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Calabura é o que é

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Árvore na Alameda Lorena 
De dezessete, sete acertaram a resposta da charada. Logo a primeira resposta, da Veronica, já era a correta. No entanto, ainda disseram araçá, acerola, grumixama, café, gabiroba. 

Tudo começou quando o leitor Luciano Pupo me mandou foto perguntando que fruta era aquela, com gosto de suco de cacau e algo de figo.  O Luciano é o mesmo daquele caça ao tesouro Eugenia candoleana que publiquei aqui.  Daquela vez fui quem deu todas as coordenadas para ele descobrir onde estava a tal árvore que citava no post. 

Já agora quem deu o mapa da mina foi ele, inclusive com as coordenadas do Google Maps. Pra falar a verdade eu estava tão ocupada quando ele me perguntou, que tentei adiar a resposta - que exigiria de mim alguma dispersão, eu me conheço. Pedi para ele me mandar a foto da fruta partida ao meio. Com isto eu poderia ganhar algumas horas, quem sabe dias. Mas que nada. Ele imediatamente me mandou o seguinte email, incluindo a localização (para quem tiver curiosidade):  "Impossível neste momento... Comi as quatro. Mas antes de papar a última cortei-a no meio pra dar uma olhada (deveria ter fotografado também, né...?). Por dentro é bege, com veios aquosos entremeados na polpa. Há muitos "micro-grânulos" na polpa, que imaginei serem as sementes. Nenhuma delas tinha algum outro tipo de semente. Dê uma olhada neste endereço: https://maps.google.com.br/maps?q=alameda+lorena+582&ie=UTF-8&ei=G8AEU83hCYjNsQS7moHwDQ&ved=0CAkQ_AUoAQÉ uma página do Google Maps, que se V. for aproximando no zoom, chega nas imagens reais (street view). Entre os nºs 572 e 582 existe uma árvore, é essa. Outra referência são as lojas Dyff e Diva; a árvore fica entre elas. Ou ainda dê um pulo lá pessoalmente, se tiver um tempinho. Garanto que não vai se arrepender. É um sabor único e sensacional.
Estava indo a uma reunião na Lorena e me deparei com essa joia. Hoje a árvore está um pouco diferente do que nas imagens do Google; há um ramo jovem que brotou perto da base que está proporcionando um belo toldo natural na calçada em frente à loja. Quando vi essas inéditas frutinhas vermelhas pendendo de cabinhos finos bem acima da minha cabeça, não resisti e arrisquei por uma na boca, quase que instintivamente, dada a improbabilidade de serem tóxicas. Só depois, quando saí por ali indagando de lojistas que árvore era aquela (ninguém sabia...), uma moça disse que sabia que podia comer. Mas eu já tinha comido... Nunca tinha visto/experimentado nada parecido. Espero que descubra, estou muito curioso
." 


Pensei em responder que definitivamente não sabia. Mas,  olhando bem a foto,  me veio à lembrança a frutinha que comia trinta anos atrás no Crusp, quando morava lá. A árvore ficava em frente ao bloco C e conheci a frutinha através do Acauã, também cruspiano. Não preciso dizer que parei tudo e escrevi pro amigo perguntando o nome.  Enquanto ele não respondia comecei a folhear o livro do H. Lorenzi (Frutas Brasileiras e Exóticas cultivadas). Lembrava de ter visto a frutinha ali. No mesmo instante que encontrei a descrição com foto no livro, chegou a resposta do Acauã: "calabura, boa para curtir na cachaça".  Aí comecei a lembrar de mais fatos que na hora não dei muita importância. Acauã citou a fruta e seu nome num piquenique que fizemos no começo deste ano, mas certamente eu estava conversando com outra pessoa e a inscrição ficou meio apagada na mente. Também no ano passado quando fui à casa/ viveiro da amiga Juliana Valentini e Flores, me lembro dela ter dito algo como "ah, esta fruta é meio bobinha, calabura, mas passarinho gosta". Era tanta novidade ali que não liguei muito para a árvore. Mas a inscrição ficou e só agora foi marcada para sempre. E é incrível como é assim que vou aprendendo. Então,  não me venha perguntar qual é o livro que tem tudo o que sei e que posto aqui no blog, afinal vou aprendendo e já disseminando, pois se um dia eu esquecer tudo, você poderá me salvar.

Então, nestes últimos cinco dias (Luciano me interpelou no dia 19) já me envolvei com a frutinha de várias formas. Primeiro, que segui a indicação e fui até a Lorena. Marcos e eu descemos vários quarteirões a pé, do conjunto nacional até a Alameda Lorena em plena sexta-feira quase já escurecendo. Chegamos lá e colhemos algumas frutas, fotografamos e comemos. Falhei em não recolher alguns galhos, pois fiquei sabendo que a planta pega por estaquia, além das sementes.

Bem, está aí, você já sabe a resposta: Calabura ou Muntingia calabura. Com o nome você pode procurar informações, mas se quiser esperar até amanhã, eu te conto tudo e mostro o que fiz com ela.  Este post está ficando grande demais.  Valeu, Luciano. Esta, fico lhe devendo. Continuo amanhã. 


Calabura, continuação

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Polpa macia e suculenta salpicada de sementes crocantes 
Continuando o post de ontem: http://come-se.blogspot.com.br/2014/02/calabura-e-o-que-e.html

Os frutos têm pouco mais de um centímetro 
Bem, como disse, fomos buscar as frutinhas na Alameda Lorena (antes de me perguntar a localização exata, veja o link acima). Pegamos as frutinhas do chão para semente e as do pé para comer. Devia também ter pegado alguns galhos, mas não sabia que a planta pode ser reproduzida também por estaquia.  Agora sei.

A planta Muntingia calabura é uma espécie exótica, originária do México, Bolívia, Caribe e sul do Peru. Foi introduzida no Brasil no começo da década de 1960 pelo Instituto Agronômico de Campinas e logo se tornou árvore de interesse para reflorestamento pois cresce rapidamente, produz flores que atraem abelhas e produz frutos que chamam muitos pássaros e morcegos frugívoros. E o bom é que é resiliente quanto aos tipos de solo. Solo ácido, alcalino, pobre, seco, degradado, não tem tempo ruim para o crescimento da calabura.

Os frutos ficam protegidos pelas folhas - aqui o fruto verde
Meu amigo Guilherme Ranieri me contou que as flores são viradas pra cima para atrair insetos e quando os frutos começam a se desenvolver os pedúnculos pendem para baixo, ficando sob as folhas. Segundo ele, bom para pessoas que os podem enxergar e alcançar. Mas devemos nos lembrar que os morcegos também podem chegar por baixo e se há alguma queixa sobre esta espécie nas cidades é a atração de morcegos.  Ela é boa para ser plantada ao redor de rios e lagos, pois os peixes adoram os frutos que caem na água.

Engraçado que lembrei de vários fatos que me fizeram ignorar até então a frutinha. Mesmo o leitor Stefano já havia me perguntado sobre ela no final do ano passado. Mandou foto e tudo. Respondi que não sabia, mas me lembrei do nome calabura, para esquecer novamente em seguida.  Agora, como disse ontem, desta frutinha não vou me esquecer nunca mais.

Ela é gostosa, tem casca fina e comestível e polpa na forma de uma massa cremosa salpicada de micro-sementes que conferem textura macia-crocante. É quase como comer gônadas de ouriço do mar, mas só na textura. O sabor doce é peculiar, mas na tentativa de associá-lo a algo que nos é familiar aparecem descrições estranhas. O leitor Stefano diz que tem gosto de doce de padaria antiga. Guilherme acha que tem gosto de pipoca doce, aquela do saquinho cor-de-rosa, de milho branco.  Há quem diga que tem gosto de algodão doce, de figo, de manga, de cacau. Pra mim, é um mini caqui macio salpicado de crocantes.

Na Alameda Lorena, em São Paulo 
Na Alameda Lorena a árvore é bem grande, deve ter uns 8 metros de altura, mas por sorte um galho cresceu debruçado sobre a calçada e as bolinhas vermelhas pendentes dão aspecto de árvore da natal.  Além de não ter roubado galho algum, também não dei atenção às folhas, que servem de chá aromático não só porque é gostoso mas também porque é medicinal. Da próxima vez elas não me escapam. Dizem que têm propriedades parecidas com as do chá verde. Experimente procurar no Pubmed pelo nome científico da planta e verá quantos estudos sérios há por aí tanto com os frutos quanto com as folhas.  Os frutos popularmente são considerados afrodisíacos. E tanto folhas, flores, cascas e raízes são usadas tradicionalmente como protetores gástricos e para curar úlceras. Pelo menos em ratos, com o estrato das folhas, o efeito gastroprotetor já foi comprovado.   As frutas apresentam muitos antioxidantes e vitaminas e parece que tem indicações para atletas porque combate inflamações dos músculos e previne lesões.

Hoje esta fruta está espalhada por vários países de clima tropical. Conforme artigo publicado no site do Department of Horticulture and Landscape Architecture at Purdue University (veja o link do artigo completo), aqui estão os nomes da fruta mundo afora: "In Mexico, local names for the latter are capolin, palman, bersilana, jonote and puan; in Guatemala and Costa Rica, Muntingia calabura is called capulin blanco; in El Salvador, capulin de comer; in Panama, pasitoor majagüillo; in Colombia, chitató, majagüito, chirriador, acuruco, tapabotija and nigua; in Venezuela, majagua, majaguillo, mahaujo, guácimo hembra, cedrillo, niguo, niguito; in Ecuador, nigüito; in Peru,bolina, iumanasa, yumanaza, guinda yunanasa, or mullacahuayo; in Brazil, calabura or pau de seda; in Argentina, cedrillo majagua; in Cuba, capulina, chapuli; in Haiti, bois d' orme; bois de soie marron; in the Dominican Republic, memiso or memizo; in Guadeloupe, bois ramier or bois de soie; in the Philippines, datiles, ratiles, latires, cereza or seresa; in Thailand, takop farang or ta kob farang; in Cambodia, kakhop; in Vietnam, cay trung ca; in Malaya, buah cheri; kerukup siam or Japanese cherry; in India, Chinese cherry or Japanese cherry; in Ceylon, jam fruit". In Morton, J. 1987. Jamaica Cherry. p. 65–69. In: Fruits of warm climates. Julia F. Morton, Miami, FL - publicado aqui.

E o que estamos esperando para sair à caça desta frutinha tão bem adaptada ao nosso clima e solo? Na Usp há algumas árvores e espalhadas pelas ruas de São Paulo também. O leitor David Ramos diz que em Indaiatuba há vários pés na praça, mas ninguém dá muita bola. Por que será que a gente só quer o que está longe?  As cerejas do Chile, o figo de Israel, a romã da Califórnia? Vamos dar uma olhada no que já temos adaptado por aqui?  E fazer geleias, doces, compotas, sorvetes, molhos para carne etc. 

