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Banco de sementes comunitário em Canudos - BA

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A partir da Uauá, na Bahia, fiz algumas visitas com a Jussara, da Coopercuc.  Num desses passeios, fomos até Canudos, conhecer a propriedade do Seu Afonso, no Sítio do Tomaz, uma comunidade de agricultores familiares. Apesar da terra tórrida, aquela gente não desanima e nutre paixão pela caatinga.  

Seu Afonso Almeida da Silva, de 60 anos, associado da cooperativa, vive ali cheio de sonhos que faz acontecer e tira da terra o sustento da família. Com o filho e a mulher tocam uma produção de mandacaru sem espinhos - ótima fonte de alimento para a criação de cabras -, desenvolvido pela Embrapa. Se o bicho come mandacaru e outras plantas não precisa ir cutucar a caatinga. 

Além de servir de alimento animal, se bem que o fruto seja comestível  também, o mandacaru que ele planta é vendido para a L´Occitane para fazer produtos, mas a quantidade tanto do que vende quando do que recebe em dinheiro é tão pouca, mas tão pouca, que é como uma gota no oceano. A quantidade vendida é mais ou menos a mesma coisa que trouxe de presente para plantar aqui. E pensar que seu Afonso sequer viu a cara dos produtos feitos com seu mandacaru. Pode não ter lá muito mandacaru da caatinga nos cremes e colônias da empresa francesa, mas pelo menos as embalagens são ricamente ilustradas por artistas brasileiros e tenho certeza que Seu Afonso ficaria feliz de receber da empresa um kit familiar - que sairia mais caro que a encomenda. 

Além de mandacaru, hortaliças e maracujá da caatinga, há por ali também muito umbu e por isto a mini fábrica da Coopercuc para processar as frutas da comunidade. Com apoio do Slow Food. 

O que tem de destaque na fazenda do seu Afonso é um banco de sementes comunitário que começou com incentivo do IRPA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária, mas que ele agora toca sozinho. Ele cedeu o terreno, o instituto construiu uma instalação simples, os vizinhos ajudaram com cimento, areia e trabalho. O resultado é um quartinho coberto cheio de garrafas pet com sementes, coisa mais simples do mundo, mas que faz uma tremenda diferença naquela comunidade que não depende de sementes compradas, tratadas, com patentes. É semente que se multiplica, que gera vida, segurança e soberania alimentar. 

Como funciona? É simples. Quando começou há uns cinco anos, Seu Afonso contava apenas com uma pequena quantidade de grãos doados pelo instituto: sorgo, feijão andu, milho etc.  Ele foi plantando outras e aumentando aquelas, até que tivesse suficiente para doar aos vizinhos. A pessoa leva 200 g, por exemplo, e devolve um litro - são os juros que garantem a manutenção de um banco. Se leva 200 e devolve a mesma quantidade o banco não cresce e fica impossibilitado de atender a mais gente. À medida que devolve com juros, a pessoa pode levar mais.  Claro, se o agricultor leva um tanto e não devolve, aí também é uma vez só, como acontece quando emprestamos livros. Não devolveu? não empresta mais. Felizmente, num banco de sementes comunitário, isto raramente acontece. É um bem comum que ninguém quer perder. Acontece, por exemplo, de a temporada da chuva adiantar - e na caatinga, quando chega a chuva, todo mundo corre pra plantar, porque sabe que a trovoada é passageira. Aí o sujeito tem que recorrer ao banco de sementes, pegar os grãos e plantar no mesmo dia. É um conforto para a comunidade.  Segundo Seu Afonso, que hoje dispõe de bombonas cheias de milho crioulo, feijão de arranca (todo a planta é arrancada na hora de colher), feijão andu, forrageiras etc., tem gente que fica tão agradecida que em vez de devolver um vaso de feijão como pago pela pequena quantia,  devolve logo um saco cheio. Perguntei se ele tem anotações, como num banco, ele disse que não. O controle é na palavra. E sementes de fora ele só aceita se for adaptada à caatinga e se for orgânica, como tudo ali é. Se uma semente deu certo ali, melhor não se atrapalhar com outra, ele diz. Mas doar, doa sempre a quem quiser plantar.  

Então, fica aí a história do Seu Afonso como incentivo para quem acha que tudo nesta vida é tão difícil, tão complicado. Banco de sementes pode ser simples assim. 

Umas fotos de lá: 

A mini fábrica
Apoio do Slow Food
Seu Afonso e toda a sua fortuna
Aqui, moradia de sementes. E da sanfona, que a gente não quer só comer
Junto com a família
Os bichos comem mandacaru 

Pode passar a mão que não tem espinho. Plantar mandacaru protege a
caatinga da voracidade das cabras

Não deu foco, mas juro que é um sapo cururu 
Dona Joana, Jonas e Jussara segurando maracujá da caatinga








Juazeiro Petrolina

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O velho Chico
De Uauá a Juazeiro, ainda na Bahia, são 170 km, sendo 50 de terra e o resto de asfalto esburacado. São quase três horas para vencer o trecho. Para Petrolina, já em Pernambuco, mais cinco minutos de travessia da ponte sobre o Rio São Francisco. Sempre quis conhecer as duas cidades por causa da música do Jorge Altinho, eternizada pelo Luiz Gonzaga e tantos outros artistas como Elba e José Geraldo no vídeo abaixo.   E o Rio São Francisco exerce sobre mim um certo encanto difícil de explicar. Neste ano já passei quatro vezes sobre seu leito: ida e volta para São Roque de Minas, na Serra da Canastra, onde ele nasce (versão mais aceita), ida e volta para Petrolina. E pensar que quando visitei sua nascente anos atrás estive frente a frente com um olho de água tão miúdo que em nada anunciava a grande serpente na qual se transformaria logo adiante.



Não posso dizer, infelizmente, que conheço Juazeiro ou Petrolina. Mas apenas que estive lá, entrei numas ruas apertadas em Juazeiro para encontrar uma tia de Jussara e depois, em Petrolina, deixamos dona Joana no médico - se um uauaense quiser um especialista, é pra lá que tem que ir -, passamos pela igreja, visitamos o irmão e cunhada de Jussara, tomamos suco de umbu e fomos almoçar carneiro no bodódromo. Sim, é lugar de bode, mas é carneiro que servem. Dizem que tem melhor aceitação entre os turistas. Senti falta do sabor mais forte de um bom bode. De qualquer forma, comemos muito bem.  


