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Livre-se dos picões do seu jardim. Coma-os. Ou sopa de inhame com picão

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Muita gente só conhece o picão (Bidens pilosa) por causa do incômodo daquelas agulhinhas pretas dentadas, que grudam na nossa roupa quando andamos no mato,  pedindo pelamordedeus pra levarmos sua raça pra outro canto. Obedientes, nos sentamos numa cadeira, longe do ataque, e vamos tirando agulha por agulha e jogando-as no chão. Assim, ajudamos a perpetuar a espécie. Tão mal tratada, tão negligenciada, ela precisava de algum recurso para se multiplicar por aí afinal. E como aprendeu isto bem.  É uma das principais pragas no mundo tropical, só reproduzindo o que dizem dela por aí. Mas veja bem, sabendo que o picão é comestível e gostoso, assim como várias plantas do gênero Bidens
(Bidens bipinnata, Bidens frondosa, Bidens odorata, Bidens parvifolia, Bidens tripartita e Bidens laevis), se fosse vista com olhares complacentes e gulosos, poucas chegariam à fase adulta para dar  flores, essenciais para abelhas, diga-se,  e frutos (ou aquênios, as agulhas pretas), pois as folhas mais jovens são as melhores para se comer. E, claro, a população (de picões, gentes e borboletas) estaria salva e sob controle. 


A planta é nutritiva, tem boa quantidade de ferro, cálcio e pró-vitamina A, além de ser, como todas as verduras, rica em fibras, pobre em calorias e gorduras. Na medicina popular entre os índios da Amazônia é tida como remédio para angina, diabetes, disenteria, aftosa, hepatite, laringite etc.  E muitos estudos farmacológicos recentes feitos mundo afora já comprovaram algumas propriedades. É, por exemplo, hepato-protetora e seu extrato mostrou-se inibidor da síntese de prostaglandina, ligada a dores de cabeça e doenças inflamatórias e isto não é pouca coisa. Se além de tudo isto, ainda é gostosa, por que não comemos mais picões que crescem livremente em jardins, roças e pomares? Tão rústico, não precisa de adubos nem de defensivos. Tão diferente daquelas alfaces frágeis que passam o diabo pra chegarem íntegras à nossa mesa. 

Bem, acho que você não vai ter problemas para reconhecer um pé de picão no jardim. Mas se acontecer alguma confusão, certamente estará diante de uma outra espécie, Bidens alba, também comestível, ainda mais gostosa, dizem.  A planta é mais alta e as flores se parecem com mini-margaridinhas, com pequenas pétalas brancas e caules mais claros que os da B.pilosa que tem coloração ligeiramente arroxeada. Ainda não a descobri aqui no meu bairro.  De qualquer forma, o picão-preto, de flores amarelas fechadinhas e carrapicho,  é fácil de encontrar. Responde também pelos nomes de amor-seco, carrapicho-de-agulha, fura-capa, guambu, macela-do-campo, picão-das-horas entre outras. 

Só uma coisa, não é bom comer crua pois podem ter saponinas -  outras plantas comestíveis também tem. Em excesso, estas substâncias podem ser irritantes para a mucosa intestinal. Use a erva em cozidos ou afervente com água e sal antes, mesmo porque ela é um pouco firme e precisa de alguns minutos de cozimento para que fique macia. O sabor é algo como folhas de cenoura, jambu e espinafre. 

Então, fica aqui a dica. Depois de pular bastante e beber todas, enfie a cara numa tigela de sopa quente,  apimentada, revigorante e hepatoprotetora. Sopa, no calor? Bem, lembre-se que o prognóstico climático para os próximos dias não é muito animador (para mim, lá em Piracaia, vou adorar uma chuvinha) e uma sopa assim pode cair melhor que uma salada, sem, claro, querer aguar sua empolgação carnavalesca. Boa folia e até quinta! 

Sopa de inhame com picão 


Primeiro, saia à caça de picões. Vai encontrá-los numa calçada mais rústica ou num terreno abandonado. É época deles. Separe as folhas mais tenras, que rendam mais ou menos duas xícaras de chá. Lave bem, escorra e reserve. Faça um caldo de galinha com carcaça, dentes de alho, galhos de salsa, feno-grego, grãos de coentro, cúrcuma e pimenta (ou faça do seu jeito). Cozinhe um taro (inhame) e pique em cubos. Coe e desengordure o caldo. Coloque 1 colher (sopa) desta gordura numa panela com um dente de alho picado e deixe começar a dourar. Junte uma xícara do caldo e as ervas. Deixe cozinhar por 10 minutos. Acrescente o caldo restante - cerca de 3 xícaras,  o taro picado e uma pimenta ardida picada (a gosto). Prove o sal e corrija, se necessário. Se quiser, junte lascas de carne da carcaça do frango e deixe ferver. Se não quiser, vai ficar boa de todo jeito. Se preferir, use caldo de vegetais. E nhac!! Para duas pessoas. 

Veja sobre a erva também aqui, com valor nutricional e tudo o mais: 
http://www.eattheweeds.com/spanish-needles-pitchfork-weed/
Agradecimentos ao Guilherme Ranieri que me lembrou que era tempo de picões! 

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