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Convite: O livro de sorbets e sorvetes com frutas brasileiras da Rita de Medeiros

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Hoje tem lançamento do livro da Rita de Medeiros no Tordesilhas. Desculpe o convite de última hora, mas não pude postar antes. Acho que ainda dá tempo. Se não puder ir, pode comprar o livro direito com a Editora Terceiro Nome.Rita tem uma sorveteria de sorvetes artesanais com frutas do Cerrado em Brasília e é autora do livro Gastronomia do Cerrado (Fundação
Banco do Brasil, 2011).

Neste livro há uma participação minha com várias fotos que você já viu alguma vez aqui no Come-se. É de minha autoria também a apresentação, que reproduzo aqui: 
 
"Não é em todo lugar e a qualquer hora que a gente se depara com profissionais como a Rita, com brilho nos olhos ao falar do seu trabalho. Estive recentemente em sua sorveteria artesanal em Brasília e fiquei encantada com o balcão de sorvetes cremosos, perfumados, coloridos, feitos com sabores locais. A paixão que ela tem pela técnica gastronômica envolvida com sua arte não está dissociada daquela que ela nutre pelos ingredientes do cerrado e pelo ambiente cultural que os envolve. É um sentimento contagiante que está estampado em seu olhar sempre emoldurado por um sorriso.
Por isto, me senti muito lisonjeada quando Mary Lou quis usar algumas fotos minhas para ilustrar este livro. E mais ainda por poder escrever neste espaço para dizer o quanto é bom ler uma obra que reflete todo o trabalho de uma pesquisadora apaixonada por nossa cultura, uma habilidosa artesã do gosto e, sobretudo, uma pessoa generosa que desafia preconceitos para nos convencer, e convence, do luxo que representam estas frutas nativas que chegam a ser chamadas de exóticas. E isto tudo numa prosa gostosa, como se estivéssemos brincando ao redor de uma rara sorveteira manual funcionando a gelo e sal na alternância da manivela.
O bom é que este livro é muito mais que a sugestão do título. Ele traz não só informações técnicas sobre sorvetes e sorbês de receitas simples e que podemos fazer em casa, mas vem recheado também de preciosidades: histórias emocionantes de gente que vive da coleta de frutos, informações científicas e curiosidades de espécies das quais pouco ouvimos falar, como mama-cadela, marmelada, guapeva e curriola, só para citar algumas.
Depois de ler o livro todo você se põe a pensar na riqueza que é a biodiversidade alimentar no cerrado. O conjunto das espécies apresentadas por Rita não segue o padrão da fruta-sobremesa que encontramos nos supermercados. São frutos de quintal ou que aparecem nas feiras aos montes só na época deles. São frutos raros, ignorados, quase esquecidos, às vezes só presentes na lembrança. São aqueles colhidos no pé, catados do chão, rústicos ou delicados, são frutos verdes e maduros, doces ou azedos, melosos ou travosos, para comer crus ou cozidos. Tem os frutos para farinha, para o mingau, para o sabão, para o óleo e remédio. Podem ser amiláceos, proteicos, gordurosos, coloridos, feios e bonitos. Alguns fazem vezes de pão, outros servem de carne, um tanto vira doce.  Podem ser macios, crocantes, escorregadios ou cremosos como sorvetes. Um pouco é de comer, outro de roer, muitos de chupar. Enfim, frutos de todo jeito, um grupo de espécies que alimenta, nos supre, alegra e nos torna soberanos.  E saber saber ainda que todos podem virar deliciosos sorvetes nas mãos da talentosa Rita e de quem mais se aventurar a segui-la, ah, isto é demais!
Diante de tanto potencial, não dá para deixar de sentir tristeza quando pensamos no cenário atual de destruição deste bioma, em que florestas de frutas nativas do cerrado têm dado espaço a vastas áreas de monocultura.  Sorte nossa que há ainda gente como a Rita. Se depender dela e dos leitores que certamente vai cativar, formaremos todos um forte cordão de resistência a gritar “menos soja aqui, mais sorvete de pequi”. " 


Uvas quilômetro nenhum

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Teve um tempo em que festas de fim de ano significavam caixas de madeira preenchidas com cachos intactos de uvas rosadas, cerosas, doces, cheirosas, que faziam a alegria das crianças. Depois a gente perde a inocência e aquele sabor, às vezes confundido com as boas memórias afetivas, já não parece tão bom. Desde que sei do tanto de defensivos que se usam nas uvas, não consigo comê-las com a mesma alegria.  Mas neste ano, tudo será diferente e poderei viver um pouco como no passado. Meus dois pezinhos de uva, da rosada e da verde, me deram uma boa carga, bem melhor que as anteriores. 

Queria ter eu provado das primeiras maduras da safra, mas algum ser vivo chegou antes - certamente um ratinho, pois dizem que pássaros não bicam uvas. Quando voltei de viagem, só restavam os pedúnculos. Decidi então ensacar os dois maiores cachos que amadureceriam na sequência só para ver se a artimanha funcionaria. Funcionou. Tanto que o cacho vizinho, o próximo na linha sucessória de amadurecimento, já havia sofrido algumas baixas e os empacotados estavam lá, inteirinhos. Colhi os cachos maduros, usei as embalagens para proteger outros e empacotei toda a safra com saquinhos reaproveitáveis que fiz com voal de cortina. Agora quero ver quem ganha a disputa. 

Pois estas uvas rosadas estão tão doces, perfumadas e sadias,  que a lembrança delas vai ocupar todo o espaço onde se abrigavam aquelas da infância. Marcos e eu comemos sem tirar sementes e sem culpas, espremendo as cascas entre os dentes, extraíndo a tinta, a essência e o perfume com a maior alegria do mundo. Uvas do quintal de trás, quilômetro sub-zero! E de um quintal tão mequetrefe, como diz Nina Horta do seu, muito maior que o meu.  A verde ainda não atingiu o seu auge, mas deve chegar lá.

Dizem que pássaro não come uva. Então foi um rato.
Bolinhas por bolinhas, que coma pimentas - do lado das uvas!






Terra Madre Day. Convite

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O Terra Madre Day acontece todo 10 de dezembro e é uma data criada pelo Slow Food para ser celebrada no mundo todo. Vários eventos acontecem simultaneamente, geralmente nos lugares onde haja algum núcleo ou convívio do movimento. A ideia é que se comemore com alguma atividade que esteja ligada à filosofia do Slow Food, que celebre a Terra, o produtor que trabalha em sua lavra e o alimento que ela nos dá; que celebre o alimento local, sasonal, bom, limpo e justo. Estes eventos podem ser organizados pelos convívios, mas também por qualquer grupo de pessoas que queira participar desta corrente. Melhor que comemorar Thanksgiven day fora da américa do norte, não é não?

 
Bem, a equipe do blog não vai ficar de fora desta vez e resolveu criar seu próprio evento: Dia de Campo Urbano. Come-se e comequietes vão fazer uma coleta urbana, cozinhar e comer. Mangas, bredos, beldroegas e grumixamas são alimentos que crescem no cinza de nossa cidade e que muitas vezes florescem, frutificam, perdem as folhas e se renovam sem que ninguém os note. Nossa expedição sairá com olhos bem abertos. Depois nos debruçaremos no preparo e nhac!   Infelizmente as vagas, gratuitas,  são limitadas. Mas já adianto a quem não conseguir se inscrever que vou guardar o contato para uma próxima expedição.
 