A comida é aquela do sertão, com aipim cozido, feijão de corda, pirão e arroz. São vários restaurantes numa rua. Um ao lado do outro, todos servindo bode, ops, carneiro.  Comemos no Isaias, onde a comida é boa, farta e barata. E os garçons são todos muito simpáticos. 

Queria ter conhecido o mercado, as feiras, mas não foi desta vez. Logo escureceu e voltamos para casa sacolejando. 



O bom é que sempre aproveito também o caminho e não só o destino. Acabamos demorando um pouco para chegar porque a estrada, apesar de esburacada, é linda e eu queria fotografar todas as flores, todas as pedras, todo mandacaru, toda catingueira, umbuzeiros.  Pela manhã, todas as malvas brancas de flor amarela estão abertas, fazendo com que a estrada pareça ser uma trilha de um imenso jardim ensolarado salpicado de roxo, rosa e branco. Mas, predominantemente, a caatinga é amarela. 



Em Petrolina 



  

Em Juazeiro, piknik é geladinho, sacolé, chupchup

Cenas de Canudos

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Nem parece, mas este açude fica em plena caatinga. Até parece que o sertanejo está melhor servido em água que nós, a julgar pelas imagens das represas do sistema Cantareira, que fornece parte de nossa água, no lodo. Mas no sertão a coisa é sempre mais grave e esta represa está tão baixa que deixa à mostra as ruínas de Canudos.  Para quem não conhece a história de uma das guerras mais sangrenta, dantesca e desigual da nossa história, veja aqui e ali.  E também mostrei o tamanho da bala naquele post

Esta foi a terceira vez que visitei o parque estadual, que abriga uma parte do território onde se deram as batalhas. A primeira delas aconteceu em Uauá, onde eu estava hospedada, a alguns quilômetros dali, no caminho para Juazeiro.   Das outras vezes visitei apenas o parque, mal cuidado e mal sinalizado, por sinal.  Antes, ainda havia informativos para o visitante e painéis explicativos nos pontos de parada.  Agora estava com Jussara, as crianças e as amigas Fátima, do Acre, e Ligia Poggio, da Itália. Elas, que não conheciam o parque, saíram sem saber muito além do que eu e Jussara pudemos contar.   O descaso com nossa história continua quando resolvemos dar a volta por Bendegó e visitarmos o outro lado do açude, onde fica Canudos Velha - o vilarejo foi construído com remanescentes de Belo Monte, que foi totalmente destruída quando chegou a ter 25 mil habitantes, seguidores de Antônio Conselheiro. Mas ninguém ali gosta muito de falar do passado.  Que os descendentes culpem os monarquistas, Antônio Conselheiro ou o exército pela perda de seus antepassados, tudo bem. Agora,  que o poder público tente apagar um pedaço da nossa história isto é vergonhoso. Não há placa em nada, não há proteção ao que restou e não há sinalização suficiente para turista chegar até ali. 

A barragem construída naquele vale nos anos 1950, segundo dizem muitos baianos daquele pedaço da Caatinga, teve mesmo o intuito de afogar de vez qualquer lembrança daquele passado sombrio e vergonhoso. O açude de Cocorobó encobriu as ruínas, mas algumas estão ali abertas e sujeitas aos efeitos do tempo e do descaso. E, na estiagem, o que estava totalmente submerso aparece, como o grande arco do portal da igreja - destruída, certamente por uma daquelas balas de canhão.  Nas vezes anteriores não dava pra ver as ruínas. Isto significa que a seca neste ano está ainda pior. 

Tão pouco turista aparece por ali que, no restaurante onde paramos para comer peixe frito, todo mundo queria saber de onde éramos, o que fazíamos e quem era o que de quem, numa curiosidade agradável de puxar conversa que não fugimos de responder. 

Aqui, algumas fotos. 

A doce Joaninha do sertão
Restos de tijolos da vila destruída 
Joaninha, Juan e Lia
Quando a represa está cheia, nada se vê 
O pé de um cruzeiro? Este, fora da represa, sem placa, sem nada 
As ruínas vistas do alto do parque estadual de Canudos
Joaninha, Juan e Lia
Tilápia da represa 

Cenas de Uauá - BA

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Mãos da Sanária e maxixe que comemos no almoço
Quem acompanha de longa data a novelinha Come-se já conhece seus personagens e minhas andanças. De Uauá, já falei inúmeras vezes. Se não sabe nada do lugar e quiser ver outras postagens, perca-se na imensa caatinga clicando aqui.

Se já não aguenta mais ouvir falar de Uauá, veja só as fotos que fiz desta vez.

Vatapá da Nenê

Xinxim de galinhas (estas comidas não são do dia-a-dia, fizeram pra nós)
Carnes de bode secas num espaço da feira
A feira na segunda é um acontecimento

Dia de feira equivale quase a um feriado - tem gente que prefere trabalhar
no sábado para ter o dia da feira livre 
Batata doce na feira 

É tempo de jenipapo
Abóboras

Fim de feira

Frutos locais: acerola, licuri, pinha, manga

Não lembra o ônibus da CMTC de São Paulo na gestão da Erundina? (as
ruínas são de 1924 - não há mais quase nenhuma construção histórica
na cidade
São João Batista na frente da Igreja com pé de mandacaru em frutos

Encontrei montado este resuminho da Caatinga
Um vendinha em Caratacá, vilarejo próximo

Venda da dona Ditinha em Uauá
Igreja de Uauá
Eu toda estropiada depois de ficar duas horas ariada na caatinga
Caga-sebo mimetizado
Banho econômico e divertido do Juanzinho

Salvador nas ruas

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Sempre que vou a Salvador, me fica a impressão de que soteropolitanos comem melhor que nós. A abundância de frutas, legumes, amendoins cozidos, milho e mandioca, nas ruas é tanta que, junto com acarajés, tapiocas e abarás, esta imagem pode nos induzir ao erro de pensar que em Salvador se come muito bem e saudável.  Mas, pelo menos nas casas de Salvador por onde já passei, vejo mesmo sempre muito suco de frutas, raízes, legumes e frutas à mesa no café da manhã e na hora da sopa, no jantar. Sim, o jantar tradicional inclui sempre uma sopa além de bolos, pães, aipim, batata-doce e outros itens de lanche ou de almoço. Eu adoro este tipo de refeição com aquela sopa que não tem nada de ralo consomê, não. É sopa substanciosa, com macarrão, carne, legumes, uma delícia.  Quanto ao acarajé e abará, não são pratos pra se fazer em casa. O que se faz é comprar e levar pra casa de vez em quando. Agora, tapioca e cuscuz sempre tem. Claro, isto tudo são só impressões de uma viajante com olhos viciados para as cores de comer e sempre bem recebida por amigos que comem assim diariamente de verdade. Que todos comam assim fica por conta do meu desejo e fantasia.  

