Presentes de Páscoa e de Natal deveriam ser sementes. Que brotam, se multiplicam, garantem a sobrevivência da espécie e vida aos que delas e de seus frutos se alimentam. Símbolos máximo de manutenção e renovação da vida, síntese da água, da terra e do sol, elas são nossos bens mais preciosos.
Ontem me chegou aqui uma caixa vinda de Pouso Alegre, Minas Gerais. Meu presente de Páscoa. Foi enviada pela leitora Izabel de Lima Adão, que fez a oferta nos comentários do post sobre as mangas: "Neide, não sei separar muito bem espécies de mangas, a não ser a que conheço como espada, mas lá em casa tem dois pés de espécies parecidas mas completamente diferentes no sabor e, como esse ano elas carregaram, muitas caíram e brotaram. Vc quer mudinha? se quiser, me mande e-mail com endereço para onde enviá-las . Tenho também sementes de uma alface que meus pais e avós cultivam há muito tempo e que eles chamam de alface de sombra roxa (é mais dura que as alfaces do mercado, própria para fazer uma sopa, que na nossa família é cultuada), está na época de plantar, se vc quiser me informe no e-mail. Ah! tenho mudinhas de nêspera, também. Abç, Izabel".
Claro que aceitei as mudinhas e pedi também a receita da sopa. Mas a caixa veio recheada de outras espécies em mudas ou sementes. Nêsperas e maxixe em frutos, alfaces e buchas em sementes, brotos de gravatá e uma estufinha de garrafa de alvejante bem vedada cheia de mudas de manga. A embalagem dos bulbos de gladíolo, das nêsperas e gravatá chamam a atenção pela beleza e praticidade. São a capa dos frutos de costela-de-adão. Além de lindas, são flexíveis, boas para acomodar frutos com delicadeza, e biodegradáveis.
Izabel teve ainda o cuidado de mandar junto com as espécies um pouco do terroir de seu quintal. Talvez não tenha tido a intensão, mas o matinho seco e a terra úmida que vieram juntos trouxeram um pouco dos aromas de solo sombreado aos pés das mangueiras, do musguinho que cresce verdejando o caule, dos fungos brancos que se espalham por baixo do mato molhado e alimentam formigas, da palhada em decomposição e de um fumacê de fogão de lenha que havia ali perto. Posso estar sonhando, mas todo este cheiro veio junto e acho que se um dia for até a cidade da Izabel serei capaz de encontrar seu pouso alegre pelo rastro.
Bem, Izabel, agradeço os presentes de Páscoa (ainda que não tenha pensado na data) e me empenharei para que tudo se multiplique. A sopa, a farei assim que colher minhas primeiras folhas de alface de sombra roxa.
Parte da planta costela-de-adão para embalar |
Doze mudas de mangas do quintal |
Caixa de alegrias - sementes, bulbos, brotos, mudas |