Se você também esta animado para fazer alguma atividade para celebrar este dia da Terra, convide uns amigos, faça um jantar, uma degustação de produtos locais, uma visita a um produtor, um piquenique, uma expedição à roça, ao pomar, à cozinha. Não precisa complicação nenhuma. Pode ser um evento simples, como você poderá ver nos exemplos dos anos anteriores lá na página do Terra Madre Day: www.slowfood.com/terramadreday.

Na página você poderá registrar seu evento e depois mandar fotos. Quanto mais eventos, melhor. Quem se anima?  O nosso estará lá.

Fuba não é fubá. Coluna do Paladar, de hoje

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Milhos tostando na panela de barro. Estas duas fotos: Neide Rigo

Publicado no jornal O Estado de São Paulo de hoje e no blog do caderno Paladar

Tem tico-tico nessa fuba


Por Neide Rigo
Diferente da mandioca, que só pode ser conservada na forma de farinha, o milho pode ser guardado inteiro para transformações diversas na entressafra, versatilidade que se mostrou conveniente ao modo de vida do sertanejo. Alguns produtos foram sendo substituídos por versões modernas, outros resistem, ao menos na lembrança. É o caso da fuba, farinha gostosa e muito fácil de fazer quando se tem um moinho, um pilão ou processador, mas raramente encontrada à venda.
Fui apresentada à fuba pela Ana Rita Dantas Suassuna, autora do livro Gastronomia Sertaneja. A fuba foi a estrela de uma aula dividida por Ana Rita e Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó, no Paladar Cozinha do Brasil de 2011. Mas minha familiaridade com a farinha só começou mesmo quando ela me trouxe do Recife uma amostra e, faz pouco tempo, sua sobrinha me mandou de lá um quilo de fuba.
Senti primeiro o gosto de pipoca, mas também um sabor de tempos ancestrais. Tive o privilégio de nascer numa periferia de São Paulo com muitos vizinhos migrantes. Uma das minhas primeiras experiências de cozinha foi como ajudante de uma menina mais nova e mais ousada que eu. Brincando de casinha, ela pegou o liquidificador da minha mãe e disse que inventaria uma farinha surpresa com os milhos não estourados que sobraram na bacia de pipoca. Fiquei maravilhada com a pipoca em pó, que comemos com açúcar e era polvilhada na cara da outra a cada gargalhada com a boca cheia. Nunca mais vivi aquela sensação até o dia em que provei da fuba e percebi que talvez não tenha sido invencionice da menina, a não ser pelo uso do aparelho elétrico. Afinal, ela era filha de sertanejos nordestinos.

Amarelinho | É possível comprar fuba de produtores artesanais nas regiões onde o produto ainda sobrevive, mas se não conseguir, faça em casa, e terá um sabor de tostado ainda mais acentuado quando bem fresco. Comece com milho maduro e seco.

Piruá | Em uma panela de barro bem quente, torre um tanto de milho que ocupe o fundo, formando uma camada fina. Quando estiver dourado – e uns meio estourados – tire do fogo.

Pronto | Triture o milho ainda quente em processador, liquidificador, moinho elétrico ou moedor de cereais manual. Passe por peneira. Espere esfriar e guarde em vidros.

O cru e o torrado. Ana reforça que fuba não é fubá. Mas certamente que uma coisa tem a ver com a outra. Fuba, palavra que vem do quimbundo, quer dizer farinha. O fubá de milho é milho maduro, seco, cru e moído. Já a fuba é o milho maduro, seco, torrado e moído.
O milho tratado assim não é exclusividade do sertanejo brasileiro. Lourdes Hernández, cozinheira mexicana que vive no Brasil, me contou que no México há uma farinha conhecida como pinole, Qualquer milho pode ser usado para fazer pinole, menos o chamado palomero – o milho de pipoca. Ela conta que se torra o milho e logo se tritura e se adiciona açúcar e canela, para se comer às colheradas.
A fuba é leve e tem sabor tostado de piruá dos bons, daqueles mastigáveis e crocantes. Por isso, embora faça deliciosos bolos, o bom mesmo é comer pura com açúcar. Ela é adocicada naturalmente e, no melhor modelo de reação exotérmica, libera calor em contato com a saliva, parecendo sempre morna, mesmo quando misturada ao leite frio.
Come-se com carnes, leite gelado, café quente, favas e feijões. Mas dá para se divertir com ela na cozinha. Fiz bolo, paçoca, comi com carne e café com leite. E ainda dá para inventar muito.

Mururu cessado na urupema

Por Neide Rigo
“Bota lá, menino, o caco no fogo e faz mais mururu pra farinha”. Era assim que o pai de Eliana Santiago, que é da caatinga da Bahia, dizia quando a farinha de pipoca não era suficiente para todos.
O milho vai para o caco bem quente para ser torrado e triturado até virar um pó fino, que ainda é cessado na urupema – ou passado por peneira – para ficar ainda mais leve. Eliana me conta que na Bahia a fuba é conhecida como farinha de pipoca e feita com milho comum, plantado no São José e colhido no São João.
Lá, eles chamam de caco a panela de barro rasa usada para torrar. O nome é porque antigamente usavam panelas quebradas, que não serviam mais para conter alimentos úmidos. Mururu é o nome que dão ao milho torrado, inchado, marronzinho. E o certo é torrar o milho e pisar no pilão ou passar por moinho ainda quente, crocante. Depois fica chocho, absorve umidade talvez, fica difícil de triturar.
 De Uauá, também na Bahia, a amiga Jussara Dantas, diz que conhece a farinha como fubá mesmo. E que o milho pode ser torrado no aribé de barro (caco), junto com areia fina para aumentar a eficiência do calor. Depois, é separado da areia e vai para o pilão. “Ela é feita do milho torrado (alguns grãos viram pipoca e outros não) e pisado no pilão. Vira uma farinha muito gostosa, e come pura mesmo. Quando criança, comia com açúcar ou feijão.”
Se os nomes para a fuba são variados, as boas lembranças de um produto que está desaparecendo uniformiza o sertanejo. Seu Misael de Carvalho, pedreiro pernambucano, quando provou um pouco da fuba que eu preparei em casa ficou emocionado. Disse que conhece por fubá e contou que comia puro com açúcar. Perguntei se queria levar um pouco e ele aceitou: “Só umas três colheres pra eu mostrar aos meus meninos, que só conhecem de ouvir falar”. >> Veja todos os textos publicados na edição de 6/12/12 do ‘Paladar’

NA XÍCARA

Café, leite, café com leite | O primeiro jeito de comer fuba é pura e seca, só com açúcar. Também é bem comum tomar com leite gelado. Em contato com a saliva, ela libera calor, em uma reação exotérmica, parecendo sempre morna. Ou ainda basta adicionar uma colherada de fuba ao café adoçado, puro ou com um pingo de leite.

NO PRATO

Com carne e feijão | O segundo jeito mais comum de comer fuba é com feijão, como se faz com outros tipos de farofa. Faça uma carne de panela e polvilhe a farinha por cima. Eu fiz acém de panela, preparado em um pedaço único, empanei a carne com a fuba, fatiei e servi acompanhada de feijão verde temperado e cuscuz.