As sementes possuem uma mucilagem. Para lavar, basta
juntar bastante água num vidro, chacoalhar e coar em tecido
fino. Seque e guarde para plantar. Veja na última foto o
tamanho minúsculo das sementes em comparação com outras
minúsculas, amaranto branco e amaranto vermelho 
O que fiz com minhas poucas frutinhas colhidas foi separar as sementes das que pretendo plantar e congelar as outras, já que não tive tempo de lidar com elas no dia da colheita. E, como desconfiava diante da extrema doçura, as frutas congeladas não endurecem e ficam como sorvetes mastigáveis com micro-pérolas friáveis. Mas não comi todas assim, não. Pensando num foie gras com molho de framboesas, resolvi aproveitar o fígado do pato recém chegado de Piracaia e fazer um molho para ele. Achei que combinaria e não errei.
 


Fígado de pato com molho de cebola e calabura. Temperei o fígado com sal e pimenta-do-reino e fritei um minuto de cada lado em manteiga misturada com azeite. Embrulhei em papel alumínio e deixei assim por 15 minutos para terminar de cozinhar. Enquanto isso, fiz o molho. Coloquei numa pequena frigideira uma colher (chá) de manteiga e 1/4 de cebola roxa média. Juntei meia colher (chá) de açúcar e deixei dourar. Acrescentei as calaburas (um punhado), umas folhinhas de manjerona, 1 colher (sopa) de licor de laranja e 1 colher (chá) de vinagre de Jerez. Polvilhei sal e deixei ferver um minuto. Despejei sobre o fígado morno, juntei um pedaço de pão torrado e nhac! em duas ou três mordidas. 

Nhac!








Destino do feijão goiano 2. Ou o feijão que plantei e colhi

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Justiça seja feita, quem plantou e colheu o feijão foram os caseiros, Carlos e Silvana, com todo o capricho, como mostrei no post anterior. Minha parte foi embalar. Já estavam limpos, super catados.

De todos que trouxe da feira de Goiânia (200 g de cada), o que mais rendeu não foi o carioquinha como imaginei que seria. Pelo menos na nossa terra, o mais produtivo foi o roxinho: 4,1 kg. Seguido pelo vermelho e rajado. Com alguns tipos, tive prejuízo. O canário, por exemplo, que é lindo e gostoso, só rendeu 150 g (estas devem ser super sementes resistentes que vou replantar). Na próxima safra vou plantar mais roxinho e rajado e outros diferentes cujas sementes ainda guardo.

Só pra não esquecer 
Ontem o amigo Jerônimo Villas Boas veio aqui trocar as caixinhas das abelhas jataís (que se multiplicaram agora em cinco poderosas caixas) e almoçou o feijão vermelho. Disse que gostou.

Um dia Ananda me ligou perguntando como se faz feijão. Expliquei, ela aprendeu. O que seria dela se não fosse o livro da Rita Lobo? Lá ela aprende realmente a cozinhar. Aqui só tem coisa esquisita.

Mas então tá, vou dar aqui a receita de um simples feijão, desta vez especial, o primeiro feijão com uma trajetória mais ou menos conhecida.

Receita de feijão simples

Escolha se for preciso 200 g de feijão (roxinho, carioquinha, rosinha, canário, preto), lave bem, escorra e deixe de molho em 1 litro de água por cerca de 4 horas ou até que todos os grãos estejam inchados. Coloque o feijão e a água na panela de pressão com uma folha de louro, 1 pedacinho de courinho de bacon ou de toucinho fresco (opcional), 1 dente de alho amassado e 1 colher (chá) rasa de sal. Tampe a panela e leve ao fogo. Quando a válvula chiar, abaixe o fogo e deixe cozinhar por meia hora. Desligue o fogo, abra a panela depois que acabar a pressão, e veja se os grãos estão macios e se ainda resta caldo. Se secou, junte mais água quente para formar um caldo. À parte, refogue em uma panela ou pequeno caldeirão dois dentes de alho socados em 1 colher (sopa) de óleo. Deixe até o alho começar a dourar. Despeje sobre o refogado o feijão com seu caldo. Mexa com delicadeza e deixe cozinhar mais cinco minutos ou até engrossar o caldo.  Mantenha os grãos sempre cobertos com o caldo, se não racham.  Prove e corrija o tempero se necessário. Se quiser, junte cebolinha fresca picada antes de servir. Eu não quis. Rende: de 4 a 5 porções

O rajado: azul, roxo, rosa, vermelho. Eu não canso de olhar



Caipirinha de tomate de árvore ou de tamarillo

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Tomate de árvore foi uma das primeiras espécies que plantamos na chácara. Dos dois tipos, do amarelo e do vermelho. Já falei desta espécie aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2008/03/tamarillo-ou-tomate-de-rbore.html

A árvore da Fartura 
A planta cresceu rápido, ganhou folhas largas que fizeram boa sombra. Produziu um pouco de frutos, mas nada que se comparasse ao pé que tinha no antigo sítio dos meus pais em Fartura.

Produção de Fartura

Lá produzia muito. Mas agora, quando a planta começou a ganhar uma carga boa de frutos, os galhos começaram a murchar e depois secar.  Achei que era a seca, mas na semana passada fui cortando as pontas secas e notei que estavam com um tipo de broca que destrói o cerne dos galhos, um verme branco. Tirei todos as partes contaminadas, pulverizei tudo com biofertilizante que fiz à base de chorume e deixei um gotejamento leve de água ao redor do pé, além de colocar na terra um pouco de material pronto da composteira. Vamos ver como reage. Se não, planto outro.

Quando plantei na chácara em Piracaia era assim
Em menos de dois anos ficou assim:  o arbusto de folhas largas à esquerda 
Antes disso, colhi os frutos bons que haviam recém caído no chão e aproveitei para fazer caipirinha junto com o maracujá que também já começa a amadurecer.

Marcos preparando sopa de tomate de árvore: para plantar
Havia vários frutos podres no chão. Podres mas não bichados. Coloquei-os todos num recipiente, juntei palhada, composto, terra e água. Mexi bem, quebrando os frutos, e jogamos às canecadas numa área de terraplanagem que estamos recuperando. Se a chuva aparecer...

E a caipirinha com tamarillo fica especial. É ácida, doce e aromática. E o tipo vermelho tem um pigmento vermelho bastante atraente. Então, não tem como dar errado. Ainda mais com maracujá. Uma ideia eletrizante e nutritiva para os dias de folia e calor.



Caipirinha de tomate de árvore e maracujá: foi só colocar a polpa de um fruto de tamarillo no copo, meio maracujá e uma colher (sopa) de açúcar. Soquei bem com socador, juntei 50 ml de cachaça, mexi até o açúcar dissolver, coloquei um monte de gelo e glupt! (aliás, o amigo Luiz Horta está de Glupt novo).

Foto que a Sônia me mandou fazendo inveja com este petisco

Caipirinha da Sonia: quando fiz a caipirinha de tomate de árvore no sábado de calorão, mandei a foto  para a amiga Sonia que está morando ali perto da chácara. Servida? De repente ela e o Rui poderiam dar uma passadinha lá pra bebericar. Ela respondeu que, sim, estava servida, que esperasse um pouco. Em dez minutos ou menos ela me manda esta foto (o acompanhamento com feijão fez inveja) dizendo que, sim,  estavam se servindo mas que não podiam nos visitar porque tinham compromisso. Que danada! Ela tinha em mãos tomate de árvore e maracujá que também plantou e fez a mesma caipirinha. Cachaça, claro,  todo brasileiro deve ter uma por perto, né não?

Então, neste carnaval, beba com moderação, dirija o menos possível mesmo se não beber - pois andar a pé é melhor,  não beba por beber mas escolha bebidas gostosas no momento certo e, se sentir falta do Come-se (é muita pretensão, fala sério), aguente aí que na quinta estou de volta. Boas festas, alalaô!

O que é, o que é?

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Esta é fácil, mas aposto que muita gente ainda não conhece. Quer arriscar um palpite? Resposta só depois do carnaval, pois a equipe do Come-se foi dispensada no feriadão. De olho nas árvores com frutos por aí.  Inté e alalaô!

Caferana. Resposta à charada

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Hoje tem coluna minha no Paladar. Amanhã reproduzo aqui com mais fotos e mais detalhes.

A verdade é que quem respondeu conhecia a frutinha. Até parece que é uma fruta popular, mas não é, não. Nem nas terras de origem. O alto índice de acerto tem a ver com a inconfundibilidade da fruta. Quem conhece, conhece. Difícil confundir. Só eu com os nomes. Já explico.

Caferana é a resposta à charada. Ou não, afinal caferana pode nomear fruta de outra espécie. E a mesma espécie pode receber nome de outras frutas. Cereja, ameixa do peru, cereja espanhola, ameixa, cereja, fruta manteiga de amendoim, caferana e até falso guaraná. Não, não vamos chamá-la de falso nada. Nenhuma espécie viva ou morta merece o desdém de ser chamada de falsa alguma coisa. Caferana pode confundir com outras espécies também. Porém, caferana é bonito, é facilmente associado a esta fruta e não corremos o risco de achar que seu mérito está em se parecer com guaraná, ameixa ou cereja. Agora, para não ter erro mesmo, basta chamá-la pelo nome de batismo, Bunchosia armeniaca. Da família da acerola.

Meu amigo Guilherme Ranieri, durante um passeio aqui no meu bairro para coleta de espécies alimentícias nas ruas, já havia me mostrado a árvore aqui na vizinhança. Ele logo se lembrou do nome, caferana, me mandou email, falou que havia experimentado ainda dura e que não era gostosa. E a conversa parou por aí. Não sei porque, cismei que a planta era a azeitona do ceilão e fiquei com este nome na cabeça, mesmo tendo o Guilherme me dito que não era.  No antigo sítio dos meus pais, em Fartura, havia uma árvore dessa entre os pés de café e também cheguei a provar um fruto duro, já com cor alaranjada. Não achei nada bom e nunca mais me interessei por ela. Desprezo total. Mas o tempo passou e eis que a fruta madura aparece a menos de cem metros da minha casa.  Nem sabia que de laranja a fruta passava a vermelho. Nunca tinha tido a felicidade de encontrá-la em tal estado de graça.