Aqui, as fotos de frutas são da banca que fica na esquina da Avenida Antônio Carlos Magalhães com Rua Anísio Teixeiras. As cestas são todas lindamente forradas com folhas de amendoeira ou sete-copas, abundante por lá.  Mas há muitas outras não só em Salvador mas nas cidades próximas.

Amendoim cozido

Umbu

Fruta pão

Umbus e seriguelas

abacates

Acerola

cajamanga

cajus

caquis

jenipapos

pinhas

taperebás

mangas numa outra esquina 

Mais Salvador. Pousada Boqueirão

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Pois é, andei sumida. Fui fazer um curso de dois dias em Piracaia, oferecido pelo Senar, sobre manejo de formigas saúvas, como aquelas servidas pelo Alex Atala. Elas estão no nosso sítio por todos os lados e as cabeças espremidas rescendem a capim limão e citronela e fazem ótimo tempero. Mas quis aprender tudo sobre elas não para criar e oferece-las a restaurantes (bem que podia), ou só pra comer içás - içá é a saúva recheada de ovos fabricada para virar rainha de um novo formigueiro caso a deixemos se aprofundar na terra em vez de comê-las depois da revoada. Por favor, vamos comer içás. É um bom controle das formigas cortadeiras. Só quis aprender tudo para saber como desarticular o inimigo que tem dificultado nossa tarefa de repovoar de plantas o sítio. Mas deixemos as formigas para outro post e fiquemos aqui só com estas últimas fotos da minha estadia pela Bahia. 

Antes de vir embora, passei rapidinho na pousada da italiana Fernanda Cabrini, lider do Slow Food de Salvador. Fomos lá, minha amiga Silvia Lopes e eu, para conhecer o espaço e encontrar com o casal de amigos Marcelo e Janaína, também do Slow Food.  A pousada Boqueirão é mais frequentada mais por estrangeiros, fica a poucos metros do Pelourinho, no centro histórico, e ocupa um prédio antigo todo reformado com vista estupenda para o mar e coberto de muito verde e flores coloridas. Na decoração, muito artesanato baiano, muitas panelas de barro, peças decorativas e utilitárias feitas por artistas locais, além de ingredientes de agricultura familiar e produtores orgânicos. Fernanda muitas vezes viaja para comprar determinado produto e, claro, aproveita cada viagem para trazer o que encontra de especial. Não conhecemos os quartos nem provamos o café da manhã, que tem a maior fama de excelência, mas enquanto esperávamos Fernanda que vinha chegando de uma expedição também à caatinga (com a mala cheia), companhamos a cozinheira Graça fazendo o bolo para o dia seguinte. A cozinha é linda, toda organizada, limpa, com frutas frescas. Tudo condizente com a beleza da cozinheira. Saí de lá com presentes da Fernanda e do casal e com vontade de estar lá no outro dia pra comer aquele bolo de maçãs batido com tanto esmero. 

Aqui, algumas fotos e o site da pousada: http://www.pousadaboqueirao.com.br/



Graça, a cozinheira


Janaína, Marcelo, Fernanda e eu

Adorei a ideia do porta bandejas

Agricultura Urbana, um vídeo. Convite para mutirão

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Este é o espaço que estamos revitalizando com uma horta urbana principalmente de plantas aromáticas (mas também melíferas, alimentares, medicinais). A maioria dos vizinhos está gostando. Todo mundo agora tem assunto mais agradável pra falar além daquele chato que parecia ser o único ponto em comum entre vizinhos, que é a segurança. E, sem fugir do tema que mais estressa as pessoas nas cidades grandes, cuidar dos espaços públicos deixa a cidade mais segura e a gente menos estressada.  

Hoje, quinta-feira,  vamos nos reunir à tarde, depois das três (esquina da rua João Tibiriçá com Barão de Itaúna, perto da Estação de trem Domingos de Morais e praça Ângelo Rivetti, na City Lapa). Ainda não conseguimos nos organizar para ter uma programação prévia, um calendário. É mais quando eu e minha vizinha podemos e por isto o convite de última hora. Mas quem estiver de bobeira e quiser vir participar,  temos muitas mudas pra plantar e já não consigo nem mais andar no meu quintal (tenho feito mudas a partir das minhas plantas). Será um prazer.   

Segunda-feira, prometo, volto a falar de comida. Vou criar um blog só para a horta e assuntos correlatos. Por enquanto, veja que bacana este vídeo. 

Nhoque de fruta pão fermentada

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Meio febril
Ela veio de Salvador, daquela banca e saiu do aeroporto até que gelada. Porém, no dia seguinte, a fruta fervia de febre fermentativa. Tratamos, Silvinha, minha amiga baiana, e eu, de cozinha-la logo. A fermentação deu-lhe um leve ácido que equilibrou bastante o sabor já bem doce. Daria para fazer um creme para comer de sobremesa de tanta doçura.
Os pedaços já descascados e desmiolados ficaram imersos em água até
o momento de irem para o vapor 

Nhoc, nhac! 
Mas o planejado era fazer nhoque, ideia que não descartamos mesmo diante da dificuldade de descascar a fruta. Só mudamos o método de cozinhar. Com a fruta mais verde e mais firme teríamos preferido a cocção em meio líquido - uma água levemente salgada que apenas cobrisse os pedaços descascados. Mas os pedaços muito macios foram cozidos no vapor por 15 minutos até que estivessem macios por igual - já que algumas partes não estavam totalmente moles. Passei pelo espremedor de batatas enquanto estava quente. Deixei esfriar e juntei 1 ovo e 1 colher de manteiga à quantidade de 850 g de polpa espremida - foi o que rendeu uma única fruta. Temperei com sal a gosto e uma colher (chá) de noz moscada ralada na hora. Aos poucos fui acrescentando farinha até que conseguisse uma consistência que pudesse manusear. Isto deu mais ou menos 1 xícara. Mais um pouco de farinha usei para polvilhar uma superfície e fazer rolinhos com 1 centímetro de diâmetro. Nisto, uma panela com bastante água já estava a ferver. Faça um teste pra ver se o ponto está bom. Faça uma bolinha e jogue na água quente. Se não se desmanchar, se subir e se manter a textura macia, está bom de farinha. Se não, junte um pouco mais. Silvinha foi cortando os nhoques com uns 2 centímetros de comprimento e eu fui cozinhando aos poucos na água borbulhante. Assim que os nhoques iam subindo à superfície eu fui retirando com escumadeira. Para acompanhá-los, já os esperava um molho de linguiça fresca com tomates  - bem apimentado, que era pra combinar com adocicado da massa. Se ficou bom? Poxa, sou suspeita pra falar, mas não sobrou pra contar história. Ananda ainda levou pra comer no dia seguinte e disse que ele aqueceu bem sem se desformar. De 6 a 8 porções.

