci uma garrafa de leite cru fora da geladeira (a rotina tem sido comprar o leite cru do caseiro e trazer as garrafas congeladas, chegando aqui, transfiro para o freezer, vou tirando duas a duas para descongelar, deixo ferver, deixo invariavelmente a espuma entornar e sujar o fogão, mesmo colocando uma colher de pau na borda da panela, limpo xingando o fogão, espero o leite esfriar, deixo gelar, tiro a nata para fazer manteiga - que vou deixando no congelador até o pote se encher, passo o leite já meio magro para duas garrafas de vidro e vou usando para o kefir ou para fazer receitas). Mas, então... esqueci em temperatura ambiente por uma noite e um dia e resolvi ferver para ver se estava estragado. Antes de constatar que estava ainda em bom estado, resolvi deixar ferver mais para reduzir a 1 e meia xícara e fazer pudim com o leite concentrado, que daria mais corpo à sobremesa. É só abaixar o fogo ou colocar entre a chama e a panela um redutor de calor e deixar até conseguir a quantidade que quer. E para saber o momento de apagar o fogo, é fácil. Escolha a panela que vai usar e coloque nela 1,5 xícara (ou menos, se quiser o leite reduzido ainda mais) de água. Mergulhe na água um palito de fósforo (com a pólvora pra cima, claro) e marque com uma canela a altura da água. Jogue a água fora, coloque o leite e vai conferindo a altura com o palito.

    Não consegui desvirar esta p de foto de jeito nenhum
    Nem sou assim muito de doces, mas o trabalho no sítio me fez perder naturalmente cinco quilos nos últimos meses e não sei se é isto mas tenho tido mais vontade de comer doces, o que faço com moderação espontânea e sem culpas, com boca boa. Agora, veja aí como fiz.



    Os ovos caipiras o deixaram assim, bem amarelo

    Pudim de leite concentrado sem leite condensado

    Para o caramelo: meia xícara de açúcar e 1/4 de xícara de água 

    Para o pudim 
    3 ovos 
    1,5 xícara de leite concentrado (1 litro de leite sem nata reduzido no fogo a 1,5 xícara) 
    1/3 de xícara de açúcar - ou menos, se preferir menos doce
    Sementinhas de uma fava de baunilha 

    Prepare o caramelo: coloque numa panela o açúcar com a água, leve ao fogo e vá mexendo devagar até derreter e formar um xarope grosso, cor de caramelo. Distribua esta calda no fundo de uma forma de pudim pequena (com capacidade para um litro).  Reserve. 

    Para o pudim bata todos os ingredientes no liquidificador só até formar um líquido homogêneo.  (pode usar mixer, bater com garfo ou simplesmente passar inúmeras vezes por peneira). Despeje sobre a forma com caramelo, tampe bem e cozinhe na cuscuzeira, com água fervendo na parte de baixo, em fogo brando,  por cerca de 40 minutos ou até a parte de cima estar coagulada - teste com uma faca, que deverá sair limpa. Se quiser assar no forno, em banho-maria, faça como este pudim com priprioca. Espere amornar e desenforme. Sirva gelado. 

    Rende: 8 porções
    Nota: Se fizer como eu, na cuscuzeira, o pudim tem que ser bem tampado - com papel alumínio ou usando forma com tampa como a que mostro na foto.  Se não, o pudim ficar encharcado de água de vapor. Em banho-maria, no forno, pode ficar sem cobertura, que não haverá grande prejuízo (mas é sempre recomendável cobrir para o pudim não ressecar).  Para mais furinhos, fogo mais alto. Textura lisa, fogo baixo (use ou não use liquidificador).  Outro que fiz na cuscuzeira, em forminhas individuais, está aqui.


    E nhac!

    Momento relax. Jeneci

    O que é, o que é?

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    Aposto que todo mundo sabe, mas diga aí, só pra confirmar. Resposta, na segunda-feira. Bom fim de semana!

    Feijão guandu verde

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    Como previ na postagem anterior, quase todos que comentaram acertaram. Menos a Gabriele, que errou feio, errou rude. Nem precisa mais aparecer, tá? 

    Sim, é feijão guandu verde. Ou andu, tanto faz. Agora tenho aos montes no sítio e tenho que ficar inventando moda. O Cajan cajan tem origem indiana e foi trazido pra cá pelos mercadores de escravo. É um verdadeiro arado vegetal e adubo verde sem igual porque além de fixar nitrogênio no solo fornece bastante massa verde.  Sem contar que suas sementes podem alimentar gentes e animais.  E quer mais? As flores são lindas e perfumadas.  Germinam e vingam com facilidade, crescem com rapidez, suportam a seca, refrescam o caminho, embelezam. Por tudo isto, plantei vários pés na trilha do sítio que leva à casa. 