Tudo aconteceu quando na última sexta-feira minha vizinha Ana me convidou para ir colher folhas de mamão na praça para fazer aquele defensivo que mostrei aqui (ela está usando no solo para uma praga nas suas flores e tem dado certo). Na volta, avistei uma árvore no estacionamento do clube carregada de frutinhos vermelhos. Vamos lá comigo?, convidei Ana. Claro. Já cheguei colocando na boca a mais madura que encontrei. Ana fez o mesmo. O que é?, ela perguntou. Acho que é azeitona do ceilão, ignorando que o Guilherme já havia me contado. Aliás, aprendo muito com o Guilherme. Mas ele sabe tanta coisa que vou guardando aos poucos na medida em que me deparo com a coisa ou na justa necessidade do momento.

Ana havia levado um saquinho e fizemos a festa depois de provarmos e gostarmos. Ela foi mais rápida que eu na identificação do sabor: hum, tem gosto de amendoim. Poxa, é mesmo, um sabor suave de amendoim cozido, manteiga de amendoim, ficamos ali divagando e colhendo.

Juliana Valentini, do viveiro Oiti e do blog De Verde Casa é outra que vive me acudindo.  Chegando em casa mandei fotos pra ela dizendo que havia comido azeitonas do ceilão maduras. Tem fotos das flores?, ela perguntou. Sim, mandei. Então não é azeitona do ceilão, mas Bunchosia armeniaca (ela nunca fala o nome popular, vai direto à identidade botânica).  Confusão desfeita, pesquisas, pesquisas e a surpresa do nome em inglês, peanut butter fruit (fruta manteiga de amendoim). A partir daí foi só alegria de saber tanta coisa da fruta tão nutritiva e descobrir tantas possibilidades.  Os nomes populares brasileiros e estrangeiros do tipo falso isso, falso aquilo, ameixa aquilo, cereja aquilo outro, peanut butter etc nos costumam levar à exaustão quando se quer saber exatamente do uso daquela fruta na cozinha. Já a descrição botânica e composição química e nutricional, por exemplo, são mais fáceis porque leva em conta o nome científico que é um só.  De minha parte, não erro nem confundo mais.

O que fiz, então, foi explorar por conta própria a fruta de acordo com o que ela oferecia. Cor vermelho forte, doçura, sabor de amendoim, textura de doce de feijão, como disse o leitor David.  De fato, o fruto verde não tem graça. Cheguei a cozinhá-lo com sal para ver se era comestível, mas não gostei. Tem sabor um pouco amargo.

Bem, a fruta não é nossa, nativa, porém, vem de próximo. Dos Andes da Colombia, Equador, Peru, Bolívia. E se dá muito bem por aqui. Estamos em plena temporada de flores, frutos verdes e maduros.

As folhas lembram as de café, talvez daí o nome caferana. As sementes gordinhas e pontudas ocupam grande parte do fruto. Um projeto de semente, como se fosse uma só que chapada, também ocupa espaço da polpa e não deve servir para nada. Às vezes o fruto se separa justamente entre uma parte mais fina com o arremedo de semente e outra com a semente fértil. A pele é super fina e sai fácil do fruto maduro, basta puxar com os dedos. É também comestível, nem precisa tirar.

É gostoso comer o fruto colocando-o inteiro na boca como uma azeitona (aliás, é um pouco maior que uma azeitona gorda) e tirando o caroço chupado. A massa lembra extrato de tomate e, como disse o Elson Elque na charada, pode ser usado como tal (o leitor conta que a tia, na Bahia, fazia o extrato da fruta e usava em vários pratos).  Posso dizer que tive a mesma inspiração quando vi a massa que rendia.

Não é fácil separar a polpa do caroço pelo corte, mas se passar por peneira a polpa densa e macia  não oferece resistência. Outro jeito que dá certo é congelar a fruta e tirar lasquinhas. Fiz assim para bater com kefir - combina com ingredientes azedos, já que é como um caqui em matéria de acidez. Não se sente acidez alguma.  

Além do kefir batido, fiz a fruta dourada no azeite com flor de sal, no molho para o peito de pato e passado diretamente no pão com mel (assim como americano gosta de fazer com a verdadeira manteiga de amendoim). Achei tudo delicioso. No molho para o peito de pato, não dá pra dizer que não seja tomate, pois juntei um pouco de vinagre - uma certa acidez somada com a doçura e a cremosidade que lhe são próprias resulta num molho perfeito que substitui o de tomate facilmente - o sabor de amendoim desaparece quando combinado com outros elementos pois é muito sutil.

Agora que já dei a ficha, dê uma olhada nas calçadas do seu bairro. Por ser uma árvore muito ornamental, não é raro encontrá-la por aí manchada de flores amarelas e frutos verdes, laranjas e amarelos.  Você vai reconhecer pelo biquinho, pela cor e pelo sabor. Mas veja aqui todas as fotos que tirei para não ter dúvidas. E explore você também os usos desta fruta tão pouco valorizada mesmo nos países de origem.

Vermelhos assim: delícia!
Verdes e verdolengos, ainda que coloridos, não são gostosos não.

As sementes verdes com biquinho colorido


A primeira experiência. Congelada, no kefir




Apenas dourada no azeite e polvilhada com flor de sal.  Passe no pão e nhac!






Pode ser passada no pão como geleia, sem mais nada

Ou misturada com mel ou geleia de frutas como se fosse uma verdadeira
manteiga de amendoim 
Cor de laranja mas ainda imatura. Não é gostosa, não. Nem crua nem cozida.
É como um tomate cremoso. A pele sai fácil mas nem precisa tirar pois não
ofende

As sementes podem ser separadas na peneira usando uma espátula. A
polpa é cremosa e pode ser usada em molhos doces ou salgados, sorvetes,
vitaminas, doces, geleias, mingaus etc.

Lembra extrato de tomate. Certamente rico em licopeno


Usado como polpa ou extrato de tomate 
Pronto, fica com esta textura. Serve como base para pratos com carne ou
massa.



Com peito de pato 




Ana Campana colhendo comigo 

A prefeitura fez uma poda para desestimular colheitas urbanas ... É a árvore
do meio, do lado direito da mais baixinha 

A planta com flores amarelas é decorativa
Porque fazem isto com as árvores? Aqui, no clube ACM, rodeada de asfalto
até o colo
Encontrei mudinhas prontas em volta da árvore



Elderflowers, elderberries, sabugueiro, flores e frutos. Coluna do Paladar, edição de 06/03/2014

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Minha coluna publicada ontem no Paladar está também no site do caderno: http://blogs.estadao.com.br/paladar/o-doce-poder-do-sabugueiro/

Mas colo aqui meu texto com mais fotos:

Assim como muita gente, eu conhecia o sabugueiro apenas por suas competências fitoterápicas e como aromatizador de bebidas alcoólicas, conferindo certo amargor e perfume de mel.  Mas recentemente um novo mundo se abriu com a descoberta de uma árvore perto de minha casa e com o primeiro gole de um cardeal feito por mim com suas flores.  

Cordial é um xarope ou simplesmente um concentrado de flores ou frutos para diluir como refresco. Foi o que fiz, meu próprio cordial. Tudo começou com a tentativa de imitar o conteúdo da garrafinha que ganhei da artista Daniela Brasil, de volta a este seu país natal representando a universidade de Graz, na Áustria, onde trabalha,  para participar da última bienal de arquitetura em São Paulo. Numa troca de gentilezas e sementes,  acabei ganhando um artesanal holler minz, como marcava o rótulo da garrafa escrito à mão. Holler minz é o xarope da flor com menta. Os austríacos são fascinados por esta bebida. Cheguei em casa, diluí umas duas colheres num copo de água gelada e fiquei tão maravilhada com o refresco que resolvi pesquisar mais a respeito frequentar o sabugueiro do bairro toda semana. Fiz muitos concentrados de flores até que chegassem as pequenas bagas, como um grande cacho de uvas pretas minúsculas. Como pude passar tantas vezes por estas preciosidades sem dar atenção?

Um cacho pode chegar a quase um quilo

Se ainda não ouviu falar, logo elas estarão por aqui. As elderberries e elderflowers foram desde a antiguidade produtos estimados da espécie Sambucus nigra na Europa central e meridional, assim como a S. peruviana nos Andes e a S. australis, nativa do sul do Brasil – todas são muito parecidas, recebem os mesmos nomes populares e apresentam as mesmas propriedades e usos. As diferenças são morfológicas e discretas. Porém,  as frutinhas tem virado nova febre na Europa como alimento funcional – espere acabar a onda da gojiberry, da blueberry, da cranberry,  e logo aparecerão oportunistas oferecendo elderberries como a panaceia da vez. Pós, pílulas, pastilhas. Não acredite em tudo.

É claro, é ótimo saber que além de gostoso um alimento é tão benéfico. Se você for a um buscador mais sério como Pubmed ou Scielo e procurar pelo nome científico, vai encontrar muitas referências sobre seus componentes e benefícios preventivos e curativos. E  já adianto que para gripe e doenças do aparelho respiratório não há remédio igual. Mas, exageros à parte, o bom é saber que temos sabugueiro por aí, tanto da espécie europeia quanto da nativa, e podemos ter para a colheita outros projetos que não a expectativa única como alimento messiânico. O xarope amarelado e límpido das flores e o rubro denso da bebida feita com os frutos são uma alternativa prazerosa aos sucos concentrados e groselhas artificiais.


 
As flores miúdas são brancas cerosas agrupadas num arranjo de buquê de noiva. Elas têm um perfume forte de mel combinado com algo de abacaxi que se mantém no xarope.  E os frutos ao natural, para falar a verdade, são um pouco insípidos, não muito diferentes de uma maria-pretinha, inclusive no aspecto. Mas o sabor, ligeiramente resinoso e amendoado,  se ressalta com a combinação de calor e açúcar.  A polpa,  suculenta e tinta a ponto de manchar de vermelho os dedos, coberta com película fina, parece preta de tão escura, mas a cor é vinho forte como amoras, cheias de antocianinas, um potente antioxidante, é bom lembrar.

Estamos em plena safra dos frutos, mas você não deve encontrá-los à venda. Fique atento às árvores das ruas e parques e não se arrisque se não tiver certeza. Há uma espécie parecida Sambucus ebulus, que tem flores e frutos tóxicos. Para diferenciar, saiba que esta espécie tem forma arbustiva enquanto o sabugueiro é uma árvore com cerca de 4 metros ou mais, dependendo da origem.  E as brancas flores do sabugueiro têm filetes e anteras amarelos enquanto na espécie tóxica as flores são brancas mas com estes detalhes em vermelho.

Mesmo no caso do sabugueiro, tanto o nativo quanto o europeu, nem frutos nem flores devem ser ingeridos crus – a não ser em pequenas quantidades.  E as sementes, mesmo cozidas, devem ser evitadas. É que, como as amêndoas amargas ou mandiocas bravas, a planta toda contém um glicosídeo cianogênico que pode ser tóxico a depender da quantidade. Felizmente o calor inativa este poder.