Falando um pouco da planta: o pé de fruta pão, Artocarpus altilis, cresce no Sudeste Asiático e em várias ilhas do Pacífico. Por aqui, portanto, é fruta exótica que não teve problema algum de adaptação mas em compensação também  não evoluiu muito gastronomicamente falando, com raras exceções. É uma grande pena esta precária evolução para um vegetal de tantos talentos. Pena também que fatores alheios à nossa vontade não permitam sua produção do Rio de Janeiro pra baixo (ou há produção em São Paulo?).  Eu adoraria ter uma árvore com aquelas folhas pinadas do tamanho de um tronco humano, mas me contento em trazer a fruta de onde a encontro quando viajo. A vantagem é que pode ser cozida e congelada para usar depois.

Ela fermenta muito rapidamente e por isto é usada no Havaí do mesmo modo que usam o taro para fazer poi - um creme fermentado a partir do legume cozido e amassado. No caso da fruta pão, poi ulu, faz-se igual. Talvez por isto, para evitar super-amadurecimento e fermentação, que na Bahia seja costume deixá-la mergulhada em água fria assim que é comprada, até o momento de usar. Bem, a gente não tem muita tradição de uso da fruta pão além dela cozida ainda verdolenga e servida com manteiga, que é a coisa mais deliciosa do mundo. Porém, nos países onde ela cresce com mais abundância e é uma cultura mais antiga, os usos e as técnicas de preparo são tão diversos quanto nossa lida com a mandioca. A fruta verde se usa como legume, sempre cozida. A fruta madura, pouco explorada por aqui, é fruta normal que se usa crua ou cozida como sobremesa ou em cremes, sorvetes e uma infinidade de pratos doces e salgados. Na Jamaíca, por exemplo, come-se a fruta pão sapecada na boca do fogo, como se vê aqui.


Mandacaru é nosso, ao vosso reino nada

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Mandacaru plantado em Piracaia - SP
Mandacaru de Uauá - BA
Com a recente estiagem aqui no sudeste, o melhor que tenho a fazer é começar a plantar espécies do semi árido. No sítio temos um pedaço onde começaram a se concentrar cactos que estão indo todos muito bem. Recentemente me deparei com este fruto da foto, igualzinho ao que fotografei lá em Uauá - BA.  Não cheguei a comê-lo. Deixei para os pássaros.

Já falei do mandacaru neste post:  http://come-se.blogspot.com.br/2011/01/resposta-charada-fruto-do-mandacaru.html. E não vou ficar me repetindo.

Plantação de cacto sem espinhos em Canudos - BA
O que não conhecia naquela época era o cacto sem espinho, uma versão encontrada naturalmente em alguns lugares e que agora a Embrapa selecionou, melhorou e está começando a disseminar pelo sertão. Uma grande vantagem para uma planta de difícil manejo como é a variedade espinhosa. Este sem espinho pode ser cultivado com facilidade, melhorando a qualidade da alimentação dos animais e assim preservando a caatinga e os cactos nativos. Em Uauá e região, já há alguns produtores. Os frutos são comidos mas não representam grande interesse. A parte de interesse é mesmo o cacto inteiro, que vai quase todo para a alimentação animal, mas também é usado localmente em produtos cosméticos.

Agora, quando você vir por aí produtos de beleza e perfumes de marca famosa à base de mandacaru, não se iluda. Desconfie como Riobaldo. A julgar pela quantidade que uma empresa francesa conhecida compra da Coopercuc, em Uauá, que é tão pouca, se de fato a polpa entra na composição dos produtos, para justificar a propaganda do rótulo e da campanha publicitária, ela não será mais que um grão de areia no sertão nordestino. E, dizer que uma porcentagem da venda do produto volta para a comunidade da caatinga como contrapartida pela exploração do nome do bioma e da planta-símbolo, também é balela - doze reais foi, por exemplo, o que a famosa empresa francesa pagou à Coopercuc no ano passado referente a esta tal de porcentagem anual para investir em projetos da comunidade. Doze reais num ano!  Mas, ah, sim, tem o valor da venda dos mandacarus, você poderá argumentar. Pois saiba que esta cooperativa vendeu num ano (e não se tem notícias de que tenham comprado de outros produtores da caatinga) nada mais que um tronco de cacto a preço de mercado. Não sei quando custa  um dedo de cacto, mas não será muito mais que a tal da contrapartida social. Não ia dizer isto, mas já disse e, pronto, falei. É só pra gente ficar atenta quando quer dar a maior força a uma empresa que diz que tal projeto beneficia esta ou aquela instituição, uma comunidade, este ou aquele "pequeno produtor" (aliás, o que tem de gente ou empresa louca para se atracar a um pequeno produtor para poder chamá-lo de seu, já reparou?).  Mais que saber a porcentagem - não quer dizer muita coisa quando sobre a qual podem incidir taxas não entendemos do que se trata -, temos que saber efetivamente quanto de dinheiro isto representa.