PAÇOCADA

Pancada seca | Misture partes iguais de fuba, amendoim torrado e açúcar e triture até que todos os ingredientes se transformem em uma farofa úmida e bem fina. Junte uma pitada de sal. Molde em forminhas. Basta apertar bem na forma e depois emborcar com uma batida seca sobre a tábua, com cuidado para não desmontar.

EM BOLINHOS

Cremoso por dentro | Bata no liquidificador 1 xícara de fuba, 2 colheres (sopa) de farinha de trigo, 2 ovos, 2 xícaras de leite, 1 xícara de açúcar, 100g de requeijão de manteiga (baiano), 1 pedaço de casca de limão e 1 colher (sobremesa) de fermento em pó. Coloque em forminhas e leve ao forno médio. Asse até dourar. Ficam cremosos por dentro.


FOTOS: Felipe Rau/Estadão

Jabuticaba. Congela-se

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Sabe aquelas jabuticabas da Juliana? Pois resolvi congelar o pouco que sobrou pra ver se daria certo. Depois de provar as bolinhas de sorvete mais deliciosas do mundo, me arrependi por todas as jabuticabas que já vi apodrecer no pé, azedar na geladeira, estragar na fruteira. Como ficam boas! Talvez já tenha experimentado e eu tenha sido a última a descobrir, mas se eu estiver errada e você nunca ouviu dizer que jabuticaba congela bem, experimente e me diga se não tenho razão. Está certo que ela não vai mais explodir entre seus dentes como um nectar esferificado, mas vira um picolé da melhor espécie, que jamais poderá ser reproduzido pela engenharia do homem. E os dois inconvenientes da fruta deixam de sê-los. A casca fica mais macia, talvez por ter se explandido, rompido algumas fibras, não sei. O fato é que se torna muito mais mastigável e menos tânica. E as sementes que são sistematicamente engolidas por impossibilidades práticas de separá-las da polpa (talvez por isto não se vêem por aí jabuticabeiras como se vêem pitangeiras), podem ser isoladas pelos cortes com faca sem dificuldade alguma, já que a polpa congelada fica firme mas não dura. O açúcar impede o empedramento como gelo e ela fica macia e mastigável como picolé de goiaba. Só que precisa ser cortada enquanto ainda está congelada, claro. 

A técnica,  que não exige mais que lavar e enxugar os frutos e espalhá-los numa bandeja que vai ao freezer, é uma ótima opção para fazer durar mais a safra da jabuticaba. Apesar de termos até três produções num ano, ela é rápida, logo acaba. Ou nos entupimos de jabuticabas ou as deixamos perder. Agora que sei do congelamento, nunca mais serão perdidas. E nunca mais vou deixar de fazer uma caipirinha por não ter limão ou outras frutas frescas à mão. Depois que congelam, as frutas podem ser guardadas em potes plásticos com tampa. Quando quiser, é só tirar a quantidade que vai usar - aos poucos, para poder cortá-las enquanto ainda estão congeladas. 




Caipirinha de jabuticaba

1/2 xícara de jabuticaba congelada cortada em pedaços
1 colher (sopa) de açúcar 
De 90 a 100 g de gelo quebrado ou em cubos
1/3 de xícara (80 ml) de cachaça


Coloque metade da jabuticaba num copo junto com o açúcar. Soque bem até soltar a cor. Coloque o gelo alternado com a jabuticaba restante e despeje a cachaça. Mexa e sirva (decorei a borda do copo com açúcar de jabuticaba - as jabuticabas passas trituradas com um pouco de açúcar - molhei a borda com suco de limão e emborquei o copo sobre o açúcar). 





Terra Madre Day - dia de campo na cidade

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Saímos com mãos vazias e voltamos com sacolas cheias
Ontem foi o Terra Madre Day e até agora já aconteceram ou estão para acontecer, mundo afora,  857 eventos para comemorar a data.  O Come-se convidou leitores e amigos para celebrá-lo com um dia de campo na cidade, descobrindo e reconhecendo espécies comestíveis no espaço urbano. A ideia era que estivéssemos em 10 ou 11, no máximo, porque depois cozinharíamos o produto da colheita e minha cozinha é pequena. Mas a turma cresceu e saímos em quatorze pessoas que depois se ajeitaram entre o fogão, a pia e a mesa do quintal. Deu tudo certo e ninguém se lembrou que era segunda-feira (sim, todos trabalham, mas deram um jeito). Cênia Salles, lider do convívio do Slow Food São Paulo também participou. 

Alguns leitores do blog, eu já conhecia e outros, não, mas foi como se fossem todos de casa, suportando o calor, o barulho das panelas, o improviso e o espaço pequeno. Tivemos a sorte de contarmos com a presença de um leitor do Come-se que sabe tudo de planta. O Guilherme Ranieri reconhece muito mais espécies comestíveis que todos nós e com ele aprendemos muito durante todo o trajeto que fizemos pelas ruas da City Lapa. Não só reconhece, mas sabe tudo sobre elas, desde o nome científico até a fisiologia da espécie. 

Rodrigo Ferreira também contribuiu bastante, pois além de subir nas árvores para colher frutas, é especialista em agrofloresta e nos mostrou pequenos exemplos pela cidade, como um canteiro na praça Senador José Roberto onde encontramos bananeira, mamoeiro, feijão, beldroegas e batata-doce - desta, colhemos as folhas. 

Juliana Valentini, do viveiro Oiti, de Holambra e do blog Deverdecasa, colaborou com seu conhecimento e laranjas para o suco (as últimas de um pomar vizinho que foi derrubado).  Ainda ganhei farinha de milho, cachaça, mudas e sementes.  E se tudo isto não bastasse, na hora de lavar, cortar, picar, cozinhar, todo mundo compartilhou o trabalho, de modo que fiquei tranquila para cozinhar e conversar sem afobação. Flora, minha sobrinha, foi também meu braço direito.  Está certo que deixei algumas etapas adiantadas porque chegaríamos com fome. Um dia antes cozinhei feijão verde que ganhei da amiga Marisa Ono, do blog Delícia,  que o cultiva em Ibiúna. Antes de sairmos, deixei cozinhando arroz integral com outros grãos e na véspera fiz uma torta de manga verde com receita da sogra da Juliana, já que as mangueiras paulistanas estão carregadas. Preparei ainda no domingo uma massa de nhoque com banana verde. Havia sobre a mesa alguns ingredientes trazidos de Piracaia, como ovos de galinha caipira e tomatinhos da roça, outros trazidos do sitio da Marisa, em Ibiúna, além de uvas, pimentas e ervas do meu quintal. Tudo isto para, junto com nossa colheita, improvisar nosso almoço. 

Nas ruas encontramos grumixamas vermelhas e amarelas, pitangas, uvaias, graviolas, limões, tamarindos, mangas e bananas verdes. De ervas, colhemos beldroega,  língua de vaca, buva, bredo, serralha, folhas de batata-doce, dente de leão, serralhinha, salsão silvestre, mentruz, flor de sabugueiro etc. Encontramos ainda vagens vermelhas de feijão e cúrcuma. A grande novidade e encanto, no entanto,  foram os pepininhos silvestres avistados pelo Guilherme na cerca de uma casa meio abandonada. Se eu soubesse que era de comer, não teria metido a enxada, nos disse uma mulher que se disse cuidadora da velha moradora. 