Para colher as flores, comece a olhar as árvores no final da primavera, mas ainda agora, no meio do verão,  algumas árvores podem ter cachos de flores e frutos. Com a colheita em mãos você poderá preparar os concentrados para usar em drinques e refrescos ou fazer infusões, sopas com os frutos e maçãs (sopa de sauco, como fazem argentinos), tortas com flores e frutos, geleias, doces em pasta ou compota, caldas, sorvetes ou as flores empanadas e fritas servidas com açúcar (fritelle di fiori di sambuco dos italianos).

Se quiser mergulhar neste mundo sabugueirístico, invista em saber o nome da planta na língua de outros países que sabem mais que nós sobre o uso da planta para fins recreativos na cozinha. Saúco, sabugo, canillero, süc, bonarbre, sauko, sarets, txotixika, sureau, grand sureau, sambuquier, sue, black elder, european elder, pipe tree, bour tree, vlier, holunder, flieder, schwarzer holunder, sambuco, zambuco, sambrugo, saugo, nebbli, savucu, sabugueiro-do-rio-grande, são apenas alguns.

Algumas dicas


Se não conseguir muitos frutos de uma só vez, vá acumulando os cachos no freezer e quando tiver uma boa quantidade, faça um xarope para conservar.
As frutinhas congeladas se soltam facilmente do cacho.

Com as flores vá fazendo pequenas quantidades de concentrado com os cachos que consegue colher. É só usar um vidro pequeno e encher de flores sem os talos. 


Um jeito fácil de separar as minúsculas flores ou os frutos do cacho é usar um pente de aço, daqueles de segurar cebola para cortar fatias.

Outro jeito de conservar os frutos é secá-los. Desidratados,  podem ser usados em chás combinado com outros aromas como casca de tangerina, gengibre,  hibiscos e canela.

Mas aqui o jeito de fazer os concentrados:



Já fiz com vidros de vários tamanhos, dependendo da quantidade de flores
que consigo

Aqui, o sol era tão forte que coloquei água fria e logo ela chegou a 47 graus
Xarope de flores de sabugueiro: separe as flores do cacho e coloque-as num vidro de tamanho proporcional à quantidade que tem, de modo a quase preenchê-lo. Introduza, encostados ao vidro, duas fatias de limão e 2 centímetros de fava de baunilha para cada cacho de flor. Despeje água filtrada a 40ºC, tampe o vidro e deixe no sol durante dois dias. Sob sol forte a temperatura se mantém em 40 graus ou mais durante o dia.  Coe, meça o líquido e junte a mesma quantidade de açúcar. Leve ao fogo e deixe ferver por cinco minutos ou até ficar com consistência de xarope fraco. Junte uma colher (chá) de suco de limão (quantidade por cacho), engarrafe e guarde na geladeira. Na hora de usar, basta diluir a gosto com água gaseificada ou não, gelo e fatias de limão.  Use também como calda, base para sorbet ou composição de drinques – com gim, gelo e limão, por exemplo.

Xarope de bagas de sabugueiro: junte 1 kg de frutos, enxague e coloque numa tigela de vidro. Coloque água que cubra, espere 15 minutos e leve ao fogo.  Ferva por cinco minutos, juntando mais água se for necessário para que os frutinhos fiquem sempre cobertos. Passe por peneira pressionando bem (pode usar espremedor de batatas),  junte 200 g de açúcar e leve ao fogo. Quando o açúcar derreter, basta engarrafar e guardar. Também pode ser diluído com água para fazer refresco ou usado como calda ou com bebida alcoólica.


E olhe que coisa boa: ele pega por estaquia facilmente





Tempo de colher goiabas, araçás, jabuticabas, oitis, caferanas, pitangas

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A colheita urbana de hoje: goiabas brancas, araçás, jabuticaba, pitanga,
oiti e caferana
O combinado com a Letícia, há uns quinze dias, era colher mangas aqui  pelo bairro. Mas na semana passada passei pelo único pé em que a produção foi farta e mangas já não havia. Sorte que Marcos e eu colhemos várias assim que as avistamos. Fatiei todas, congelei e usei dia a dia no kefir de frutas.

Goiabas do sítio do Carlos

Mangas colhidas por Marcos e eu numa praça 
Se a safra da manga já está no fim, a de goiaba está a pleno vapor. No sítio, encontrei cestas de goiabas maduras nas últimas duas vezes em que estive lá. Trazidas pelo caseiro, do sítio dele. Rapidamente,  dada a iminência de se estragarem, tive que transformá-las em orelhas em calda para usar também no kefir ou vitaminas.

Mas, voltando à Letícia, combinamos então de colher goiaba. Quer programa melhor para uma segundona quente? Colher frutas na rua em dupla é muito mais divertido. E sempre para alguém, fica olhando, pergunta o que é. Se reconhece a fruta, dá uma risadinha como querendo participar. Se não conhece, quer saber se é de comer, qual é o nome. Enfim, é sim um programa divertido.

A Letícia na maior alegria.  Eu também!
Fomos, munidas de uma varinha com um gancho na ponta, em direção à goiabeira que conhecia e sabia que estava carregada. Para nossa decepção, várias eram só a casca a fazer chamariz. Pois estavam ocas por dentro, bicadas de passarinho. Mesmo assim, conseguimos colher algumas.

Pé de oiti

Pé de araçá vermelho


Compota fácil de fazer. Veja aqui.
Para não voltarmos com a sacola vazia, convidei letícia a ir ao pé de araçá. Uma árvore bem maior, carregada de frutinhos amarelos, vermelhos, arroxeados. Mas lá no alto. Colhemos algumas e não resistimos a provar ali mesmo. Deliciosas, com perfume incrível. Rumamos para outra goiabeira, mas me confundi, não lembrava mais sua exata localização. Mudamos de caminho de volta e encontramos o pé de oiti carregado. Havia anos que não o via com frutos, que ainda estão amarrentos, mas são lindos e vão ficar gostosos com o tempo.  No caminho também encontramos pitanga grandona, jabuticaba, caferana e araçá amarelo.

Em casa, dividimos nossa coleta e vamos ver o que sai. Pelo menos um suco ou kefir de frutas bem gostoso vamos ter.

Como tenho mais goiabas que trouxe do sítio, pelo menos estas vão virar compota, como a que já ensinei aqui. http://come-se.blogspot.com.br/2013/04/um-litro-de-leite-e-umas-goiabas-do-pe.html. Neste post mostro outra colheita de goiabas de praça muito mais farta: http://piqueniquepertodecasa.blogspot.com.br/2013/04/piquenique-de-pascoa-abril-2013.html

Mas, e você, já olhou as árvores do seu bairro pra ver em que fase se encontram?  Já sabe quando vão florir e produzir frutos, vagens, sementes?


Hibisco saiu de moda. Ou água de jamaica e muffin de hibisco

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O bom das modinhas de alimentos funcionais e para emagrecer é que assim como vêm elas se vão. Ou, assim como estes alimentos chegam ao mercado com valores exorbitantes, vão saindo aos poucos cabisbaixos custando menos da metade do preço.  Este é o perigo de endeusar alimentos. Assim que a promessa de milagres não se cumpre (alguém acredita neles?), o pobre diabo volta a ser o último da fila, afinal quando ninguém mais se lembrar do seu fracasso ele poderá ressurgir do pó com novas promessas. Enquanto isso, um novo alimento ou suplemento é lançado. Logo será a elderberry ou fruto do sabugueiro. Aguarde. 

Fico com dó quando chego ao Mercado da Lapa e vejo alguém com uma listinha sem a mínima ideia do que se trata. São alimentos que nada têm a ver com a cultura da pessoa, com a intimidade na cozinha, com o conforto do gosto. Mas ela vai ditando: me vê aí um tanto de chia, outro de gojiberry, suco de cranberry, flocos de quinoa, farinha de linhaça, farinha de açaí etc. A conta? cara, bem cara.  Outro dia um rapaz com uma cinturinha larga, pediu tudo isso, olhou pra mim - devia estar encarando meio incrédula - e disse: estou tentando comer mais saudável, sabe? Vou tentar aprender a cozinhar com tudo isto.  Dizem que é bom. O vendedor me conta que vai aprendendo sobre a propriedade dos alimentos com os clientes e estimula: olha, pode comer bastante quinoa que tem mais proteína que a carne. A chia você engole a seco. O grão se espessa com líquido e fica uma delícia em sucos doces, mas o rapaz ia engolir a seco pra inchar dentro dele, enganar a danada da fome. Sou palpiteira de nascença, mas adianta ali rebater?  Tudo bem, às vezes não aguento e falo alguma coisa só para situar a pessoa. 

Mas minha demora ali, a ponto de observar clientes, é mesmo para escolher ingredientes. Um dia comprei farinha de açaí e achei com gosto artificial. Mas da chia eu gosto. Assim como também gosto também de quinoa, linhaça etc. Mas não pela panaceia como são tratados e sim pelo que são de verdade. Todos com muito potencial na cozinha, todos nutritivos, saudáveis e que podem entrar uma vez ou outra no nosso cardápio sem histerias, sem depositar neles a esperança pela salvação do esqueleto. 

E para quem não está nem aí com a moda, alguns desses alimentos vieram para ficar ou já tinham chegado antes de surgirem como novidade. O óleo de coco, por exemplo, minha mãe já extraía em casa quando eu era criança. Chegou a custar uma pequena fortuna, agora o encontramos ainda caro, mas não absurdo. Prefiro fazer o meu em casa. Já o hibisco, compro fresco desde que me conheço por gente grande. Às vezes era vendido em feiras e sacolões com o nome de groselha. Talvez pelo xarope que ele faz, talvez pelo nome francês roselle. Com a moda, ficou super caro o seco, ótimo para infusões,  xaropes e uma porção de receitas feitas estes líquidos coloridos.  Pois, pelo preço, percebi que já caiu no esquecimento. Comprei 100 gramas por menos de 4 reais. E com esta quantidade dá pra fazer muito chá e refresco. 

O hibisco fresco é mais difícil de encontrar atualmente, mas em se plantando produz fartamente.  Pode também ser usado em geleias, saladas, caipirinhas, refresco, sagu etc. 

