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O Leão Vermelho e Águas da Prata

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Oliveiras em Águas da Prata
O jovem chef Gabriel Vidolin já tinha me convidado a conhecer seu Leão Vermelho logo que abriu a casa em São João da Boa Vista, sua cidade natal. Mas não é tão simples se deslocar a 250 km de São Paulo e assim fui adiando. Mas nesta semana Neka Mena Barreto me convidou para compor a mesa e não pude resistir. Ele só serve quatro pessoas por noite. O menor restaurante do mundo, se é que podemos chamá-lo assim, já que em nada a casa lembra um ponto comercial.  É uma casa com sala de jantar, canto de leitura, varanda para as estrelas, jardim de ervas. Embora Gabriel diga que é disléxico, tem dificuldade com números, seu menu degustação tem vinte e quatro passos. Já cheguei com medo. Tenho pavor de listas longas, fico contando, não acaba nunca, me canso. Mas justo neste dia Gabriel estava triste com gente de fora que não entendeu seu trabalho, queria porque queria jantar sem reserva, que fez intrigas, queria bate-boca no jornal etc. Como éramos de casa (conheço-o do Slow Food), Neka é sua amiga, Gabriel não cancelou o jantar, mas nos aproveitou de cobaia para suas experiências para o próximo cardápio e performance que refletia seu estado de espírito. Tudo muito poético, existencial, diferente de tudo o que você já deve ter visto.  O ritmo diversificado com que eram apresentados os itens (para comer, beber, sentir, cheirar), não me fez ficar contando os cursos, mas não foram os 24 itens. Eram gostosuras que brincavam com sensações nas texturas, nos perfumes e sabores. Nada de espumas nem esferas, embora Gabriel tenha trabalhado no El Bulli, Mugaritz etc. Depois, quando ele já se permitia falar com a gente - a mudez fazia parte da performance -, fomos todos para a cozinha e ele, falante e alegre,  fez um risoto de cogumelos com tilápia grelhada - uma comida entre amigos. Ele trabalha sozinho cozinhando e servindo e o ambiente é silencioso a não ser por um canto gregoriano que ecoava pela casa. A maioria dos móveis foi feito e/ou desenhado por ele, as ervas e flores são do seu jardim e quase todos os outros ingredientes são produzidos organicamente por gente que ele conhece da região. Ou vem do sítio da mãe - caso do leite, por exemplo. Sem dúvida foi uma experiência inesquecível mas não será a mesma coisa para um comensal pagante comum - Gabriel não aceitou pagamento neste dia.  Então não posso nem contar o que comi porque talvez entre no próximo cardápio. Ou talvez seja modificado para a próxima temporada. O que se mantém é a graça e inteligência com que cria e cozinha e o fato de ele não gostar que fotografemos. É para estar ali, se desconectar do outro mundo para entrar de cabeça naquele. E nós entramos. 

Por sua recomendação ficamos hospedadas numa pousada em Águas da Prata, muito perto de São João da Boa Vista, chamada Canto dos Xamãs, que fica dentro de uma enorme fazenda de gados, mangas e oliveiras (8 mil pés para um dia azeitonas virarem azeite) com duas cachoeiras maravilhosas a cerca de quinhentos metros. A região é linda, verde, montanhosa e com muita água - deu pra recarregar as energias, com o perdão do chavão. Vale o passeio combinado. 

Bem, reservas no O Leão Vermelho, só para o ano que vem. Veja o que saiu no Paladar, visite o site do restaurante, confira os vídeos do chef no you tube. 
www.oleaovermelho.com
www.youtube.com/gvidolin

Neka, Jéssica (da pousada) e Gabriel junto à oliveira
Patrícia, Sílvia, eu, Neka e Gabriel


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