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Minha chia

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Eu sempre começo um olhar torto para qualquer produto que já chegue se apresentando como milagroso. Mas também sempre lhe dou uma chance, afinal ele pode ser mais um aliado na cozinha e na saúde e representar apenas mais uma jogada comercial no pernicioso mundo dos superalimentos.

E se é alimento vegetal, bem cultivado, é certo que trará muitos benefícios à saúde.  Pode até ter mesmo muitas qualidades nutracêuticas, mas se o alimento não é gostoso, a moda não pega. Se o alimento precisa ser importado, então, terei a curiosidade de experimentá-lo mas dificilmente vou incorporá-lo à minha dieta ainda que seja o alimento mais milagroso do mundo.

O problema é que, quando o pobre do alimento é tachado como panaceia, ele mal tem chance de se apresentar como um bom ingrediente na cozinha.  À primeira expectativa frustrada como salvador da pátria, em especial como emagrecedor, ele é relegado ao esquecimento e substituído pelo próximo da fila.  Muita gente não quer se implicar minimamente na mudança de hábitos de alimentação mas acredita em todos os modismos como quem espera por um messias.

O  preço começa nas alturas e vai baixando conforme aumentam as ofertas e diminui a procura. Já aconteceu com tantos outros - falei do hibisco aqui.  Tanto que outro dia vi no mercado uma farinha de nome "Seca Barriga".  Tudo o que caiu de moda e deve ter encalhado estava ali: feijão branco, farinha de maracujá, hibisco, linhaça, açaí, quinoa etc. Devia ter uns 20 ingredientes a tal farinha. E sempre tem um que cai nessa.

Ainda caro no supermercado: 210 reais o quilo 
Quando a chia apareceu, chegou a custar R$ 150,00 o quilo no Mercado da Lapa. Hoje custa R$ 40,00, mas mesmo assim no supermercado ainda há pacotinhos com preços absurdos - veja a foto.

Logo que surgiu por aqui, comprei um pouquinho para experimentar. Adorei de cara. Não pelo sabor, que lembra um pouco algas, mas pela crocância e pela mucilagem que se forma em volta das sementes quando hidratadas.


Comi um pouco e joguei um pouco pro santo - pra terra, digo. Espalhei pelo quintal da casa aqui e também no sítio em Piracaia. Passou um tempo, nem me lembrava mais, afinal jogo tantas sementes pro santo, e comecei a notar aqui e ali umas flores roxinhas em espigas quase como lavandas. Não liguei uma coisa com outra e fui deixando. Quando as flores secaram no pé, colhi alguns ramos e chacoalhei pra ver que tipo de semente caía. Levei um susto. Eram chias. Pronto, acredito em tudo o que disserem sobre ela. Não no milagre, mas na bondade genuína da semente. Agora posso usar à vontade. Nem que ela não fosse esta potência toda, mas só pelo fato de eu ter semeado e colhido já estava valendo. Agora tenho dela já florindo em pleno inverno na horta comunitária da minha rua.

A planta Salvia hispanicaé anual, de verão, e originária das áreas montanhosas que se estende do oeste central do México até o norte da Guatemala. Além de ter uso culinário como alimento básico das civilizações pré-colombianas, era também usada como oferenda pagã aos deuses aztecas. Foi este um dos motivos para que os espanhóis tentassem eliminar a cultura e substituir por grãos do velho mundo.

Pesquisas atuais revelam que a chia tem boa quantidade de proteínas de alto valor biológico, com aminoácidos essenciais  (carente, no entanto, em lisina) e é importante fonte de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3. Isto, e mais o fato de conter fibras, mucilagens e antioxidantes, pode contribuir para seu efeito hipoglicemiante quando inserido na dieta. E quando misturada a algum líquido forma um gel gostoso de comer que dá alguma saciedade.

No México, a chia é usada em águas frescas - acrescente uma colher de sopa dentro do copo da limonada e espere hidratar por 10 minutos. As sementes podem ser consumidas cruas, apenas hidratadas, ou na forma triturada e aí  pode entrar no preparo de tortillas, pães, biscoitos etc.

Água fresca de chia com limão rosa 
Como sagu, feito com hibisco:  viciante 

Kefir de leite com chia, banana, melado, fúba e chia tostada 

Como eu uso: para colocar na limonada ou água fresca (do mesmo jeito que se colocam as sementes de manjericão) e para fazer um falso sagu de hibisco (apenas coloque umas 2 colheres de sopa de sementes num copo de refresco de hibisco e espere hidratar). É uma opção também aos mingaus de leite ou para espessar o kefir.

Chia absorveu a água do jiló 
Recheio cremoso, sem caldo
Também fica bom para substituir o pão quando quer enxugar um recheio doce ou salgado (entre a massa e um recheio mais molhado, por exemplo). Veja na foto um recheio de sobra de jiló com um pouco de caldo. Juntei chia para absorver este caldo e juntei um pedaço de queijo. Pensei nisto quando vi a quantidade de líquido que consegue absorver.  Recheei um pastel de milho e nhac.  Para um melhor aproveitamento das proteínas e ácidos graxos, os grãos podem ser triturados. Mas se você quer enganar a fome e dar espessura a alimentos líquidos, use os grãos inteiros e hidratados.

Batata doce cozida na calda de hibisco com crocante de chia
Uso ainda os grãos torrados como se fossem gergelim crocantes. Claro, o sabor é muito diferente. A chia é muito menos marcante, mas o crocante contrasta graciosamente com alimentos mais macios como banana ou batata doce.

E os grãos podem ser cozidos junto com arroz. Esta mistura já deixei pronta com os grãos secos: arroz, quinoa, ervilha, feijão fradinho, trigo, amaranto e chia

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