O mandacaru de espinhos domina a paisagem em certos trechos da
caatinga


Ervas frescas. Um outro jeito de guardar

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Já mostrei aqui e acolá jeitos de conservar ervas. Ultimamente, porém, trago ervas do sítio e não faço nada mais que lavar, escorrer e colocar dentro de um vidro com tampa. Trago assim e assim permanece durante vários dias, sempre fresquinhas pois não amassam e não perdem umidade. O microclima criado com o resíduo da água e a própria umidade das folhas garantem vida longa. Pelo menos uma semana aguentam muito frescas. Estas das fotos têm cinco dias e parecem que acabaram de ser colhidas.  Para comparar, coloquei uma parte da hortelã na água. E olhe que cortei os talinhos para que ficassem sempre frescos, hidratei algumas vezes as folhas, mergulhando-as na água, como já mostrei aqui, e ainda assim, com o tempo seco, elas não resistiram. Pronto, foram pras minhocas.  As do vidro, salsa, hortelã e manjericão, vou continuar usando.  Só não soque muita erva. E, claro, não ouse colocar dentro do vidro um maço de salsa com os talos amarrados com fio plástico (ou não). Não há erva que resista a tanta tortura. Solte o maço, jogue fora a folhas estragadas e murchas, lave as ervas, escorra bem e aí sim coloque no vidro, que pode ser tapado e deixado na geladeira. É também um ótimo meio de transporte. 

Guarde o vidro deitado 


Ou em pé, não importa. Olhe o estado da hortelã testemunha


Quando quer usar a erva, é só tirar 

E escolher 

Blog da horta comunitária city lapa

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Em dia de mutirão não pode faltar chá e bolo 
Bem, agora já tenho outro espaço para falar do projeto da horta comunitária da minha rua. É o www.hortacitylapa.blogspot.com.br, caso queira acompanhar. O acesso pode ser via Come-se aí do lado, no Some-se.


Pra não dizer que não comi ovos de Páscoa

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São lindos, tem cor de ovo de chocolate, mas são ovos de galinha. Estes foram os únicos ovos que comi na páscoa pra dizer a verdade.

Acho engraçado quando vejo no pós-páscoa sites com chamadas do tipo  "exagerou nos ovos de chocolate?, siga agora uma dieta xis ou detox". Deus me livre ter que fazer dieta por ter comido muito chocolate. Pra que comer tanto chocolate na páscoa? Por que não distribuir a cota ao longo do ano? E aquelas matérias de televisão em que aparecem mães de família donas de casa reclamando em horário nobre do preço dos ovos de páscoa como se fossem bens essenciais? Bacalhau também como ao longo do ano, quase nunca na sexta-feira. E pra não dizer que não comi peixe na sexta-feira, preparei o pirarucu que ganhei do amigo Fernando, que me trouxe de Manaus. Bem, vou parar de falar porque começo a ficar indócil e cada um que coma quanto e do jeito que quiser. O fato é que eu não ligo pra isso e minha família também não.  E sei que crianças se contentam com um pequeno ovinho e opções simbólicas  tanto nas famílias religiosas como naquelas que comemoram a festa como manifestação cultural.  Já as necessidades criadas e exageros ficam por conta dos adultos. Gosto daqueles ovinhos com amendoim cricri do Rio Grande do Sul e dos ovos tingidos à moda chinesa.

Agora, no entanto, virei fã destes ovos da foto que a Ana Perin levou no dia do mutirão da horta. Claro, é também coisa de chinês que na cozinha tem tanta delicadeza. A diferença é que Ana não usou molho de soja como pede a receita, mas usou uma infusão bem brasileira à base de casca de jabuticaba combinada com especiarias.  Ela disse que a ideia da infusão de jabuticaba tirou aqui do Come-se. Mas, pelo que se vê, qualquer líquido corante serve, pois o sabor será dado mais pelo tempero (cravo, canela, gerânio, pimentas, anis estrelado, sal e açúcar). O jeito de fazer é simples: é só cozinhar os ovos, descascar, grudar ervas sobre a clara ainda úmida e, para que não saiam do lugar, tem que prender com gaze ou meia de seda, virgem, é claro,  bem amarrada. Basta ferver um pouco e deixar os ovos nesta infusão até esfriar. Agora é só tirar o gaze ou meia e desgrudar a erva. Pronto, o ovo estará carimbado.

O modo de fazer você poderá ver em fotos no site que Ana me mandou e no qual se baseou:
http://www.haodou.com/recipe/378073. Se não entender nada de chinês, é só dar um google traductor e poderá ter alguma noção do que está sendo dito.  Fica a dica para a próxima páscoa e para todo o ano.

É só polvilhar sal e nhac! 


Vestida para matar

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A criatura pode ser sexy e elegante sem abrir mão do conforto e segurança. O macacão vintage, de brim grosso,  é do tempo de bicho-grilo como se ele tivesse passado. Este chapéu de maria-bonita feito em puro couro veio do sertão, da feira de Uauá, na Bahia, e ajuda a proteger a cutis e a conservar o make up. Já a botina e o facão são acessórios ultra modernos que conferem elegância e dão um toque descontraído ao look. E, claro, garantem andanças por terrenos inóspitos onde trilhas precisarão ser abertas.  Outro adereço que não pode faltar é a meia bem colorida, daquelas presentes em qualquer guarda-roupas campestre. Só não pode ser daquelas que o sapato come porque além de o conforto ser essencial um punho justo é necessário para ser posicionado sobre a barra da calça ou macacão. Tem-se aí a função estética aliada à utilitária, afinal ninguém quer cobras e formigas subindo pelas pernas.  No embornal de crochê, última moda nos roçados, carrega-se de um tudo:  luva, lupa, canivete, barbante, celular e bloco com caneta. E, para formar o cruzado sobre o torso à moda do bando de Lampião, outra bolsa contendo máquina fotográfica, pois criatura fusion fashion  que se prese não perde uma pose da mariposa ou do pistilo da flor da paixão. Por fim, um avental preto com propaganda no peito - peça exclusiva que pertenceu ao famoso novelista global Filipe Miguez -, customizado com uma capa de almofada xadrez vazia costurada à guisa de bolso,  para coletar sementes, framboesas e ervas desconhecidas para posterior identificação. O avental-saco é a peça de arremate com forte apelo sexy já que, amarrada no meio do corpo dá a exata posição da suposta cintura da marmota.

E o ser amado, que fotografou, não reclama mas aprecia a ousadia do look e ainda se veste, ele próprio, nos mesmos moldes, seguindo os mesmos preceitos estilísticos.



Flores de maracujá

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Quem resiste? Eu não posso ver uma que aprecio, espio, sinto, cheiro, e fotografo. Estes são do nosso sítio em Piracaia. Do doce e do azedo.


Convite. No Sesc Consolação, na quarta. Marina Person e eu

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A partir de agora vou publicar na página "Próximos passos" minhas atividades por aí. De vez em quando dê uma espiada. Quem sabe a gente não se vê por aí. É sempre um prazer encontrar leitor do Come-se nas minhas palestras e oficinas.

