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Hibisco saiu de moda. Ou água de jamaica e muffin de hibisco

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O bom das modinhas de alimentos funcionais e para emagrecer é que assim como vêm elas se vão. Ou, assim como estes alimentos chegam ao mercado com valores exorbitantes, vão saindo aos poucos cabisbaixos custando menos da metade do preço.  Este é o perigo de endeusar alimentos. Assim que a promessa de milagres não se cumpre (alguém acredita neles?), o pobre diabo volta a ser o último da fila, afinal quando ninguém mais se lembrar do seu fracasso ele poderá ressurgir do pó com novas promessas. Enquanto isso, um novo alimento ou suplemento é lançado. Logo será a elderberry ou fruto do sabugueiro. Aguarde. 

Fico com dó quando chego ao Mercado da Lapa e vejo alguém com uma listinha sem a mínima ideia do que se trata. São alimentos que nada têm a ver com a cultura da pessoa, com a intimidade na cozinha, com o conforto do gosto. Mas ela vai ditando: me vê aí um tanto de chia, outro de gojiberry, suco de cranberry, flocos de quinoa, farinha de linhaça, farinha de açaí etc. A conta? cara, bem cara.  Outro dia um rapaz com uma cinturinha larga, pediu tudo isso, olhou pra mim - devia estar encarando meio incrédula - e disse: estou tentando comer mais saudável, sabe? Vou tentar aprender a cozinhar com tudo isto.  Dizem que é bom. O vendedor me conta que vai aprendendo sobre a propriedade dos alimentos com os clientes e estimula: olha, pode comer bastante quinoa que tem mais proteína que a carne. A chia você engole a seco. O grão se espessa com líquido e fica uma delícia em sucos doces, mas o rapaz ia engolir a seco pra inchar dentro dele, enganar a danada da fome. Sou palpiteira de nascença, mas adianta ali rebater?  Tudo bem, às vezes não aguento e falo alguma coisa só para situar a pessoa. 

Mas minha demora ali, a ponto de observar clientes, é mesmo para escolher ingredientes. Um dia comprei farinha de açaí e achei com gosto artificial. Mas da chia eu gosto. Assim como também gosto também de quinoa, linhaça etc. Mas não pela panaceia como são tratados e sim pelo que são de verdade. Todos com muito potencial na cozinha, todos nutritivos, saudáveis e que podem entrar uma vez ou outra no nosso cardápio sem histerias, sem depositar neles a esperança pela salvação do esqueleto. 

E para quem não está nem aí com a moda, alguns desses alimentos vieram para ficar ou já tinham chegado antes de surgirem como novidade. O óleo de coco, por exemplo, minha mãe já extraía em casa quando eu era criança. Chegou a custar uma pequena fortuna, agora o encontramos ainda caro, mas não absurdo. Prefiro fazer o meu em casa. Já o hibisco, compro fresco desde que me conheço por gente grande. Às vezes era vendido em feiras e sacolões com o nome de groselha. Talvez pelo xarope que ele faz, talvez pelo nome francês roselle. Com a moda, ficou super caro o seco, ótimo para infusões,  xaropes e uma porção de receitas feitas estes líquidos coloridos.  Pois, pelo preço, percebi que já caiu no esquecimento. Comprei 100 gramas por menos de 4 reais. E com esta quantidade dá pra fazer muito chá e refresco. 

O hibisco fresco é mais difícil de encontrar atualmente, mas em se plantando produz fartamente.  Pode também ser usado em geleias, saladas, caipirinhas, refresco, sagu etc. 

A mancha vermelha no prato não é sombra 
Gosto de fazer xarope como o de groselha para diluir na hora de tomar.  No México, este xarope é chamado de água de jamaica (o hibisco é flor de Jamaica).  Você pode aromatizar ou não com casca de laranja, cravo, canela.  O meu faço meio a olho. Coloco uma mãozada de hibisco - ou uns 100 g ou o conteúdo destes sacos que mostro na foto - numa panela de aço inoxidável, cubro com bastante água e deixo reduzir no fogo até o líquido ficar bem tingido e o hibisco, macio. Coo, imagino que tenha ali mais ou menos 1 litro de suco, junto umas duas xícaras de açúcar e volto ao fogo com um pedaço de casca de tangerina, 1 rodela de gengibre, 1 cravo, 1 pedacinho de canela. Ou, se estou com pressa, só açúcar mesmo (pois o hibisco já tem cor, sabor e é ácido, ótimas condições para refrescos).  Passo por peneira, engarrafo e coloco na geladeira. Dura vários dias. É só diluir umas 4 colheres de xarope ou a gosto num copo com água e gelo na hora de beber. Se quiser, rodelas de limão. 

Como calda sobre o bolinho de iogurte com iogurte. Nhac!
Bastidores: posicionar a câmara com uma mão e despejar a calda com a outra.
Acertar o copo é só um detalhe... 
Você pode usar este xarope como calda pra bolos, bolinhos, sorvetes, iogurtes. 

O hibisco cozido
O que sobra do hibisco cozido não precisa ir pro lixo. Pode virar geleia, ser batido com kefir ou iogurte ou fazer as vezes de passas em bolo. Foi o que fiz. Usei 1 xícara de hibiscos cozidos nos bolinhos de iogurte.  Destes, tenho a receita certinha porque já fiz outro igual, só que com pitangas, aqui. Ficam deliciosos e macios. Como tem bastante hibisco, pode comer à vontade que não vai engordar (mentira rude!).

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Muffins de iogurte com hibisco 

½ xícara de manteiga sem sal, derretida
1 xícara de açúcar
2 ovos
1 copinho de iogurte natural de 170 g
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher (chá) rasa de bicarbonato de sódio
1 pitada de sal
Raspas da casca de dois limões (um tahiti e outro siciliano)
1 xícara de hibiscos cozidos e escorridos

Unte com manteiga e polvilhe com farinha 15 forminhas de muffins. Numa tigela, combine a manteiga derretida fria com o açúcar, os ovos e o iogurte. Misture bem. Peneire sobre esta mistura a farinha, o bicarbonato e o sal. Misture até virar uma massa homogênea. Junte a casquinha de limão e o hibisco. Mexa delicadamente para incorporar. Divida a massa entre as forminhas – deixando espaço para crescer (se quiser, use outras forminhas, como fiz desta vez, mas lembre-se de deixar espaço para a massa crescer). Leve para assar em forno médio preaquecido, por cerca de 30 minutos ou até dourar.
Rendimento: 15 muffins

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