Horta orgânica no Patronato, em S.J. dos Pinhais |
Quando me distancio um pouco dos meus pais e volto a revê-los, me descubro ali nos pormenores de um jeito de conseguir comida um pouco diferente do praticado pela maioria. Supermercado é só para uma coisa ou outra. O resto, a gente vai compondo.
Em Fartura meus pais plantavam, colhiam e processavam o próprio café, tinham pomar, horta, criavam galinha e tiravam quase tudo do sítio. O arroz, cateto, compravam em Carlópolis, no Paraná. Mas quando moravam aqui, na periferia de São Paulo, onde nasci, o mocotó tinha que vir do Mercado da Lapa; a galinha boa era da japonesa, que eu ia buscar e trazia pelos pés amarrados com tiras de pano que eu cortava e levava pra ter desconto; o pão de todo dia quando não era caseiro era da venda do português Seu Salvador, mas a broa de milho bem quente com erva-doce era da padaria de baixo, pois saía do forno justo na hora do nosso chá da tarde.
E agora, em São José dos Pinhais, onde estão morando, não é diferente. O leite cru vem de uma propriedade lá perto, de uns poloneses. Meu pai vai a cada dois dias buscar leite integral ainda morno. É com este leite que minha mãe continua fazendo seu queijo. Mas quando querem um queijo já maturado, vão comprar no Patronato, que vende também hortaliças orgânicas. O mel, compram da Vandite e Seu Zé. A galinha continua vindo do quintal, assim como o chuchu, a taioba, etc. Quando querem uma carne de fumeiro, instalam o acém de açougue salgado sobre a fumaça do fogão de lenha. Cheguei lá com umas linguiças artesanais feitas em Piracaia e meu pai foi logo colocando num varal sobre o fogão. No terceiro dia estavam deliciosamente defumadas e boas. Não fiquei pra ver o preparo, mas já sei que minha mãe vai fazer com favas brancas ou talvez grão-de-bico.
Soprando a lenha |
Outro dia, foram viajar os dois e, no caminho, compraram um saco de café em grão, do Norte do Paraná, para torrar e moer em casa, pois, dizem, por ali ainda não encontraram café bom, não conseguem tomar café comprado em supermercado, não encontram café com boa torração. Pelo menos não ao preço razoável que aceitariam pagar por um café decente - nada que tenha anexado a palavra gourmet, pois nem sabem o que isto quer dizer, mas que seja bom, só isso. Meu pai torra no ponto que considera o correto. Do jeito que eles gostam, um café bem caipira. Trouxeram também na mesma viagem um saco de arroz cateto. E assim vão indo, assim vão comendo e bebendo com prazer.
Desta vez eu estava muito desligada de fotografias ou experiências para o blog e deixei de registrar muita coisa interessante, como o passeio que se segue e do qual só tenho estas duas fotos. Numa saída com meu pai para comprar leito nos poloneses, passamos também no Patronato Santo Antônio de S.J.dos Pinhais, uma instituição filantrópica que atende a crianças e jovens, tocada por freiras - para comprar, colaborar, visitar, veja o site: http://www.patronatosantoantonio.org.br/. O lugar é lindo, todo florido e bem cuidado. Há ali não só uma horta com produtos orgânicos (a gente não pode nem entrar pra não contaminar), com preços muito baratos, mas também uma farta produção de queijo de leite cru. Parece redundância dizer isto, de leite cru, para quem produz queijo artesanal por aí, mas o fato é que todo queijo de supermercado é feito com leite pasteurizado e quase todo queijo feito Brasil afora, nas casas e queijarias pequenas, e não é pouco, é feito com leite cru. E vêm nos dizer que devemos evitar queijo de leite cru, que pode transmitir doenças... balela. Meus bisavós paranaenses já faziam queijos e deixavam maturar para prolongar a vida útil do leite que não davam conta de beber e não tinham pra quem vender. Os mineiros fazem isto melhor que ninguém. E por aí todo mundo sabe, queijo bom é feito de leite cru que tem imunidade para maturar sem estragar. Mas é isto, no Patronato pode-se comprar queijos e verduras. E o recado é que você também pode compor seu prato com alimentos do supermercado, da feira, do seu quintal e também com aqueles comprados direto dos produtores - eles estão por aí. É só ficar atento ao que quer comer.
Dona Aparecida, de Piracaia, vende cocada de fita na porta de casa |