As mangas verdes já estavam na torta feita antecipadamente, mas foram também para um chutney cru com pimenta e cominho, para a salada e para o suco. O bredo foi aferventado em água com alho e sal e ajudou a temperar o arroz junto com o feijão verde e cebolas. Já as folhas de batata-doce foram simplesmente refogadas no alho e cozidas em pouca água até que ficassem macias. As folhas picantes de buva (Conyza ssp) foram transformadas pela Cenia em pesto delicioso servido com a salada verde feita com todas as outras folhas além de tomatinho da roça e os micro pepinos silvestres (Melothria pendula). Para o purê, usamos as bananas verdes cozidas com casca na pressão e temperadas com creme de leite, cebolas douradas com a cúrcuma ralada e grãos de cominho e de coentro tostados e triturados. Para decorar o purê, espalhamos sementes de língua de vaca (Talinum paniculatum), aquecidas na manteiga. A massa de nhoque de banana verde (purê de banana temperado com noz moscada, sal e manteiga) já estava dentro de tubos de biscoito e foram cortadas em rodelas, como nhoques romanos de semolina. Cênia cobriu com queijo meia cura, de Piracaia, ralado e creme de leite. Por cima espalhou folhas de manjericão e orégano e levou ao forno. Bebemos suco de laranja, de tamarindo e de manga verde e comemos de sobremesa a torta de manga e a de banana com ameixa feita pelo Fábio Metello. Pronto, tivemos um almoço leve, fácil, gostoso, feito com vegetais que crescem por aí à sombra da observação do homem urbano. Ah, como aperitivo tivemos degustação de horchata de xufa feito com batatinhas de tiririca que eu trouxe da Espanha, comemos polpa de baobá que eu trouxe do Senegal,  e alho negro preparado pela amiga Marisa Ono. 

Acho que todos nós gostamos da experiência. E já que não temos por aqui floresta com cogumelos como os europeus que saem para a coleta com cestinha de palha e cajado, que tal reunir seus amigos, se paramentar de tênis, chapéu, água, canivete, tesoura e sacola de pano, um pau de vassoura com um gancho (como o que o Marcos fez para mim) e sair por aí olhando praças verdes e calçadas de terra descoberta em meio ao escuro do asfalto e ver o que consegue colher. Pode não ser um modo de se viver, economizar e comer todos os dias, mas garanto que pode ser muito divertido e instrutivo, principalmente se estiver em boa companhia. Eu estive! 

Algumas fotos (minhas e da Flora Rigo):

Grumixama vermelha
Um pau de vassoura com ganchinho na ponta
(feito pelo Marcos) ajuda a puxar frutas como
estes tamarindos

Cuidados com mangas verdes. O látex queima
Tiramos só algumas bananas. O resto ficou para amadurecer.
Cuidado com a seiva, que mancha a roupa
Cenia feliz por alcançar as mangas
Surpresa: pepininhos silvestres na cerca
Bananeira e limoeiro numa ilha verde entre asfaltos
Rodrigo nos mostra um micro exemplo de agrofloresta
Algumas vezes o sinal verdeja para nós. 
Rodrigo colhe limão rosa
Rodrigo colhe cúrcuma
Guilherme mostra batatinha da tiririca amarela
A última uvaia
As jabuticabas ainda estão verdes
Lúcia subiu na cerca para colher pepininhos
Graviolas no chão
Feijão que entrou no prato de arroz
Pepininhos
Cúrcuma
Tiririca amarela (Hypoxis decumbens - come-se a batata
Grumixama amarela
Limão rosa
Pitangas
Mangas verdes cozinhando para a torta
As últimas laranjas dos últimos pomares 
Alimentos locais
Todo mundo ajudando a preparar. Lili, de branco, não pode
esperar o almoço pronto. Perdeu, Lili! 
Os pratos prontos com suco de manga verde
Purê de banana verde com "papoulas" de língua de vaca
Salada urbana 
Arroz com feijão verde e bredo
Curry de manga verde 
Folhas de batata doce
Pesto de buva 
nhoque de banana verde 
Torta de manga verde
Torta de banana com ameixa - contribuição do Fábio Metello

Gente no chão: Sonia e Janaína (escondida)
Na banqueta: Fábio, Carol e Cenia
Com comida no colo: Letícia, Guilherme e Lúcia
De boca cheia: Sonia, Janaína e Juliana
Andrés Sandoval (autor do banner do Come-se) e Rodrigo
Com prato limpo, lambido, quero mais! Juliana, Nana e Flora
Veja também, no blog da Juliana,  o post sobre a experiência e muitas fotos legais: http://www.deverdecasa.com/2012/12/o-primeiro-terra-madre-day-gente-nunca.html

Arroz integral com bredo e feijão verde

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O bredo ou caruru, sobre o qual já falei aqui  é muito usado no sertão e nas zonas rurais de um modo geral. Foi uma das ervas que coletamos aqui no bairro da Lapa, ontem, na expedição Come-se/ Terra Madre Day


Estes foram usados para fazer uma quiche
Depois de cozidas, as folhas e galhos ficam macios e gostosos, com sabor mais suave que espinafre. Não sabia muito bem o que iria fazer com as folhas, mas tinha deixado cozinhando na panela elétrica uma xícara e meia de arroz integral misturado com outros grãos (sete grãos) em 4 xícaras de água e sal. Um dia antes também cozinhei os feijões verdes, presentes da Marisa Ono que se juntaram ao pouco que colhemos, de vagens vermelhas e grãos clarinhos. Sei lá que espécie é, mas ninguém morreu até agora. Era mais ou menos 1 xícara dos grãos cozidos (algumas vagens verdes picadas entraram na dança e foram cozidas junto com os grãos coletados).

Mais ou menos duas xícaras das folhas de caruru ou bredo bem lavadas foram refogadas e escorridas. Na verdade, ia refogar as folhas de batata doce, mas me enganei e coloquei na panela as de bredo, que eu teria refogado com a cebola, antes de juntar o arroz. Mas ficaram tão boas e temperadas, cozidas e macias, que a receita agora é deste jeito mesmo.  Foi assim: dourei alho picado num pouco de azeite, despejei umas 4 colheres (sopa) de água, temperei com sal , deixei ferver e juntei as folhas de bredo.  Mexi devagar até as folhas murcharem. Depois de uma rápida fervura, só o suficiente para que as folhas amaciassem (uso esta técnica para cozinhar várias folhas silvestres ou não que não sejam super macias e sensíveis). Escorri bem  e o caldo foi usado depois para cozinhar as folhas de batata doce.

Numa frigideira grande, aqueci um pouco de azeite e dourei uma cebola. Juntei 1 colher (sopa) de cúrcuma ralada e mexi bem.  Despejei ali o arroz cozido, o feijão, as verduras e um pouco de pimenta vermelha sem sementes picada. Misturei tudo, aliás, foi a Janaína quem mexeu com cuidado e carinho e foi ela quem notou que faltava um pouco de sal, ok, providenciado, e que pedia uma cor, dada pela pimenta do quintal. Ficou bom e todo mundo comeu um pouco, mas acho que rende mesmo umas seis porções.

