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Óleo de tucumã? Não, óleo de bicho de tucumã do Marajó.

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Daria pra ficar falando aqui linhas e linhas sobre a importância do tucumanzeiro para o paraense.

A palmeira Astrocaryum vulgare Mart, de desenvolvimento lento, dá palhas para rede de pesca, cordas, chapéus etc. Já dos frutos se comem as polpas alaranjadas em mingaus, vinhos (a polpa diluída em água) e sorvetes. Servem tanto à nutrição humana, quanto à animal o fruto rico em pró-vitamina A e gorduras. O óleo de tucumã, de cor alaranjada, extraído da polpa, tem usos na alimentação, lembrando um pouco o de dendê, e na fabricação de cosméticos. A amêndoa é rica em nutrientes e pode ser consumida como coco. Da casca da amêndoa se faz bio-joias. E até o espinho é aproveitado como agulha.

Mas uma tradição indígena, que o marajoara ainda conserva, é a extração do óleo do bicho que povoa os coquinhos caídos ao redor da palmeira. Os frutos amadurecem no começo do ano e devem ser deixados caídos ao pé da planta até que fiquem recheados com o bichinho branco que entra ali para a dieta de engorda. Quem tem experiência já sabe qual coquinho quebrar para encontrar a larva. E tem que quebrar com cuidado para não espremer a criatura.

Dona Jerônima e eu estávamos em Soure tomando café da manhã em frente ao Mercado Municipal quando passou uma mulher vendendo garrafinhas do óleo de bicho. É chamado assim mesmo, "óleo de bicho". É coisa rara de se encontrar pra comprar.  Dona Jerônima pediu pra ver, espiou o conteúdo, cheirou e disse que estava excelente. Compramos.

A palmeira de tucumã
Os frutos maduros
Os frutos comidos pela arara 
O ambiente criatório para o bicho - debaixo da palmeira 
Dona Jerônima e Bruno
Com furinho assim, o bicho ainda está lá dentro
Pode já estar gordão
Se o furo é grande, o bicho já saiu 
Quando ainda está miudinho, não serve. Ele ainda tem toda esta amêndoa
para comer. 
Mas chegando à fazenda, fui logo ver os coquinhos deixados embaixo de um tucumanzeiro vizinho à casa. Encaixei um deles na fenda de uma pedra e o quebrei usando outra pedra. Dei sorte e de cara encontrei um bichinho gordo. Dona Jerônima chamou Bruno, que trabalha ali e tem muito mais experiência em distinguir os recheados, e ele foi quebrando um por um com um facão, com cuidado, e índice grande de acerto. Fomos para a cozinha e colocamos os bichinhos na frigideira. Logo, começaram a soltar o óleo perfumado. Separamos os bichos sequinhos e fizemos farofa. O óleo obtido se juntou ao que comprei da mulher, e trouxe pra São Paulo. O sabor é delicioso, lembrando uma mistura de ghee com óleo de coco amendoado.

No passado, índios de norte a sul  extraiam óleos comestíveis ou combustíveis de uma série de bichos, frutos de palmeiras, polpa e amêndoas, e de vários outros frutos oleaginosos. De gema de tartaruga e de tracajá, de peixe boi, de tartaruga, tucumã, babaçu, de bati etc. E os bichos que se alimentavam dos coquinhos não ficavam atrás. O morotó do licuri, o coró do butiazeiro, os gongos do babaçu. Todos eles, larvas de algum besouro, são comestíveis e boas fontes de gordura.  Hoje índios recebem óleos de soja na cesta básica, mas o hábito ainda está presente aqui e ali.

Bem, o óleo do bicho de tucumã é usado pra comida e pra remédio, mas também para embelezar, já que pode ser passado no cabelo para deixá-lo brilhante e vistoso. Como remédio, dizem que serve para curar machucados.

O vinho de tucumã para a canhapira
A canhapira
Canhapira com farinha 
Dona Jerônima sempre usou o tucumã maduro para fazer a canhapira, um prato de carne de caça ou carne de porco ou de ave, cozida no suco ou vinho do tucumã, delicioso, que aprendeu com sua mãe.

A farofa de bicho 
Comeram de lanço
Bem, a farofa que trouxe do Marajó servi com outras comidas num almoço feito pelos amigos do aikido no sítio. Não disse o que era, pedi para que adivinhassem. Provaram com desconfiança, mas aprovaram e repetiram. Logo acabou.



Veja sobre outros bichos de coquinhos aqui:
http://come-se.blogspot.com.br/2009/03/gongo-tapuru-coro-moroto-fofo-boro.html

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