A mancha vermelha no prato não é sombra 
Gosto de fazer xarope como o de groselha para diluir na hora de tomar.  No México, este xarope é chamado de água de jamaica (o hibisco é flor de Jamaica).  Você pode aromatizar ou não com casca de laranja, cravo, canela.  O meu faço meio a olho. Coloco uma mãozada de hibisco - ou uns 100 g ou o conteúdo destes sacos que mostro na foto - numa panela de aço inoxidável, cubro com bastante água e deixo reduzir no fogo até o líquido ficar bem tingido e o hibisco, macio. Coo, imagino que tenha ali mais ou menos 1 litro de suco, junto umas duas xícaras de açúcar e volto ao fogo com um pedaço de casca de tangerina, 1 rodela de gengibre, 1 cravo, 1 pedacinho de canela. Ou, se estou com pressa, só açúcar mesmo (pois o hibisco já tem cor, sabor e é ácido, ótimas condições para refrescos).  Passo por peneira, engarrafo e coloco na geladeira. Dura vários dias. É só diluir umas 4 colheres de xarope ou a gosto num copo com água e gelo na hora de beber. Se quiser, rodelas de limão. 

Como calda sobre o bolinho de iogurte com iogurte. Nhac!
Bastidores: posicionar a câmara com uma mão e despejar a calda com a outra.
Acertar o copo é só um detalhe... 
Você pode usar este xarope como calda pra bolos, bolinhos, sorvetes, iogurtes. 

O hibisco cozido
O que sobra do hibisco cozido não precisa ir pro lixo. Pode virar geleia, ser batido com kefir ou iogurte ou fazer as vezes de passas em bolo. Foi o que fiz. Usei 1 xícara de hibiscos cozidos nos bolinhos de iogurte.  Destes, tenho a receita certinha porque já fiz outro igual, só que com pitangas, aqui. Ficam deliciosos e macios. Como tem bastante hibisco, pode comer à vontade que não vai engordar (mentira rude!).

Adicionar legenda
Muffins de iogurte com hibisco 

½ xícara de manteiga sem sal, derretida
1 xícara de açúcar
2 ovos
1 copinho de iogurte natural de 170 g
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher (chá) rasa de bicarbonato de sódio
1 pitada de sal
Raspas da casca de dois limões (um tahiti e outro siciliano)
1 xícara de hibiscos cozidos e escorridos

Unte com manteiga e polvilhe com farinha 15 forminhas de muffins. Numa tigela, combine a manteiga derretida fria com o açúcar, os ovos e o iogurte. Misture bem. Peneire sobre esta mistura a farinha, o bicarbonato e o sal. Misture até virar uma massa homogênea. Junte a casquinha de limão e o hibisco. Mexa delicadamente para incorporar. Divida a massa entre as forminhas – deixando espaço para crescer (se quiser, use outras forminhas, como fiz desta vez, mas lembre-se de deixar espaço para a massa crescer). Leve para assar em forno médio preaquecido, por cerca de 30 minutos ou até dourar.
Rendimento: 15 muffins

Visita boa

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Foto da Juliana Valentini, roubada descaradamente do blog dela (a toalha
e o prato são meus afinal). Cambucis congelados vão direto para o
liquidificador
No carnaval tivemos boas companhias. Os amigos Juliana e Flores, que também nos visitaram no carnaval do ano passado, para manter a tradição e aplacar nossas saudades, estiveram novamente conosco no último feriado, silencioso e de muito plantio. 

Eles têm um viveiro em Holambra e chegam sempre com muitas mudas. Flores e Marcos plantam, Juliana e eu vamos pra cozinha preparar jarras de suco de cambuci. Aliás, a fruta em extinção é a cara da Juliana, que se empenha numa missão de fazer mudas e mais mudas a partir de sementes enviadas pelos leitores do seu blog De verde Casa.  Ela escreve super bem e fala de assuntos interessantes, divertidos, emocionantes. Confira lá.  

Voltando ao cambuci, ela ganhou um tanto de um leitor e levou congelado pra fazermos sucos. Então nosso carnaval foi uma bebedeira só. Jarras e jarras de suco de cambuci, perfumado, geladinho, delicioso. E Flores entende como ninguém de árvores nativas de flores e frutas. O viveiro deles, Oiti,  faz projetos de reflorestamento de verdade - não com eucalipto, mas com espécies nativas. Como as espécies com que lidam, são pessoas raras.  Sorte nossa ter amigos como eles. 

Juliana fez um post lindo sobre a estadia na chácara. Confira lá a visão dela: 
http://www.deverdecasa.com/2014/03/descansar.html#comment-form

Aula grátis com Pupin amanhã na Wilma Kovesi

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Amanhã haverá uma palestra do Pupin na Escola Wilma Kovesi. Neste horário estaremos, os vizinhos e eu, iniciando uma horta urbana na nossa rua. Por isto não vou. E eu posso ouvir sempre o Pupin ao vivo em Piracaia. E a Sonia, lider do Slow Food Piracaia que participará do encontro, também. Mas é uma ótima oportunidade de conhecer um pouco do que tem sido feito em Piracaia.

AULA ABERTA

AULA ABERTA | ORGÂNICOS
Roda de conversa com Dercílio Pupin
Questões históricas ● Cadeia envolvida no manejo orgânico ● Plantio de pomares, hortas e jardins● Orientações para consumo consciente... Sábado | 15 de março : 10 às 12 horas
25 vagas | reservas sujeitas a confirmação: info@wkcozinha.com.br
Escola Wilma Kovesi
Rua Cristiano Viana, 224
São Paulo - SP
11 3063 1592

Xarope de jabuticaba. E geleia, e doce e ... Aproveitamento total.

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Uma coisa é pegar duas jabuticabas e fazer cozinha contemporânea, de vanguarda, seja lá o nome que se dê, desenhando um risco rubi no prato. Outra é aproveitar uma baciada que a gente não dá conta de comer mesmo dividindo com os amigos. O fato é que não sei outro jeito para não desperdiçar se não congelar antes que fermente para lidar com ela depois ou fazer geleias e compotas. Já dei receita com jabuticaba de tudo quanto foi jeito: vinagre, tapioca, sagu, gelatina, chá, casca desidratada, no papel de banana, com sal, com açúcar, passa, compota, caipirinha e calda. Nunca pensei, no entanto, em fazer da calda um xarope para usar em refresco. Ando com mania de fazer xaropes. É uma saída rápida e gostosa para o verão quando não se tem tempo para fazer um suco de fruta fresca.  E uma variação para a simples água. Ao refrigerante, nem se fala. Depois que fiz o xarope de sabugueiro, já fiz de hibisco, de ervas aromáticas e agora o de jabuticaba. 

Estas chegaram recentemente com as goiabas, pelas mãos do caseiro, mas as que usei foram as congeladas que tinha da outra safra. Precisei de espaço no freezer e tive que fazer escolhas com o que havia dentro. Imediatamente, claro, pensei em fazer mais xarope colorido. Ainda tenho o de hibisco, mas nunca é demais ter outro sabor, ainda que da mesma cor. 

Para o xarope de jabuticaba, foi só colocar as frutas (congeladas já lavadas), uns 3 kg mais ou menos, numa panela de inox e cobrir com água. Deixei cozinhar por cerca de 1 hora até que a água ficou bem tingida e a fruta macia.  Coei no pano - a foto lá em cima-, sem espremer muito. Rendeu 2 litros de caldo. Juntei meio quilo de açúcar e voltei ao foto. Deixei ferver até o açúcar derreter e ficar com consistência de xarope. Apaguei o fogo, juntei o suco de um limão, esperei esfriar e engarrafei.  Na hora de beber, é só diluir 1/4 de xícara ou a gosto com água e gelo num copo. 

Poderia ter parado por aí, jogado fora o bagaço. Mas ainda havia tanta cor, tanta polpa, tanta antocianina, este pigmento antioxidante que a gente tanto busca nos vinhos. Então o que fiz foi tentar uma segunda extração. Coloquei o bagaço na panela, juntei mais água e cozinhei mais 10 minutos. Passei por pano novamente apertando um pouco mais e coletei o líquido, 2 xícaras. Coloquei na panela este suco com 1 xícara de açúcar e o suco de 1 limão tahiti e deixei cozinhar em fogo baixo até o ponto de geleia (tem receita parecida aqui e o ponto da geleia de hibisco, que é igual). 

Poderia ter jogado fora agora o bagaço, mas ainda tinha tanta cor, tanta polpa, tanta antocianina... Resolvi fazer mais uma extração. Bati tudo no liquidificador rapidamente com um pouco de água, passei por peneira para reter sementes e cascas, pressionando bem. E à polpa obtida juntei igual quantidade de açúcar. Levei ao fogo e deixei apurar até ficar como uma goiabada cremosa. Ficou uma delícia, com muito sabor ainda da jabuticaba. Pode ser usado como base para sobremesas ou servido como geleia, para passar no pão. 

Mas ainda tinha tanta cor....  Agora deixo o assunto da quarta extração para um próximo post, quem sabe. 





Tudo do coco. Ou creme de coco para cozinha tailandesa

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O creme nas cumbucas
Meu cunhado é marceneiro e outro dia fez várias cumbucas para uma cliente que daria uma festa tailandesa na praia. Conclusão, sobrou o coco. Então, aqui, o aproveitamento deu-se pelo contrário. Normalmente sobra a casca.

O bom é que ganhei muito coco, o suficiente até para separar o creme ou a nata. Este creme pode ser usado como um leite de coco concentrado que pode ser diluído, lembrando que é mais gordo,  como creme mesmo em sobremesas e curries tailandeses, ou simplesmente colocando uma colherada sobre um cozido, frango ou peixe assado,  como se fosse uma colherada de manteiga.


Uma colherada no curry
Para conseguir separar este creme, é só extrair o leite e deixar na geladeira de repouso por alguma horas. A gordura é mais leve e vai subir e se solidificar. Tire, então, com uma colher e guarde em vidros para usar depois. Dura até cinco dias na geladeira, mas o melhor é congelar. O líquido que sobra pode ser usado como um leite de coco mais ralo. Bom para cozinhar legumes e frangos. E o creme, para ficar mais cremoso, pode ser homogeneizado no processador. Fica mais fácil para colocar nos vidros e para usar nas receitas. Se quiser ainda fazer óleo, é só levar esta nata ao fogo e deixar a umidade evaporar, afinal no creme há gordura e líquido emulsionados.  Quando o líquido evapora, sobra na panela uma massa (a parte sólida do leite) com gordura separada. Coe para tirar o óleo e use a massa para fazer farofa.  


Imagino que todo mundo saiba extrair leite de coco, afinal é só bater o coco em pedaços (não precisa tirar a pele marrom) com um água morna em quantidade suficiente para conseguir fazer funcionar o aparelho. Bata até formar uma massa e coe em pano, espremendo bem.