Usamos as vagens verdes e os feijões das que começavam a amadurecer

Dia de Campo na cidade. Faça assim sua festa de fim de ano

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Taí uma opção para comemorar o fim do ano com os amigos em vez de festa de firma e presentes de amigo secreto de família em que o tirado pede o que quer ganhar, com cor e modelo,  e você compra sem precisar escolher. Aliás, para esta situação, sugiro estipular o mínimo de cem reais ou até mais e todo mundo dá o valor em espécie, cheque ou depósito em conta, e assim cada um tem seu dinheirinho de volta e compra o que quer.  É também um jeito de encontrar aquele seu amigo que não teve tempo o ano inteiro para te ver e fica se sentindo culpado pela falta de atenção, com medo de o ano acabar, e o mundo acabar, sem ao menos um último encontro, tentando combinar um almoço ou jantar de última hora, em restaurantes lotados e caros. Esqueça e diga que ele está perdoado.

Presentes, mudas, sementes. Foto Sonia Campos
A proposta, sem custos ou contragostos é reunir os amigos e fazer uma expedição pela sua cidade ou bairro como a que fizemos aqui em São Paulo, no bairro City Lapa, para comemorar o Terra Madre Day, do Slow Food.  E mesmo não sendo amigos, durante o passeio uma amizade verdadeira há de nascer. E mesmo que não seja neste fim de ano (que não vai acabar no 21 nem no 31), que seja a qualquer tempo. Como presentes, nada de objetos comprados no Shopping mas, traz quem quer sem cobranças, sementes, farinhas artesanais, uma fruta diferente, uma muda de planta, um prato que fez. Foi o que apareceu espontaneamente no nosso grupo. Não é difícil, nem queira complicar. Sempre vai haver no grupo alguém que tem olhos bons para plantas, mangueiras, jaqueiras, pés de dente de leão, serralhas e serralhinhas. Se as ervas são mais difíceis de reconhecer, levante os olhos e veja as árvores. Pitangas, uvaias, grumixamas, bananas, mangas, tamarindos, cerejas do rio grande, cerejas de joinville, nêsperas, limões, mexericas, lichias, abacates, carambolas... Tem de tudo em plena cidade de São Paulo e quase sempre estas árvores nos observam silenciosamente do alto sem ser vistas a não ser quando nos cai um abacate pesado na cabeça - acorda, cabeção!  Tenho certeza que no seu entorno também vai encontrar algum tipo de flora comestível, ainda que não seja esta citada. Nem tudo são frutas neste momento, mas muitas destas árvores estão apinhadas, como as mangueiras. Está certo, as mangas estão verdes ainda, mas e daí?, é verde mesmo que a gente quer para fazer, por exemplo, a torta cuja receita darei em breve - quero repeti-la para medir direito os ingredientes -, ou um suco, sorvete,  um chutney que pode ser feito com mangas em vários estágios de maturação, um caril de galinha ou uma salada.  

Só para você se animar e não ficar achando que isto é um grande mico, aqui vão alguns depoimentos felizes de quem participou: 