Mas esta próxima, na quarta, com a Marina Person, publico aqui também.


30/04/2014 - Quarta feira - 19 horas
Comida de blog: Cozinha de gente saudável. Com Marina Person e Neide Rigo 

Sesc Consolação - com degustação
Mais informações
http://www.sescsp.org.br/programacao/29038_COZINHA+DE+GENTE+SAUDAVEL


Biju, Tapioca, Maxixe

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O gatinho, chamado Beiju ou Biju, adora brincar com maxixe

Já Tapioca, a gatinha, não gosta muito, não. Espiou, apalpou e 
Desprezou


Agora a gente nem precisa fazer massa de tapioca em casa, pois há muitas marcas dela pronta por aí. Eu continuo fazendo a minha pois acho a coisa mais fácil do mundo misturar polvilho doce ou goma seca com água. Pra quem tem medo de errar o ponto (cerca de 600 ml de água por quilo de polvilho), é só encharcar o polvilho com água, que ele vai puxar a quantidade de líquido que for preciso para hidratar no ponto certo. Aí, basta enxugar a superfície com um pano (ou com farinha seca), salgar e cozinhar os beijus. É só não ter muita pressa.


Mas, falando em massa pronta, outro dia um leitor baiano disse que vende o polvilho hidratado e salgado, pronto pra fazer tapioca, mas que a vida útil era curta. Logo mofava. Já os produtos de mercado chegam a ter prazo de 4 meses. E mesmo depois de aberto dura um tempão sem mofar. Queria saber porque. Eu mesma já deixei um saquinho desses na geladeira por vários dias esquecido e quando fui ver estava igualzinho, pronto pra usar.


Resolvi ligar para uma marca aleatoriamente. Contei que era nutricionista (verdade) e que um paciente meu era alérgico mortal a qualquer tipo de conservante (mentira). Perguntei se poderia mesmo confiar no produto deles, se não tinha mesmo conservante, se meu paciente não morreria, e a resposta: - é, bem, veja bem... A pessoa que me atendeu disse que fazia antes sem conservante mas que a massa começou a mofar rapidamente e então, para durar mais, passou a usar ácido sórbico e ácido cítrico e que agora dura uma eternidade. O problema é que não está no rótulo (estamos providenciando, disse) e nestes casos eu sinceramente tenho medo do senso de quem despeja conservantes, corantes e outros antes, sem orientação de um engenheiro de alimentos ou profissional capacitado pra dizer a dose correta a ser usada, uma dose que não seja tóxico ao consumidor. É como aquele tucupi de Rio Branco. Eu tenho medo. Então, quando comprar esta tapioca pronta, desconfie sempre e ligue para confirmar.


Ontem sabia que receberia duas amigas em casa na parte da manhã, então na noite anterior já despejei água sobre o polvilho e deixei hidratar bem. De manhã foi só deixar um pano seco por cima para tirar o excesso de umidade. Veja este método aqui com infusão de jabuticaba). Mostro ali também (com coco, na folha de banana). Comemos com manteiga e ainda sobrou massa (dura alguns dias na geladeira, bem tampada - até uns quatro dias).


Sobrou massa, faltou comida no almoço. E almoçar sozinha tem dessas coisas. A gente abre a geladeira e improvisa com o que sobrou do jantar ou de qualquer outra refeição. É muito sem-graça comer sozinho, mas gosto de comer algo que seja fácil de preparar ou esquentar e que ao mesmo tempo seja saudável, pois esta é minha rotina. Como tinha goma molhada, tinha uma sacolada de maxixe do sítio (está tendo muito agora) e ovo de galinha caipira, o que fiz foi juntar as três coisas. Cozinhei o maxixe - inteiro mesmo pode ser, com espinhos que amolecem - com água e sal por meia hora, até ficar maciinho. Fritei um ovo meio esparramado, não totalmente cozido, temperei com sal e pimenta; fiz o beiju de tapioca e recheei. Pensei em usar o maxixe inteiro, mas a tapioca não era grande o suficiente para enrolar sobre ele e resolvi parti-lo ao meio, de comprido. E mesmo que a tapioca fosse grande o bastante, teria que ter um bocão para cada bocada. Foi melhor assim e comi com gosto, supimpa, como um sanduba. Experimente e me diga.

Melhor cortar o maxixe ao meio 


Enrole e nhac










Vaso-folha pra pezinho de pimenta

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Agora com esta coisa de plantar no sítio e também na hortinha comunitária, não há recipientes e vasos que cheguem. Aí, outro dia, andando pela rua, vi as folhas de sete-copas no chão. Pensei: se embrulham peixe que vai ao forno porque não embrulhariam um pouco de terra. Pronto, foi chegar em casa e testar. Vale pra estas pequenas transições do tipo tirar da terra e levar pra outra terra. Nossa horta/ jardim tem sido assim, com mudas a partir de outra planta adulta ou espontâneas arrancadas do quintal e frestas das ruas ao redor.  Nestes casos, o ideal é passar para um vasinho e ambientá-la primeiro antes de ir para o lugar definitivo. É por isto que digo que não há vasinho que chegue. Meu quintal virou um verdadeiro viveiro. Os bancos e cadeiras já viraram apoio pra vasos. E o pequeno jardim já não existe mais. Acho que pelo menos o viveiro ficará mais verde e biodegradável. Poderei enfiar o vasinho inteiro na terra sem machucar a raiz e sem sobras.  

Como fiz: peguei duas folhas frescas de amendoeira - podem ser as recém caídas verdes ou amarelas. Elas são firmes e flexíveis.  Coloquei as duas em cruz dentro de uma xícara que usei como molde. Enchi de terra, plantei a mudinha de pimenta que arranquei do chão - nascida espontaneamente a partir de sementes caídas - e com cuidado puxei. Amarrei com fibra vegetal de fórmio (um excelente planta para se ter por perto) para dar firmeza.  Já tem uma semana que fiz o vaso e a planta ainda está saudável. O excesso de água sai pelas frestas. Logo o conjunto todo vai pra horta. E logo teremos pimentas como aquelas da pimenteira mãe de todas. 

Sobre a folha de amendoeira ou sete copas, já falei aqui e mostrei ela sendo usada na tapioca acolá

Então, se não tinha o que fazer no feriado do trabalho, já arrumei trabalho pra você. Até segunda e bom feriado! (hoje tem sesc consolação e domingo tem sesc interlagos - veja aí na página Próximos Passos). 