    O jeito de preparar os grãos secos está aqui.  É fácil encontrar em casas que vendam produtos do norte e nordeste. No Mercado da Lapa quase sempre tem e custa em geral o mesmo que o feijão, mas há uns três meses vi por 12 reais o quilo por causa da forte estiagem que castiga o nordeste (e olhe que a planta é resistente, mas não há guandu que resista a tanta secura). A marca Retrato do Gosto também está lançando o feijão. O bom é que este feijão é rústico, não precisa de agrotóxicos, então o que encontramos por aí geralmente é um bom feijão crioulo (só veja se não está muito carunchado). Da última vez que comprei (este de 12 o quilo - comprei pra plantar), metade era de grão carunchado, mas como ninguém mais tinha, comprei e escolhi. 

    Agora, estes do sítio, pra comer verde,  não têm erro. É colher as vagens já bojudas e debulhar. As vagens são  um pouco grudentas, mas vale a pena, pois são gostosas, com um quê de ervilha e outro de carne de porco. 

    Como disse a leitora Kristina e eu citei no post que fiz do guandu, em Porto Rico, o feijão verde, chamado de gandule,  é comum e há até dele enlatado como ervilhas. Kristina menciona o arroz com gandules (uma receita pode ser vista aqui), e há tantas outras a provar (com o nome gandules, procure no google imagens e veja quanta maravilha se faz com ele).  Na índia, pode ser encontrado o grão seco pelado  - split pigeon pea e várias receitas com ele. Aqui perto de São Paulo, em Piedade, o feijão guandu com carne de porco já foi mais comum e agora vem sendo redescoberto - veja aí na foto.  

    Bem, tanto faz a vagem ser lisa ou camuflada e decorativa, que o feijão verde é sempre verde. Já depois de secos os grãos serão lisos ou rajados. Ambos muito gostosos. 

    Aqui em casa os grãos têm ido pra panela cozidos juntos com o arroz - desde o início do cozimento do cereal. Ou cozido em água salgada fervente por 10 minutos - para ser acrescentado à salada ou a algum prato já pronto. No lobozó de todo dia, ele pode entrar junto com outros vegetais ou já cozido, no final. 

    Há muitos pratos ainda a provar - na sopa será a próxima opção. Alguém se habilita a se sentar na varanda com uma cesta na mão e passar horas debulhando aquelas vagenzinhas grudentas? 

    O ciclo:

    Feijão guandu seco - do rajado
    Feijão guandu germinado - do liso, como estes grãos menores
    A planta jovem
    A planta adulta - bom para arborizar rapidamente caminhos e adubar a terra


    As lindas flores são vermelhas e amarelas na variedade rajada ou só amarela
    na variedade lisa  - as vagens jovens e plantas são também comestíveis
    Debulhando
    Grãos verdes como ervilhas 
    E nhac no arroz com carne seca
    E nhac no  lobozó de abóbora

    Arroz doce da Dona Olga

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    As coisas coincidem. Ananda,  com vontade de comer arroz doce da avó. Eu aqui com uns quilinhos a menos e boca boa para comer doces. Fernando, do Alimento Sustentável, com um bom arroz cateto orgânico, da Chácara Santo Antônio, de Bocaiuva do Sul, que eu adoro porque é cremoso, ideal para o arroz doce.  E bastou! 

    Nesta hora, nada que pensar que arroz branco é "carbo", que carrega um número de índice glicêmico nas costas, que foi destituído de sua película nutritiva, que é calórico,  não tem nenhuma propriedade messiânica como a batata doce, a chia ou a linhaça, que o leite é integral, que o açúcar é cristal, o escambau. Gente, menos, menos.  Os extremos são sempre perigosos.  

    Arroz doce é comida de alma, o leite veio da vaquinha do caseiro lá de Piracaia, o açúcar é orgânico, o limão veio da roça, mas a canela deve ter vindo da China. O importante é que a gente volte a cozinhar.  E aos poucos  vai tentando fazer o melhor, usar os melhores ingredientes que se pode conseguir. Mas tudo isto pode ir acontecendo aos poucos. É importante não desistir e resgatar o prazer de comer (e de cozinhar a própria comida) e usar bom senso na hora de dosar a quantidade que vai comer. Só isto. Mas vamos lá à receita de minha mãe, dona Olga. 

    E nhac! 

    Arroz doce da dona Olga

    Deixe de molho 1 xícara de arroz cateto com 1 litro de leite fervente. Depois de uma hora,  leve tudo para cozinhar em panela grande, com um pau de canela, em fogo baixo.  Quando o arroz estiver bem macio, junte açúcar a gosto (algo como 3/4 de xícara ou menos) com pedaços de casca de limão verde ou rosa (usei rosa) e uma pitada de sal. Cozinhe até que fique cremoso e o arroz bem molinho. Tire do fogo e sirva com canela em pó. Para enfeitar, coloque sobre o arroz uma toalha rendada ou um apoiador de panela com desenho e só então polvilhe a canela. Retire com cuidado. Deixe gelar se for capaz. E nhac! 

    Rende: 6 a 8 porções 



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