A fibra virou farinha
A fibra pode ser seca no forno bem baixo até ficar totalmente seca. Depois, bata no liquidificador para ficar fina. Esta farinha nutritiva e rica em fibras é cheirosa e pode ser usada em farofa (neste caso, nem precisaria afinar no liquidificador), pão, biscoito, bolo, granola etc.

Festival do Umbu em Uauá

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Acontece em Uauá, na Bahia, mais um Festival do Umbu. E é pra lá que eu vou, que não sou boba nem nada. Se tudo for verdade, volto a escrever aqui no primeiro de abril. Quem quer ir?

O que é que a Caatinga tem? Ou: O que pode vir na mala

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Ainda estou chegando, me organizando. Mas, como prometi, aqui estou. E como é de praxe, mostro o que veio na mala. Nem tudo é da Caatinga, mas tudo veio da Bahia, estado de que tanto gosto. Ainda mais agora que decidi espalhar por aí que meus pais são baianos. É que nos últimos tempos tenho ouvido tanta gente sem pudor chamando de baianada qualquer coisa errada ou mal feita que minha resposta vai ser esta, meus pais são baianos e eu não gosto de ouvir isto, fim de papo. 

Na mala veio até pé de umbu gigante com mais de meio metro que ganhei dos expositores da Embrapa.  Acomodei-o numa caixa entre mosquiteiros de tule e ele foi despachado sem alardes.  Fora isto, muito doce de umbu. Em pasta, de corte, marmelada de caroço. E mais vinho ou vinagre de umbu para fazer refresco e umbuzada. Flor de umbu dá bom mel e uma garrafinha veio de presente para o Marcos, melófilo. Um tanto de maracujá da caatinga ao natural também veio, assim como geleias feitas com ele, da Coopercuc.  Caixinhas de umbu bom, nego bom de umbu, não podiam faltar. São balinhas deliciosas e ácidas cobertas de açúcar.  E ainda sementes de catingueira de porco, de milho crioulo colorido do Seu Afonso, que também me deu muda de mandacaru sem espinho e pepino cabaça. Um pilão, presente da Nenê, irmã de Jussara,  vem aumentar minha coleção - e ela nem sabia da minha paixão. A outra irmã de Jussara, Sanara, me deu um potão de doce de goiaba.  A vontade era de trazer mais panelas de Uauá, mas consegui me contentar com as que trouxe no ano passado. E teve também presentes como as castanhas amazônicas mais deliciosas do mundo da Coperacre, presentes da Fátima, com quem dividi o quarto no hotel. Os óleos de macaúba, comprei no festival do Umbu.  Já na capital, mais presentes: flocão de milho não transgênico da Copirecê, mudas e sementes de manjericões diferentes, todos presentes da italiana Fernanda, líder do Slow Food de Salvador e fruta pão comprado pela amiga Silvinha que veio junto pra fazermos nhoque com ele - já fizemos, já comemos e agora vamos ver a exposição Food no Sesc Pinheiros. Amanhã começo a trabalhosa e agradável tarefa de registrar aqui as aventuras de Joaninha, sobre o banco de sementes no meio da Caatinga, sobre o passeio a Juazeiro e Petrolina, as ruínas de Canudos agora à mostra com as águas baixas da represa que a sepultou, a experiência de se perder no sertão, as picadas de caboclo e muitas coisas mais. 



Joaninha no coração do sertão. Ou três ariados na Caatinga.

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Para quem não conhece, já falei de Joaninha nos dois anos anteriores, quando estive no festival do Umbu em Uauá. 
http://come-se.blogspot.com.br/2012/03/uaua-parte-5-agua.html
http://come-se.blogspot.com.br/2013/03/o-sertao-de-joaninha-parte-2.html

Esta foi minha terceira vez por lá e é sempre encantado o passeio com Joaninha, que cresce cada vez mais fabulosa, inteligente, trágica, divertida.  Desta vez teve uma pitada de suspense. 

O almoço estava praticamente pronto. Nenê, mãe de Joaninha, fez comida baiana especial pra nós: vatapá, caruru, xinxim de galinha, pratos não muito comuns no sertão. Foi quando decidi dar um passeio rápido com a menina que estava ansiosa pra me mostrar o coração do sertão. Fez segredo do que seria o coração. Eu veria em breve, tivesse paciência. 

Antes, arrodeou a casa para me mostrar os assuntos mais ligados ao cotidiano. A água do açude, o lajotão para captação da água da chuva que vai para uma cisterna e uma hortinha de ervas medicinais brigando com o sol estorricante e a falta de água (aspas daqui pra frente são para as falas dela):  "Olhe aqui, Neide, é de por na comida. Tome, sinta, cheire, maciozinho, né? Aqui chama de hortelão. Serve para por ao lado da comida para ficar bonita. Põe também no tempero. Se você quebrar, vai ver a água das folhas. Possui água só que não pode beber. Porque é muito perigosa. Se beber, fica doente ou talvez morra. Tempera feijão, às vezes pode fazer um arroz temperado ou quem sabe uma sopa não fica gostosa? Bem, na maioria das vezes só fica boa se a pessoa sabe cozinhar."  Falava da hortelã baiana, aquela gordinha. 

"Já o capim santo, se for uma panela grande, quase cheia, você pega um punhado e corta miudinho. Se não cortar, vai gastar mais, e a gente quer gastar pouco. Se puser muito açúcar, vai ficar azedo. Tem que por pouco que fica bom, no máximo 1 colher. Não põe junto, pois já imaginou os efeitos desastrosos de cozinhar o açúcar? Pode queimar".  Ué, pode colocar bastante água, Joaninha, disse só pra provocar. "Mas se a gente aqui no sertão não tem muita água, a água vai ser pouca e pode queimar sim". 

"Olhe, Neide, um pauzinho reto no chão. Não se vê um desses todos os dias. Os paus aqui são tortos. Quando estão no chão, os passarinhos vêm e fazem o ninho. Quebram com os bicos e com as patas. Vamos sair deste sol que o cabelo vira palha. Se mexer num ninho a mamão pássaro vai te explicar."


Terminada esta fase da visita perto de casa, atravessamos a cerca para adentrar o sertão. Pietro, o irmãozinho vinha atrás da gente descalço. Pedi para colocar sapato porque o chão é todo salpicado de pedras e espinhos. Lá fomos nós. 

"Neide, você quer ir pro Norte, Sul, Leste ou Oeste?". Certa de que Joaninha me mostraria preciosidades em qualquer das direções que escolhesse, respondi Oeste sem pensar muito. "Oeste? Eita! O caminho é traiçoeiro". Não cheguei a me assustar, porque Joaninha é sempre trágica.  "Vem cá, olhe o que está brotando. É aquele cacto cabeça de frade, que quando cresce fica bem cheiozinho. Olhe, Neide, esta pedra brilha, tome pra você. É difícil encontrar este cacto, ele está em extinção. Olhe o cansanção, ele espinha e dói como muriçoca.  Alguns espinhos quando misturados com larva de sapo, se pisar pode até matar. É que contém um líquido que entra no corpo que vai desenvolver um álcool altamente tóxico". Meu Deus, de onde esta menina tira tudo isto?, pensei. 

"Hora de fazer uma pausa aqui neste umbuzeiro. Lugar perfeito para um piquenique, mas o meu piquenique planejado é bem no coração. Você vai ver que maravilha é o coração, Neide. Está chegando. O cansanção além de fazer doer os humanos com seus espinhos, ele é útil porque se protege e protege outros animais. Se tem uma lagarta em suas folhas e se alguém quer comer esta lagarta, o cansanção salva a lagarta, embora a lagarta coma suas folhas". Mas e este coração, Joaninha, tá chegando? estou achando que estamos nos distanciando muito.  Joaninha olha para o chão, encontramos alguns galhos, muitas pedras. Ela olha, olha e saltita: "estamos chegando, estamos chegando, chegamos".  Era  um lindo umbuzeiro de copa arredondada e raízes aparentes que saiam do tronco como raios de sol. Parecia um árvore esculpida simetricamente. "A natureza nos dá muitas coisas bonitas, então a comunidade resolveu também fazer coisas lindas para a natureza." Larissa, uma cabrinha, até este pondo nos seguia. A partir do coração, sumiu.  "Aqui era um rio antigamente. É lindo, não é, Neide? Toalha de piquenique eu não tenho, mas que este lugar é bonito, é." 

Dá pra passar um verão todo aqui, disse o quieto Pietro. "Posso trazer todos os materiais que preciso e morar aqui, fruta, água, comida. Não precisa de toalha, é só se sentar na raiz do umbuzeiro", continuou Joaninha.  Encontramos ao redor da árvore mágica um cogumelo seco já sem o chapéu, como este que mostrei aqui. "Dentro desses cogumelos tem um pó que se mistura com água vira tinta". Como sabe isto, Joaninha? "Bem, se eu já peguei um, já misturei, já fiz uma tinta, vi que deu certo, é como sei". 

O coração do sertão. Umbuzeiro. 
Umbuzeiro com seus xilopódios ou batatas que armazenam água

Depois do umbuzeiro coração do sertão e do cogumelo sem chapéu que também parecia encantado, não conseguimos mais achar o caminho de volta. Ficamos andando, andando. Achei que Joaninha sabia onde estávamos indo, mas não. O sol era forte, nos esperavam para o almoço, o solo era pedregoso, a paisagem começou a ficar monótona. Catingueiras, favelas, cansanção, palmatória, cabeça de frade, mandacaru, espinhos no chão. Íamos pra lá, pra cá, tentávamos o norte, o leste, nada. Nenhum sinal de casa, de gente, de cabras. Só a solidão da caatinga. De vez em quando um sininho de cabra. Tentei manter a calma das crianças que começaram a ficar agoniadas, com sede, com fome.  Andamos por quase duas horas sem que reconhecêssemos o caminho de volta. Conseguimos chegar novamente ao coração, mas não descobrimos de que lado chegamos. As árvores são todas baixas, a vegetação é rala, mas não víamos nada diferente além dela. Eu, menos ainda. Meti os dedos na boca e comecei a assobiar, mas ninguém retrucava, nem um caga-sebo que fosse. A esta altura Pietro já chorava alto, rezava e gritava "mãezinha de Cristo, mãezinha de Cristo". Joaninha me dava bronca: Eu não disse que o caminho era traiçoeiro? eu não disse? Eu devia ter ficado em casa. Passamos por um umbuzeiro cheio de xilopódios à mostra. Tentamos tirar uma dessas batatas para sorver sua água, mas quem diz de conseguir? Estávamos com sede. 

