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Feira de Curitiba

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Encontrei em Curitiba uma amiga que não via havia quase trinta anos. Nos conhecemos prestando vestibular para agronomia. Nem ela nem eu tivemos sucesso nas provas, continuamos nutrindo paixão pelas plantas e fomos fazer outras coisas. Ela veio pra São Paulo me visitar, eu fui a Curitiba encontrá-la. Depois nunca mais nos vimos mas nunca nos esquecemos. Agora a internet nos reaproximou e já não me lembrava mais como tinha sido minha visita a Curitiba naquele tempo de dureza - certamente andando, andando, vendo casas de madeira com alçapão, piás chupando picolés,  plaquinhas no portão vende-se cuques, muitas plantas nas calçadas,  flores nas casas dos polacos e promessas de amizade adolescente. Desta vez, depois de nos encontrarmos na igreja de Nossa Sra. do Guadalupe, andamos até uma padaria pra tomarmos café com pão e broa e fomos caminhando até a feira do alto da Glória (acho que é este o nome), que queria conhecer. No caminho, cogumelos, caquis, bertalhas, dente-de-leão, ervas rasteiras e uma infinidade de lembranças desenterradas. Quando já estava em São Paulo, Magna me escreve pedindo mil desculpas por me ter feito andar muito. Logo pra mim que não sou ninguém se não andar a pé por uma cidade nova e mesmo nas velhas conhecidas onde, parafraseando Luiz Gonzaga,  sempre descobrimos um orvalho novo beijando uma nova flor (a propósito, a leitora Amara me lembrou o restante da música Estrada de Canindé: ".. vai oiando coisa a grané/ coisas qui, pra mode vê/ o cristão tem que andá a pé").  

A feira é quase igual à que temos aqui, a não ser por alguns itens, como beldroegas e carurus, as gilas, as uvas terci (bordô), o feijão cavalo fresco usado para fazer as saladas sempre presentes nas churrascarias, o saquinho de torresmo, o artesanato Guarani, as bancas de embutidos e, para casa, escovão e até washboard para uso original - esfregar roupas nos tanques e bacias. Outra diferença é que usam a palavra "caseira" para alertar que o item foi produzido ou cultivado pelo próprio vendedor.   Gostei de ver este orgulho estampado nas plaquetas, como acontece na Europa que se vangloria com razão dos produtos locais e quando muitos ainda acham mais importante dizer que o produto é importado, seja da Finlândia ou da China.  

Bem, adorei reencontrar minha amiga, conhecer uma feira de Curitiba e chegar à casa de meus pais e usar a uva terci para fazer cuca ou cuque, como também a chamam por lá. Só não fiquei feliz de esquecer o feijão cavalo na geladeira da minha mãe - que fez a salada com muito alho, me contou. Aqui algumas fotos: 


Vassouras de palha


Tábuas de lavar roupa e escovão

Artesanato guarani


Feijão cavalo, vendido fresco, para salada 

Beldroega
Bredo ou caruru
Torresmo
Tomates caseiros
Tábuas de lavar roupa, escovão, vassoura de palha
Pimentas, alhos e temperos

Uva terci caseira, boa pra cuca

Cuca curitibana
Esta uva é inesquecível
 Comprei um quilo de uva bordô, fiz duas cucas na cozinha de minha mãe e dei de presente para os mais próximos. As cucas ficam ainda mais gostosas que aquelas feitas com uva niágara, pois são mais tintas, mais ácidas e igualmente doces.  A receita da cuca está aqui.

Curitiba de outrora. Eu e Magna, também! 


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