Olá Pessoal.
Foi uma honra e um grande prazer compartilhar com vocês o Terra Madre Day!
Uma celebração da diversidade, da terra, da expressão espontânea da natureza, do pega-se e come-se, e da convivência com pessoas muito bacanas. Adore!!!
Parabéns Neide pela comemoração e surpreendente manhã de segunda-feira.
Abraços a todos, Cenia
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Pessoas,
obrigada a todos pelos bons papos e pelo muito que aprendi. Achei incrível termos formado um grupo tão homogêneo, com tanta gente tranquila, simpática e generosa.
Gostaria de convidar a todos para uma visita aqui no viveiro (de mudas de árvores nativas), em Holambra. Podemos depois seguir para conhecer mais algum lugar, como por exemplo o viveiro Ciprest, do Edilson Giacon, que a Neide sempre indica no Come-se. Será um prazer recebê-los.
Rodrigo, topa organizar?
Sejam bem vindos também no De Verde Casa, onde coloquei minhas fotos e impressões do passeio. Aliás, passeio não, expedição!, que é muito mais a cara do que fizemos!
Um abraço a todos e até a próxima,
Juliana.
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Maravilhoso!
Prometo da próxima vez chegar cedo.
saludos,
Andrés
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Neide,
Agradeço o carinho da sua acolhida e a oportunidade de compartilhar o terra madre day com pessoas tão especiais.
Compartilho com todos vocês uma foto que não vi nem no" come-se" e nem no" deverdecasa", o cesto com a polpa seca do fruto do Boabá, que a Neide gentilmente nos ofereceu para degustação. Vai ficar na minha memória gustativa aquele sabor ácido e ao mesmo tempo refrescante...
Pessoal, adorei conhecer todos vocês!!!
Beijos, Sonia
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Neide, acho que foi mútuo, senti que todo mundo estava feliz por estar
lá, aprendendo um pouco mais e vislumbrando o mundão que temos ainda
para aprender.
Adorei conhecer todo mundo e ver ao vivo o cenário do Come-se (ou
seja, sua casa e as praças e ruas da região). Era mesmo tudo como eu
imaginava, vibrante, cheio de vida e de possibilidades.
Agradeço muito a sua recepção e os conhecimentos que você e os outros
compartilharam. Adorei o almoço preparado a tantas mãos e com tanto
empenho. Foi uma festa de sabores diferentes do
arroz-feijão-bife-salada-de-alface de sempre.
Nunca mais vou passar por uma cerca sem procurar os mini-pepinos! :)
Bjão pra todos
Leticia
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Amigos!!!!
Foi um dia muito especial, sinceramente uma vivência que jamais
esquecerei, tudo muito harmonioso, as pessoas, o clima, as situações,
o resultado ( a comida deliciosa das mãos da Neide). No programa da TV
cultura "Provocações" com Antonio Abujamra , ele sempre faz uma
pergunta final ao entrevistado.....O que é a Vida?... Se fosse eu o
convidado diria: E encontrar pessoas maravilhosas que nunca se
viram numa segunda-feira ensolarada, andar por ruas e praças,
colher alimentos invisíveis até então , aumentar o conhecimento e
brindar com um almoço delicioso
Agradecido a todos!!! por esse dia muito especial
Fábio
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Neide e Amigos,
Engrosso a fileira dos maravilhados! Deixou na boca o gosto de quero mais, expedições e viagens. Para combinar com a flora diversificada, a fauna também. Grupo diversificado e habilidoso: todos driblaram a segundona!
beijos e até,
Lili
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Olá a todos!
Creio que realmente o que tivemos pode ser chamado de um evento bem-sucedido.
Deixou-me perplexo como conseguimos estabelecer uma sintonia fina em um grupo de 14 pessoas, muitas se encontrando pela primeira vez. Talvez porque estivessem todas de coração aberto para trocar e aprender, e ainda porque era uma segunda feira longe do trabalho e com um céu azul de brigadeiro...
Outra coisa marcante foi estar nos cenários do blog, e ver de perto a praça, a cozinha, o quintal, os pés de cúrcuma... Foi como, mantendo-se a proporção, conhecer o cenário de um filme ou de um livro querido. Diria que, em partes, um pouco surreal, e só me dei conta que estava lá quando saímos à rua...
Neide, sua coragem de abrir as portas da casa para muitos desconhecidos imagino que tenha valido a pena! Precisamos marcar mais encontros– achei a experiência revigorante!
Nesse primeiro encontro não me dei conta e acabei levando mudas e sementes apenas para a anfitriã. Pretendo numa próxima levar algumas coisas para o grupo todo. Como disse a Cenia, apenas uma janela e alguns vasos já são suficientes para alguma produção. Quase ousaria dizer que somos biopiratas navegando por (po)mares urbanos...
PS: Fabio, vou sonhar para sempre com a sua torta maravilhosa!
Um forte abraço a todos!
Guilherme
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neide, obrigada!! muito muito obrigada pelo convite, por tudo.
que segunda feira maravilhosa com tanta gente bacana!!
incrível tudo, o passeio, descobrir q não estamos sozinhos nessa "doidisse" de comer selvagem e subversivo, aprender e aprender, e conseguir, no final, orquestrar um almoço de reis e rainhas!!
de noite estava cansada e feliz, como depois de um bom dia de praia ou roça, e mais feliz ainda por ter conhecido tantas pessoas especiais,
sinto que os pepininhos vão ser extintos aqui da lapa se não plantarmos muitos e muitos rapidamente!! aqui em casa já estamos tentando fazer as mudas!
beijos e espero vê-los todos muitíssimo em breve!
carol
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Oi pessoal, Foi muito legal conhecer pessoas novas com as quais rolou uma sintonia fantástica, E sem duvida foi sensacional reencontrar os rostos conhecidos. Enfim, Parabéns a vc Neide por conseguir juntar essas pessoas tão incríveis.
acho que dias como este do Terra Madre Day são verdadeiramente completos. Aprendi muita coisa, compartilhei o que eu pude das coisas que já sabia, me diverti muito, fiz exercício; aprendi a valorizar mais aqueles espaços que apesar de serem "de todos", são amplamente desprezados pela maioria; conheci pessoas legais e comi coisas únicas que certamente vão se traduzir em mais saúde e poesia. Acho que uma das coisas mais legais é que ao voltar para casa parecia que a cidade era mais humana, mais aconchegante e mais... saborosa.
Tudo isso ajuda a aumentar bastante a expectativa dos encontros futuros. Até porque eu e a Neide estamos desenvolvendo essa idéia de organizar as Expedições Come-se como sendo justamente uma tentativa de gerar este tipo de encontro para as pessoas colocarem em prática aquilo que acreditam. A propósito, Juliana achei a idéia ótima, vamos conversar mais para viabilizar isso sim.
Enfim, sol e chuva na medida certa para cada um de vcs
Beijo
Rodrigo
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Queridos biopiratas navegantes por (po)mares urbanos,
Foi um privilégio conversar, colher e cozinhar com essa gente sabida mas meu deus tão generosa, que compartilhou seus saberes sem economizar nas medidas: enche essa xícara, transborda essa colher!
O encontro só foi possível graças a uma pitada (caprichada) de ousadia da Neide.
Viva a Neide, viva as pitadas que fazem toda a diferença.
Neide, muito obrigada.
Valeu, pessoal!
"Vamos chegar".
Beijos,
Nana
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Neide, plagiando a Olívia, "São Paulo tem jeito porque tem Neide".
Adorei a experiência, aprendendo sempre, com você e as pessoas queridas que junta ao teu redor!
Muito obrigada!
Janaína
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Poxa gente! Como agradecer a Neide pelo convite e a maravilhosa companhia de vocês? Que sintonia fantástica, como o próprio Rodrigo disse!
Para mim foi um dia muito importante e que pude comemorá-lo com todos vocês...a alegria, a sensação de que já nos "conhecíamos" foi maravilhosa.
Aprendi muito com a experiência de cada um e concordo com o Guilherme, somos "biopiratas". O resultado do trabalho/diversão/aprendizado coletivo foi delicioso e ficou com uma cara ótima (curti muito o post no Blog da Neide e o da Juliana).
Espero vê-los sempre!
Lúcia

Purê de banana verde

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 Esta foi uma das receitas que fizemos depois da expedição pela cidade no Terra Madre Day. Cortamos com faca as bananas que nos interessava, umas dez, de uma cacho bem verde. Lavei, cozinhei em panela de pressão por cerca de meia hora ou até que as cascas começaram a se partir. Espetei as frutas com garfo e ele entrou com facilidade. Este é o ponto. Descasquei ainda quentes e bati no processador até ficar com uma textura mais homogênea. Juntei, enquanto batia,  cerca de meia xícara de creme de leite e umas duas colheres (sopa) de kefir. Mas teria ficado bom também se tivesse leite de coco e iogurte. Ou só leite de coco. Ou só leite. Bem, o purê de 10 bananas verdes pequenas (eram pratas, mas podem ser nanicas) foram temperados assim: coloquei numa panela umas 2 colheres (sopa) de manteiga e juntei ali uma cebola média picada em quadradinhos. Quando dourou, juntei 1 colher (chá) de grãos de coentro e 1 de grãos de cominho - tostadas levemente e trituradas, 1 colher (sopa) de cúrcuma ralada (também resultado de nossa colheita urbana). Mexi bem e juntei o purê de banana. Juntei sal, provei, faltou sabor, juntei 1 colher (sopa) de melado, mas poderia ser açúcar mascavo. Provei de novo, pronto, estava bom. Janaína provou, faltava sal, bota sal a gosto e pronto. Guilherme tirou as sementinhas da maria gorda, língua de vaca, major-gomes, lobrobró de jardim ou beldroega de folhas grandes, entre tantos nomes (Talinum paniculatum), que são como grãos de papoula ou, quem sabe, mostarda. Derreti um pouco de manteiga, juntei as sementes, deixei aquecer um pouco, e joguei tudo em cima do purê. Agora, sim. Nhac!  

Antes que me pergunte se ficou bom, se trava na boca, se tem gosto de banana madura, já respondo: fica uma delícia, você não identifica a banana mas talvez uma batata, um tubérculo, uma raíz, sem nada de tanino.  Tudo bem que era pouco, mas não sobrou nada! Experimente e me conte. 




Chutney de manga verde cru

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Continuando o assunto Dia de campo urbano/ Terra Madre Day, dou aqui a receita do chutney de manga verde que fizemos para o almoço. Aproveite que a cidade (pelo menos a de São Paulo) está cheia de mangueiras carregadas. E este é um ótimo momento, porque ninguém colhe na cidade frutas que tenham que preparar em casa - nem morcegos, ratos ou passarinhos.  Já as frutas maduras, todo mundo quer, a começar pelos bichos. Então, use mangas como legumes. Ela só é ácida e perfumada. Nada de travos ou falta de gosto. O chutney é refrescante, bom para dias de calor. Sirva com arroz ou frango assado.