Chegamos a uma imburana de cheiro, árvore linda, com tronco todo descamado e com porte bom para trepar e tentar avistar algum sinal de civilização. Minhas pernas já estavam repletas de espinhos e por várias vezes experimentei a sensação de ter enfiado as pernas num formigueiro raivoso quando passava raspando nas folhas espinhentas e venenosas de cansanção. Descobri rapidamente que não devia coçar nem reclamar que logo a dor passava.  Um espinho grande havia atravessado o solado de minha sandália e machucava a sola do pé sem que eu conseguisse tirá-lo. 

Pietro machucando os dedos nos espinhos
A imburana cheia de marimbondos
Já Pietro metia voluntariamente a mão nos espinhos do facheiro e gritava "Até minhas mãos estão sofrendo, até minhas mãos". A todo momento eu tentava convencê-los de que hora ou outra alguém nos encontraria. Resolvi subir na imburana. Se estivesse lá em cima poderia avistar a casa, quem sabe. Pietro me advertiu: esta árvore é venenosa. Mesmo assim, ainda tirei uma foto antes de me aventurar a subir. Foi só botar a mão no tronco de cair pra trás tropeçando em pedras e espinhos do chão, me debatendo e gritando. Nesta hora as crianças pararam de chorar e riram um pouco do meu escândalo. Era ali uma casa de marimbondo, caba, inxu, caboclo, só sei que nervosos. Diferente da injúria do cansanção, as duas picadas que levei só foram piorando.  Pietro voltou a chorar. Pedi para ter calma que agora eu começava a descobrir a direção.  Quando já estávamos no caminho da trilha um homem surgiu na nossa frente como uma aparição, do nada. - Estão perdidos? E eu já tinha assobiado, as crianças gritado. Era o tio delas que havia chegado e resolveu ir nos procurar pois demorávamos para o almoço.  


Isso foi só o começo. Inchou muito mais e só melhorou com corticoide. 

As crianças correram aliviadas e depois Joaninha ficou amuada, chateada, não queria nem falar comigo. Dona Joana disse que ficamos andando em círculo e que nunca acharíamos mesmo o caminho porque estávamos ariados. E quando se está ariado não se vê nada, embora afirmem que passamos várias vezes a poucos metros da casa - ouviam nossas vozes, achavam que o assobio era brincadeira e o choro do Pietro resposta às provocações de Joaninha. 

No outro dia, em Caratacá, a notícia já tinha corrido. Ah, é esta moça que se perdeu? perguntou dona Otacília. Olhe o que o caboclo fez com ela, disse dona Joana. Contei a história da imburana. Dona Joana diz que não é árvore que traz sorte ter perto de casa, por isto talvez Pietro tenha dito que era venenosa. Certamente porque é abrigo de marimbondo. Ah, minha filha, você não ia enxergar nada lá de cima, não. Quando se está ariada, não se vê nada, disse dona Otacília. 

Foi isso. Será mesmo que eu me ariei? 


Hortas comunitárias. Coluna do Paladar, edição de 03 de abril de 2014

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Hoje tem coluna Nhac no Paladar. O assunto hortas comunitárias está na boca do povo. Veja lá no blog do caderno: http://blogs.estadao.com.br/paladar/terreno-vazio-horta-nele/ e aqui o texto todo.

Terreno vazio? Horta nele! 

Cultivar e cozinhar são atividades inseparáveis do ser humano moderno, sem as quais voltaríamos ao Paleolítico dos comedores de caças e bagas de frutos.  O problema é que nos acostumamos recentemente a delegar estas tarefas a tal ponto que perdemos a intimidade com elas. Menos com o cozinhar, mais com o plantar.

Na edição passada do Paladar, Cozinha do Brasil, entre aulas com chefs e especialistas, uma atividade externa se destacou pelo ineditismo apesar do pertencimento primordial ao cenário gastronômico. Foi a visita à horta comunitária da praça das Corujas, na Vila Madalena.  Os interessados saíram do conforto do hotel Hyatt e foram levados para ver uma experiência de sucesso encravada num bairro residencial de São Paulo.  Até nascentes o grupo  conseguiu recuperar.   Que a maior parte dos alimentos que comemos sai da terra, todo mundo sabe, mas pouca gente tem a chance do contato próximo com este substrato profícuo e essencial.  E entre nós já há quem não consiga mais meter as mãos na terra com tranquilidade. Ai, os micróbios. 

A ocupação de espaços públicos ou coletivos por hortas ou jardins de plantas úteis têm sido tendência no mundo todo por várias razões, entre elas para se falar de recursos naturais como a água, das sementes crioulas, dos orgânicos, da produção de alimentos locais e de cultura gastronômica. Ou simplesmente como uma forma de reação gentil a um mundo nas metrópoles com hostilidades de todos os tipos.  

Para além de cultivar algum alimento ainda que de forma lúdica ou didática,  as hortas têm sido uma verdadeira lição de cidadania, de convivência entre vizinhos que mal se conheciam e de aproximação com pedestres incógnitos, deixando a cidade mais segura e agradável.  Parece que quando estamos com as mãos ou cabeças ocupadas com terra e plantas nos despimos e o mundo à nossa volta se modifica, se despe também. Chegam palpites, receitas e conversas à toa.  Sem nenhum desmerecimento aos profissionais da cabeça, não há participante que não repita que mexer na terra é como terapia.  Pode ser parte dela, por que não?

No Paladar,  alguns chefs saíram do evento animados com o tema e com o desejo de cuidar de uma horta coletiva próxima ao restaurante. Não sei se levaram a ideia adiante.  Pelo menos eu me empolguei bastante e, junto com vizinhos, tenho arregaçado as mangas para colocar em prática uma horta comunitária.  E participo de outra que está começando na Faculdade de Saúde Pública da USP, onde me formei em nutrição anos atrás, antes um lugar tão sisudo de jardim intocável. 

Recentemente o coletivo “hortelões urbanos” que agrupa ativistas e simpatizantes num grupo do facebook vem agitando a cidade e incitando cidadãos a ocupar espaços públicos negligenciados com hortas. 

Claro, a recepção de alguns moradores nem sempre é feita de delicadezas como de um que traz um suco gelado, outro que faz um bolo, cede a água ou puxa uma cadeira para ficar perto e dar apoio moral. Há gente que já chega gorando. Cheguei a ouvir absurdos do tipo:  “Chi, não vai dar certo. Logo a baianada descobre e não vai sobrar nada”.  Ou falam dos possíveis bichos que passarão: “Não dá pra plantar nada de comer aqui, porque passam ratos, gatos de rua, cachorros, pombos e gente suja”.

Aí temos que lembrar que baiano adora plantar. Tom Zé que o diga, afinal o compositor de Irará-BA,  cuidou do jardim do seu prédio durante anos. Baiano, paulista, cearense, goiano, paranaense, tanto faz, é gente que gosta de cultivar,  sente saudade de sua terra e quer deixar seu espaço mais cheio de graça.  Aliás, desconfio que este movimento de hortelões urbanos começou quieto sem que ninguém percebesse com os guardas de rua das grandes cidades, geralmente migrante, na tentativa de trazer um pouco da sua roça para onde está. No meu bairro você vai andando e logo se depara com uma guarita rodeada com o resumo da fazenda: cana, de mandioca, coentro, pimenta, feijão de corda, erva-cidreira, maracujá e até pé de milho. 
Na Horta das Corujas

E lembrar também que o que compramos no supermercado não é mais limpo que o que cultivamos nas hortas coletivas.  A alface embalada em saco plástico não foi cultivada em ambiente estéril e ainda deve ter recebido banhos de pesticidas até chegar à nossa mesa.  Teme-se a contaminação biológica dos espaços  públicos mas esquece-se da contaminação química da agricultura de grande escala, cujos efeitos adversos são mais violentos e virão a longo prazo.  Então, não nos contaminemos com a indisposição e pessimismo e mãos na terra.


Caixa de jataís na horta das Corujas 
Algumas dicas para quem quer começar a plantar:

Entre em contato com outras pessoas que pensam como você. Elas lhe darão muito mais dicas. 


Comece entrando no grupo Hortelões Urbanos, no facebook.

Se você tem um espaço onde plantar, seja um terreno baldio no seu bairro, um pedaço de praça ou no jardim do seu prédio, saiba que terá muito trabalho mas também muito apoio. Nunca comece este projeto só. Chame pelo menos mais uma pessoa para andar junto, convidar outras, panfletar, chamar para reuniões.

Avalie as condições do local e luminosidade e  escolha espécies adaptadas a elas.

Plantas alimentícias não convencionais podem ser um bom começo pois são mais rústicas e exigem menos cuidados.

Se não tiver como regar constantemente, plante ora-pro-nobis, bertalha coração e ervas aromáticas como manjericão, alecrim, tomilho.

Prefira plantas arbustivas ou mais altas em vez das rasteiras se não tiver como cercar o espaço. Alguns exemplos: pimentas de árvore, taiobas, louro, folhas de caril, alecrim.

Se puder fazer uma composteira no local, ótimo. Do contrário, incentive os participantes a manter um minhocário em casa e doar o húmus para a horta.
Em local sombreado plante taiobas e hortelãs.

Se conseguir envolver os vizinhos imediatos do local, a rega será facilitada para o caso de não haver torneiras. E, claro,  captar água da chuva é sempre desejável.

E se puder coloque no meio da horta uma caixinha de abelha nativa sem ferrão como a jataí.

E aproveito, agora só aqui no blog, pra relembrar dois posts sobre os banquinhos da praça.
 http://come-se.blogspot.com.br/2011/04/uma-praca-uma-arvore-e-um-banquinho-que.html e http://come-se.blogspot.com.br/2011/04/um-banquinho-limpo-pra-se-sentar.html 

Quem quer mexer na terra? Mutirão para horta comunitária amanhã

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Na Faculdade de Saúde Pública da USP
Continuando o último post: http://come-se.blogspot.com.br/2014/04/hortas-comunitarias-coluna-do-paladar.html, agora uma convocação. 

Começamos, eu e uns vizinhos, a fazer uma hortinha num espaço abandonado na minha rua. Ainda somos poucos, já temos muitos opositores (sim, há gente que odeia hortelãs e hortelões), mas queremos mostrar que somos muitos os que gostamos. Queremos apenas que os espaços públicos sejam públicos, agradáveis. Queremos uma cidade mais humana, acolhedora, segura e amigável. A gente não quer só comida. 

Estou participando também da formação de uma horta coletiva na escola onde sou apenas ex-aluna. A Faculdade de Saúde Pública da Usp, onde estudei nutrição, tem um jardim lindo e até agora intocado. Mas um grupo de alunos de graduação, mestrado e doutorado, além de professores e funcionários, resolveu fazer ali uma horta. Contrataram dois orientadores de permacultura e arregaçaram as mangas e jalecos.  Estou participando desde o início e na última sexta-feira já fizemos nosso primeiro canteiro. A composteira já existia. 