Use um molde - depois é só puxar
Muda de pimenta e jambu 


Maracujá da Caatinga. Coluna do Paladar, edição de 01 de maio de 2014

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Seu Afonso Almeida da Silva, da Coopercuc, que produz maracujá da 
caatinga em meio a mandacarus, em Canudos-BA

Está lá no blog do caderno Paladar: 
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Nem doce, nem azedo. Conheça o maracujá da Caatinga

Por Neide Rigo 

Teve um tempo que na caatinga não havia outro maracujá que não aquele que nascia tutorado por um pé de pau. O fruto, também conhecido como maracujá-do-mato ou maracujá-de-boi, da espécie Passiflora cincinnata, as crianças abriam, polvilhavam açúcar e comiam como passa-tempo. Para o suco, bastava passar a polpa pálida e ácida por uma peneira, amassando com uma colher para desprender das sementes o suco quase branco.  Era, então, só juntar água e adoçar para ter um refresco providencial naquele calor seco do sertão.

Mesmo tão útil para hidratar de maneira prazerosa ele nunca recebeu muita atenção, simplesmente porque estava ali, sempre por perto. Por isto,  quase ninguém se preocupava  em cultivar, manejar, vendê-lo nas feiras.  Depois da disseminação da espécie de maracujá mais suculenta e amarela que a gente conhece dos supermercados e feiras de todo o país, o Passiflora edulis,  aí sim é que a fruta foi de vez relegada ao papel de comida de boi, ou de cabra que é o que mais tem hoje no sertão,  e  brinquedo de criança, afinal a fruta tem casca frágil e quebradiça com recheio suculento e pode ser irresistível para uma mente infantil ou um espírito de porco adulto vê-la se espatifando contra qualquer alvo vivo ou não.

 No entanto, os maracujás nativos são tantos e tão variados na forma e sabor que é uma pena que só os dois tipos melhorados, o amarelo azedo, e o doce,  dominem as gôndolas de frutas.
Felizmente um grupo de mulheres em Uauá, na Bahia (sim, fui pra lá de novo para a festa do Umbu) percebeu há alguns anos que tinha nas mãos uma raridade e passou a produzir geleias e polpa para suco. Hoje, o cultivo e manejo é incentivado por estas mulheres que,  junto com outros produtores, pertencem à Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá – Coopercuc, que trabalha também com o umbu.

Agora a fruta é reconhecida como produto de forte identidade cultural com o bioma caatinga e com a comunidade que conseguiu alçá-la à atual posição, quer como bem econômico ou  ingrediente culinário. Por isto é um dos produtos abrigados na Arca do Gosto, projeto do Slow Food que identifica, cataloga e divulga alimentos com estas características e ameaçados de desaparecer – a imposição de variedades comerciais padronizadas e a substituição da biodiversidade são considerados como uma ameaça. 

Desde 2006 o suco está presente na merenda escolar da região, já não se vê mais criança desperdiçando a fruta e, durante a safra que vai de julho a setembro, bacias do maracujás podem ser encontrados nas feiras.   Aliás, a safra só vale para a planta que cresce naturalmente nos fundos ou fechos de pasto, que são extensas áreas de uso comum entre as comunidades tradicionais na caatinga, com vegetação nativa.  E estes maracujás recebem selo de orgânico. Para o maracujá cultivado, com alguma irrigação, e muita gente já cultiva, a produção se dá o ano todo e muitas propriedades também são orgânicas. É com estas frutas certificadas que trabalha a cooperativa. 

É lógico, não vai ser fácil encontrar a fruta fresca nas feiras fora da caatinga, mas podemos comprar a geleia em alguns supermercados da rede Pão de Açúcar ou na mercearia Chiapetta, em São Paulo. E a cooperativa também faz vendas diretas.

Fora o suco, a geleia ou o doce pastoso, pouco uso se faz da fruta na cozinha, mas o potencial é enorme. Não só com a parte suculenta ou arilo, que fica grudada à semente, mas também com a branca e carnuda que separa a polpa da película. 

A coloração da casca será sempre verde, mesmo quando a fruta amadurece. Muda um pouco do verde escuro para o claro ou amarelado e às vezes apresenta uma nuança meio arroxeada, mas o ponto de maturação só se percebe mesmo pelo peso aumentado, pelo toque da casca, mais macia,  e pelo perfume acentuado.  Apesar da fragilidade da casca, a polpa se mantém íntegra e suculenta por muito tempo mesmo sem refrigeração.

Já fiz muitas experiências com este maracujá, pois sempre trago geleia e a fruta fresca quando viajo para a caatinga, mas desta vez voltei com a ideia de combiná-lo com a carne de cabrito ou de cordeiro, provisão muito comum no dia-a-dia do sertanejo. Poderia ter usado a polpa fresca, mas a geleia é mais prática pois já vem concentrada e já com açúcar, ingrediente desejável no molho. E é infinitamente mais acessível que a fruta fresca para quem não vive no sertão.  Se estivesse lá, usaria o alecrim do campo como erva, que tem aroma meio menta, meio tomilho, mas com hortelã, que já é um clássico complemento para estas carnes, não ficou nada mal.


CARRÉ DE CORDEIRO COM MOLHO DE MARACUJÁ DA CAATINGA
Para a carne
2 colheres (chá) de sal
1 colher (chá) de pimenta-do-reino moída na hora
1 colher (sopa) de geleia de maracujá da caatinga
1 carrê de cordeiro fatiado (1,3 kg)

Para o molho
4 colheres (sopa) de geleia de maracujá da caatinga
1 colher (sopa) de água 
2 colheres (sopa) de suco de um limão rosa
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes, picada finamente
20 folhas de hortelã picadas finamente
Sal a gosto

Prepare a carne:  misture bem o sal, a pimenta e a geleia e tempere a carne. Deixe pegar gosto por meia hora. Aqueça uma grelha elétrica ou de fogo e doure a carne por 3 minutos de cada lado.  Reserve.
Prepare o molho:  misture a geleia e a água e leve ao fogo bem baixo, mexendo, para a geleia derreter. Espere esfriar um pouco e junte o suco de limão, a pimenta, a hortelã e o sal. Misture bem.
Sirva a carne com o molho acompanhado de mandioca cozida.