Chutney cru de manga verde

Polpa de 5 mangas bem verdes descascadas e picadas  (ou cerca de 300 gramas
1 cebola de 100 g picada, de preferência roxa
1 colher (chá) cheia de cominho em grão tostado
1 colher (sopa) rasa de açúcar mascavo
1 pimenta dedo-de-moça picada
Sal a gosto

Coloque todos os ingredientes no processador e bata até ficar bem triturado. Na geladeira, dura até 1 semana em pote fechado. No freezer, 6 meses.
 
Veja aqui a versão que deu origem a esta. Na outra, usei folhas de coentro e bati no liquidificador e também fica delicioso. Se não tiver processador, pique na faca, finamente ou tente o liquidificador, desligando e misturando, desligando e misturando.
 
 

Armas, comidas e bebidas

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Ananda, minha filha, é médica residente em otorrino no HC aqui em São Paulo, mas está trabalhando numa missão, junto com colegas de profissão de outras especialidades, em Afogados da Ingazeira, em Pernambuco. Fico louca para que me mande fotos de comida, que me diga o que se come por lá, mas até agora não obtive muito êxito na insistência. Em vez disso fotos a conta gotas e torpedos: Comem comida normal. Hoje tem linguiça. Comi macaxeira. Não chove tem um ano. A paisagem é árida. No parque não se pode entrar com armas nem com comidas nem bebidas. 

Ananda e Mag, da psiquiatria

O primeiro araçá

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O primeiro araçá a gente nunca esquece!  Do vermelho, em Piracaia. 

Crianças podem plantar e colher nas férias

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Clique e amplie
O Fernando Oliveira, do Alimento Sustentável (que traz para São Paulo joias como o queijo Canastra do Zé Mário entre outras) também é organizador deste acampamento para crianças, do Instituto Himalaia. Se Ananda não fosse uma moçona, era pra lá que iria mandá-la nas férias para aprender a lidar com a terra, com o alimento e, sobretudo, para comer bem e se divertir.  Informações: Fernando@himalaia.org.br. Tel (11) 9 9955 9091

Coluna do Paladar de hoje: Cuca de uva

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FOTO: Felipe Rau/Estadão

Cuca fresca – e fofa, e crocante…

  • Publicado originalmente no Jornal O Estado de São Paulo, Caderno Paladar, de 20 de dezembro de 2012e no blog do Paladar. 

    Por Neide Rigo
Corre solto Brasil afora um Natal diferente deste que querem nos vender. O Natal do cuscuz à paulista, do escaldado de peru, do pato no tucupi, do matambre recheado, do marreco assado, do empadão, da leitoa, do frango com farofa de miúdos, das bolachas em forma de estrela. Mas é muito mais fácil padronizar os hábitos que atendê-los em suas diferenças. Então, que se coma brioche (ops!, panetone – com frutas tingidas e resistência forçada para durar até o inverno).
Gosto daquele Natal que ainda vive por aí, pelo menos na lembrança de muita gente, na minha, na da família do Paraná e na de meus amigos gaúchos, cujo pré-preparo começa com a arrumação da casa para deixá-la um brinco. Na véspera, os meninos buscam musgo para disfarçar a lata do pinheiro ou para fazer o presépio que vai acomodar personagens moldados com barro cru e pode ser verdejado também com grãos de arroz germinado. O presente é um item importante só para as crianças, que ainda conseguem se alegrar com bolas coloridas ou bonecas que não falam nem comem. Talvez isso tenha ficado para trás.
Na cozinha reinam as mulheres e, para garantir a provisão para os dias de festa, as latas velhas e muito limpas de biscoito começam a ser enchidas com bolachas cortadas em formato de estrela, ou rosquinhas de farinha de trigo ou polvilho. Em pleno verão, roscas doces repousam cheirosas sob cobertores para levedar na calma escura. E, direto do forno, rumo a toda a vizinhança para atiçar as vontades, vapores de cucas de frutas assando. E é aí que quero chegar. Nas cucas, nas frutas e nas uvas.
Minha mãe não comprava panetone e quando começou a aparecer era um só, presente da firma do meu pai. Mas ela fazia e ainda faz cuca, quase sempre de banana, para aproveitar a penca que amadurece, e às vezes de maçã, mas nunca de uva. Junto das frutas de época, como pêssego, melancia e manga, as uvas niágara eram para a sobremesa do almoço, ao natural. Eram compradas em caixas. Vinham rosadas, cobertas com fina camada de cera translúcida, bojudas e cheirosas, como acontece ainda hoje, embora já não pareçam tão saborosas. Quando passávamos as férias no sítio dos avós, a videira se enchia de cachos maduros com doçura de mel justo nos dias de festas, como presentes de Natal, e baciadas iam à mesa, apesar do ataque prévio das crianças ao parreiral provando uva a uva para eleger o melhor cacho.
Mas, para você não achar que vivo de reminiscências, o vinho de hoje é muito melhor que aquele que se batizava com água, açúcar e gelo para ficar bom. Temos muito mais opções de boas comidas para variar o cardápio, e não guardo nenhuma boa lembrança dos gritos do porco.
Coisa boa é que neste ano tive a sorte de ter uma boa safra de uvas niágara agarradas à cerca, no meu quintal, sem agrotóxicos. E não pense que estou só. Andando pelo bairro, já vi várias parreirinhas de jardim carregadas. Com a safra, resolvi fazer a cuca cuja receita aprendi com d. Iraci Berghan, que faz para vender, em Ivoti (RS), onde cuca é o panetone de todo dia e será o meu de Natal, com adaptações. É uma cuca fofa, com cobertura refrescante, ácida e doce.
Os gaúchos descendentes de alemães, no Rio Grande do Sul, têm um dialeto próprio, pouco compreendido por brasileiros e até mesmo pelos germânicos, mas a palavra cuca é uma exceção, pois já foi incorporada ao vocabulário gastronômico de quase todo o País, com várias opções de cobertura e até em versões modernas feitas com fermento químico em vez da levedura. Trata-se de uma corruptela do nome original cheio de consoantes. O bolo com farofa crocante é conhecido na Alemanha como streuselkuchen, sendo que streusel é a farofa – mistura de manteiga, açúcar e farinha – e kuchen quer dizer bolo. Streuselkuchen virou kuchen – ou cuca.
Cuca de Uva 
Ingredientes
30g de fermento biológico fresco
250g de açúcar
12g de sal
750 ml de leite (ou metade leite, metade água)
100g de manteiga sem sal, em temperatura ambiente
2 ovos
1 colher (sopa) de suco de limão 1,25 kg de farinha de trigo
Raspas de um limão taiti
Para a farofa
1 xícara de açúcar
1 xícara de farinha de trigo
100g de manteiga derretida
Para a cobertura
1,5 kg de uvas escuras (niágara ou isabel), lavadas e secas
Modo de fazer
Numa tigela grande, dissolva o fermento com o açúcar e o sal no leite. Acrescente a manteiga, os ovos e o suco de limão.
Junte a farinha, aos poucos, mexendo com colher de pau, até ficar difícil de mexer. Passe, então, a trabalhar a massa com as mãos enfarinhadas, juntando as raspas do limão e o resto da farinha, aos poucos, só até formar uma massa homogênea e muito macia. Não deve ser firme como a de pão nem mole como de bolo. Também não precisa ser excessivamente trabalhada. Cubra com pano e deixe crescer até dobrar de volume.
Faça a farofa: misture com as mãos os três ingredientes até formar uma farofa úmida.
Unte uma forma retangular 45 por 32 centímetros com manteiga e enfarinhe. Ajeite a massa no fundo da forma escolhida, cubra com uvas (pode pressionar um pouco para que entrem na superfície da massa) e espalhe por cima a farofa. Deixe crescer novamente até dobrar de volume e leve ao forno preaquecido (cerca de 200°C) e deixe assar por cerca de 1 hora ou até que a farofa fique dourada por cima. Espere amornar, desenforme e espere esfriar caso queira embalar pedaços para dar de presente ou guardar na geladeira por até uma semana. Para ter pedaços mais regulares, para dar de presente, melhor assar em forma retangular.

