Pode parecer exagero, mas de fato visitamos o maior jabuticabal do universo. Pois do Brasil é com certeza e só aqui. O passeio foi promovido pelos chefs Rafael Correia e William Carvalho, que dariam no festival uma aula só sobre jabuticabas. A Fazenda e Vinícola Jaboticabal fica em Nova Fátima, perto de Hidrolândia, não muito distante de Goiânia e dispõe de 35 mil pés de jabuticabas. Depois de um estresse hídrico naturalmente sofrido durante a estiagem (de pelo menos dois meses), o pomar começa a ser irrigado em 18 de julho. Dois meses depois, passa a ser liberado em lotes aos visitantes. Assim que as plantas começam a receber água, começam a florescer desesperadamente cobrindo-se de uma névoa de flores brancas e melíferas. O período de colheita e abertura à visitação (e comilança) começa em setembro e segue até novembro (neste ano, até 15 de novembro - portanto, corra lá).
O proprietário, Paulo Rodrigues, recebia um grupo de estudantes de agronomia no dia e dividiu com nós a atenção. Ou melhor, multiplicou a atenção, pois foi o tempo todo solícito igualmente com os dois grupos. Ele contou que o pai era pedreiro e que na década de 1940 pegava uns bicos de levar para vender, na jovem Goiânia, carregamentos de jabuticabas em carros de boi. Logo comprou seu próprio boi e plantou um pequeno pomar. Começou a plantar mais e mais, pois sabia do potencial da fruta numa capital que nascia com vigor. Muitos zombaram dele enquanto seu negócio só prosperava e inchava como uma jabuticaba tinindo de madura. Hoje é isto aí, 35 mil pés de frutas. Só nos finais de semana, durante a safra, a fazenda chega a receber 4 mil visitantes que pagam para entrar e podem passar o dia comendo jabuticaba até morrer.
Nossa hanami
As pessoas armam rede debaixo das árvores prenhes de bolinhas pretas. Quem já advinha que vai desmaiar de tanto comer leva até colchão para estender naquele tapete de frutas. Podem fazer picnic durante a floração e colheita, preparar churrasco. Ou ficar ali só para apreciar o espetáculo. E se há quem goste de tomar suco de canudinho, por que não sugar jabuticabas no canudão? Pois é, Paulo conta que tem gente que leva um cano de pvc, deita-se na rede, ergue o canudo, encaixa num galho coalhado de frutinhas e aí é só fazer um pequeno movimento para as bolinhas descerem por gravidade como quem escorrega no tobogã. É muita ousadia. Mas, Paulo, que cuida daquilo desde os 13 anos, acha graça e diz que tudo pode, desde que deixem o local sempre limpo. Se a pessoa quiser colher pra levar embora também pode. Aí é só pagar à parte o que foi colhido.
Há por ali todo tipo de jabuticaba: branca, sabará, rajada, poema etc. A maior parte é a pingo-de-mel, de tamanho médio, casca fina, docinha, perfumada, suculenta, polpa grossa de atolar os dentes. Há uma outra, enorme, de nome "poema". O bom é iniciar na pingo-de-mel, viciar naquela doçura e quando chega na poema você acha que vai ter a qualidade da pingo em dobro. É só dar uma dentada e .... Decepção total. É ácida, cascuda, tânica. Boa pra indústria, mas não pra chupar. Um poema abstrato, duro, sem emoção.
De tudo o que produz, 75% é destinado ao turista que chega, come e às vezes leva pra casa. O resto vai para o processamento de fermentados, sucos, licores. As cascas, ricas em antocianinas, são vendidas para a fabricação de barrinhas de cereais. E, segundo Paulo, a farinha da casca vem sendo estudada como alimento funcional para redução de diabetes, colesterol e tumores.
Toda a produção é feita sem uso de agrotóxicos e o adubo usado é orgânico. Na propriedade há ainda um restaurante, mirante para apreciar o mar de jabuticabeiras e lojinha com produtos de jabuticaba, como vinhos, geleias, doce em compota, licores, aguardente, mel etc. Visitamos ainda a vinícola. Provei de todas as bebidas alcoólicas e a de que mais gostei foi o fermentado tinto suave, que lembra um vinho fortificado como o Porto. Os outros, achei muito ásperos e tânicos demais. O fato é que entre todos os produtos de jabuticaba e as bebidas alcoólicas ou não, fico com as frutas chupadas do pé.
Embora o bolo de arroz, com fermentação natural, feito pelo Rafael e Willian, coberto com calda de jabuticaba estivesse divino.
Plantação a perder de vista |
Nossa hanami
As pessoas armam rede debaixo das árvores prenhes de bolinhas pretas. Quem já advinha que vai desmaiar de tanto comer leva até colchão para estender naquele tapete de frutas. Podem fazer picnic durante a floração e colheita, preparar churrasco. Ou ficar ali só para apreciar o espetáculo. E se há quem goste de tomar suco de canudinho, por que não sugar jabuticabas no canudão? Pois é, Paulo conta que tem gente que leva um cano de pvc, deita-se na rede, ergue o canudo, encaixa num galho coalhado de frutinhas e aí é só fazer um pequeno movimento para as bolinhas descerem por gravidade como quem escorrega no tobogã. É muita ousadia. Mas, Paulo, que cuida daquilo desde os 13 anos, acha graça e diz que tudo pode, desde que deixem o local sempre limpo. Se a pessoa quiser colher pra levar embora também pode. Aí é só pagar à parte o que foi colhido.
Jabuticaba poema: só tem tamanho |
De tudo o que produz, 75% é destinado ao turista que chega, come e às vezes leva pra casa. O resto vai para o processamento de fermentados, sucos, licores. As cascas, ricas em antocianinas, são vendidas para a fabricação de barrinhas de cereais. E, segundo Paulo, a farinha da casca vem sendo estudada como alimento funcional para redução de diabetes, colesterol e tumores.
O vinho é envelhecido em tonéis de carvalho |
Embora o bolo de arroz, com fermentação natural, feito pelo Rafael e Willian, coberto com calda de jabuticaba estivesse divino.