Rende: 6 a 8 porções


 
Em Uauá, na rua, subindo num pé de pau

Presentes cearenses

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Hermano e Manoela vieram do Ceará passear em São Paulo e nos visitar. Foram nossos hóspedes abandonados à própria sorte e felizmente se sentiram muito íntimos aqui em casa de modo que se viraram sozinhos tanto pela cidade quanto na cozinha. Tivemos que ir a Piracaia enquanto eles percorriam o bairro da Liberdade, visitaram mercados, lojas, foram explorados no Mercadão (40 reais uma fruta?) etc. E enquanto estivemos juntos tiveram que ver duas oficinas minhas no Sesc, uma no começo e outra no final da estadia deles por aqui. E ainda ajudaram a arrumar as tralhas, fazer plaquinhas, arrumar cozinha. Para completar toda a  gentileza da visita, cozinharam pra mim no sábado enquanto eu me preparava pra aula que daria no dia seguinte. Quer amigos melhores que esses? Já apareceram no Come-se, lembra-se?

O bom é que no pouco tempo que passamos juntos, rimos bastante, trocamos figurinhas, comemos e bebemos. Hermano é professor de gastronomia na Universidade Federal do Ceará e tem gostos e interesses muito parecidos com os meus, então a gente aprende e descobre coisas um com o outro o tempo todo. E Manoela que nem é da área também é inventiva - criou, por exemplo, uma manteiga e um azeite de trufas que ficam iguaizinhos aos comprados, só que feitos com cogumelo shiitake desidratado e moído.  No jantar que fizeram pra mim e pro Marcos, usaram a manteiga junto com cogumelos frescos para servir com macarrão.  Para acompanhar, queijo Canastra ralado com raspas de limão-cidra, que trouxeram de presente. Ficou divino.

Refrigerantes naturais com limão-cidra e hibisco. Manoela conferindo. 
O mesmo limão virou refresco com água com gás. O hibisco seco que lhes dei de presente também fez um refresco delicioso temperado com ervas do meu quintal e misturado com água gasosa. Tudo improvisado pela Manoela. 

Hermano virando os bolinhos de queijo
Antes do macarrão, comemos bolinhos de queijo com goma inventados pelo Hermano e feitos naquela minha frigideira de takoyaki. Basta misturar ovos com polvilho e pedaços de queijo. Ele colocou também pimenta. Mas vou deixar pra falar mais dele no quinta sem trigo. É uma ótima opção aos pães tradicionais e muito mais fácil que fazer um verdadeiro pão de queijo.  

Castanha e caju - separados no nascimento. Processados, juntos para sempre
Entre os presentes da mala, panela de cerâmica rendada da comunidade de Cascavel, coador de pano com cabinho de madeira, castanha de caju e caju passa (pra comer juntos), manteiga de garrafa, azeite de "trufa", limão-cidra (tão bom quanto o siciliano), queijos de coalho e manteiga, pilão e devo estar esquecendo itens. 

Agora é torcer para que nos encontremos em breve com mais tempo para usar a panela de barro e todos os ingredientes cearenses que me caem tão bem.  E para que eu tenha sempre perto de mim pessoas queridas como Hermano e Manoela. 

Panela de Cascavel 

Pamonha de calcanhar do Saul Galvão

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Em 2008, no Paladar Cozinha do Brasil, dei uma oficina sobre pamonhas. Mostrei como fazer e o jeito familiar de dobrar - os dois copinhos de palha que se encaixam. Entre os poucos ouvintes, um Saul Galvão atento. Fiquei nervosa, claro, afinal era sua fã. E ainda no fim da atividade veio falar comigo. Aproveitei para dizer que éramos parentes ou quase. Os antepassados do meu pai, Galvão de França, eram de Jaú, da mesma família. Parentes distantes, mas com alguns genes em comum. Nem sei qual é o grau de parentesco, talvez umas quatro gerações pra trás, coisa longe. O que sei é que o grande nariz que ele tanto usou para sentir aromas de divinos vinhos deve ter a mesma raiz ancestral que nossas napas, minha e do meu pai, - que, no nosso caso,  não vieram atreladas a nenhum outro talento que não o de simples cheirar. Ele nem ligou muito para o parentesco, afinal e daí?, mas disse que os Galvão de França faziam uma tal de pamonha de calcanhar, perguntou se eu conhecia. Fiquei envergonhada de não saber, afinal tinha estudado tanto sobre outras pamonhas, até mesmo aquela primordial feita pelos guarani na folha de caeté. E sobre estes parentes distantes nada sei, a não ser que meu pai foi colono na fazenda deles, coisa de primo rico, primo pobre. Muito menos sobre costumes alimentares. Na conversa, ele logo foi fisgado por algum outro fã e eu fiquei sem saber o resto da história. Fui embora com aquilo na cabeça, tratei logo de procurar a respeito,  perguntar pra pamonheiros, mas nenhuma pista.  Pouco tempo depois encontrei Saul Galvão novamente, agora já doente, e perguntei sobre a pamonha, como era, porque do nome etc. Ele me explicou que o milho era quebrado no calcanhar e a espiga era tirada de dentro da capa de palha sem desmanchá-la, pois depois os grãos ralados voltariam a recheá-la dando-lhe novamente o formato do milho. Novamente fui procurar mais a respeito e nada.  Ainda tinha muitas perguntas mas Saul Galvão morreu em setembro de 2009 sem que eu tivesse encontrado a tal pamonha. E não foi falta de procurar. Achei que era então uma coisa particular de família, como o bororó da minha mãe.

Eis que há alguns dias minha amiga Sônia chegou no sítio com umas pamonhas compradas em Joanópolis e que correspondiam totalmente à descrição do Saul.  Foi comprada de uma mulher que faz na porta de sua casa, na hora. Vai fazendo, recheando de queijo, dobrando, cozinhando e vendendo. Era de calcanhar? Sônia se espantou com meu espanto? - Como assim, é pamonha normal, não de calcanhar.  Na minha terra, pamonha sempre foi dobrada deste jeito, ué. Contei-lhe toda a história e fiquei sabendo que em Sorocaba, de onde ela é, pelo menos na sua família, pamonha sempre foi feita assim. Fiquei surpresa e comi a pamonha apreciando a dobradura, com café bem quente, lembrando do meu pai, do Saul, saboreando cada porção do creme grudado nas sucessivas camadas de palha.

Mas, e na sua cidade, pamonha também é assim?  Qual é a sua pamonha?







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