Natal sem fome

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Cena ontem no meu bairro
A gente vive num país sem fome, onde sobra pão amanhecido. Centenas de pães, que vão pro lixo assim. Quem sabe um faminto não vê, não rasga o saco e leva todo o pão pra ele antes que mofe, deve pensar o jogador, no melhor estilo espírito natalino.   Ei donos de padaria, nunca ouviram falar que pães amanhecidos fazem ótimas torradas, bolos, pudins, recheios, sopas?  Não sabem que o faminto tem lá sua digna mania de comer só alguns pães por dia, mas de preferência todo dia?  Não sabem que há em São Paulo instituições como ong Banco de Alimentos

Até o ano que vem!

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A cada ano mais leitores do Come-se se tornam meus amigos reais e sou tão grata por conseguir reunir estas pessoas perto de mim. E agradeço também àqueles que me acompanham de longe, com quem tanto aprendo. E àqueles que me lêem no silêncio e no anonimato. Ou que caem aqui via Google pra saber o que é grumixama e nunca mais voltam - pois alguns ficam. O Come-se volta no ano que vem, logo nos primeiro dias.  Vou estar animada e com saudade desta interação que me faz tão bem. 
Votos de alegria e saúde para todos no ano novo!

Só mais duas coisas para emocionar

Cogumelos de Piracaia. Comem-se?

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Este, solitário, com perfume de shiimeji, queria muito que fosse comestível
Neste final de ano, a diversão nos dias de estiagem, em Piracaia, além de ir à represa ou à cachoeira, foi recolher cogumelos, observá-los, fotografá-los e tentar imaginá-los comestíveis pelo perfume e pela carne, não aptos ao consumo pela insignificância material ou mortais pelo aspecto. Todos lindos, sempre lindos. Mas continuo não arriscando. Alguém aí sabe o nome desses? Não consegui identificar nos guias - talvez apenas o Lycoperdon perlatum, que deu vontade de morder. 

Somem-se a estes, outros cogumelos brasileiros já postados aqui, ali e acolá. E tem aqueles cogumelos da Catalunha








Estes formavam um amontoado no tronco de uma árvore pelada que olhava para a água. São carnudos com perfume de Pleurotus.  Alguém sabe o nome?

Este se parece com uma margarida, com pétalas translúcidas e miolo amarelo. Minha amiga Carol disse que eu poderia procurar no Google imagens como cogumelo-hóstia que certamente encontraria, pois era o que lembrava se desfazendo na frente de nossos olhos com um ventinho de nada. Se for comestível, está naquela categoria "sem interesse gastronômico". 

Estes são  parecidos com os
Coprinus disseminatus, que nasceram no meu quintal, sobre um tronco podre. Neste caso, estavam sobre a terra úmida que certamente cobria algum pedaço de madeira ou folhas podres.  Minúsculos, são outros que para mim não fazem diferença ser ou não comestíveis, pois desapareceriam na panela. Aliás, outro dia minha amiga indiana viu os cogumelos Coprinus do quintal, que frutificaram novamente neste verão, e me contou que já preparou deles para a família e que todos passaram muito mal. Ou seja, pelo menos aqueles não se comem. 









Todos estes outros são muito pequenos, leves, pouco carnudos, que para mim tanto faz ser ou não comestíveis, já que não despertam nenhum interesse gastronômico. De qualquer forma, espero sempre encontrá-los pelo meu caminho pois são graciosos e alegram o cenário. 



Agora, estes sim, eu faria o maior gosto que fossem comestíveis. É quase certo que sejam da família Licoperdácea, e se forem os verdadeiros Lycoperdon perlatum, são comestíveis quando jovens. Encontrei dois grupos em locais diferentes, com uma abundância incrível de elementos. Uns mais jovens, carnudos, branquinhos por dentro e por fora, e muito cheirosos, como cogumelos-de-paris; e outros já maiores, com a superfície pipocada um pouco mais escura e interior mais amarelo e esponjoso.

Abrindo os maiores, pensei que talvez possam ser da mesma espécie de um encontrado maduro por lá, em forma de uma bola poeirenta que identifiquei como Scleroderma ctrinum, mas que pode ser também a Langermannia gigantea, da mesma família Licoperdácea dos Lycoperdon.  Alô, alô,  especialistas micófilos...  Quero muito que este seja comestível. 

Além da beleza e do potencial alimentício dos cogumelos, eles podem servir de telefone, flor de cabelo, tapa-olhos etc, como nas brincadeiras das primas Ananda, Flora e Tarsila. 

Quanto a comer, fica por sua conta e risco.  Eu não comi -  a foto é só uma brincadeira, tá?  A seguir, cogumelos de Curitiba. 

Cogumelos duvidosos e plantas comestíveis nas ruas de Curitiba

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Embora tenha andado pelo campo e pela praia em Curitiba e arredores, foi andando pelo asfalto, com uma velha amiga, Magna, debaixo de sol quente depois de um dia nublado, que encontrei estes dois agrupamentos de cogumelos. O bom de andar a pé é que o caminho pode ser tão interessante quanto o destino. Às vezes, mais. 









Agora, espécies seguramente comestíveis que cruzaram nosso caminho pelas calçadas: feijão lab lab ou orelha-de-padre roxa, caruru-do-reino ou bertalha coração e caqui amasiado com maracujá em pleno passeio público. 




As três fotos: Caruru-do-reino ou bertalha coração com suas batatinhas

Feijão lab-lab ou orelha-de-padre roxa 

Caqui e maracujá 

Abóbora-cogumelo

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Quando viu, Eliana profetizou:  o mundo pra terminar tá próximo!, meu avô já dizia, você vai ver minha filha quando for chegando o fim do mundo as coisas vão começar a ficar estranhas, gente como nariz de inhame, moranga com cara de abóbora de pescoço, é o sinal. Já meu pai Toninho, cético como eu,  olhou para a aberração e imaginou a engenharia: esta abóbora cogumelo de hiroshima, isto é coisa de japonês, minha filha, polinização cruzada artificial com as mãos do homem que entende destes segredos da natureza, em estufa fechada para impedir polinização por insetos. Mais pragmática que os dois, só quis saber se funcionava na panela. Parti, escavei para tirar as poucas sementes murchas e cozinhei no vapor. Queria rechear. Comi com sal, uma só colher de café.  Um lado mais denso, outro fino. Sem sabor e aguada um lado, ruim, densa e amarga o outro. E dei o veredito: melhor deixar para enfeite e curiosidade. Encontrei-a numa venda no caminho entre Guaratuba e Curitiba, no Paraná.



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