Já a horta aqui da minha rua, começamos num canto de rua - os loteamentos city tem estas esquinas praceadas que deve ter um nome, mas não sei.   O local estava esquecido, com mato alto e cheio de entulhos e restos de poda - jogado, claro, pelos próprios vizinhos.  Começamos a carpir, a plantar, mas ainda tem trabalho. É difícil reunir todo mundo embora tenhamos feito reuniões e panfletagem na vizinhança.  Acho que quando o espaço estiver já mais apresentável e quando estivermos sempre por ali os vizinhos vão se aproximando.  Por enquanto, somos poucos. 

No primeiro dia  de trabalho levamos mesinha, um bolo de chocolate, café, chá, água. Quem chegasse tinha ao menos assunto e acolhimento. 

Plaquinhas feitas com lata de cerveja 
Amanhã cedo vamos trabalhar de novo. Podia ser no fim de semana, mas vou pra Piracaia e Ana não vai poder e o trabalho urge. Então, por enquanto, estamos confirmadas para amanhã Ana e eu, eu e Ana.  Só para dar uma adiantada. Se você está perto da Lapa e quer participar, será bem vindo. Se estiver longe, quem sabe não se anima a participar e depois criar uma horta no seu bairro? Se quiser queimar umas calorias, é um bom pretexto (Ana disse no dia seguinte ao trabalho que agora sabe exatamente com que músculos este tipo de trabalho mexe). Se simplesmente quer ajudar porque sabe que este é um pedaço da sua cidade, venha. Se não quiser pegar na enxada, haverá o trabalho de plantar mudinhas que já fiz (manjericão cravo, manjericão anis, capim santo, melissa, folha de curry, etc), de fazer plaquinhas de identificação, de ir buscar folhas secas num bosque aqui do lado, de recolher lixo ou simplesmente de ficar do lado dando apoio moral pra mostrar que somos uma turminha. 

Dona Leda dá o maior apoio 
E apoio nesta hora é fundamental. Pois parece que tudo são flores e aromas, que tudo é lindo, que estamos fazendo o melhor, mas é incrível como tem gente que se incomoda com isto. Dizem que não vai dar certo, que está muito perto da estação de trem (?), que no local passa bicho, jogam lixo, que vão arrancar, que isto e aquilo. Ainda assim decidimos tentar. Bem, então, quem quiser participar, é só aparecer. 

Mudinhas a espera de mãos plantadoras
Rose e Ana fazendo pausa 

A primeira muda plantada: Alternanthera brasiliana (terramicina)
Quando: amanhã, sexta-feira, 04 de abril a partir das 8 da manhã. Até o meio dia. 
O que trazer: se quiser trazer algum lanche para compartilhar, ótimo. Se não, comerá do nosso bolo e beberá do nosso chá.  Se tiver alguma ferramenta como enxadão, enxada, pazinhas, ótimo. Uma luva é providencial. 
Quer contribuir? se puder, ótimo, traga mudinhas de ervas aromáticas e/ou medicinais. De flor, tagetes e maria-sem-vergonhas.  Se não puder, sem problemas, venha assim mesmo. 
Onde: Esquina das ruas João Tibiriçá e Barão de Itaúna - em frente à praça Ângelo Rivetti, na City Lapa. 
Quer confirmar? Nosso contato: hortacitylapa@gmail.com

Sexto Festival do Umbu em Uauá

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O festival do umbu em Uauá é falado na região. Esta foi sua sexta edição e minha terceira vez, a convite da Coopercuc. Estiveram lá vários especialistas discutindo a questão da biodiversidade, da água, da desertificação, do manejo do umbu, dos cuidados no cultivo, novos plantios etc. Entre os expositores, não só fabricantes de derivados do umbu, mas também órgãos de pesquisa, produtores de itens da caatinga e artesãos. 

No estande da Embrapa, por exemplo, havia muitas variedades de umbus, de vários tamanhos e diferentes tonalidades de amarelo ao vinho. Entre as variedades estava o umbu gigante, produzido por enxertia a partir de cultivares selecionadas no próprio sertão. Há umbu que pode chegar a 180 gramas. Isto é incrível, já que o mais comum é tão pequeno como um limãozinho galego. Ganhei uma muda e espero que produza ao menos folhas azedinhas para fazer refresco porque fruto, fruto mesmo, não espero muito já que a planta gosta de calor. Adoraria, mas aceito os caprichos da natureza. Já folhas, estas sim,  espero vê-las brotarem no galho que chegou careca aqui depois da estressante viagem - para ele, não pra mim, acomodado numa caixa entre mosquiteiros, todo abafado, jogado nas esteiras, andando de lá pra cá.  Eu vim bem, gracias.

Já falei tanto de umbu aqui no Come-se, que tudo me parece repetitivo de contar. Embora para mim nada se repita. Mas acho que da marmelada de carocinhos nunca falei. Desta vez tive oportunidade de ver, conversar com quem fez, e provar deste doce tão incrível e tão em risco de sumir do mapa. Dona Teresinha ainda faz. Diz que é só cozinhar os umbus, espremer os caroços e ir colocando sobre uma tábua para fazer um murinho que vai suportar o doce. Tem que ser os caroços ainda quentes para que a própria geleia da fruta sirva de amalgama quando o muro esfriar. A polpa sem caroço vai ao fogo para apurar bem. Quando estiver num ponto de pasta, despeja na piscina de caroços e leva ao sol para secar. O resultado é um doce de cortar firme,  azedinho com doce suave, como damasco. A doçura vem da própria fruta. Perguntei para muitos jovens se sabiam fazer e ninguém mais sabe. Vou ver se inscrevo este doce na Arca do Gosto, do Slow Food (aliás, se você conhece alguma comida ou ingrediente raros, que estejam em risco de desaparecer, pode também apresentar a candidatura). 

De novidade neste ano tem também o fato de que a Coopercuc ganhou um terreno da prefeitura e está construindo uma nova fábrica, bem grande, como aquele povo trabalhador merece. 

Seguem apenas algumas fotos:

Marmelada de caroço (o caroço não se come, tá?)

Dona Teresinha é quem fez



Toda criança sabe escolher

É azedinho, mas é bom, muito bom

Umbus selecionados pela Embrapa. Muitas variedades

Adilson, presidente da Coopercuc

Um desses umbuzeiros veio comigo

Na feira, mel de florada de umbu e vinho ou vinagre de umbu (concentrado
da fruta para fazer umbuzada, refresco, usar como tempero)

Marquinho, de branco, marido da diretora comercial da Coopercuc, Jussara,
ajudando na construção do prédio da cooperativa 

Visita às futuras instalações

Horta City Lapa. Você praça acho graça.

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Agora está assim
De manhã estava assim 

“Você praça acho graça. Você prédio acho tédio”

Ontem, fiz aqui no Come-se um convite aos leitores, avisei os amigos. Mas o dia é proibitivo para quem tem trabalho fixo com horário, reconheço. É que a questão era urgente, alguns vizinhos estavam reclamando. Ana e eu fomos ontem à noite na reunião de zeladoria na subprefeitura da Lapa (que acontece nas primeiras quintas do mês) cobrar o corte do mato 
e comunicar sobre a existência agora de nossa horta. O subprefeito gostou da iniciativa e falou que os homens viriam e também o que já sabemos: no começo algumas pessoas não gostam, no meio quem gostava pode não gostar e por fim quem não gostava pode acabar gostando. Algo assim. 

Por isto, o negócio é ir fazendo. Comece sempre com um amigo pra dar força. Se não fosse minha vizinha Ana Campana eu teria desanimado um pouco com os votos de fracasso. 

Bem,  hoje de manhã estávamos lá na praça com um mutirão nunca imaginado. Apareceram a Neuci, a Ana e o Carlos. Além de nós, Ana, minha vizinha, e eu. Carlos e Neuci precisaram ir embora, mas ficamos nós três na companhia de um batalhão de homens que vieram cortar o mato e tirar entulhos. 

Os homens da prefeitura trabalharam bastante, recolheram entulho e galhos (uma das alegações dos que apostam que não vai dar certo é que  'é muito perto da estação de trem, e sabe como é, o povão é porco'). Pois é, os entulhos e galhos são da própria vizinhança que manda o jardineiro jogar lá por preguiça de empacotar ou então paga para o caroceiro tirar da frente da sua casa sem querer saber onde é que o lixo vai ser desovado - na praça mais próxima, claro. Por fora, bela viola..

Demos bolos e suco de umbu pros homens e continuamos nosso trabalho de fazer buracos, aproveitar a palhada para fazer cobertura morta, colocar plaquinhas e conversar com quem passasse. Usamos também como composto os restos úmidos de folhas e terra acumulados na guia. Estava tão bom que tinha até minhocas. Por enquanto não compramos nada para o espaço. Todas as mudas são backups das que tenho no quintal. Fiz as mudas antes de viajar e agora estavam prontas.

Quase todo mundo que passava trazia um sorriso de satisfação. E planta e comida são sempre motivo para puxar conversa. São horas gostosas que passamos quando mexemos com a terra.

Um homem passou com um fardo de pano branco de algodão nas costas. Disse que ia mandar passar um trator ali e acabar com tudo aquilo. Em seguida deu um sorrisão dizendo que era brincadeira, que adorava planta, que terra tinha cheiro bom, melhor que perfume comprado, que adorava abraçar árvore, que sentia energia boa. Então perguntei: e se abraçasse um prédio?. Eu, hem, dá choque, ele respondeu dando gargalhadas.  Então eu repeti o que se vê carimbado nos muros de todo o Brasil: “Você praça acho graça. Você prédio acho tédio” (
 mensagem criada pelo jornalista Dafne Sampaio).  Ele gostou e saiu rindo andando livre vendendo seus panos comprados no Brás. Meio louco meio gênio e repetindo: podia ser todo mundo assim, livre como este cachorro. Eu sou como este cachorro - falava do cão que mora na rua de baixo e passou atrás dele espiando a novidade da praça agora horta, agora graça. 

Bem, seguem as fotos da horta City Lapa com mil agradecimentos à força dada pela leitora Ana, que veio da Pompeia,  me fez mil elogios a ponto de me deixar sem graça e que aguentou firme sem água e sem almoço até quase três da tarde (desculpe, Ana, pela constituição camelística que me faz esquecer que isto não é normal nem saudável para ninguém).  E desculpe também porque vai aparecer na foto. 

Não é gente do trem que coloca resto de poda aqui



Composto fértil
Serviu como adubo para o alecrim, o hibisco, manjericão
Missão cumprida, com ajuda das duas Anas (A Campana já estava a
esta altura atendendo no seu consultório de dentista) 

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