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Seria tempo de pinhão

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Neste fim de semana caminhei durante mais de uma hora por um deserto que responde também pelo nome de "floresta comercial". 

Esta  floresta de eucalipto, que se estende até o topo do morro, estava na fase de corte.  E não é só corte, afinal a planta,  que nada tem a ver com o mau manejo que o homem lhe oferece, tenta brotar, se regenerar, mas vem um mata-espécie potente e acaba com sua graça e sua raça. E com tudo que tem a desgraça de estar em volta dela. Nenhum ser vivo sobrevive nesta "floresta". Não só a rebrota seca com cor de fogo morto, mas tudo o que está sobre a terra já exaurida. Não se vê um pontinho verde, um que respire ou outro que se mova. O silêncio é esquisito e é estranha esta floresta de uma espécie só  - ou nenhuma como é o caso agora. Para tentar compensar e se obter mais lucro plantando novas mudas, sacos e sacos de fertilizantes são despejados na terra pedregosa. 

Do outro lado, não muito distante, ainda há cantarolar de água correndo com uma paisagem colorida e diversa com manacás, muricis, caetés, quaresmeiras, jasmins, samambaia-açu, canto de pássaros e barulho de bugios. Aquilo sim, resto obrigatório talvez, é um pedaço mínimo de floresta, como todo o entorno foi um dia. No lado desértico, algumas árvores insistiram em ficar mas não sabem até quando resistem. 

Havia uma embaúba com cicatrizes de machadadas na base, uma paineira já sem forma e algumas poucas araucárias esqueléticas, jogando no chão pinhões minguados que não encontram sequer uma gralha faminta para enterrá-los.  

Pelo caminho poeirento e desértico, algumas grotas secas indicam que houve ali um dia uma nascente.  E estas fotos de Piracaia servirão pra provar que um dia houve um pé de pinhão na Serra da Mantiqueira. E que houve um dia que colhíamos pinhão pra comer na fogueira. Definitivamente isto não pode ser chamado de floresta.






 

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